Sila
— Venha, Sila eu quero que conheça alguém. — Murat fala me fazendo caminhar na direção do homem que eu amo e no ato, sinto a minha garganta ficar severamente seca. — Taylor, meu irmão querido, você veio! — O Senhor Arslan comemora com uma alegria que nunca vira expressar.
Estou confusa, o que está acontecendo aqui?
— Murat, meu grande amigo meus parabéns! — Os homens se abraçam fortemente, dando tapinhas nas costas um do outro. Contudo, permaneço paralisada apenas assistindo a essa cena e tentando entender alguma coisa, e quando eles se afastam, encaro os olhos receosos de Taylor.
— Sila, esse é Taylor Miller, ele é o meu melhor e grande amigo. — Meu chão simplesmente fugiu de debaixo dos meus pés e ao encarar a sua mão estendida para mim ofeguei.
— É um prazer conhecê-la, Sila! — Taylor simplesmente fingiu não me conhecer. Contudo, engulo em seco sem saber o que fazer.
— Pode... — sibilo com um tom baixo demais. — Pode pegar algo para eu beber? — peço para o meu noivo sem sequer desviar os meus olhos do meu namorado.
— Você está bem? — Murat procura saber e droga, eu queria poder gritar com ele, com todos eles. Queria dizer que não, que nada está bem, que a minha vida não está nada bem. Que eu estou presa dentro de um maldito pesadelo e que eu não consigo me acordar desse sonho infernal.
— Estou. — Me forço a dizer e me forço a olhá-lo também. — Eu... só preciso beber algo.
— É claro, só um instante, Taylor! — Observo o meu noivo se afastar, só então volto a olhá-lo nos olhos.
— Me diga que veio para me tirar daqui, Taylor? — Praticamente suplico, avaliando o seu semblante para parece empalidecer. — Me diga que veio para me livrar desse casamento maluco e sem sentido?
Ele engole em seco.
— Taylor, por favor, você disse que faria qualquer coisa por mim! Disse que me tiraria da minha família, eu...
Taylor ergue um pouco a sua cabeça e com uma respiração profunda ele me olha do alto.
— Eu não posso, Sila.
Meu coração para algumas batidas e os meus olhos se enchem de lágrimas.
— Por que não? Por que não pode?
— Porque o Murat é como um irmão para mim e eu… não posso fazer isso com ele.
Ofego.
— Eu te amo! — sussurro. — Como posso me casar com um estranho, amando o homem com quem passei dias maravilhosos e inesquecíveis? — O observo pressionar os lábios.
— Você precisa me esquecer, Sila — balbucio. — Você vai me esquecer.
— Você disse que amava — sussurro desapontada. — No entanto, vai me deixar casar com esse homem apenas por consideração essa sua amizade?! — ralho um pouco mais alto e imediatamente ele olha para os convidados. Entretanto, não desvio os meus olhos dele.
— Eu sinto muito, Sila!
Ele sente. Penso sentindo que estou me quebrando por dentro.
— Eu trouxe um suco para você, Sila. — Murat fala, se aproximando, me estende um copo e me obrigo a desviar os meus olhos do homem que eu amo, forçando-me a engolir o choro também, e determinada seguro na mão do meu noivo o fitando firmemente.
— Já chega desses rituais, Murat, me leve de uma vez para aquele altar! — rosno determinada, praticamente o arrasto para o outro lado do jardim.
***
— Eu vos declaro marido e mulher!
Está feito!
Penso quando o meu marido beija respeitosamente a minha testa e em seguida uma comemoração extremamente exagerada começa. Música alta, comes e bebes, conversas alegres. No entanto, tudo parece passar como um borrão diante dos meus olhos. Eu mal consigo escutar o que eles estão dizendo e mal consigo ver seus sorrisos felizes. Seus sons parecem estar abafados dentro dos meus ouvidos.
— Está na hora da dança dos noivos!
Um dos meus irmãos anuncia com um grito esfuziante, animando ainda mais os nossos convidados e logo eles formam um círculo que nos circundam. Murat para de frente para mim e como se ele tivesse asas, as abre para mim. O seu olhar firme demais se conecta no meu. Consigo ver intensidade deles, a sua determinação e algo que eu não consigo decifrar. Assim que a música começa o meu olhar encontra o de Taylor atrás do meu marido e quando Murat começa a se mexer, encaro o seu olhar agora rígido e frio, iniciando a minha dança em seguida.
Nossos costumes. Penso.
Está tudo exatamente como o meu pai desejou um dia e como os meus irmãos planejaram. No entanto, estou fria por dentro. Eu cheguei a sonhar com o meu casamento por várias e várias vezes e em todas os meus sonhos eu estava explodindo de felicidade, estava sorridente, mas não está sendo assim agora. Não vai demorar muito e logo terei que me deitar com esse homem que mal troquei duas palavras, terei que me entregar para ele, dividir a minha vida com ele e conviver debaixo do mesmo teto que ele.
Um casamento sem amor. Não foi com isso que sonhei para mim.
— Chegamos, Sila! — Murat avisa horas depois, assim que o carro para em frente a um casarão extremamente luxuoso e logo sinto o meu corpo estremecer por dentro.
... Eu não posso, Sila.
... O Murat é como um irmão para mim.
... Eu não posso fazer isso com ele.
Mas você pode fazer isso comigo. Resmungo mentalmente e com extremo amargor. Você trancafiou o meu coração, Taylor, me aprisionou dentro desse sentimento sufocante e eu sei que ele vai me consumir por dentro pouco a pouco. Minutos depois, o meu marido abre a porta do quarto que fica no meio de um longo corredor e eu adentro com pesar, sentindo que tudo mudará no momento que ele pôr as suas mãos em cima de mim.
— Esse será o seu quarto de agora em diante, Sila — avisa me deixando confusa.
Aturdida, olho para trás e o encontrando em pé na entrada do cômodo.
— Você disse, que esse é o meu quarto? — inquiro.
— Eu disse. — O som frio que sai da sua boca chega a congelar os meus ossos.
— Mas... acabamos de nos casar e você… não vai dormir comigo?
— Eu não vou. — Ainda mais confusa uno as sobrancelhas.
— Eu não entendi, Murat. Por que está me deixando sozinha na noite de núpcias?
Ele respira fundo, porém, é como se estivesse vazio e livre de qualquer emoção.
— Não é isso que você quer?
Balbucio.
— Eu não vou fazer nada que você não queira, Senhora Arslan, fique tranquila. Portanto, ficarei nos meus aposentos e você ficará bem aqui.
Penso em dizer algo, mas ele simplesmente se afasta.
— Boa noite, Sila!
Estática, fico parada por algum tempo olhando para a porta fechada sem saber o que fazer, até que me sento na beirada da cama e não seguro as lágrimas.
SilaA noite escura transformou-se em dia bem diante dos meus olhos, pois não consegui fechá-los nem mesmo por um segundo. À medida que as horas passavam eu tive uma retrospectiva da minha vida e percebi que eu mal a vivi. Em algum momento da noite, uma empregada me ajudou a me livrar do pesado vestido de noiva e eu me permiti tomar um banho demorado em uma tentativa inútil de relaxar. Depois, deitei-me na cama e fitei a janela por horas a fio e agora estou protelando sair desse quarto para conhecer a minha nova gaiola de ouro.— Bom dia, Senhora Arslan! — Uma empregada fala assim que alcanço o topo da escadaria.— Bom dia, e o Senhor Arslan?— Ele já saiu, Senhora.— Como assim, ele já saiu?— O Senhor Arslan já foi para o escritório, Senhora.Que espécie de casamento é esse? Me pergunto, deixando um aceno sutil para a moça e desço as escadas.— Bom dia, Senhora Arslan, o Senhor Arslan pediu para servir o seu dejejum na varanda. É um local amplo, mais iluminado e a Senhora poderá usu
Sila...— Então você se formou em psicologia? — Taylor pergunta se encostando no balcão do bar da fazenda onde estamos a sós. — Devíamos festejar esse acontecimento.— Eu não posso, já fiquei tempo demais aqui com você.— Ah, Sila, por que não fica aqui? Está tão gostoso!— Os meus irmãos me matariam, mas antes eles matariam você.— Não tenho medo de morrer, não depois de te conhecer. — Ele retruca, fazendo um carinho atrás da minha orelha. Os minúsculos beijos cálidos fazem a minha pele se arrepiar e eu me pego sorrindo.— É sério, eu realmente não posso ficar.— Quando você precisa ir?— Eu já deveria estar lá. — Ele respira fundo.— Não a deixarei muito tempo sozinha e longe de mim, Senhorita Yilmaz. — Taylor sussurra.— O que pretende fazer, Senhor Miller?— Eu vou dizer o que vou fazer. Eu vou entrar em um avião, vou até a sua casa, enfrentarei os seus irmãos e a roubarei para mim.Rio sonoramente.Abro os meus olhos abruptamente, resfolegando em seguida e percebo o quarto todo
Murat— Você não devia estar curtindo a sua esposa na lua de mel agora? — Taylor pergunta quando nos acomodamos em uma mesa redonda na calçada de um Café. Sem lhe responder faço sinal para o atendente atrás do balcão e ele se aproxima em segundos.— Gostaria de café turco bem forte — peço e fito o meu amigo do outro lado da mesa.— Eu quero o mesmo e traga algumas torradas também.— Certo. — O rapaz se afasta e agora ele me olha.— O que foi aquilo na noite passada? — inquiro com um tom sério demais.— Aquilo o que, meu amigo?— Taylor, não se faça de besta. Eu percebi que você e a Sila...— Epa, calma aí! O que tem a Sila e eu?Sorrio, porém, não vejo graça alguma no que está se passando pela minha cabeça.— Você me conhece a quanto tempo, Taylor?— Tempo o suficiente para saber que você está encontrando um motivo para fugir desse seu casamento, meu amigo. O que é isso? A sua esposa está sozinha em casa exatamente quando você deveria estar lá com ela. E você está aqui me interrogando
Murat— A culpa foi minha. — Ela me interrompe para a minha surpresa. Continuo a fitá-la e ela continua olhando para a mesa. — Eu o provoquei.Eu realmente não esperava por isso.— Mas fui eu quem perdeu o controle. Não devia ter feito o que fiz com você. — Ela finalmente me olha. — Aqui é a sua casa agora, Sila e eu não admito que diga o contrário.Ela apenas meneia a cabeça em resposta.— Eu peço desculpas por isso!Devo dizer que estou ainda mais surpreso.— Também quero te pedir desculpas e eu prometo que isso não vai acontecer outra vez.O silêncio toma conta da mesa, porém, algo me satisfaz. Ela está comendo e isso dissipa qualquer frustração causada nesses três dias. Satisfeito, começo a comer também.— Você disse que se sente sozinha — falo, atraindo a sua atenção para mim outra vez. — Infelizmente eu não posso ficar dentro de casa o dia inteiro, mas prometo acompanhá-la na primeira e na última refeição do dia.— Não é necessário, Senhor Murat.E lá está a garota petulante out
Murat…— Não vai me contar qual é a surpresa? — Cecília indaga sorridente, enquanto a faço caminhar cuidadosamente, porque os seus olhos estão vendados pelas minhas mãos. Sorrio.— Tenha paciência, meu amor, já estamos chegando lá. Só mais um pouco. Mais um pouco e… chegamos.— Chegamos aonde? — Bem devagar começo a remover as minhas mãos dos seus olhos e espero ansioso pela sua reação.— Murat? — Cecília sussurra enquanto ofega devagar e um sorriso maravilhado começa a se abrir nos seus lábios bem delineados. — Ele é lindo! — Minha esposa resfolega, acariciando com dedicação os pelos marrons que tem algumas manchas brancas e o seu sorriso muito feliz parece se ampliar ainda mais. — Qual o nome dele? — Dou de ombros.— Ele não tem... ainda. Pensei que você gostaria de dar um nome para ele. — A observo pressionar os lábios por alguns instantes, enquanto franze a sua testa pensativa.— Jessé. — Ela sibila, encarando o animal com amor.— Jessé? — A fito curioso, porém, não seguro um sor
Minutos depois, estamos cavalgando devagar pelo campo e indo em direção da mansão. Entretanto, o calor do seu corpo colado ao meu me faz sentir estranho. É como se ela me queimasse, com se ardesse dentro de mim, mas é o seu perfume que me faz fechar os olhos algumas vezes e eu me pego apreciando o seu cheiro doce e suave.Não faça isso, Murat. Ela jamais será sua porque o seu coração está fechado se lembra? Nunca se esqueça disso.***— Boa noite! — Minha esposa diz após entrar na sala de jantar. Sem me conter permito que os meus olhos apreciem os seus cabelos que agora estão úmidos por causa do banho recém tomado e como se tivesse pressa o seu perfume preenche todo o cômodo, me deixando inquieto e incomodado.— Boa noite! — Me forço a dizer, enquanto a observo se acomodar em uma cadeira e em seguida ela começa a se servir. — Tomei a liberdade de escrever os seus limites para você não se sentir perdida nessa casa, Sila — declaro sem desviar os meus olhos de cima dela e no mesmo instan
SilaDurante a madrugada…— PORQUE ELE É UM ASSASSINO, OK?! Ele a matou! Ele a matou! Ele… ela… a matou!Abro abruptamente os olhos, encontrando o teto do meu quarto. Ofegante, me sento na cama e puxo o ar para tentar me acalmar. Um assassino, ele disse, mas eu não vi isso nos olhos de Jessé. Pensativa, saio da cama e vou para perto de uma janela. O meu olhar vai para direto para o estábulo do outro lado do jardim e como se fosse atraída por ele, me afasto da janela, visto um casaco quente e macio por cima da roupa de dormir, e saio do quarto.Dentro do corredor encontro a quietude da casa, além da sua escuridão e caminho cautelosa para não esbarrar em alguma coisa pelo caminho, e assim não acordar a casa inteira. Vou direto para cozinha, bebo um pouco de água e luto contra a minha vontade de sair ao encontro do animal.Não ir até o estábulo, essa é uma de suas regras. Bufo audivelmente e sem querer os meus olhos param em cima de um cesto cheio de cenouras que está em cima de um balcã
Sila— Sim, provavelmente ele esteja atrás dos arbustos. — Ela faz menção de sair, porém, lhe jogo uma interrogação.— Você conheceu a Cecília, não foi? — Ela balbucia, parece pensar no que me dizer.— Eu… a conheci.— Imagino que ela era uma mulher impressionante — comento, fazendo-a sorrir.— E ela era. Todos nessa casa a amavam.Eu sabia!— O Érõn a pertencia? — Seu sorriso se amplia.— Dona Cecília era amante dos animais e o Senhor Murat sabia disso. Por isso ele o comprou para ela.— E as escolhas dos nomes dos animais são sempre turcos, você sabe o porquê?— Por amor ao Senhor Murat. — Ela responde um tanto sonhadora.— Amor perfeito e riqueza foram as suas escolhas — sibilo.— Sabe, era lindo vê-los juntos, mas quando ela chegou aqui… — Franzo a testa.— Ela? Ela quem?— Ayla?! — A voz rígida de Murat me faz congelar e a garota imediatamente se afasta de mim. Um puxão brusco no meu braço me faz bater duramente contra o seu corpo, mas é o seu olhar furioso que me faz engolir em