A noiva de Krampus: O demônio da Máfia
A noiva de Krampus: O demônio da Máfia
Por: Ária Martins
Medo

O Primeiro Encontro com o Krampus

Analia

A memória daquele Natal, tantos anos atrás, ainda me causa arrepios. Eu tinha dez anos e vivia com meus pais na propriedade da família Krueger, nas montanhas da Áustria. Naquele ano, a neve caía mais densa, cobrindo tudo em um silêncio sufocante. Papai dizia que o frio era mais intenso porque era "um ano de renascimento". Eu não entendia o que aquilo significava, mas o que vi naquela noite ficou gravado para sempre em minha mente.

Foi a primeira vez que vi Nicoll, o "Krampus". Ele tinha quatorze anos e parecia... um ser que não deveria existir. Alto e magro, mas com uma presença que gelava mais que o vento lá fora. Ele andava pelo pátio como se o frio não pudesse tocá-lo, vestido apenas com uma bermuda escura. No rosto, uma pintura grotesca de caveira que contrastava com seus olhos sombrios, olhos que pareciam enxergar a alma das pessoas.

Minha curiosidade infantil me levou a observá-lo pela janela da cozinha, mas assim que ele virou a cabeça e nossos olhares se cruzaram, senti um frio diferente – algo mais profundo, algo que vinha de dentro. Corri para o meu quarto, meu coração batendo como se quisesse escapar do meu peito. Eu não sabia explicar o que havia naquele garoto, mas uma coisa era certa: ele não era normal.

Escondi-me debaixo da cama e tapei os ouvidos, tentando não escutar os sons que vinham de fora. A família Krueger fazia seu "ritual de Natal". Não era como aquelas histórias bonitas de cânticos, presentes e luzes. Era um desfile grotesco, com máscaras horríveis e roupas de pele de cabra, chifres erguidos para o céu. Eles imitavam o Krampus, o demônio do Natal. Mas Nicoll... Nicoll não precisava de máscara. Ele era o próprio Krampus.

Aquela noite foi o começo de uma semana sem dormir. Cada som, cada estalo, fazia meu coração disparar. Até mesmo a ideia de cruzar com Nicoll me fazia tremer. Assim, fiz o que qualquer criança faria: mantive-me longe dele. Fugir se tornou meu instinto. Eu evitava seus passos, sua voz, sua sombra. E por anos, deu certo. Eu era invisível para ele, como deveria ser.

Nicoll Krueger era o senhor daquelas terras. Mesmo jovem, todos sabiam que ele era diferente. Dominador. Perigoso. Ele não precisava se esforçar para ser temido. Para mim, ele era a personificação de tudo o que eu deveria evitar.

Mas o destino tem um jeito cruel de brincar com as coisas. E, anos depois, descobri que fugir do Krampus seria impossível.

Meu nome é Analia. Um nome comum, desses que não chamam atenção, que qualquer pessoa poderia ter. E é exatamente assim que prefiro viver: sem ser notada, invisível. Especialmente para ele.

Subo na cadeira e começo a trocar as cortinas da sala dos senhores Krueger. A luz que entra pela janela mal aquece a casa, mas ilumina o suficiente para que eu termine rápido. Faço tudo correndo, o mais depressa que consigo, porque sei que ele está chegando. Nicoll Krueger. O Krampus.

Nicoll passou os últimos anos na universidade, longe daqui. Não que ele precisasse de um diploma para provar alguma coisa. Todos sabiam que ele era um gênio, mas nenhum campus era suficiente para ele. Inteligente demais, brilhante demais, perigoso demais. Dizem que foi expulso de várias universidades, não por falta de capacidade, mas por desavenças. Ele nunca seguia as regras; ele as criava. E agora, ele está de volta.

Desço da cadeira num pulo, o coração acelerado. A ideia de cruzar com ele me deixa em pânico. Corro para fora da casa, tentando me livrar daquele ambiente pesado.

Menina, não corra assim! — Meu pai, sempre atento, ralha enquanto corta lenha ao lado do nosso pequeno chalé.

Ele deve estar chegando, papai. — Minha voz sai baixa, como se falar dele em voz alta pudesse invocá-lo.

Meu pai para o que está fazendo e me olha, a expressão dura e séria. Ele é um homem forte, calejado, mas até ele não consegue esconder o temor que Nicoll provoca.

Deve, sim. E você vai ficar dentro de casa. Saia pelos fundos, se precisar, mas não apareça para o Krampus. Nem se eu estiver morrendo, ouviu bem?

Eu engulo em seco e balanço a cabeça. — Ouvi, ouvi.

Por um momento, nossos olhares se encontram, e vejo a preocupação dele. Não é só o medo que Nicoll provoca. É algo maior, algo que vai além do que podemos entender.

Corro para o chalé e fecho a porta atrás de mim. O vento uiva lá fora, mas dentro de casa é ainda mais frio. Não acendo a luz. Não quero ser vista, nem notada. Só quero ser esquecida.

Mas no fundo, eu sei. Ele sempre consegue o que quer. E um dia, ele vai me notar.

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