Sila
— Oi Sila, como você está? — Sinan pergunta calmamente se sentando do meu lado, em um banco de madeira no jardim da nossa casa.
— Como acha que eu estou? — sibilo um tanto desanimada, enquanto observo o balançar das plantas. — Amanhã irei me casar com um homem que eu mal conheço e que parece ter um rei na barriga.
— Acredite Sila, o Murat não é essa pessoa que você desenhou aí dentro dessa sua cabeça. E o Deniz só quer o melhor para você.
— Não acha que ele deveria me perguntar o que é melhor para mim primeiro?
— Sei que está chateada, minha irmã, mas tente dá uma chance para ele. — Ele deixa um aperto firme na minha mão que está no meu colo e após soltar um suspiro, sai me deixando sozinha.
Para o meu desgosto, um caminhão entra na propriedade Yilmaz e logo eles começam a descarregar alguns objetos de decoração.
— Sila? — Mamãe me chama na entrada da casa. — Venha, chegou algo aqui para você. — Ela avisa e eu me forço a me levantar. Dentro da sala, encontro algumas caixas brancas e de vários tamanhos espalhadas pelo cômodo.
— O que é tudo isso? — pergunto sem qualquer empolgação.
— Presentes do Senhor Arslan, Senhorita Yilmaz. — Um rapaz responde e após encerrar a sua entrega, ele sai.
Definitivamente não me sinto animada em abri-las. Penso quando a porta volta a se abrir e Marli passa por ela.
— Não vai abrir os seus presentes, filha? — Mamãe parece um tanto curiosa.
— Não. — Me deixo cair sentada no sofá, olhando-as com certo desdém.
— Nossa, quantas caixas! — Minha amiga cantarola admirada. — São para você, Sila?
— O Senhor Murat as enviou. — Mamãe responde por mim.
— Meio exagerado, não acham? — resmungo, cruzando os meus braços e pernas, apoiando a minha cabeça no encosto do sofá para encarar o teto.
— Olha, se você não está morrendo de curiosidade. — Ela volta a cantarolar, passeando entre os embrulhos. Bufo audível. — Será que eu posso? — indaga chegando perto de uma caixa pequena, puxando o pequeno laço de cetim, abrindo-a logo em seguida. E na sequência ela ergue uma linda gargantilha de ouro branco com uma medalha delicada. — Uau! — Marli diz maravilhada.
— Ela é mesmo muito linda, filha! — Mamãe sussurra se aproximando para admirá-la. Depois, elas não medem distância para abrir as outras caixas. Sapatos, perfumes, um buquê de lírios brancos e... um vestido de noiva.
Esse último item me fez levantar e engolir em seco, porém, enquanto elas fazem festa, eu continuo estática.
***
Algumas horas depois...
— Conseguiu falar com o Taylor? — pergunto cautelosa quando finalmente conseguimos ficar sozinhas.
— Consegui. — Marli solta um ar nervoso pela boca, observando cuidadosamente os lados.
Meu coração dispara por antecipação.
— E, o que ele disse?
— Que chegará aqui amanhã no final da tarde. — Arqueio as sobrancelhas.
— No final da tarde? Oh meu Deus, e se não der tempo, e se for tarde demais? — Fico agitada.
— Você sabe que é uma viagem longa até aqui, Sila. Não dá para fazer melhor do que isso.
Bufo sacudindo os meus cabelos para atrás dos meus ombros.
— Oi, sobre o que vocês estão conversando, meninas? — Mamãe questiona surgindo de repente e somos obrigadas a encerrar a nossa conversa.
— Sobre o casamento da Sila, tia Eda, sobre o que mais seria? — Marli responde rapidamente, colocando entusiasmo na sua voz.
Forço um sorriso de boca fechada para a minha mãe.
— É, sobre o casamento — afirmo com descaso.
— Que bom que você aceitou esse casamento, filha!
— Eu não aceitei, mamãe, eu estou sendo abrigada a aceitar. Isso é bem diferente — sibilo, abrindo um sorriso sarcástico em seguida.
— Você vai ver, Sila, você vai ser muito feliz com ele.
— Eu espero que sim.
***
No dia seguinte...
Dentro do meu quarto as horas se avançam como um tigre faminto prestes a me devorar, enquanto caminho de um lado para o outro do meu quarto dentro de um vestido de noiva exageradamente longo e exuberante. Estou nervosa e muito, muito agitada. Vez ou outra, olho pela janela para ter certeza de ele já chegou e devo dizer que é agoniante constatar que Taylor ainda não está aqui, e eu penso que será o meu fim se ele não vier.
Uma batida na porta do meu quarto me faz parar de andar e nervosa olho para a madeira que começa a se abrir devagar.
— Está na hora, querida. — Mamãe avisa e eu engulo a vontade de chorar.
Onde está você? Onde está?
— Vamos, Sila, estão todos te esperando lá embaixo. — Marli anuncia animada, mas logo ela engole o seu sorriso feliz quando percebe que eu não o retribuo o seu gesto.
Diferente dos casamentos convencionais esse é um casamento Turco. Portanto, antes da cerimônia, tem toda uma festividade e um ritual. Primeiro a noite da henna, onde as mulheres se reúnem para preparar a noiva para o seu noivo. Depois, o casal passeia unidos por um laço de fita vermelho entre os convidados para receber os seus presentes valiosos. Por fim, é a vez do meu sacrifício final. Com um nó sufocando a minha garganta desço a escadaria e caminho direto para o jardim da mansão. Do lado de fora Deniz me aguarda bem na entrada representando a figura do nosso pai. Ele me dá a sua benção e tem um olhar brilhante, e orgulhoso em cima de mim. Damos alguns passos para frente e então ele me entregar para o Senhor Arslan.
Difícil não observar. Um homem de feições rígidas, sempre sério e um olhar tão gélido, e sem expressão alguma. Com uma pose imponente ele me estende a sua mão e trêmula a seguro para começarmos a nossa marcha entre os incontáveis convidados.
— Você está linda, Sila! — Murat fala baixo, inclinando-se sutilmente na minha direção. Sua voz tem um timbre grosso e áspero, seco e ao mesmo tempo frio. É como se fosse forçado a dizer essa frase. Sem jeito apenas aceno para ele e desvio o meu olhar para encarar os olhares maravilhados e os sorrisos felizes.
— Parabéns, Sila!
Alguns dizem me abraçando e beijando a minha face. Contudo, o meu coração acelera violentamente quando finalmente o vejo adentrar a propriedade. Tenho vontade de sorrir, de largar tudo e de sair correndo de perto para ele, e de abraçá-lo. Os nossos olhos se encontram brevemente, porém, tudo fica confuso quando o meu namorado sorrir para o homem que está do meu lado.
Sila— Venha, Sila eu quero que conheça alguém. — Murat fala me fazendo caminhar na direção do homem que eu amo e no ato, sinto a minha garganta ficar severamente seca. — Taylor, meu irmão querido, você veio! — O Senhor Arslan comemora com uma alegria que nunca vira expressar.Estou confusa, o que está acontecendo aqui?— Murat, meu grande amigo meus parabéns! — Os homens se abraçam fortemente, dando tapinhas nas costas um do outro. Contudo, permaneço paralisada apenas assistindo a essa cena e tentando entender alguma coisa, e quando eles se afastam, encaro os olhos receosos de Taylor.— Sila, esse é Taylor Miller, ele é o meu melhor e grande amigo. — Meu chão simplesmente fugiu de debaixo dos meus pés e ao encarar a sua mão estendida para mim ofeguei.— É um prazer conhecê-la, Sila! — Taylor simplesmente fingiu não me conhecer. Contudo, engulo em seco sem saber o que fazer.— Pode... — sibilo com um tom baixo demais. — Pode pegar algo para eu beber? — peço para o meu noivo sem sequer
SilaA noite escura transformou-se em dia bem diante dos meus olhos, pois não consegui fechá-los nem mesmo por um segundo. À medida que as horas passavam eu tive uma retrospectiva da minha vida e percebi que eu mal a vivi. Em algum momento da noite, uma empregada me ajudou a me livrar do pesado vestido de noiva e eu me permiti tomar um banho demorado em uma tentativa inútil de relaxar. Depois, deitei-me na cama e fitei a janela por horas a fio e agora estou protelando sair desse quarto para conhecer a minha nova gaiola de ouro.— Bom dia, Senhora Arslan! — Uma empregada fala assim que alcanço o topo da escadaria.— Bom dia, e o Senhor Arslan?— Ele já saiu, Senhora.— Como assim, ele já saiu?— O Senhor Arslan já foi para o escritório, Senhora.Que espécie de casamento é esse? Me pergunto, deixando um aceno sutil para a moça e desço as escadas.— Bom dia, Senhora Arslan, o Senhor Arslan pediu para servir o seu dejejum na varanda. É um local amplo, mais iluminado e a Senhora poderá usu
Sila...— Então você se formou em psicologia? — Taylor pergunta se encostando no balcão do bar da fazenda onde estamos a sós. — Devíamos festejar esse acontecimento.— Eu não posso, já fiquei tempo demais aqui com você.— Ah, Sila, por que não fica aqui? Está tão gostoso!— Os meus irmãos me matariam, mas antes eles matariam você.— Não tenho medo de morrer, não depois de te conhecer. — Ele retruca, fazendo um carinho atrás da minha orelha. Os minúsculos beijos cálidos fazem a minha pele se arrepiar e eu me pego sorrindo.— É sério, eu realmente não posso ficar.— Quando você precisa ir?— Eu já deveria estar lá. — Ele respira fundo.— Não a deixarei muito tempo sozinha e longe de mim, Senhorita Yilmaz. — Taylor sussurra.— O que pretende fazer, Senhor Miller?— Eu vou dizer o que vou fazer. Eu vou entrar em um avião, vou até a sua casa, enfrentarei os seus irmãos e a roubarei para mim.Rio sonoramente.Abro os meus olhos abruptamente, resfolegando em seguida e percebo o quarto todo
Murat— Você não devia estar curtindo a sua esposa na lua de mel agora? — Taylor pergunta quando nos acomodamos em uma mesa redonda na calçada de um Café. Sem lhe responder faço sinal para o atendente atrás do balcão e ele se aproxima em segundos.— Gostaria de café turco bem forte — peço e fito o meu amigo do outro lado da mesa.— Eu quero o mesmo e traga algumas torradas também.— Certo. — O rapaz se afasta e agora ele me olha.— O que foi aquilo na noite passada? — inquiro com um tom sério demais.— Aquilo o que, meu amigo?— Taylor, não se faça de besta. Eu percebi que você e a Sila...— Epa, calma aí! O que tem a Sila e eu?Sorrio, porém, não vejo graça alguma no que está se passando pela minha cabeça.— Você me conhece a quanto tempo, Taylor?— Tempo o suficiente para saber que você está encontrando um motivo para fugir desse seu casamento, meu amigo. O que é isso? A sua esposa está sozinha em casa exatamente quando você deveria estar lá com ela. E você está aqui me interrogando
Murat— A culpa foi minha. — Ela me interrompe para a minha surpresa. Continuo a fitá-la e ela continua olhando para a mesa. — Eu o provoquei.Eu realmente não esperava por isso.— Mas fui eu quem perdeu o controle. Não devia ter feito o que fiz com você. — Ela finalmente me olha. — Aqui é a sua casa agora, Sila e eu não admito que diga o contrário.Ela apenas meneia a cabeça em resposta.— Eu peço desculpas por isso!Devo dizer que estou ainda mais surpreso.— Também quero te pedir desculpas e eu prometo que isso não vai acontecer outra vez.O silêncio toma conta da mesa, porém, algo me satisfaz. Ela está comendo e isso dissipa qualquer frustração causada nesses três dias. Satisfeito, começo a comer também.— Você disse que se sente sozinha — falo, atraindo a sua atenção para mim outra vez. — Infelizmente eu não posso ficar dentro de casa o dia inteiro, mas prometo acompanhá-la na primeira e na última refeição do dia.— Não é necessário, Senhor Murat.E lá está a garota petulante out
Murat…— Não vai me contar qual é a surpresa? — Cecília indaga sorridente, enquanto a faço caminhar cuidadosamente, porque os seus olhos estão vendados pelas minhas mãos. Sorrio.— Tenha paciência, meu amor, já estamos chegando lá. Só mais um pouco. Mais um pouco e… chegamos.— Chegamos aonde? — Bem devagar começo a remover as minhas mãos dos seus olhos e espero ansioso pela sua reação.— Murat? — Cecília sussurra enquanto ofega devagar e um sorriso maravilhado começa a se abrir nos seus lábios bem delineados. — Ele é lindo! — Minha esposa resfolega, acariciando com dedicação os pelos marrons que tem algumas manchas brancas e o seu sorriso muito feliz parece se ampliar ainda mais. — Qual o nome dele? — Dou de ombros.— Ele não tem... ainda. Pensei que você gostaria de dar um nome para ele. — A observo pressionar os lábios por alguns instantes, enquanto franze a sua testa pensativa.— Jessé. — Ela sibila, encarando o animal com amor.— Jessé? — A fito curioso, porém, não seguro um sor
Minutos depois, estamos cavalgando devagar pelo campo e indo em direção da mansão. Entretanto, o calor do seu corpo colado ao meu me faz sentir estranho. É como se ela me queimasse, com se ardesse dentro de mim, mas é o seu perfume que me faz fechar os olhos algumas vezes e eu me pego apreciando o seu cheiro doce e suave.Não faça isso, Murat. Ela jamais será sua porque o seu coração está fechado se lembra? Nunca se esqueça disso.***— Boa noite! — Minha esposa diz após entrar na sala de jantar. Sem me conter permito que os meus olhos apreciem os seus cabelos que agora estão úmidos por causa do banho recém tomado e como se tivesse pressa o seu perfume preenche todo o cômodo, me deixando inquieto e incomodado.— Boa noite! — Me forço a dizer, enquanto a observo se acomodar em uma cadeira e em seguida ela começa a se servir. — Tomei a liberdade de escrever os seus limites para você não se sentir perdida nessa casa, Sila — declaro sem desviar os meus olhos de cima dela e no mesmo instan
SilaDurante a madrugada…— PORQUE ELE É UM ASSASSINO, OK?! Ele a matou! Ele a matou! Ele… ela… a matou!Abro abruptamente os olhos, encontrando o teto do meu quarto. Ofegante, me sento na cama e puxo o ar para tentar me acalmar. Um assassino, ele disse, mas eu não vi isso nos olhos de Jessé. Pensativa, saio da cama e vou para perto de uma janela. O meu olhar vai para direto para o estábulo do outro lado do jardim e como se fosse atraída por ele, me afasto da janela, visto um casaco quente e macio por cima da roupa de dormir, e saio do quarto.Dentro do corredor encontro a quietude da casa, além da sua escuridão e caminho cautelosa para não esbarrar em alguma coisa pelo caminho, e assim não acordar a casa inteira. Vou direto para cozinha, bebo um pouco de água e luto contra a minha vontade de sair ao encontro do animal.Não ir até o estábulo, essa é uma de suas regras. Bufo audivelmente e sem querer os meus olhos param em cima de um cesto cheio de cenouras que está em cima de um balcã