FELLIPO MESSINA
— Senhor, o cinto por favor, o avião irá pousar. — pediu a aeromoça morena de voz melosa, enquanto me comia com os olhos. Não disse nada apenas fiz o que pediu. Olhei pela janela do meu avião vi lá em baixo, não tão longe agora, a grande cidade do Rio de Janeiro. Minha vida ia muito bem na Itália, a máfia mais poderosa do que nunca, tenho 38 anos agora, e já há 13 anos venho fazendo avanços maiores que qualquer Capo que tenha passado por ela conseguiu. Alianças e novos negócios, as empresas de fachada só cresciam na Europa e Américas. Desde os meus 9 anos não venho ao Brasil, sem lembranças ruins ou boas desse lugar simplesmente não sinto falta da minha terra natal. Estou no Rio a trabalho a sede do país estava tendo problemas, possíveis desvios grandes para contas particulares, Rafael Marques, gerente da filial me deixou a par desse assunto. Fiquei puto e resolvi vir pessoalmente resolver esse problema, civilizadamente ou com um buraco na testa do filho da puta que ousou roubar algo de um Messina. Pobre homem, não sabe onde se meteu. Depois do pouso, suspirei e desci arrumando meu terno preto meio abarrotado por causa da viagem. — Senhor, o transporte estar a sua espera. — Informou Frances, meu chefe da segurança. Desci os degraus rápido e me enfiei no SUV preto quando ele foi aberto por um outro segurança. Thomas, o motorista já estava em posição. — Boa noite senhor. Direto para sua casa? — perguntou. — Minha casa não é aqui. — Murmurei uma resposta. Ele balançou a cabeça em concordância e se desculpou. Sendo noite, por volta das oito, o centro da cidade estava movimentado, belo e iluminado, mas não chegava aos pés da Itália, me irritava muito estar ali. Detestava sair e deixar meu Conselho no comando, não confio em ninguém, em especial naquelas raposas velhas. Outra coisa me aborrecia voltar aquele lugar: Vinicius meu irmão mais novo. Soube que ele é dono de um morro, virou o merda de um traficante de pó. Tem muitos homens e se diz poderoso por aqui. Mas sempre abaixo de mim. Esse desgraçado não é nada além de um fracassado. ◆ ◆ ◆ — Hora de almoçar amigão. — Rafael tentava me tirar da sala, estou aqui desde de as seis da manhã. Odeio quando alguém pensa que tem intimidade comigo. Não dormi, a insônia me pegou. Passei a noite bebendo e monitorando meu império de longe. — Sou a porra do seu chefe e não seu amigão. — deixei bem claro. Ele arregalou os olhos, mas logo disfarçou. O foco era descobrir quem estava por trás disso e ir embora. A pessoa era esperta, não consegui ainda nem o nome do sujeito, só o valor das transações para contas no exterior. Comunicaria a minha equipe de hackers e logo estarei com minhas mãos nesse cara. — Certo chefe, só queria saber se quer ir no refeitório e... — Não. — O interrompi enfurecido com sua insistência. Ele suspirou derrotado.— Tudo bem. — Concordou e saiu. Bati na mesa irritado, ele não sabe da minha real identidade, e prefiro não a mostrar sem necessidade mas a vontade é de acabar com esse mauricinho de merda, se me irritar mais, vou precisar substitui-lo. A porta abriu novamente e a cabeça ruiva dele apareceu. — Posso pelo menos pedir em algum restaurante? Passei a mão na coronha da arma que sempre carrego na cintura. De onde estava, conseguiria facilmente acertar no meio dos olhos dele. — Sim. — Ele sorriu e saiu. Somos conhecidos de infância, mas o tempo passou as coisas mudaram, principalmente eu. Continuei trabalhando enquanto aguardava respostas dos hackers. Submerso em pensamentos obscuros, em que fazia planos para uma morte lenta e dolorosa para o indivíduo que brincava comigo, quando a porta foi aberta bruscamente, levantei a cabeça rápido e mais rápido ainda pus a mão na arma prestes a sacar. Era somente um garoto, boné preto, camisa branca com o nome “Lasai” em preto, calça jeans e tênis. Gosto de analisar bem as pessoas ao meu redor, no ramo que vivo, isso é essencial. — Pois não? Deve ser algo importante para entrar assim na minha sala sem bater. — Rosnei com a mão ainda na arma. Ele bufou alto e levantou uma sacola branca. — Não sabia que tinha gente, — disse simples dando de ombros — mas aqui, seu almoço. — Justificou. A voz era estranha, mas eu entendia que devia estar na puberdade, ela tende a mudar nesse período, às vezes, afina para depois engrossar. — Deixa isso aqui moleque e vai embora. — Mandei fazendo pouco caso. Prestes a baixar os olhos para o computador quando ouço um "filho da puta". Estava quase no meu limite e ainda aparecia um garoto dos infernos para me irritar mais?! Levantei da poltrona confortável e o encarei, ele estava deixando a sacola na mesa, ou seja, se achava bem perto de mim. — Repita o que disse. — Determino estreitando os olhos para ele. — Eu não sou um moleque seu imbecil. — Repetiu destemido com a voz mais alta. Louco para morrer, e eu para matar. — Você não me conhece. Por isso irei perdoar seu comportamento. — Tentei manter a calma, não dar para matar alguém assim no meio do dia com o prédio cheio de gente. — Estou atrasada. E preciso que faça o pagamento. — Continuou. — E se eu não quiser pagar? Vai fazer o quê? — perguntei com ar zombeteiro, encostado na mesa, transparecendo uma falsa tranquilidade. O garoto magro assumiu uma posição rígida, como se estivesse pronto para uma luta corpo a corpo. Não sei por que estou aqui parado perdendo tempo com isso. Mas algo nele me deixou intrigado. — Não queira saber. Preciso ir! — retrucou demonstrando raiva no tom de voz fino. Não segurei a risada diante de tal "ameaça". Enfurecido, ele veio sem medo para cima de mim, com as mãos cerradas em punhos e os passos pesados, nesse momento tive um vislumbre diferente do seu rosto. "É uma menina?"FELLIPO MESSINA — Paga logo. — Insistiu. Não movi um músculo, continuei parado com as mãos nos bolsos, encarando a figura friamente e com curiosidade, queria ver até onde ele se atreveria a ir. Acho que o garoto estava mesmo com pressa. Mas a forma que falou comigo, eu não gostei e não posso deixar passar fácil. Saí do meu lugar e me aproximei, baixei um pouco a cabeça para mira-lo bem nos olhos. — Saia da minha sala agora. — Rangi os dentes furioso deixando as palavras saírem pausadamente, para não correr o risco que não fosse claro o suficiente. — Não enquanto não me der o dinheiro. Disseram que você pagaria aqui. — Explicou devolvendo meu tom raivoso. Abri a boca pra retrucar mais com aquele garoto quase morto, porém a porta foi aberta novamente de forma brusca, assustando a nós dois, uma mulher loira alta e bonita, entrou rapidamente sendo seguida por um segurança da empresa, nos crachás estava escrito: Hugo Muniz e Sara Araújo. — Senhor Messina... — ela disse resp
KESIA MUNIZ Se passaram cinco anos desde aquele dia, as vezes ainda tenho pesadelos, apesar das feridas físicas terem sido cicatrizadas, a mental nunca irá, por sorte, existem pessoas maravilhosas na minha vida que ajudam a amenizar a dor. — Mamãe. Mamãe acorda logo. — Sou acordada com uma chuva de beijinhos molhados. Sorrio e abro os olhos. Meu filho lindo e amado é tudo para mim. — Você acaba de despertar o monstro da cosquinha! — joguei ele na cama e fiz cocegas, o menino riu muito. — Mamãe me ajuda! Ri junto observando seu rostinho rosado por causa das risadas, cabelo bagunçados, me fez lembrar que quando pensei em desistir, fui salva de mim mesma. Levantamos juntos e fomos tomar banho. O arrumei para ir à escolinha, com ele sempre tagarelando sobre seus amiguinhos. Vesti calça jeans preta e a farda do restaurante. Desde aquele dia, sou ainda mais fechada, faço de tudo para ser invisível, cortei o cabelo bem curto, nunca mais o deixei crescer, me fazialembra a
FELLIPO MESSINA Essa era minha primeira oportunidade de chegar mais perto dela. Kesia Muniz. Essa garota não saia da minha cabeça, estava ficando louco. Tive que vê-la de novo, só a olhar nas telas não era suficiente, aguentei por uma semana, acompanhando de longe no trabalho, em casa, toda sua rotina. Ver o quanto ela é diferente de todas que já cruzaram meu caminho, me deixa mais instigado para desvenda-la e tê-la para mim. Não é segredo que o diferente chama mais atenção, é como um manjar dos deuses. E agora estar aqui na minha frente, prestes a ir embora de moto no meio de uma tempestade violenta. Não posso deixar. — Você não vai sair daqui. —Segurei seu pulso fino para provar que não estava blefando, ela tentou puxar, mas não soltei, a mesma lançou um olhar mortal. Não me intimidou, pelo contrário, despertou meu tesão, ela deve ser fogo na cama, uma diaba. Encarei seus lindos olhos azuis, o boné cobria o cabelo castanho. Foi tudo muito rápido, enquanto estud
KESIA MUNIZ Onde estava com a cabeça quando fui parar aqui dentro da sala desse homem? Vim porquê tive medo, está chovendo muito, então... — E quem é você? — Devolveu minha pergunta. Distraída me culpando internamente e procurando motivos para ter vindo, ouvir a voz dele foi um susto. — Ninguém. — Dei um sorriso sem mostrar os dentes, o mesmo franziu o senho. — Mentirosa. Se vamos ficar dentro dessa sala até a tempestade passar, precisamos falar de algo, que seja sobre você. — Insistiu cruzando as pernas e tomando o último gole do uísque. Quem disse que eu vou ficar? — Quis dizer ninguém que possa lhe interessar. — Expliquei sem querer me aprofundar. — É casada? — Insistiu nas perguntas. — Não sou e nunca vou ser. — Rodei na cadeira giratória enquanto o ouvia gargalhar alto. Contei uma piada? — Nunca é uma palavra muito forte. Permaneci séria e levantei, decidida a acabar de vez com aquele conversa estranha e patética, vou embora agora e ninguém vai impedir.
KESIA MUNIZ O ignorei e dirigi para fora do estacionamento. Quando sai na rua, acelerei, fingindo que ele não estava ali. Mas podia sentir minha pele queimando sob seu olhar felino. — Você gosta de carros? — perguntou tentando puxar assunto, o ignorei e concentrei na avenida pouco movimentada. — Não vai... Fellipo ia começar a falar de novo, mexi num botão e uma música que eu não conhecia começou a tocar, aumentei bastante o volume, assim não ouviria sua voz. Olhei de relance e o vi me encarando, levantei uma sobrancelha e voltei a atenção para frente. A viagem foi feita toda em silêncio, a não ser pelas músicas aleatórias que tocava. Eu dirigia o mais rápido possível para sair logo de perto dele, mas a chuva não facilitava tanto. Quase dez da noite cheguei em casa. Desliguei o motor. O que faço agora? Não vou agradecer. Afinal, ele me forçou a isso. Abri a porta do carro e simplesmente sai. Não sou obrigada a ser gentil com uma pessoa que me machucou fisicamente
KESIA MUNIZ — Ele disse que está com o que você procura. — é claro que está. Meu sorriso murchou na hora. Franzi a testa e olhei para o meu irmão que observava de longe. Por que Deus? Será que joguei pedra na Cruz? Olhei para a porta da rua e depois para a do elevador, eu poderia ir embora facilmente sem ter que estar na presença daquele homem outra vez. Me forcei a olhar para o outro lado, eu definitivamente precisava do meu pertence! Não podia deixar de busca-lo, além de ter sido muito caro e está fora de questão comprar outro agora, também não posso receber uma multa por andar sem o mesmo. Gemi baixinho sendo sugada pela razão. Marchei para o elevador mais zangada, apertei o botão do último andar, quando as portas estavam se fechando Hugo apareceu e gritou: — Você não pode ir nesse. É exclusivo do chefe e dos sócios! Sorri para ele dando tchauzinho, ainda o vi balançar a cabeça pela fresta que sobrou e depois se fechou. Não queria admitir, mas o nervosismo era
KESIA MUNIZ Depois daquele dia e nos dias seguintes, ele começou a pedir comida sempre. Eu suspeitava seriamente que não me mandavam por acaso, alguém aqui no restaurante recebia para fazer essa sabotagem comigo, pois era sempre a escalada a ir deixar no escritório do poderoso chefão. O mesmo tentava puxar assunto comigo, mas eu não dava brecha, inventava alguma coisa e ia embora. A coisa boa de ir lá era que eu via a Flávia, nós estávamos nos tornando boas colegas. Descobri que ela e o marido são novos na cidade e moram perto da minha casa. Angelo e Luana, a filha dela estudavam na mesma sala por coincidência. ◆ ◆ ◆ Era noite de sexta e a Tati tentava me arrastar para uma festa. — Oh amiga vamos por favor. Não é todo dia que eu completo 25 anos. Por favor... — ela implorou com os olhos minando lágrimas. Sério que ela iria chorar? — Tati eu não posso, tenho meu filho. Kesia! Para de botar a culpa no Ângelo, sei muito bem que tem pessoas que cuidam dele. — Acusou mago
KESIA MUNIZ — Senta aqui com a gente. — O cara do cabelão ondulado, volumoso e castanho claro, chamou dando espaço para nós duas no sofá preto. Estreitei os olhos e já ia recusar quando a anã de jardim da Tati me empurrou para sentar quase fazendo-me derrubar a bebida, bufei, ela riu cínica do meu lado, do outro estava uma ruiva estranha. — E então... — Eles começaram a conversar. Fiquei calada na minha, bebericando o líquido. Será que o Angelo já dormiu? Que droga estou fazendo aqui? Devia estar em casa com ele. — Ei! — a ruiva estranha berrou do meu lado. Quase joguei meu copo na cara dela. — Vamos brincar consequência ou consequência? — sugeriu animada. Consequência ou consequência? O que botaram na bebida dela? — Vamos. — Gritaram em concordância. — Estou fora. — Dei o último gole na bebida. Todos me olharam abismados. — Ah não, fica garota. — A morena falou. — Kesia... — Tati fez bico. Revirei os olhos e suspirei irritada. Meus tímpanos estavam a pont