Minha mãe estava deitada na cama, pálida e frágil como uma porcelana prestes a se quebrar. Eu não conseguia tirar os olhos dela, minha respiração presa no peito, enquanto Krampus se movia ao redor, ajustando os suprimentos que Wolfgang trouxera. Eu sabia que aquele momento seria crucial.— Prepare tudo, Wolfgang. Não temos muito tempo. Era por mim.. eu sabia, não tinha a ilusão da bondade de Krampus, mas para mim, aquilo bastava.Wolfgang assentiu rapidamente, abrindo uma pequena maleta com tubos e seringas. Ele parecia calmo, mas eu podia ver a tensão em seus movimentos, se ela errase, seria punido pelo alfa, o lobo de Krampus não perdoava niguém.— Vai dar certo? — Minha voz saiu como um sussurro.Krampus me olhou por cima do ombro, os olhos cheios de algo que parecia uma mistura de confiança e preocupação. — Sim. Mas precisamos ser rápidos.Eu segurei minha respiração enquanto ele fazia um pequeno corte no braço. O sangue dele era diferente. Não era só vermelho; tinha um brilho q
AnáliaEu percebi a movimentação na casa e, sem pensar, fui em direção à porta. Estava prestes a sair quando Krampus me parou, sua figura bloqueando o caminho como uma muralha.— O que houve? — Perguntei, tentando passar por ele.Ele cruzou os braços, os olhos prateados brilhando com seriedade. — Seu pai vai fazer a transformação.Meu coração deu um salto. — Eu quero ver, Krampus. Preciso estar lá.Ele balançou a cabeça, firme. — Não pode, Analia. Não pode porque ele não quer que você veja. Ele vai ficar irracional por algumas horas, e depois disso, precisará alimentar sua mãe. Mais tarde, minha pequena alce assustada, eu a levo para vê-los. Mas agora, você precisa ficar aqui. EStou mandando você ficar aqui.— Não pode me proibir. — Respondi, quase indignada.Ele inclinou a cabeça, um sorriso provocador surgindo em seus lábios. — Posso, Analia. Sou o seu alfa, sou seu mais do que de qualquer outro mem.bro da minha matilha. Quando tudo se acalmar, eu a levo para ver seu pai e sua mãe.
AnáliaAs coisas estavam se acalmando... ou melhor, dentro de mim, parecia que as coisas estavam finalmente encontrando algum equilíbrio, mas para Frieda não, Frieda estava de mudança para a casa de Wolfgang, meu pai tinha sumido por alguns dias e, segundo Krampus, ele e minha mãe estavam se entendendo. Krampus garantia que, em alguns meses, minha mãe estaria andando de bem com a vida novamente. Eu acreditei, porque queria acreditar. Mas isso não diminuía minha vontade de vê-los. Apesar dos pedidos para que eu não interferisse, minha curiosidade crescia a cada dia. Meu pai tinha me proibido de ir na casa dele.Enquanto tentava distrair meus pensamentos, peguei um pedaço de torta para comer, mas no momento em que dei a primeira mordida, meu estômago revirou. A tontura veio tão rápido que mal tive tempo de me segurar. Por sorte, fui amparada pelo pai de Krampus, que apareceu do nada, sempre atento.— Sente-se, minha filha. — Disse ele, me ajudando a alcançar a cadeira mais próxima. Antes
AnáliaEu me sentei na varanda da casa grande, o sol tímido da manhã iluminando meu rosto. Minhas mãos repousavam sobre a barriga, mesmo que não houvesse sinais visíveis de gravidez. Era surreal pensar que eu estava carregando um bebê completamente formado. E não apenas qualquer bebê — o filho de Krampus.O médico havia confirmado tudo naquela manhã. Era um menino. Um menino forte, saudável, e que podia nascer a qualquer momento. A gestação de um lobo-alfa em uma companheira sucubus era rápida, intensa, mas, segundo o médico, natural. O que para humanos levaria meses, para mim acontecia em questão de semanas. Agora, cada segundo parecia uma eternidade de expectativa e medo.Krampus estava sentado ao meu lado, observando-me com aquele olhar penetrante que sempre fazia meu coração acelerar.— O que está pensando, pequena alce? — Ele perguntou, sua voz grave e carinhosa ao mesmo tempo.Eu suspirei, tentando organizar meus pensamentos. — Sobre o parto. Sobre ele. Krampus, ele pode nascer
Analia narrandoAcordei no meio da noite com uma sensação estranha na barriga. Não era dor, mas um desconforto que parecia pulsar de dentro para fora, como se algo estivesse... se preparando.— Krampus? — Minha voz saiu trêmula, baixa, mas o suficiente para acordá-lo.Ele abriu os olhos rapidamente, sempre alerta, e acendeu a luz do abajur ao nosso lado. O brilho suave iluminou seu rosto preocupado.— Krampus, tem algo errado. — Sussurrei, com o coração disparado.Ele se aproximou de mim, a mão quente pousando em minha barriga com delicadeza. Seus olhos, prateados e intensos, me analisaram com atenção, mas logo relaxaram.— Não tem nada errado, minha pequena alce. — A voz dele soou calma e reconfortante. — Nosso bebê está chegando.Senti um frio percorrer minha espinha. — Devemos ir ao hospital? — Minha voz estava embargada, o medo me consumindo por dentro.Krampus balançou a cabeça devagar, um sorriso sereno nos lábios. — Não, Analia. Lobos não vão a hospitais quando recebem seus fil
Krampus narrandoEu sabia quem eu era. Um demônio, uma fera de sombras e instintos primitivos. Mas ter meu filhote nos braços... isso quase me transformava em um cordeiro dócil. Ele era pequeno, quente e tão inocente que parecia impossível que carregasse dentro de si qualquer traço da escuridão que corria em minhas veias, mas eu sabia que estava lá, claro que sabia, era a minha cria.Eu o segurei com cuidado, o corpo pequeno contra meu peito. Aquele era o momento em que eu percebia o verdadeiro peso do que significava ser pai. Eu seria bom para ele. Como meu próprio pai havia sido comigo. Ele me ensinou que mesmo as criaturas mais sombrias têm espaço para o amor verdadeiro.E, como se o destino estivesse ouvindo meus pensamentos, foi ele quem encontrei na porta. O cheiro do seu neto havia o chamado até mim — forte, inegável. Quando nos encaramos, havia algo em seus olhos que não via há muito tempo: orgulho.— Se saiu melhor do que eu esperava. — Meu pai disse, com uma voz grave e baix
KrampusEu vi a mãe de Analia se aproximar, os olhos ainda úmidos de lágrimas enquanto segurava delicadamente as mãos da filha. Ela se ajoelhou ao lado da cama, beijando os dedos de Analia com tanta ternura que parecia querer apagar, naquele gesto, todos os anos de distância e dor.— Eu não fiz por mal... — sua voz quebrou, quase inaudível. — Mas...Analia, com a voz fraca, mas firme, a interrompeu:— Agora não, mãe. Outra hora. Agora não quero explicações... — Ela fechou os olhos e virou o rosto, respirando fundo. — Eu só preciso de um pouco de colo...Ela olhou para minha mãe, com um olhar carregado de culpa e esperança:— Mamãe, vai ficar chateada?— Não, não, criança. Eu entendo muito bem. — A minha respondeu com aquele tom reconfortante, com a suavidade que só uma verdadeira mãe sabia ter. — Vou organizar as roupas do meu neto e cuidar de outras coisas. Aproveite sua mãe agora, Analia. Ela foi embora, mas também sofreu. A vida não foi fácil para ela, e ela ainda está se recuperan
O Primeiro Encontro com o KrampusAnaliaA memória daquele Natal, tantos anos atrás, ainda me causa arrepios. Eu tinha dez anos e vivia com meus pais na propriedade da família Krueger, nas montanhas da Áustria. Naquele ano, a neve caía mais densa, cobrindo tudo em um silêncio sufocante. Papai dizia que o frio era mais intenso porque era "um ano de renascimento". Eu não entendia o que aquilo significava, mas o que vi naquela noite ficou gravado para sempre em minha mente.Foi a primeira vez que vi Nicoll, o "Krampus". Ele tinha quatorze anos e parecia... um ser que não deveria existir. Alto e magro, mas com uma presença que gelava mais que o vento lá fora. Ele andava pelo pátio como se o frio não pudesse tocá-lo, vestido apenas com uma bermuda escura. No rosto, uma pintura grotesca de caveira que contrastava com seus olhos sombrios, olhos que pareciam enxergar a alma das pessoas.Minha curiosidade infantil me levou a observá-lo pela janela da cozinha, mas assim que ele virou a cabeça e