Eu não tinha certeza de como a noite terminou. Tudo parecia um borrão, como um pesadelo que não se desfazia mesmo quando eu tentava acordar. Lá fora, uma chuva forte começou a cair, as gotas batendo nas janelas com fúria. Mesmo assim, os convidados pareciam indiferentes, terminando o jantar e se despedindo, voltando para suas casas. Eu também queria ir embora, mas sabia que não podia. Não mais.A senhora Edith me levou até o quarto, falando com uma calma que parecia fora de lugar. Quando entramos, corri para o banheiro, como se pudesse me esconder de tudo aquilo. Ela veio atrás de mim, ajudando-me a lavar os cabelos e a esfregar minha pele, mas suas mãos eram diferentes, quase... maternais.Quando desligou o chuveiro e ligou o aquecedor, ela me vestiu com uma camisola longa, macia demais para ser confortável.— Vai passar, criança. — Sua voz era suave, mas firme. — Eu já estive no seu lugar, assustada como você. Mas passou, e hoje sou feliz. Muito feliz. Ouviu?Eu mal conseguia respon
Eu não sei como consegui dormir naquela noite. Talvez fosse o cansaço, a exaustão que finalmente venceu o medo. Mas, por incrível que pareça, em algum momento precisei me encostar em Krampus por causa do frio. Não foi por escolha, foi puro instinto. O calor do corpo dele era a única coisa que me afastava do congelamento que parecia vir de dentro de mim.Quando acordei, ele já não estava ali. Agradeci por isso. Respirei fundo e me levantei, tentando afastar os pensamentos sobre tudo que havia acontecido. Chorei um pouco, sem querer, enquanto me arrumava para o café. Estava atrasada, e sabia que todos já estariam na mesa.Quando cheguei, as conversas diminuíram, e os olhos de todos se voltaram para mim.— Desculpa. Perdi a hora. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.— Não tem problema, minha filha. Sente-se. — O pai de Nicoll falou, sua voz carregada de uma falsa cordialidade que só aumentava minha inquietação.Eu ia me sentar o mais longe possível de Krampus, mas antes que p
Voamos de helicóptero. Nunca havia estado em um antes, e, honestamente, pensei que o medo me dominaria. Mas não foi o que aconteceu. Meu pavor só surgiu quando o helicóptero pousou em um lugar que eu não reconhecia, um lugar que parecia outro mundo. O topo de um prédio alto, cercado por luzes e silêncio opressor.Nicoll – ou Krampus, como ele insistia em ser chamado – estendeu a mão para mim. Eu hesitei, mas sabia que recusar não era uma opção. Peguei a mão dele, quente e firme, e saímos dali juntos.— Krampus... — chamei, minha voz baixa e trêmula.Ele olhou para mim, seu rosto impassível.— Estou apavorada. Pode ser um pouco gentil?Ele arqueou uma sobrancelha, como se a palavra “gentil” fosse um conceito completamente alienígena para ele. — Não faço nem ideia do que isso seja. E, em todo caso, não ganharei nada em troca da minha gentileza. Você tem medo e nojo de mim. O que eu quero, consigo de qualquer maneira, mesmo que seja obrigando, então não há necessidade de gentileza se vou
Ficamos ali, naquela batalha silenciosa. Eu tremendo embaixo dele, enquanto Krampus rosnava em meu ouvido, sua voz grave e carregada de algo primal.— Vamos, Analia. — Ele sussurrou, mas sua voz era como um trovão. — Eu podia pegar à força, e mesmo se as pessoas lá fora escutassem os seus gritos, ninguém seria louco o suficiente para entrar. Eu poderia te ter agora, do jeito que quisesse, de quatro, como uma companheira devia se oferecer... — Ele respirou fundo, e a tensão na sua voz mudou. — Mas, porra, meu coração bate mais rápido quando olho para você. Não quero ouvir os seus gritos de dor. Quero aprender a te oferecer prazer. Você é minha companheira. Vamos...— Não quero, Krampus. Quero vestir uma camisola.Ele riu baixinho, mas sem humor. — Não tem camisola. Só tem os vestidos que mandei colocar no seu guarda-roupa. Dorme nua.Eu tremia. — Você não vai me obrigar, vai?Ele respirou fundo novamente, fechando os olhos por um momento, como se estivesse lutando contra si mesmo.— Nã
KrampusEu segurava o cabelo dela, mas mesmo assim sentia como se estivesse perdendo o controle. Eu era um caos. O monstro e o homem dentro de mim lutavam lado a lado, tentando dominar. O lobo queria tudo, queria rápido, queria tomar. Mas o homem, mesmo bagunçado, tentava conter o pior.— Abra a boca e chupe... — Minha voz saiu baixa, carregada de urgência e desespero.Quando ela finalmente colocou a boca em mim, foi como se o mundo parasse. Toda a dor que consumia meu corpo desapareceu. Como se algo tivesse sido arrancado de mim, e, no lugar, uma paz que eu nunca soube que existia tomou conta. Era surreal. A cada toque, os lábios dela me acalmavam, enquanto o prazer mais profundo percorria cada fibra do meu ser.Meu corpo vibrava, mas não só de prazer. Havia algo mais. Um tipo de calma, uma conexão que nunca tinha experimentado. Era isso, eu percebi. Era isso o que significava ser tocado por uma companheira. Pela minha companheira. O lobo dentro de mim reconheceu isso, e pela primeira
Analia nEu chorei. No fundo, bem no fundo, sabia que Krampus era diferente do que eu imaginava. Ele era melhor do que os pesadelos que construí sobre ele, melhor do que o medo que me paralisava. Mas, ainda assim, eu estava perdida. Perdida em um mundo que não era meu, em sentimentos que eu não sabia como nomear.Mesmo assim, busquei o calor do corpo dele, era instintivo. O corpo de Krampus, o temível Krampus, era meu refúgio naquela noite fria. Ele me acolheu, e, naquele momento, sua presença foi tanto um consolo quanto um lembrete do quão frágil eu era ao lado dele. Porque Krampus não era só meu carrasco. Ele era também meu protetor.— Krampus, todos os homens lá fora são como você? — minha voz saiu baixa, carregada de curiosidade e medo.Ele respirou fundo antes de responder, percebi que elae não era muito paciente. — Depende. A maioria deles, sim, são da mesma espécie. Alguns, humanos. Mas eu sou o líder da matilha. Herdei o cargo do meu pai e comando a organização também.— A máf
Corri sem olhar para trás, o som dos meus passos afundando na neve era abafado pelo rosnado que ecoava atrás de mim. Eu sabia que o lobo me seguia, podia senti-lo, mas não tinha coragem de virar para confirmar. Meu corpo estava congelado de medo, e o frio da neve que queimava minhas pernas parecia pouco comparado ao terror que me consumia.Tropecei em uma raiz e caí com força ao lado de uma árvore, bem na porta de um chalé abandonado. A madeira velha rangia com o vento, e eu tremia, tanto pelo frio quanto pelo medo. A neve caía incessantemente, cobrindo tudo em volta, como uma maldição que nunca ia embora. Mas eu sabia que a culpa não era dela. A neve não tinha culpa. Não tinha.Tentei me levantar, mas o som de um rosnado forte me fez congelar no lugar. A fera estava próxima, e eu não podia escapar.— Krampus, por favor... Estou apavorada. O que você fez com aquele homem? Por favor, não se mostre assim para mim.Minha voz saiu como um sussurro implorante, mas quando levantei a cabeça,
Analia— Podemos ir para casa? — perguntei, minha voz carregada de cansaço e nervosismo.Krampus me olhou, seus olhos prateados brilhando com uma mistura de exasperação e algo mais, algo que eu não conseguia decifrar completamente.— Depende. Vai correr para os braços da minha mãe, Analia? — Ele cruzou os braços, a tensão evidente em sua postura. — Você está usando ela como escudo contra mim, e estou por um triz de perder a paciência com isso. E, acredite, meu pai vai arrancar algum pedaço meu se souber.— É a sua mãe. — respondi, tentando argumentar.Ele riu sem humor, balançando a cabeça. — Eu sei. Mas você me afasta, e ela está atrapalhando eu ter você. Então pare, Analia. Você quer voltar para casa?— Quero.— Mas casa... não a casa do seu pai. Não mais.Engoli em seco, desviando o olhar. — Eu sei. Eu sei... Mas essas pessoas daqui me olham estranho.Ele suspirou, aproximando-se e segurando meu queixo para que eu o encarasse. — Elas estão olhando para a companheira do líder da ma