Casada Com o Turco
Casada Com o Turco
Por: Autora Nalva Martins
Prólogo

Sila

— Sila, em nome de Deus, onde você estava? — Marli minha melhor amiga desde sempre questiona assim que entro no nosso apartamento.

— Estava vivendo um sonho acordada, Marli — ralho exalando felicidade e sorrio, deixo-me cair no sofá da sala.

— Sonho acordado, o que você fez, garota?

Muitas perguntas e eu tenho as respostas para todas elas. A verdade, é que Marli veio para os EUA para me acompanhar na faculdade e para isso ela escolheu o mesmo curso que eu. Um meio que os meus irmãos Deniz, Sinan e Hakan encontraram de me controlar longe de casa, mas eles não faziam ideia de que Marli seria a minha cúmplice de cada dia.

— Lembra do moreno alto e de semblante marcante do outro lado do balcão? — Ela resfolega, levando uma mão para a sua boca. Meu sorriso se amplia.

— Você não fez o que eu estou pensando que fez?

— Se estiver se referindo a minha virgindade. não, eu não fiz.

— Nossa, que alívio! — Ela leva uma mão para o seu peito, soltando o ar pela boca. Rio do seu alvoroço.

— Mas foi por pouco, porque ele é realmente um homem muito envolvente.

— Espera, você sumiu por três dias com um desconhecido e está me dizendo que não rolou nada?

— Taylor, o nome dele é Taylor Miller e ele é americano. Portanto, ele não era nenhum estranho. E não, não fizemos nada que comprometa a pureza dessa turca aqui. Que coisa mais idiota! — resmungo, soltando uma lufada de ar.

— E eu posso saber como você conseguiu isso? Quer dizer, ele é homem, certo? E você é uma garota linda…

— É bem simples, querida Marli. Eu contei para o Taylor sobre a minha origem e sobre os nossos costumes, e ele respeitou isso. — Ela ergue as sobrancelhas, abrindo a boca completamente surpresa.

— Simples assim?

— Ah, Marli acho que estou apaixonada! — cantarolo completamente fascinada a fazendo abrir um sorriso languido.

— Como pode estar apaixonada se só o conheceu há três dias? — retruca achando graça.

— Eu não sei, só sei que estou perdidamente apaixonada por ele. Quer dizer, o Taylor é atencioso e compreensivo. É claro que rolou alguns carinhos meio salientes e que ele soube despertar o fogo dentro de mim.

— Mas?

— Eu vou dizer uma coisa. Só não me entreguei porque conheço bem o Deniz, ele me faria pagar uma penitência por dias a fio.

— Bom, agora que a sua aventura se acabou, temos que ir para o aeroporto — avisa me deixando frustrada.

— Ah, precisa ser agora?

— Sila, o Deniz está me ligando desde ontem e eu já não tenho mais desculpas para lhe dar!

Bufo audivelmente.

— Dei o meu endereço para o Taylor — aviso abruptamente a fazendo frear os seus movimentos.

— Você fez o que?! — A garota praticamente grita.

— Ele quer conhecer a minha família e quer pedir permissão para me namorar. — Outra vez os seus olhos se abrem demasiadamente.

— Está brincando comigo, não está?

— Não, o Taylor entendeu a minha condição e está disposto a conversar com os meus irmãos.

— Quer saber, eu só acredito vendo. Esse Taylor deve mesmo estar muito apaixonado por você para enfrentar os seus irmãos assim. — Meu sorriso se amplia.

— Ele deve mesmo

***

Algumas horas depois...

— Ora vamos, arrumem logo essa mesa, elas devem chegar a qualquer momento! — Escuto a voz da Senhora Eda Yilmaz, minha querida mãe dando ordens para os empregados da casa e só então percebo o quanto estou cheia de saudades suas e de todos nessa casa. Portanto, largo as minhas malas em qualquer lugar da sala e vou imediatamente ao seu encontro.

— Advinha quem é? — cantarolo, levando as minhas mãos para os seus olhos e logo sinto o seu toque suave nelas.

— Sila?! — Mamãe resfolega com comoção, virando-se no mesmo instante para me olhar. — Sila, filha! — Resfolega outra vez, abraçando-me forte e aconchegante e aproveito para me acomodar nos seus braços e receber os seus carinhos exagerados. — Que saudades, minha menina! — Ela chora e devo dizer que não seria a Senhora Eda se ela não chorasse.

— Também estava com tantas saudades, mamãe! De você, dos meus irmãos, dessa casa, do meu quarto… de tudo isso aqui. — Seco as suas lágrimas — E falando nos meus irmãos, onde eles estão?

— Você sabe, estão reunidos na plantação de café.

— Estou ansiosa para vê-los.

— Ótimo, então me faça uma gentileza e leve essa bandeja de café para eles. — Fito as quatro xícaras dispostas na bandeja e encaro especulativa.

— Temos visitas? — Eda parece pensar em uma resposta para me dar. Contudo, ela dá de ombros.

— Apenas negócios, filhas. — Sorrio, mas devo dizer que a sua resposta não me convenceu.

— Ok, eu vou levar o café, minha mãezinha do coração! — cantarolo, ansiosa por vê-los.

Andar por essas terras me faz lembrar do dia chegamos a esse lugar. A família Yilmaz era composta de seis membros: o meu pai Osmar Yilmaz, a minha mãe, os meus três irmãos e eu. Nascemos em Antália na Turquia e desde que o meu pai foi transferido para Liverpool na Inglaterra estamos vivendo aqui desde então. Alguns anos depois, perdemos o meu pai para um infarto fulminante e o meu irmão Deniz assumiu o seu lugar de chefe da família e nas empresas. Eu cresci e fui para faculdade, e o resto todos já sabem.

— Quem quer um café fresquinho feito pela Senhora Eda? — Volto a cantarolar, interrompendo a conversa dos homens e só quando eles se afastam, percebo uma presença masculina entre eles.

— Sila?! — Hakan me recebe com um doce e forte abraço, depois é a vez Sinan. Contudo, Deniz me lança um olhar repreensivo.

— Quando chegou? — Ele inquire um tanto rude.

— Eu… acabei de chegar.

— E porque não me avisou, teríamos ido buscá-la no aeroporto. — Dou de ombros.

— Eu quis fazer uma surpresa. — Ele acena um sim, mas parece que não gostou da minha atitude. Devo dizer que passar três anos fora de casa trouxe algumas mudanças que eu não esperava. Deniz sempre foi um homem amável, sorridente e carinhoso. Entretanto, encontrei no seu lugar um homem sério e rude. — Eu… trouxe o café — digo o óbvio, porém, ele respira fundo e faz um gesto para o seu convidado.

— Sila, eu quero que conheça o Senhor Murat Arslan.

— Olá, Senhor Arslan! — O cumprimento com um sorriso, mas o convidado continua sério. Contudo, é o seu olhar avaliador que me deixa um tanto incomodada. No entanto, resolvo sair assim que sirvo os cafés, sentindo uma sensação estranha me acometer.

***

À noite...

— Me conte, como foi lá nos EUA? — Hakan pede com entusiasmo quando estamos acomodados a mesa.

Falar sobre a minha estadia naquele país foi a coisa mais fácil desse mundo. É claro que eu deixei alguns fatos de fora. Simplesmente achei desnecessário que os meus irmãos soubessem o que andei aprontando nas horas vagas e foquei apenas nos comentários sobre o curso de psicologia, as novas amizades, os pontos turísticos e etc.

— Sila, eu preciso falar algo com você, minha irmã.

— Claro Deniz, do que se trata? — O aguardo falar, porém, percebo os olhares apreensivos entre a minha mãe e os meus irmãos. — Aconteceu alguma coisa? — Deniz respira fundo e após passar o guardanapo no canto da sua boca, ele começa a falar:

— Antes de morrer o nosso pai me fez um pedido. — Apenas assinto um sim para ele. — Ele queria que mantivéssemos as nossas tradições.

— Sei, e o que isso quer dizer?

— Sila, você já fez vinte e dois anos e…

— E? — Deniz puxa mais uma respiração e por algum motivo percebo que ele tem dificuldades de falar. — Você está me deixando nervosa, Deniz.

— Eu encontrei um noivo para você. — Uno as sobrancelhas.

O que ele quer dizer com, encontrou um noivo?

— Você fez o que?! — sibilo quase sem reação.

— Murat Arslan é um homem culto e muito poderoso. Ele irá cuidará muito bem de você. — Rio, porém, estou extasiada.

— Estamos morando na Inglaterra há quinze anos, Diniz. Somos praticamente ingleses...

— Não somos ingleses, somos turcos! — Ele me interrompe bruscamente. — Nós temos a nossa terra e temos a nossa cultura — rebate rudemente, encarando-me com dureza.

Resfolego.

— Isso não importa, porque eu não vou me casar com esse... Por Deus, eu nem o conheço, esse homem é um completo estranho para mim!

— Acontece que você não tem escolha, irmã! — Ele rosna, ficando de pé e no ato, larga o guardanapo com força ao lado do seu prato.

— Que conversa é essa, Deniz? —  rebato entre dentes, porém, olho para os outros ao redor da mesa. — Vocês também pensam assim? Acreditam nessa bobagem de costumes e tradições?

— Sila querida, é o melhor para vo...

— O melhor para quem, mamãe?! — rebato irritada.

— Não grite com a nossa mãe! — Hakan interpele irritado.

— Isso é loucura! — Tento trazer um pouco de juízo para as suas cabeças. — Eu não conheço aquele homem e vocês querem me entregar para ele como se eu fosse a droga de uma mercadoria! — brado, voltando a encarar o Diniz. — A minha resposta é não, e ponto final! — rosno, me levantando da cadeira e penso em sair da sala de jantar quando dois homens ficam em pé bem na entrada, impedindo a minha passagem. — Peça para eles me deixarem passar! — retruco irritada. — Deniz, peça para me deixarem passar! — ordeno o encarando com irritação.

— Eu sinto muito, Sila, mas para garantir que você cumprirá o pedido do nosso pai, você ficará trancada no seu quarto até o dia do casamento.

Faço um O com a boca e transtornada arqueio as sobrancelhas.

— O que você disse?! — Dou um passo na sua direção. Contudo, sinto mãos fortes agarrarem nos meus braços e sou praticamente arrastada escadas acima. — DENIZ! — grito enfurecida. — NÃO FAÇA ISSO COMIGO!

Minutos depois, os seguranças me forçam a entrar no meu quarto e quando eles me dão as costas vejo uma oportunidade de fugir. Entretanto, eles agem rápido e a fecham com chave antes que eu a alcance.

— DENIZ, ABRE ESSA DROGA DE PORTA! — Volto a gritar, batendo com força na madeira. — DENIZ!!! VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO, ABRE ESSA DROGA DE PORTA! — Em algum momento me canso de gritar, bater e chutar, e me deixo arrastar pela madeira, sentando-me desolada no chão. — Mamãe por favor, não o deixe fazer isso comigo! — suplico em lágrimas. — ABRE ESSA DROGA DE PORTA!

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