VOLTA ÀS AULAS
— Ouro ou prata? — Sua mãe indagou, ao vê-la descer pelas escadas.
— Que diferença faz, mãe? — Esther disse em indagação, saltando dos dois últimos degraus e aterrissando na frente dela.
— Você sabe muito bem que logo irá se formar e como tradição, todos usarão um anel de formatura. — Ela disse aquilo com aquela cara de quem pensava: seja normal pelo menos uma vez na vida, e isto, Esther definitivamente não se preocupava em ser.
— Essa tradição está um pouco ultrapassada, não acha? — Esther murmurou, se agachando e amarrando o cadarço do seu sapato, que saltava para fora, o mesmo que havia ganhado de sua avó antes de se mudar de cidade.
A garota puxou a revista que sua mãe tinha em mãos e analisou as imagens dos anéis. Folheou algumas páginas, e arqueado uma das sobrancelhas respondeu apontando com o dedo. — Gostei desta.
Ela mostrou para sua mãe, passando a revista para ela.
— E outra... Acabamos de voltar das férias de inverno. A formatura será em cinco meses. Cinco meses, mãe! — Esther completou, enquanto ia em direção a cozinha.
Ela abriu a geladeira e serviu um copo d'água.
— Eu estou ansiosa… e também tenho novidades, eu acabei de receber o pagamento inesperado de um cliente de Esteio. Posso comprar agora e guardar para o dia da formatura. — Ela assegurou, sem tirar os olhos da revista. Jéssica estava realmente concentrada.
A mulher tinha a mania de comprar de tudo... Em outras palavras ela afogava a ansiedade dela gastando dinheiro.
— Ótimo, mas o que o papai diz sobre isso? — Esther quase esboçou um risinho ao perguntar, pois sabia que o pai era do tipo economizador compulsivo.
— Ele disse que sim com a cabeça, assim que saiu de casa pela manhã, mas acredito que ele não me entendeu muito bem. — Foi sua resposta. Jéssica puxou uma cadeira e se sentou à mesa de refeições. — Qual foi mesmo a que você gostou?
Esther pegou novamente a revista da mão dela e com mais calma percebeu que o belo anel com uma pedra delicadamente pequena, custava novecentas pratas.
— Elas custam o olho da cara! — Disse engolindo o último gole d'água, com pressa.
— Podemos pagar...
— Em quantas encarnações? — Esther debochou da situação, enquanto retirava uma caneta de dentro de sua mochila.
— Essa me parece muito melhor. — A garota circulou com a caneta, um dos anéis na revista, entregando-a em seguida para a mãe, que a segurou esperançosa.
— Mas isso é prata!
— Por favor, mãe. Já falei sobre isso. Para mim não faz diferença alguma de ouro para prata. São ambas iguais...
Jéssica passou a mão no cabelo e sorriu. Ela ia fazer aquilo.
— Tudo bem... Mandarei folhear este modelo a ouro. — É, ela fará.
— Obrigada por me entender. — Esther revirou os olhos e se debruçou sobre a mesa, antes de apanhar uma maçã que estava dentro de uma fruteira de vidro transparente. Ela esfregou a fruta em sua blusa e deu uma delicada mordida.
— Já estou atrasada para o colégio. Preciso ir! — Ela completou, enquanto apertava as bochechas da mãe e olhava impaciente o relógio à parede.
— Tudo bem, filha. Tenha um ótimo dia. — Jéssica disse um pouco entretida, enquanto a garota já estava saindo apressada da cozinha.
Esther e seus pais moravam em uma região com muitos campos verdes, bonitas montanhas e morros. Era realmente um lugar fantástico para se viver, sem a agitação da cidade grande. Principalmente à noite, quando o Sol se despedia, e as estrelas esbanjava beleza e poder quase que hipnótico, um fato em que Esther se lembrava de ser grata, afinal de contas, aqui era um ótimo lugar para se observar o céu sem a poluição de luzes da cidade.
Monteiro tinha pouco mais de cinquenta mil habitantes e era dividido em dois distritos: Cidade de Cima e Cidade de Baixo. Separadas por um grande rio chamado Barragem.
Apesar de Esther morar a quase dois quilômetros do centro da Cidade de Baixo, onde se localiza seu colégio, não se importava em cruzar a ponte e ir pedalando em sua bicicleta. Isso a dava gás e um pouco de tempo para reflexão, entretanto, morar em cidade pequena tinha suas vantagens e desvantagens. Por exemplo, você se tornava uma criatura conhecida por algo. — No caso, Esther era a maluca dos livros. — E todos se conheciam também. Mas claro, positivamente coisas novas surgiam em um piscar de olhos, como o parque de diversões que se estabeleceu próximo à prefeitura da cidade.
Atravessar a Rua Liberdade, sem que a senhora Medeiros a visse, sempre foi uma tarefa árdua para ela. Aquela mulher um pouco maluca aparecia do nada, como fantasma à espreita.
Esther saiu de sua casa, pedalando lentamente ao lado de grandes arbustos, analisando o movimento da extensa rua que terminava em um beco fechado, e onde havia um posto de combustível. Parecia que o campo estava livre e ela poderia ir. Bem, só parecia.
Antes dela pedalar por dois metros...
— Senhorita Ferreira! — Aquela voz de bichinho da goiaba ecoou atrás dela, fazendo-a acionar o freio da bicicleta e parar instantaneamente.
Ela olhou pelo retrovisor antes de se virar com o melhor e mais desconcertante sorriso que poderia fazer.
— Senhora Medeiros. Que dia lindo, não? E olha... Você me encontrou novamente por aqui, na rua. A senhora não tem muito que fazer, não é mesmo? — Esther questionou, cerrando os dentes e olhando para seus enormes seios. Aquilo chamava mais atenção do que sua maquiagem muito bem caprichada.
— Quero dizer... Não foi bem o que eu quis expressar. Eu não quis ser indelicada. — Esther se desculpou. Era quase que impossível não se atrapalhar quando ela estava atrasada e encontrava alguém-obstáculo.
Medeiros arregalou os olhos, e segurando com firmeza a coleira do seu cãozinho, respondeu como de costume:
— Vou levar o Brutos para passear e ver o movimento.
— Ah, é! O movimento — Esther balbuciou as palavras, lembrando-se de que ela gostava de movimentar-se próximo a sua residência.
A garota recolocou o pé no pedal, e o cãozinho da senhora lançou um... Sorriso? Não... Aquilo não era um sorriso. Estava mais para: encosta e eu lhe dou uma mordida, magrela.
Aquele chihuahua parecia mais bravo que o gato psicopata de sua avó.
Ela se afastou suavemente, de um modo que não atiçasse o cão.
— Estou um pouco atrasada para minha aula. Fica com essa maçã. É ótimo para os dentes. — Esther deu uma piscadela, enquanto colocava apressadamente a fruta nas mãos da senhora, e saía como uma lebre fugindo de um predador feroz.
— Ah, obrigada! Manda abraços para seu pai! — Medeiros disse com empolgação, enquanto Esther já se distanciava pedalando sua bicicleta de maneira desengonçada.
A senhora Medeiros era uma pessoa legal e de gostos peculiares. Seu apelido no bairro era: Madame Exagero. Pelo simples fato de aumentar tudo, inclusive partes de seu corpo. Nada que pudesse ser tão estranho. Ela tinha até admiradores na cidade. Entretanto, a madame adorava fofoca.
A mãe de Esther achava, curiosamente, que Madame Exagero era um tanto quanto apaixonada pelo seu marido, Raul. Isso pelo fato dela m****r tantos beijos e abraços para o treinador. Esther estava começando a acreditar nesta hipótese inquietante.
Madame Exagero costumava conversar muito, e nestes encontros, Esther estava sempre sem tempo. A garota não tinha muita paciência quando o interlocutor não a deixava falar. E quem tem?
Quão será que o Brutos sabe sobre a vizinhança?
Esther começou a pedalar mais depressa. Faltavam duas quadras até o colégio, e ela tecnicamente estava atrasada para o segundo dia de aula na Instituição Nova República.
Pedalando o máximo que pôde, quase atravessou os arbustos que existiam na calçada do outro lado da rua, se não fosse seu reflexo exemplar de acionar os freios. Ela nunca foi tão atleta, então, logo naquele momento ela já estava sem energia.
O que mais chamava a atenção de Esther, naquele colégio, era o fato dos alunos estarem divididos em grupos. Eles eram como manadas de zebras, assustados e com medo de predadores que poderiam devorá-los a qualquer momento.
Ela subiu com pressa as escadas que davam acesso à entrada principal do colégio. Se adentrando no primeiro corredor, que ainda se encontrava cheio e barulhento.
Apesar de Esther estudar ali há alguns anos, os alunos ainda a observavam com olhos estranhos. Como se não estivessem habituados a ver uma garota de óculos escuro e chapéu comprido na cabeça, perambulando pelos corredores do colégio. Todavia, ela não ligava mais para isso.
De longe, ela avistou uma grande amiga. Elisângela Oliveira.
Haviam se passado dois anos desde que ela ganhou o prêmio de garota do ano do colégio, mas ainda se vestia muito bem.
A bela ruiva de olhos fascinantemente azuis é como um lago tóxico. Como Mammoth Lake. Bonito na superfície, mas altamente destruidor em suas profundezas. Ela é um pouco ranzinza, mas nada que pudesse ser algo digamos que: ruim. Entretanto, sua pacífica harmonia era quebrada quando pisavam em seu calo. Daí eu asseguro, você pode e deve fugir para as montanhas!
De meses para cá, Elis vinha passando por alguns probleminhas de autoestima. Acredite! E sua psicóloga aconselhou a aproximação de pessoas de alto astral, o que fez ela adotar Esther como mascote terapêutico. Também, é claro, ela não via problemas em ajudá-la, até porque amigos são para essas coisas. De um modo não muito sincero, talvez por pura vergonha de expressar opiniões, Esther não se recusava em dizer que ela estava ótima, ainda que parecesse uma atriz pornô dos anos oitenta. — Opa, essa fui eu que disse, o narrador onisciente...
— Ei! E aí? — Esther disse ao se aproximar da amiga, dando um dolorido e centrado beliscão em uma das nádegas dela. Alertando-a.
— Ai! E aí! — Ela beijou o rosto de sua amiga ao virar-se. — Preparada para a última etapa do ano?
Elis jogou uma pilha de livros que tirou do armário, nos braços de Esther, que os recebeu sem esperar, um pouco desconfortável.
— É... Com certeza! — Esther soltou a respiração pelo nariz, ajeitando os livros. — Minha mãe até fez o pedido do anel de formatura.
— Que rápida!
— Você não viu nada.
O Colégio Nova República era dividido em três andares. Uma mega área com quadras esportivas, piscina e um refeitório que parecia mais McDonald’s de esquina de rua. Não que seja ruim. A comida ali era peculiar. Deixo aberto às opiniões...
Elis recolheu metade do peso que a amiga carregava.
— Obrigada.
— Está sabendo da festa beneficente? — Esther continuou seu discurso, indagando a amiga, enquanto andavam pelos barulhentos corredores do colégio.
— Beneficente? Quem se beneficia?
— Não seja tão cruel, Elis. É para arrecadar fundos para a festa de inauguração da nova quadra de esportes para o próximo ano. — Esther apontou discretamente para um cartaz simples, pequeno e nada profissional colado nos corredores.
— Ha! Ha! Não me faça rir. Isso é sério? Esther, você sabe que eu não gosto de festas. E outra. Aposto que parte desse dinheiro vai para o diretor Müller e sua coleção esquisita de coelhinhos holandeses. — Ela disse, enquanto desgrudava um dos papéis da parede e o analisa com atenção.
— São japoneses. — Esther corrigiu, lembrando-se de que ele um dia a fez levá-los ao veterinário que ficava próximo à instituição.
— Tanto faz! E. — Ela amassou o papel e jogou em uma lixeira.
— E...?
— E... Nós não estaremos aqui o ano que vem, bobinha. — Elis respirou fundo, enquanto retirava um estojo de maquiagem de sua mochila. Ela começou a se maquiar nos corredores, assim mesmo, caminhando. Ela realmente é boa nisso.
— Você é péssima! — Esther riu da amiga, observando o capricho do batom.
Antes que Esther pudesse zombar do borrão de batom que ficou na parte inferior do lábio da amiga, Elis a puxou de lado rapidamente e a jogou contra os armários, como se estivesse defendendo-a de um ataque inesperado.
— Vire-se para cá logo, sua vadia. — Ela falou em euforia, olhando por cima do ombro da amiga, e se escondendo atrás do grande chapéu de Esther.
— É ele. — Sua euforia era mais que evidente, e Esther sabia quais seriam os motivos de tanto êxtase: garotos.
— Ele quem?
— O garoto novo! Do Sul! — Ela respondeu, ainda segurando o braço de Esther, que já começava a ficar vermelho por conta das grandes unhas de Elis.
— E desde quando isso é qualidade, Elis? — Esther perguntou baixo, se virando discretamente e tirando a pesada mão da amiga, que se encontrava agora em cima do seu ombro.
O atraente garoto cruzou o corredor, devagar, com seus olhos grudados em um livro.
Cabelos aparentemente negros. Pele aparentemente clara. E olhos... Bom, olhos aparentemente concentrados, que se desviaram suavemente das páginas do livro até o rosto de Esther. Mantendo-se lá por alguns segundos, antes de se moverem novamente para o livro que lia.
Isso a passou a impressão de que ele havia a observado rapidamente pelo modo como estava naquele momento: excêntrica.
Talvez ele se perguntasse quem era aquela garota com ânsia de esconder seu rosto? Ou ele só a observou por impulso natural. Era o que se passava pela cabeça de Esther.
O rapaz é do estilo garotão surfista de um metro e oitenta, que não se importava muito com os olhares atenciosos das garotas.
A vantagem de Esther sobre o que acabou de acontecer é que, seus óculos o impedia de saber se ela estava olhando diretamente para ele ou não.
— Ei! Ele olhou para você! — Elis deu mais um beliscão no braço da amiga, despertando-a da atenção ao garoto, que por fim, entrou em uma sala.
— Ai! Você que merecia um desses... E não. Ele não olhou para mim. São coisas de sua cabeça. — Ela desviou um enorme problema. Brigar por garotos não valia a pena e Esther tinha um pequeno pensamento de achar que Elis era muito mais bonita do que ela. Quem realmente está com baixa autoestima, mesmo?
Elis não escondia a admiração exagerada pelo garoto novo.
— Ele é um gatão!
Para Esther, o aumentativo alertava algo: absoluto-interesse.
— Eu não vi seus bigodinhos. — Esther ironizou, dando risada de seu próprio comentário.
Uma boba lembrança passou na cabeça da garota. Sua mãe estava equivocada, quando disse que ela seria a gatinha arrasadora de corações no colegial.
Duas coisas Esther tinha infinita certeza:
Primeira: que ela não era uma gatinha.
Segunda: ela se considera infalivelmente boa em destruir corações.
Será que a “arrasadora de corações” se encaixava nesta súbita e modesta categoria?
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¹ Mencionadamente é uma palavra derivada de mencionar. Citar algo ou alguém; realizar ou fazer menção de; referir: o autor mencionou, em seu livro novo, informações desconhecidas.
O que mais impressionava Esther nas pessoas em geral era o modo como acreditavam que as coisas eram tecnicamente impossíveis. Seria nossa sociedade, impressionada com as injustiças, desforras políticas, mentiras e ilusões dos maioritários que a tornava assim? Visto que nascemos em um lugar, ainda que este não mostre perspectiva de vida, ou nos apoiem de maneira realista e positiva, o que define nosso “possível” não é o mundo ao nosso redor, senão nossa capacidade de vê-lo em profundidade, muito além da camada grossa que criamos em nosso campo de visão. Ainda que Esther vivesse uma vida tranquila e absolutamente normal com sua deficiência, ela não perdia as esperanças de um dia poder ver o mundo colorido. Pelo menos esse desejo
Esther gostava de sair e pedalar um pouco, de modo a refrescar a mente. Era uma espécie de meditação sobre rodas. Naquele dia ela pedalou para longe. Foi em direção ao bairro onde Fernando Rebouças morava com seus pais, e coincidentemente encontrou o pai dele. Denis Rebouças naquele exato momento, estava sendo expulso de um bar de esquina por dois homens grandalhões. Suas roupas surradas e sujas pareciam dizer que ele bebia há dias. Ele estava aparentemente embriagado naquele momento. Esther não pensou duas vezes e foi ao encontro do homem, que trocava as pernas ao caminhar. — Senhor Rebouças. — Ela disse, enquanto se aproximava do homem. O cheiro poderia ser sentido de longe. Ele havia realmente bebido. D
Você deve estar se perguntando como uma garota que não enxerga cores, principalmente as dos sinais de trânsito, pode dirigir? E a resposta está no sistema em que a mãe de Esther instalou no carro, que narra em tempo real, placas e sinais de trânsito. É a inteligência artificial contribuindo para a inclusão. Frente a sorveteria em que Elis e Esther marcaram o encontro, estava praticamente sem vagas para carros, o que a fez estacionar o automóvel uma rua antes. Esther saiu do carro, ativou o alarme do mesmo e caminhou devagar pela rua, enquanto observava as pessoas. Aquele finalzinho de tarde tinha um brilho diferente. Pessoas sorriam sem esforço. Romances no banco da pracinha ao lado, pareciam se multiplicar. Cães e gatos se entendendo... Curioso. A primavera realmente era uma estação mágica.
DOMINGO É DIA DE FUTEBOL O dia de domingo para Esther era um pouco entediante. Principalmente quando seu pai a chamava para ajudar no campo de treinamento esportivo. Na verdade, ela não fazia muita coisa não. Eram os garotos que tinham que suar a camisa. Não que a maioria gostasse de fazer isso, pois geralmente eles costumavam tirá-la durante as partidas. Domingo de manhã, Esther estava disponível para seu pai. À tarde, estava disponível para a sua mãe e à noite, saíam os três para completar o domingo. Esther engoliu com pressa a última fatia de sanduíche, quando seu pai entrou pela porta da cozinha. — Terminou seu lanche? — Ele indagou, colocando a mochila em cima da mesa. Raul estava vestindo uma camisa regat
Esther terminava de arrumar sua cama quando a sua mãe a gritou, empolgada com algo. Ela correu do quarto, um pouco apressada e apreensiva, chegando à sala. Uma coisa era verdadeira: sua mãe era boa em dar sustos falsos. — Mãe. O que foi? — Ela perguntou, quando a avistou ali mesmo do corredor que dava acesso à sala. Jéssica estava sentada à mesa, lendo um e-mail no computador. Seus óculos na ponta do nariz e sua xícara sobre a mesa à esquerda, indicavam que ela estava em seu dia de pesquisas, a qual ocorria a cada final de mês. — Eu recebi uma proposta para um projeto! — Ela disse, saindo da frente do computador e indo em direção a Esther, dando-lhe um abraço forte que retirou o ar dos seus pulmões.<
PRÉ-FESTA Esther entrou no carro de sua mãe e bateu a porta. Aquele cheiro de rosas pairando pelo ar indicava que ela acabou de passar no lava-jato. — Hum? Batom vermelho. Quem é o garoto? — Jéssica questionou em um tom de sarcasmo, antes de dar partida no automóvel.— Até você, mãe? — Esther revirou os olhos, não acreditando na perseguição e insinuação amorosa por parte delas. — Eu estou brincando. Mas, está lindo! — Jéssica corrigiu o batom na boca da filha. — Obrigada, mãe. — Ela respondeu, mas sua expressão demonstrava chateação. — Trocando de assunto. — Esther iniciou, enquanto se arrumava no banco e colocava o cinto de segurança. — Recebi um e-mail da Dra. Cecília. Ela quer que eu vá conhecer o oftalmologista e genet
Algumas pessoas começaram a dançar. Inclusive o diretor Müller, que mexia todo o seu corpo, como aqueles bonecos infláveis que ficam na frente das lojas, quando há descontos, chamando a atenção das pessoas. Esther observou de longe Fogueira atravessar a porta de entrada. Ele parou, olhando para todos os lados antes de bater seus olhos na garota. Ela percebeu. Ele estava indo em sua direção. — Oi! Esther. — O sorriso dele se mistura às palavras, ecoando aos ouvidos da garota. — Oi! — Aquela palavra saiu arrastada, enquanto ela pensava no encontro inesperado de hoje mais cedo. Ela pensou por dois segundos antes de continuar a conversa com uma pergunta que não se encaixava muito bem: — De boas com seu pai? Fogueira respirou profundamente estampando um sorriso a fim de evitar o nervosismo. — Ele é um homem de poucas palavras. — O garoto balbuciou as palavras, trocando de assunto em seguida. — O pessoal caprichou na decoração. Tá si
O PEQUENO O carro derrapou meio metro antes de parar de vez, chacoalhando-os para a frente. — O que houve? — Esther perguntou, olhando para os lados. — Me segue. — Ele disse ao abrir a porta do automóvel, saindo rapidamente. — Certo. — Ela respondeu, ainda que não pudesse mais ouvi-lo, devido ao barulho da chuva que ainda caía. Esther pegou seu casaco que ali estava próximo, e saiu, passando pela frente do carro e chegando do outro lado da calçada, onde Fogueira já estava. O frio não o intimidava, e antes que Esther pudesse fazer mais uma pergunta sobre o que estava acontecendo, ele disse: — Eu acho que ele está ferido.