PRÉ-FESTA
Esther entrou no carro de sua mãe e bateu a porta. Aquele cheiro de rosas pairando pelo ar indicava que ela acabou de passar no lava-jato.
— Hum? Batom vermelho. Quem é o garoto? — Jéssica questionou em um tom de sarcasmo, antes de dar partida no automóvel.— Até você, mãe? — Esther revirou os olhos, não acreditando na perseguição e insinuação amorosa por parte delas.
— Eu estou brincando. Mas, está lindo! — Jéssica corrigiu o batom na boca da filha.
— Obrigada, mãe. — Ela respondeu, mas sua expressão demonstrava chateação.
— Trocando de assunto. — Esther iniciou, enquanto se arrumava no banco e colocava o cinto de segurança. — Recebi um e-mail da Dra. Cecília. Ela quer que eu vá conhecer o oftalmologista e geneticista. O Dr. Mark Campbell, que também estuda meu caso. Na verdade, ele quer me conhecer. Preciso avisar o papai um tanto antes para me levar lá, agora nesta próxima semana.
Esther fuçou o celular e mostrou o e-mail para a mãe, que o analisou devagar, dividindo a imagem com a pista.
— Isso é demais! — Jéssica se empolgou, pressionando a buzina do carro sem querer.
— É!
— E eu posso ir junto? — Sua mãe sugeriu. Fazia semanas que ela não acompanhava os dois.
— Vou parecer criança. Mas tudo bem! — Esther respondeu, lançando para ela um sorriso esperançoso.
— Você é importante, hein? — Jéssica falou. Era notável sua felicidade.
— Não sei se isso é bom ou ruim. — Esther respirou fundo, afundando seu corpo no banco.
Assim que elas chegaram a casa, entrando pela garagem, de longe elas notaram Raul falar ao telefone. Ele parecia bem apreensivo.
Elas desceram do carro e entraram em casa.
— Aconteceu algo? — Esther perguntou prontamente, assim que ele encerrou a chamada.
— Você viu o Fogueira no colégio, hoje? — Raul indagou, com outra pergunta. Sua cara demonstrava preocupação.
Uma sensação estranha se instalava no ar, tomando conta de todos naquele momento.
— Eu não o vi. — Esther respondeu pausadamente, tentando se recordar do hoje. Ela foi levada àquele momento onde sentiu falta do garoto no colégio.
— O que houve, querido? — Jéssica perguntou, ainda mais apreensiva.
Raul deu voltas na sala e foi até a cozinha.
Elas o seguiram.
— Estranho! — Ele falou baixo, quase que em pensamento.
— Nós queremos entender. O que tem o Fogueira? — Esther perguntou mais uma vez, engolindo em seco.
— O pai do Fogueira, Sr. Vilela, disse que ele não apareceu em casa desde ontem, e que seu celular só dá caixa postal. — Raul disse rapidamente, enquanto abria a geladeira e retirava de dentro uma jarra com água — o técnico estava realmente apreensivo.
— Ontem à tarde teve treino e ele não compareceu... Não quis falar com o pai dele para evitar intrigas entre eles. — Acrescentou.
— Fogueira é o filho do novo investidor do clube? — Jéssica tentava compreender melhor a conversa. Ela não fazia ideia do que falavam.
— Sim, mas curiosamente Artur não estava nervoso. Quando eu falei da possibilidade de chamar a polícia para ajudar nas buscas, ele afirmou que não era necessário. Parece que ele sabe que isso é comum. Talvez o moleque já havia feito isto algumas outras vezes. — Raul deu seu palpite, enquanto fixava seus olhos na parede, pensando profundamente na situação.
— Espero que tudo se resolva. — Jéssica respondeu em inquietação, pensando como seria estranha a sensação se isso acontecesse com sua filha.
— O que será que tá rolando? — Esther completou, enquanto pensava na última vez que o viu. Naquele momento, veio a sua mente a mesma cena das buscas pelo Fernando. A história se repetiria?
Ela não conhecia o garoto muito bem, mas algo de estranho certamente estava acontecendo.
Esther subiu para seu quarto, como de costume, jogando a mochila sobre um banquinho estofado que havia ao lado da mesinha do computador.
Ela retirou os pés do apertado tênis, e os alongou em cima do tapete. Seu corpo precisava relaxar.
Ela se lançou na cama como se estivesse pulando dentro de uma piscina e esticou os braços o máximo que pôde. A manhã foi muito agitada, e depois da notícia do sumiço de Fogueira há cerca de algumas horas, ela ficou um pouco mais tensa.
A segurança na cidade e no país não estavam lá essas coisas, mas ela desconsiderou que algo de ruim tenha acontecido com o garoto novo. Algo dizia que ele estava por perto.
Entretanto, o motivo de sua preocupação com o quase conhecido garoto do time de futebol era muito incomum. De alguma forma, Fogueira Vilela lembrava o Fernando Rebouças. Duas pessoas diferentes, mas que têm uma energia abrangente em comum, como se estivessem ligadas por um propósito. Ou talvez, Esther apenas estivesse sendo invadida pela falta que o amigo fazia. Já se passaram alguns meses desde o ocorrido, e a única coisa que vinha a sua mente quando se recordava dele era: teria Fernando coragem de abandonar tudo e a todos? Não precisaria pensar muito para uma intuição dizer que não.
Esther levantou-se da cama e se dirigiu até a janela, que a apresentou um fim de tarde cinzento e melodramático. A única expressão da natureza que parecia pertencer-lhe naquele momento. Entretanto, interessantemente dias chuvosos a fascinavam.
A garota observou a rua distante e comum, mas de um modo diferente naquele instante.
As poucas pessoas que andavam por ali, não pareciam ter pressa. Exceto um homem... Ele logo chamou a atenção de Esther, por andar apressado, colocando uma perna atrás da outra rapidamente, enquanto olhava para os lados. Talvez precisasse chegar a algum lugar imediatamente.
Uma viatura da polícia municipal atravessou rapidamente a rua, descendo-a. Esta parecia seguir o ritmo do homem. As luzes acesas roubaram a atenção de Esther, que desviou seus olhos instantaneamente para o carro. Direção onde havia uma mulher se abaixando para pegar uma moeda no chão. Fato não muito peculiar que se mistura a cena, quase normal.
Todas as vidas que são observadas através daquela janela, de certa forma pareciam não ter relação com a de Esther, mas no momento da observação estas se mesclam de forma subjacente, mesmo que inconscientemente.
Estaríamos todos ligados por um tipo de propósito? Foi o último pensamento de Esther antes de fechar a janela.
Esther foi até seu guarda-roupa e retirou algumas roupas e as jogou na cama. Ela parou frente a mesma e ficou quieta, observando enquanto pensava. Sua mente não desviou do pensamento predominante: Fogueira.
— Preciso tomar um ar. — Ela sussurrou para si mesma, arrumando os cabelos.
Ela sabia que não era hora de pensar em festa quando alguém está desaparecido.
A garota desceu apressada, passando pela sua mãe e indo até à garagem.
— Que pressa! Aonde vai? — Sua mãe indagou à porta.
— Vou dar uma volta rapidinho. — Ela respondeu, pegando sua bicicleta e posicionando-se para sair.
— Mas você acabou de chegar. E o almoço? — Jéssica não entendeu o que a filha estava fazendo.
— É rapidinho... Prometo estar aqui em alguns minutos. — Ela disse, abrindo o portão com o controle remoto e saindo pelo mesmo.
— Não demora. — Jéssica entrou em casa.
Nem Esther sabia ao certo o que estava fazendo, mas pedalar pela vizinhança poderia ser uma ótima maneira de dissipar as preocupações que pairavam em sua cabeça.
Ela foi até a parte do rio Barragem, onde há muitas árvores. Um ótimo lugar para descansar e apreciar a natureza.
Seus óculos começaram a ficar embaçados devido à fina chuva que caía no local. Tudo a frente de Esther está um pouco distorcido, mas ela continua pedalando. Um erro... A garota passou o pneu da bicicleta em cima de uma pedra, que a fez desequilibrar, levando-a ao chão. Um tombo seco.
Esther sacudiu a poeira do corpo, mas antes de se levantar, alguém chegou até ela.
— Você tá bem? — Aquela voz...
— Fogueira? — Esther limpou os óculos, olhando para seu rosto. O garoto das chuteiras está bem, saudável, lúcido.
Num reflexo. Esther o abraçou.
Ele suspirou, apertando aquela espécie de vínculo e perguntando mais uma vez sobre o estado dela.
— Sim, estou bem. — Ela ficou sem graça. — Você estava sumido...
Fogueira desmanchou a cara de preocupado e esboça um sorriso miúdo.
— Meu pai ligou para o seu não foi? — Ele indagou, com uma expressão de quem sabia o que dizia.
— Por um momento me passou em mente algo preocupante. — Ela falou, medindo palavras e olhando nos olhos do garoto, entretanto ele não pôde ver os dela.
— É uma longa história. — Fogueira disse ajudando Esther a se levantar. — Meu pai é um pouco controlador.
Esther sacudiu a sujeira que ficou em suas roupas e subiu novamente na bicicleta.
Ela estava feliz por Fogueira estar ali, bem. Foi tudo apenas um mal-entendido.
— Para onde está indo? Deseja companhia? — Ele sugeriu, olhando as horas em seu celular, sabendo que talvez fosse tempo de retornar para sua casa.
Esther adoraria ficar um pouco mais com ele e conversar, mas ela não poderia ser egoísta. O pai do garoto deveria estar preocupado, então ela sugeriu que Fogueira ligasse para ele.
— Já estou indo para casa... Tenho que arrumar umas coisas antes da festa beneficente. — As palavras de Fogueira soaram verídicas.
— Nós nos vemos lá então. — Esther disse, também retirando o celular do bolso e verificando as horas. — Estou atrasada para o almoço. Até depois.
— Até breve, Esther.
Se há casualidade ou não, Esther não sabia ao certo, mas de alguma forma, eles acabaram se encontrando numa fração de minutos, como se fossem atraídos um ao outro.
Alguns minutos depois...
Em casa, Esther tirou um tempo para leitura a fim de se distrair, seguido de um banho quente e relaxante.
Com roupas novas, ela foi até a sala, onde estavam seus pais.
— Seus olhos estão brilhando. — Jéssica disse, notando a calmaria da filha.
— Me sinto melhor. — Ela respondeu.
O celular de Raul tocou, alertando a todos.
— Com licença. — Ele disse, saindo e indo atender a chamada na cozinha.
A ligação foi curta, menos de um minuto e a cara dele indicava algo positivo.
— Notícias do garoto? — Jéssica questionou, virando-se e observando-o.
Esther não quis contar até então que havia se encontrado com o Fogueira, seria difícil de explicar tamanha coincidência.
— Ele apareceu! — Raul pronunciou em uma expressão de alívio.
Esther sorriu para si mesma, sabendo que ele havia chegado em sua casa como o dito mais cedo.
— Mas e então... Ele está bem? — Jéssica perguntou, curiosa acerca do assunto.
— Sim! Segundo o Artur, ele está bem. Não foi nada de mais. Apenas um mal-entendido. — Raul falou com uma cara de quem pensa: que loucura não?
— Ainda me lembro daquela traumática noite de buscas com a família Rebouças. — Jéssica recordou do desaparecimento de Fernando, sem se dar conta de que aquilo ainda mexia com sua filha.
Raul arregalou os olhos, olhando diretamente para a esposa. Ele sabia que Esther ainda está sentida com aquilo, afinal de contas, eles nunca tiveram respostas.
— Desculpe filha. — Jéssica se apressou nas palavras. — Sei que ainda é difícil para você.
— Ainda não compreendo todo o caso. Há uma sensação de impotência. — Esther respondeu, um pouco mais segura nas palavras quanto há meses atrás.
— Está pronta? — Ela perguntou através da linha telefônica. O ruído ambiente demonstrava que ela já não estava em sua casa.
— Sim... Eu acabei de chegar aqui no colégio com o Estevão.
— Pegarei o carro da mamãe e em cinco minutos estarei aí — Esther disse, desligando o telefone em seguida e saindo.
A tardinha continuava nublada, e a noite iniciava com ameaça de chuva a qualquer momento.
— Tem certeza que você não quer que eu lhe leve? — Jéssica se ofereceu para dar carona, assim que ela chegou à cozinha. Ela estava preocupada com a chuva que poderia cair e atrapalhar a direção da filha.
— Relaxa mãe. Obrigada. Mas eu consigo. — Ela respondeu, suspirando e sorrindo. Esther ficava estagnada com a precaução exagerada de sua mãe.
— Tome muito cuidado, e mantenha seu celular ligado. — Jéssica alertou, lançando-a um olhar conhecido. Ele entregou a chave do carro.
Esther saiu de casa e pegou o carro que estava mal estacionado na garagem.
— Divirta-se! — Sua mãe gritou, quando Esther já estava saindo.
Ela buzinou em resposta.
Dirigir a noite parecia mais complicado que o habitual para ela, mas sua visão incrivelmente se adaptava perfeitamente à luz reduzida do ambiente.
Esther acelerou um pouco mais enquanto atravessou a longa ponte que separava os dois distritos, chegando à Cidade de Baixo, mais rápido que o normal.
As luzes traseiras dos outros carros naquele pequeno engarrafamento pareciam vaga-lumes reunindo-se para um grande espetáculo. A luz focava-se diretamente nos olhos de Esther, fazendo-a fechá-los por alguns segundos. Ela reduziu a velocidade do carro no momento que não conseguia mais ver a pista, a não ser um grande clarão.
Poder ou não dirigir, varia de cada pessoa portadora de Acromatopsia. É claro que, se Esther contasse esses detalhes para sua mãe, ela assinaria uma sentença de nunca mais pôr as mãos em um volante.
Esther se aproximou do colégio e viu a movimentação de alguns alunos logo à frente.
Assim que ela estacionou, uma fina chuva começou a cair sobre a cidade. Amenizando o calor que havia se instalado naquela tarde.
— Ainda bem que eu trouxe um casaco. — Ela pensou.
Esther esticou o braço para o banco de trás do carro e pegou seu grosso e quente agasalho.
Ela desceu do automóvel e apressou o passo para não se molhar muito, se adentrando rapidamente pelo portão lateral e indo em direção à quadra de esportes que estava toda decorada com muitas luzes e enfeites.
Elis já estava ali, com os garotos da banda, dando os últimos ajustes no som. Ela cumprimentou Esther de longe, enquanto alcançava para o Estevão, uma guitarra.
A decoração que os alunos do segundo ano vespertino fizeram estava muito bonita. Alguns balões de papéis coloridos estavam espalhados por toda a quadra. Esther os observou, mas tácita por saber que presenciava mais uma vez um evento da sua adolescência no universo preto e branco.
As mesas estavam muito bem recheadas com guloseimas e alguns ponches. Esther olhou em volta até seus olhos se baterem no diretor Müller que já estava na sua frente, usando um terno preto sobre branco que combinava com seus novos óculos.
Ela deu um passo para trás.
— Senhorita, Ferreira. Seja bem-vinda. — Ele disse com um sorriso interesseiro.
— Não irá se apresentar este ano? — Ele continuou, completando o pensamento dela.
— Este ano não. Quero ser espectadora. — Ela respondeu, mostrando um sorriso simpático.
Esther costumava participar de todos os eventos que o colégio realizava. Em todos os anos. Fernando e ela, sempre se apresentavam com poemas ou textos motivacionais no sarau da seção de artes.
— É uma pena. Gostamos muito de suas escritas. — Ele falou, orgulhoso, endireitando a gravata.
Ela não quis comentar que parte dos escritos eram de autoria do Fernando, mas agradeceu mesmo assim.
— Muito obrigada!
— Com licença. Preciso falar com a professora Emanuela. — Ele disse, saindo em seguida.
Esther caminhou até a mesa de bebidas, e começou a observá-la. Ela pensou, qual daquelas poderiam ser morango ou algo parecido. Era um ótimo sabor.
O som começou a rolar em uma altura agradável. Era uma gravação da música Someday, da banda The Strokes¹.
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¹ The Strokes é uma banda de rock dos Estados Unidos formada em 1998 na cidade de Nova Iorque. A banda é formada pelos membros: Julian Casablancas, Albert Hammond Jr, Nick Valensi, Nikolai Fraiture e Fabrizio Moretti.
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Algumas pessoas começaram a dançar. Inclusive o diretor Müller, que mexia todo o seu corpo, como aqueles bonecos infláveis que ficam na frente das lojas, quando há descontos, chamando a atenção das pessoas. Esther observou de longe Fogueira atravessar a porta de entrada. Ele parou, olhando para todos os lados antes de bater seus olhos na garota. Ela percebeu. Ele estava indo em sua direção. — Oi! Esther. — O sorriso dele se mistura às palavras, ecoando aos ouvidos da garota. — Oi! — Aquela palavra saiu arrastada, enquanto ela pensava no encontro inesperado de hoje mais cedo. Ela pensou por dois segundos antes de continuar a conversa com uma pergunta que não se encaixava muito bem: — De boas com seu pai? Fogueira respirou profundamente estampando um sorriso a fim de evitar o nervosismo. — Ele é um homem de poucas palavras. — O garoto balbuciou as palavras, trocando de assunto em seguida. — O pessoal caprichou na decoração. Tá si
O PEQUENO O carro derrapou meio metro antes de parar de vez, chacoalhando-os para a frente. — O que houve? — Esther perguntou, olhando para os lados. — Me segue. — Ele disse ao abrir a porta do automóvel, saindo rapidamente. — Certo. — Ela respondeu, ainda que não pudesse mais ouvi-lo, devido ao barulho da chuva que ainda caía. Esther pegou seu casaco que ali estava próximo, e saiu, passando pela frente do carro e chegando do outro lado da calçada, onde Fogueira já estava. O frio não o intimidava, e antes que Esther pudesse fazer mais uma pergunta sobre o que estava acontecendo, ele disse: — Eu acho que ele está ferido.
Esther Esther se levantou da cama tarde, mas recuperada do intenso e diferente ontem. Ela colocou seus pés no tapete que havia ali ao lado da cama e deu três pulinhos para despertar e matar a preguiça que ainda insistia em segurá-la. Ela soltou um duradouro bocejo. Esther foi até o banheiro, escovou pacientemente os dentes, colocou a lente de contato que reduzia significativamente a luz ambiente, e desceu para a cozinha, preparada para mais um dia na pacata cidade de Monteiro. Dias tão iguais estavam deixando-a maluca, até que sua mãe lhe aconselhou mudar alguns hábitos. Como acordar mais cedo para dar uma volta no quarteirão e aproveitar para pegar as roupas na lavanderia, ou dar alguns pulinhos na revistaria de modo a lhes trazer alguns livros e revistas interessantes que pudessem matar
PRAIA E FAROL Monteiro apesar de suas belas montanhas, e florestas verdes, também tinha incríveis praias ao norte da cidade. Era a cerca de sete quilômetros do distrito onde Esther morava. Tecnicamente ir de bicicleta lhes reservava maravilhosas paisagens. Porém, uma longa pedalada. A tarde se estendia tranquilamente, e por volta das 15h47, enquanto Esther terminava de colocar umas maçãs e uma garrafa de suco de laranja em sua mochila, uma buzina em sineta alertou a chegada do novo amigo. — Filha, o Fogueira chegou. — Sua mãe gritou da varanda. — Já estou indo. — Ela respondeu, terminando de fechar a mochila e arrumando seu chapéu que a protegia do Sol. Naquele momento era fundamental, afinal de contas, ela passaria um tempo significativo exposta à luz externa.
Alguns dias depois... A luz solar atravessou a fresta da janela e apontou certeiramente nos olhos de Esther. Ela os abriu, como por instinto. Um borrão claro e branco tomou conta de toda sua visão, fazendo-a fechá-los rapidamente em seguida. Esther se sentou na cama ainda desvairada, esfregando as mãos sobre os olhos. As pálpebras ainda pesavam no sono, e pareciam precisar primeiro, ficar fechadas, como se estivessem se adaptando gradualmente à luz ambiente. Ainda na cama ela se recordou de um sonho excepcional que teve. Sonhou com cores por todos os lados. Ela não poderia ditar seus nomes, mas eram imagens que seu cérebro jamais havia processado e tido o privilégio de acessar. E no meio da imensidão de cores, em um magnífico campo e
RESOLUÇÃO Esther quase trocou as pernas e tomba quando volta sua cabeça para a posição normal, após olhar fixamente para o ensolarado céu. Ela segurou a sua mochila com firmeza, e colocou-a no porta-malas do carro de sua mãe. Esther entrou no automóvel com a expectativa de conhecer o Dr. Mark Campbell e poder tirar dúvidas que a Dra. Cecília lhe poupava. Seus pais estavam a bordo, e mais ansiosos do que Esther. Pareciam que estavam prestes a ter um bebê. É, talvez houvesse um pouco de verdade nisso. No momento em que eles chegaram à clínica, a recepcionista sorridente fez uma rápida ligação interna. — Vocês podem ir à sala: 32. — Ela os auxilia. Uma sensação estranha se estabeleceu
Esther carregou o telescópio que havia em seu quarto e colocou-o na grama do quintal, apontando para a constelação de Orion. A noite silenciosa de um céu magnífico e estrelado é um convite irresistível a uma exploração estrelar. As estrelas brilhavam em harmonia, acendendo e fraquejando seu brilho, como luzes de Natal. Elas ignoravam se gastariam toda sua fartura e beleza com Esther, talvez a única espectadora da noite. Era por volta das 19h30. O movimento na cidade, visto deste ângulo, do morro onde ela estava, parecia cada vez mais suave. A cidade ao norte, mostrava suas luzes fortes e alaranjadas. Estas, apontavam para o céu cortando o brilho das estrelas no horizonte. Pelo telescópio Esther avistou mais de perto o mo
A GAROTA DA CÂMERA Há um número improvável de situações que podem acontecer com você em uma vida, quase que como o número de estrelas. E esta conta ainda é maior e mais exata, quando você coloca a intenção nas coisas que faz e procura fazer. A frase: quem procura acha, é um ótimo exemplo disto. Não se pode botar a intenção de procurar algo, sem que o foco do universo volte-se para você e te entregue inúmeras respostas, pessoas e "coincidentes" situações que te levará ao encontro exato e ao fim de sua procura, sob um achado lógico. Entretanto, o universo parece brincar com as pessoas, ou é muito chegado em adrenalina, e isto pode invariavelmente desencadear respostas boas e de bom proveito ao pesquisador, ou catastróficas e turbulentas desventuras ao mesmo. As aulas haviam retornado e Esther se dirigia calmamente ao colégio quando presenciou um pequeno