O PEQUENO
O carro derrapou meio metro antes de parar de vez, chacoalhando-os para a frente.
— O que houve? — Esther perguntou, olhando para os lados.
— Me segue. — Ele disse ao abrir a porta do automóvel, saindo rapidamente.
— Certo. — Ela respondeu, ainda que não pudesse mais ouvi-lo, devido ao barulho da chuva que ainda caía.
Esther pegou seu casaco que ali estava próximo, e saiu, passando pela frente do carro e chegando do outro lado da calçada, onde Fogueira já estava.
O frio não o intimidava, e antes que Esther pudesse fazer mais uma pergunta sobre o que estava acontecendo, ele disse:
— Eu acho que ele está ferido.
Esther Esther se levantou da cama tarde, mas recuperada do intenso e diferente ontem. Ela colocou seus pés no tapete que havia ali ao lado da cama e deu três pulinhos para despertar e matar a preguiça que ainda insistia em segurá-la. Ela soltou um duradouro bocejo. Esther foi até o banheiro, escovou pacientemente os dentes, colocou a lente de contato que reduzia significativamente a luz ambiente, e desceu para a cozinha, preparada para mais um dia na pacata cidade de Monteiro. Dias tão iguais estavam deixando-a maluca, até que sua mãe lhe aconselhou mudar alguns hábitos. Como acordar mais cedo para dar uma volta no quarteirão e aproveitar para pegar as roupas na lavanderia, ou dar alguns pulinhos na revistaria de modo a lhes trazer alguns livros e revistas interessantes que pudessem matar
PRAIA E FAROL Monteiro apesar de suas belas montanhas, e florestas verdes, também tinha incríveis praias ao norte da cidade. Era a cerca de sete quilômetros do distrito onde Esther morava. Tecnicamente ir de bicicleta lhes reservava maravilhosas paisagens. Porém, uma longa pedalada. A tarde se estendia tranquilamente, e por volta das 15h47, enquanto Esther terminava de colocar umas maçãs e uma garrafa de suco de laranja em sua mochila, uma buzina em sineta alertou a chegada do novo amigo. — Filha, o Fogueira chegou. — Sua mãe gritou da varanda. — Já estou indo. — Ela respondeu, terminando de fechar a mochila e arrumando seu chapéu que a protegia do Sol. Naquele momento era fundamental, afinal de contas, ela passaria um tempo significativo exposta à luz externa.
Alguns dias depois... A luz solar atravessou a fresta da janela e apontou certeiramente nos olhos de Esther. Ela os abriu, como por instinto. Um borrão claro e branco tomou conta de toda sua visão, fazendo-a fechá-los rapidamente em seguida. Esther se sentou na cama ainda desvairada, esfregando as mãos sobre os olhos. As pálpebras ainda pesavam no sono, e pareciam precisar primeiro, ficar fechadas, como se estivessem se adaptando gradualmente à luz ambiente. Ainda na cama ela se recordou de um sonho excepcional que teve. Sonhou com cores por todos os lados. Ela não poderia ditar seus nomes, mas eram imagens que seu cérebro jamais havia processado e tido o privilégio de acessar. E no meio da imensidão de cores, em um magnífico campo e
RESOLUÇÃO Esther quase trocou as pernas e tomba quando volta sua cabeça para a posição normal, após olhar fixamente para o ensolarado céu. Ela segurou a sua mochila com firmeza, e colocou-a no porta-malas do carro de sua mãe. Esther entrou no automóvel com a expectativa de conhecer o Dr. Mark Campbell e poder tirar dúvidas que a Dra. Cecília lhe poupava. Seus pais estavam a bordo, e mais ansiosos do que Esther. Pareciam que estavam prestes a ter um bebê. É, talvez houvesse um pouco de verdade nisso. No momento em que eles chegaram à clínica, a recepcionista sorridente fez uma rápida ligação interna. — Vocês podem ir à sala: 32. — Ela os auxilia. Uma sensação estranha se estabeleceu
Esther carregou o telescópio que havia em seu quarto e colocou-o na grama do quintal, apontando para a constelação de Orion. A noite silenciosa de um céu magnífico e estrelado é um convite irresistível a uma exploração estrelar. As estrelas brilhavam em harmonia, acendendo e fraquejando seu brilho, como luzes de Natal. Elas ignoravam se gastariam toda sua fartura e beleza com Esther, talvez a única espectadora da noite. Era por volta das 19h30. O movimento na cidade, visto deste ângulo, do morro onde ela estava, parecia cada vez mais suave. A cidade ao norte, mostrava suas luzes fortes e alaranjadas. Estas, apontavam para o céu cortando o brilho das estrelas no horizonte. Pelo telescópio Esther avistou mais de perto o mo
A GAROTA DA CÂMERA Há um número improvável de situações que podem acontecer com você em uma vida, quase que como o número de estrelas. E esta conta ainda é maior e mais exata, quando você coloca a intenção nas coisas que faz e procura fazer. A frase: quem procura acha, é um ótimo exemplo disto. Não se pode botar a intenção de procurar algo, sem que o foco do universo volte-se para você e te entregue inúmeras respostas, pessoas e "coincidentes" situações que te levará ao encontro exato e ao fim de sua procura, sob um achado lógico. Entretanto, o universo parece brincar com as pessoas, ou é muito chegado em adrenalina, e isto pode invariavelmente desencadear respostas boas e de bom proveito ao pesquisador, ou catastróficas e turbulentas desventuras ao mesmo. As aulas haviam retornado e Esther se dirigia calmamente ao colégio quando presenciou um pequeno
A tarde se iniciava de forma passiva e quente, como um belo dia de verão. Assim que Esther chegou a sua casa, sua mãe já estava com as malas prontas para sua viagem a negócios. Ela abriu a porta principal de casa, derrubando uma pequena mala que estava encostada ali. — Hoje será sua grande viagem? — Esther indagou, assim que entrou em casa. Ela havia se esquecido disso por um momento. — Exato. Mas eu volto. — Sua mãe disse, se aproximando dela e apertando suas bochechas. — Há uma lista de coisas que deixei para vocês fazerem. Coisas básicas. — Jéssica lhe entregou uma "grande listinha". Para Esther ela realmente era uma super mãe. — Acho que hoje em dia todas se encaixam nes
A música que Fogueira colocou começou a tocar. Era uma suave canção da banda escocesa Mogwai. — Exatamente como curto. — Ela disse, enquanto fechava os olhos e aproveitava a melodia envolvente. Fogueira a observou internamente. — Sou aquela pessoa que escuta música de todos os gêneros e de qualquer lugar, desde que elas tenham uma letra inspiradora. — Ele falou, aumentando um pouco o volume do som. O parque estava há dez minutos de onde estavam, logo ao lado da sede principal da prefeitura do distrito dois. — Já percebeu que nós interagimos e curtimos mais este lado da cidade? Deve ser porque ele tem uma cara mais "divertida", do que a pacífica e quieta parte cheia de bairros residenciais da Cidade de Cima. — Fogueira disse, enquanto entrava no lugar onde o parque havia sido instalado. — Verdade... E o outro distrito da cidade onde moramos, curiosamente não é frequentada por ninguém daqui. — Ela retrucou, com um fato curioso.