Corri sem olhar para trás, o som dos meus passos afundando na neve era abafado pelo rosnado que ecoava atrás de mim. Eu sabia que o lobo me seguia, podia senti-lo, mas não tinha coragem de virar para confirmar. Meu corpo estava congelado de medo, e o frio da neve que queimava minhas pernas parecia pouco comparado ao terror que me consumia.Tropecei em uma raiz e caí com força ao lado de uma árvore, bem na porta de um chalé abandonado. A madeira velha rangia com o vento, e eu tremia, tanto pelo frio quanto pelo medo. A neve caía incessantemente, cobrindo tudo em volta, como uma maldição que nunca ia embora. Mas eu sabia que a culpa não era dela. A neve não tinha culpa. Não tinha.Tentei me levantar, mas o som de um rosnado forte me fez congelar no lugar. A fera estava próxima, e eu não podia escapar.— Krampus, por favor... Estou apavorada. O que você fez com aquele homem? Por favor, não se mostre assim para mim.Minha voz saiu como um sussurro implorante, mas quando levantei a cabeça,
Analia— Podemos ir para casa? — perguntei, minha voz carregada de cansaço e nervosismo.Krampus me olhou, seus olhos prateados brilhando com uma mistura de exasperação e algo mais, algo que eu não conseguia decifrar completamente.— Depende. Vai correr para os braços da minha mãe, Analia? — Ele cruzou os braços, a tensão evidente em sua postura. — Você está usando ela como escudo contra mim, e estou por um triz de perder a paciência com isso. E, acredite, meu pai vai arrancar algum pedaço meu se souber.— É a sua mãe. — respondi, tentando argumentar.Ele riu sem humor, balançando a cabeça. — Eu sei. Mas você me afasta, e ela está atrapalhando eu ter você. Então pare, Analia. Você quer voltar para casa?— Quero.— Mas casa... não a casa do seu pai. Não mais.Engoli em seco, desviando o olhar. — Eu sei. Eu sei... Mas essas pessoas daqui me olham estranho.Ele suspirou, aproximando-se e segurando meu queixo para que eu o encarasse. — Elas estão olhando para a companheira do líder da ma
Sentei-me no sofá ao lado da senhora Edith, buscando algum tipo de conforto. Sua presença era reconfortante, como um farol em meio à escuridão do caos que minha vida havia se tornado, eu estava me tornando mulher e isso me assustava, sentia falta de conselhos femininos.— Ficou assustada? — ela perguntou, sua voz baixa e serena.— Fiquei, mamãe. Mas agora estou bem.Krampus estava encostado na parede, observando-nos. Havia algo inquietante na forma como ele ficava parado, mas ainda tão intenso, tão cheio de energia contida.— Na lua cheia, não aceito que me prendam, mamãe. Não aceito.Edith suspirou profundamente, olhando para ele com uma mistura de reprovação e compaixão. — Krampus...— Nicoll. — ela corrigiu, tentando puxá-lo para um tom mais humano.Mas ele balançou a cabeça, a voz firme. — Não. A decisão é minha, mamãe. Não estou lidando apenas comigo. Estou contendo o lobo o máximo que consigo. Eu a amo, como previe, mas a noite de lua, não vão colocar uma colera de ferro em em m
O dia seguinte chegou, mas a sensação de peso na minha cabeça não foi embora. Era como se cada pensamento fosse uma faca abrindo uma ferida que so Krampus podia cicatrizar.. Eu sabia que não podia fugir de Krampus por muito mais tempo, mas a ideia de me entregar a ele por pura pressão era insuportável. Eu não queria. Não daquele jeito. Mas parecia que eu não tinha escolha.Fui me sentar lá fora, onde o ar fresco poderia, talvez, aliviar o turbilhão dentro de mim. A neve estava derretendo, as árvores começavam a perder a camada de gelo, e o som da água escorrendo me dava um estranho consolo. Fiquei ali, ouvindo a natureza ao meu redor, tentando encontrar algum tipo de resposta.A senhora Edith apareceu e sentou-se ao meu lado, sua presença começava a me fazer um bem enorme.— Está bem? Eu suspirei, apertando as mãos no colo. — Com medo. Assustada. Confusa e também curiosa. Não sei o que fazer, mamãe. Vai ser pior se eu esperar a noite de lua cheia?Ela me olhou com olhos cheios de com
AnáliaEu estava na cozinha, o calor e o aroma doce de frutas e chocolate preenchiam o ar. Minhas mãos estavam sujas de farinha enquanto eu mexia a massa do bolo em uma tigela grande, mas não me importava. Pelo contrário, um pequeno sorriso escapava dos meus lábios enquanto eu me permitia esse momento simples em meio ao caos que era minha vida. Minha mente estava uma bagunça, tentando encontrar coragem para enfrentar Krampus, para me entregar a ele, mas isso não era fácil. Decidi fazer um bolo. Cozinhar sempre ajudava a acalmar meus pensamentos.Enquanto eu me concentrava em colocar a massa no forno, a porta da cozinha se abriu. Marlene entrou, lançando um olhar crítico para a bagunça na bancada.— Olha essa bagunça! Louça suja por todo lado. Você acha que a cozinha é só sua? — Ela cruzou os braços, com a habitual expressão de desgosto.Respirei fundo, tentando manter a calma. — Eu vou colocar tudo na lava-louças, Marlene. Prometo deixar a cozinha arrumada antes de sair.— Ah, vai? Mel
Eu assenti lentamente, sentindo uma mistura de alívio e vergonha me invadir. Acima de tudo, sentia-me grata. A senhora Edith não apenas me protegeu, mas mostrou que eu tinha valor naquela casa. Ainda assim, não pude evitar sentir pena de Marlene, porque nesse momento, ela deveria estar pegando as suas malas.. ia partir. Peguei uma fruta, tentando me acalmar.A senhora Edith havia nos deixado sozinhos. Um rosnado baixo e ameaçador preencheu o ar, fazendo meu coração disparar. Virei-me para Krampus instintivamente.— Krampus? — perguntei, hesitante.Ele não respondeu de imediato. Seus punhos estavam cerrados, e o rosnado que saía de sua garganta parecia crescer, carregado de um perigo forte. Ele iria atrás de Marlene.— Krampus... Não. — Dei um passo à frente, tentando barrar o que quer que estivesse passando pela cabeça dele.— Ela te desrespeitou, Anália. Falou com você como se fosse nada. Ninguém, NINGUÉM, faz isso com a minha companheira.— Mas ela já foi demitida, Krampus. Já está
Eu caminhei pelos jardins da casa, tentando acalmar meus pensamentos. O ar frio era agradável, o intenso inverno tinha ido embora. A lua cheia estava chegando, e com ela, tudo o que Krampus havia dito e prometido. Não havia mais para onde correr, eu sabia disso. Mas a ideia de me entregar, de aceitar completamente aquele mundo... era assustadora ou não? Eu me sentia quente com a ideia da língua dele em minha pele. Meus passos me levaram até um pequeno caminho de pedras perto da entrada. Foi então que a vi. Marlene. Ela puxava uma mala com esforço, o rosto duro e fechado, a expressão cheia de raiva. Eu parei, mas não tive tempo de decidir o que fazer. Ela me viu e virou-se na minha direção, largando a mala no chão.— Você acha que merece isso? — Ela cuspiu as palavras, cruzando os braços de forma agressiva.Eu pisquei, surpresa com o tom. — Marlene, o que você está dizendo?Ela riu, mas era um som seco, cheio de amargura. — Você sabe muito bem o que eu estou dizendo. Olhe para si mesm
Mais tarde, deitada na cama, esperei por Krampus.Meu coração estava acelerado, enquanto os uivos dos lobos lá fora cortavam a noite. Eram altos, ferozes, e me faziam encolher debaixo do lençol. Fechei os olhos com força ao ouvir os passos dele se aproximando. O som firme de pés descalços no chão de madeira. E então ele estava lá, parado ao lado da cama.— Krampus... — minha voz saiu trêmula, quase um sussurro.Quando abri os olhos, vi algo que me fez prender a respiração. Bem diante de mim, ele mudou. Não foi uma transição violenta, mas também não era suave. A forma humana deu lugar ao lobo, e depois, como se fosse natural, o lobo voltou a ser homem. Ele me olhou com aquele sorriso inclinado, perigoso e sedutor, e eu me agarrei com mais força ao lençol enquanto ele pairava sobre a cama.— Krampus... — repeti, minha voz ainda tremendo. — Promete que o lobo não vai... passar dos limites.Ele inclinou a cabeça, os olhos prateados brilhando com algo quase hipnotizante. — O lobo quer tudo