A CASA DE SHOW
O sinal do colégio tocou, alertando os alunos sobre o intervalo. Esther e Elis se encaminhavam até a praça de alimentação, que já estava cheia de estudantes por todas as partes.
Elas procuraram um lugar para sentar e fizeram isso, quando localizaram uma mesa livre no canto do grande salão, junto a uma janela— Você deveria me deixar mais informada sobre sua relação com o Fogueira. — Elis disse, colocando sua mochila sobre a mesa e retirando seu lanche que trouxe de sua casa. Era um suculento e saudável sanduíche de frango.
— Sabe. Eu estou deixando as coisas fluírem. — Esther disse, também pegando seu lanche. — Acho que você está cansada desse papo de "deixar as coisas fluírem".— Pode ter certeza que sim. Acho que já fluiu o bastante. Parte para o plano "amasso".— O quê? Você pirou? Ele é diferente. — Esther defende o respeito admirável de Fogueira.— Tô brincando. Cuidado para não perder a vez. — Ela fez uma brincadeEsther estava muito preocupada ao descobrir que seu amigo havia caído nas mãos de algum criminoso sujo e corrupto. Ela estava a ponto de tirar esta história a limpo, mas precisava ser cautelosa. Precisava manter sua integridade.Fogueira alertou a Esther para não envolver a polícia até ter provas suficientes dos fatos que descobriram, mas estavam prontos para acionar a polícia militar estadual, assim que encontrassem o responsável por tudo.Todas as informações levavam a um suspeito: Toupeira. O policial que estava envolvido com o esquema de tráfico na cidade. De alguma maneira, ele encobria os outros. Era o que Esther percebera naquele momento. — Você está na frente deste computador há um bom tempo. — Jéssica afirmou, ao chegar no quarto da filha. Esther estava fazendo pesquisas na web, a fim de descobrir mais alguma pista das histórias que cada vez se juntavam em uma única.— Eu já terminei. É um trabalho do colégio. — Ela disse, fechando rapidamente a aba que est
A CASA Eles entraram na rua Dr. Sales e foram direto para a casa de Fernando. Fazendo o mesmo esquema. Assim que chegaram, deixaram suas bicicletas ao lado e pegaram a chave secreta novamente. — Não ligue a luz. Não vamos chamar atenção. — Fogueira disse, quando Esther já estava prestes a acionar o botão da luz da sala. — Vamos usar a lanterna do celular.— Ah! Que burra eu sou... Está bem. — Esther respondeu, puxando seu celular do bolso e ligando a lanterna. A casa estava muito escura, mas nada que pudesse limitar a locomoção deles.— Eu não estou vendo estas caixas. — Esther disse para Fogueira, olhando para todos os cantos.— Talvez esteja no porão. — Ele sugeriu, indo até à cozinha. — Esther. Vem aqui! — Ele completou. Sua voz saiu firme e séria. — O que foi? — Ela chegou atrás dele, receosa.— Há galões com gasolina. São mais de trinta litros. — Ele falou, iluminando os galões que estavam pelo chão.— Para quê tanta g
CORES RARAS - Magno NovaesIndependentemente da quantidade de livros e enciclopédias que Esther Ferreira leia, nenhum parece ter a resposta para quem ela realmente é e qual sua verdadeira influência neste mundo. Uma incessante busca para compreender por que chegou a este mundo do jeito que chegou a consome, mergulhando-a em um mar de incertezas. Ainda assim, entre todos da família, Esther sempre foi a mais entusiasmada. Apesar das inseguranças sobre os eventos em sua vida, mantinha-se firme graças à fé, esperança e uma positividade inabalável. Contudo, frequentemente sentia-se à beira de um abismo. Jéssica Ferreira, sua mãe, acreditava — mesmo sem ser psicóloga — que essa angústia de Esther era apenas um efeito de sua tumultuada adolescência. A "garotinha" estava a um passo de seus dezoito anos, dezoito primaveras peculiares aos olhos de Esther. Desde a mudança de sua família para Monteiro oito anos atrás, Esther passou a questionar ações e comportamentos que, para muitos, pareciam
CORES RARAS por Magno Novaes, 2017 - 2021 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não importa quantos livros e enciclopédias, Esther Ferreira leia, nenhum deles tem a resposta de quem de fato ela é, e qual a influência dela, neste mundo. Uma verdadeira febre por saber por quê ela veio ao mundo da forma que viera, a consumia vorazmente, fazendo-a se afundar em um rio denso de dúvidas. Entretanto, a garota sempre se mostrou ser a mais entusiasta da família, e ainda que se sentisse receosa quanto a tudo o que acontecia consigo mesma, tinha fé, esperança e uma positividade corpulenta que a mantinha em ordem, mas mesmo assim parecia estar estreitamente a ponta de um precipício. Sua mãe, Jéssica Ferreira, achava. — Ainda que ela não fosse psicóloga por título. — Que esta dúvida ex
VOLTA ÀS AULAS — Ouro ou prata? — Sua mãe indagou, ao vê-la descer pelas escadas. — Que diferença faz, mãe? — Esther disse em indagação, saltando dos dois últimos degraus e aterrissando na frente dela. — Você sabe muito bem que logo irá se formar e como tradição, todos usarão um anel de formatura. — Ela disse aquilo com aquela cara de quem pensava: seja normal pelo menos uma vez na vida, e isto, Esther definitivamente não se preocupava em ser. — Essa tradição está um pouco ultrapassada, não acha? — Esther murmurou, se agachando e amarrando o cadarço do seu sapato, que saltava para fora, o mesmo que havia ganhado de sua avó antes de se mudar de cidade. A garota puxou a revista que sua mãe ti
O que mais impressionava Esther nas pessoas em geral era o modo como acreditavam que as coisas eram tecnicamente impossíveis. Seria nossa sociedade, impressionada com as injustiças, desforras políticas, mentiras e ilusões dos maioritários que a tornava assim? Visto que nascemos em um lugar, ainda que este não mostre perspectiva de vida, ou nos apoiem de maneira realista e positiva, o que define nosso “possível” não é o mundo ao nosso redor, senão nossa capacidade de vê-lo em profundidade, muito além da camada grossa que criamos em nosso campo de visão. Ainda que Esther vivesse uma vida tranquila e absolutamente normal com sua deficiência, ela não perdia as esperanças de um dia poder ver o mundo colorido. Pelo menos esse desejo
Esther gostava de sair e pedalar um pouco, de modo a refrescar a mente. Era uma espécie de meditação sobre rodas. Naquele dia ela pedalou para longe. Foi em direção ao bairro onde Fernando Rebouças morava com seus pais, e coincidentemente encontrou o pai dele. Denis Rebouças naquele exato momento, estava sendo expulso de um bar de esquina por dois homens grandalhões. Suas roupas surradas e sujas pareciam dizer que ele bebia há dias. Ele estava aparentemente embriagado naquele momento. Esther não pensou duas vezes e foi ao encontro do homem, que trocava as pernas ao caminhar. — Senhor Rebouças. — Ela disse, enquanto se aproximava do homem. O cheiro poderia ser sentido de longe. Ele havia realmente bebido. D
Você deve estar se perguntando como uma garota que não enxerga cores, principalmente as dos sinais de trânsito, pode dirigir? E a resposta está no sistema em que a mãe de Esther instalou no carro, que narra em tempo real, placas e sinais de trânsito. É a inteligência artificial contribuindo para a inclusão. Frente a sorveteria em que Elis e Esther marcaram o encontro, estava praticamente sem vagas para carros, o que a fez estacionar o automóvel uma rua antes. Esther saiu do carro, ativou o alarme do mesmo e caminhou devagar pela rua, enquanto observava as pessoas. Aquele finalzinho de tarde tinha um brilho diferente. Pessoas sorriam sem esforço. Romances no banco da pracinha ao lado, pareciam se multiplicar. Cães e gatos se entendendo... Curioso. A primavera realmente era uma estação mágica.