Prontos para enfrentar mais uma etapa no relacionamento, convidaram os parentes de Guilherme para almoçarem com eles no domingo.Na mesa um bolo simples, trazido pela prima dele, dividia espaço com travessas de massas e saladas, compondo a alimentação familiar. Lean descansava no moisés da sala, perto o suficiente do olhar atento dos dois. Entre garfadas a conversa seguia fluída, embora somente três conduziam a conversa: Guilherme, o pai dele e a prima mais nova. O tio dele não era de muitas palavras. A prima mais velha parecia área, embora lançasse sorrisos fracos. Tábata se sentia tensa com o que ocorreria mais adiante e preferia conduzir acenos e resmungos sorridentes.Perto do fim da refeição a bebê exigiu a atenção de Tábata. Quando retornou da troca e alimentação, estavam reunidos na sala e Guilherme fez um gesto sinalizando a chegada do motivo daquela pequena reunião familiar.Sentou ao lado dele, acomodando Lean em seus braços, necessitando dela para se sentir segura de algum
Após algumas horas os Perez que moravam na mansão Salvatore partiram, restando Paulina que acomodou-se ao lado de Tábata para conversar, sem pressa para partir. Guilherme saiu para trocar Lean e colocá-la para dormir, deixando as duas sozinhas.Tranquila, o peso de tantas semanas de incerteza finalmente encontrando um caminho para escapar, Tábata confessou:— Estava morrendo de medo de contar para sua família sobre mim e o Gui, porque sabia que também precisaria falar do pai da Lean. Achei que reagiriam pior... — Engoliu seco, desviando o olhar para as próprias mãos. — No fim só seu pai se mostrou contra.— Meu pai tem ideias conservadoras — Paulina explicou. — O que importa é que a maioria dos Perez gosta de você e do Guilherme juntos. Nós vemos como ele cuida e se importa com você e a Lean... — Paulina alisou o tecido da almofada em seu colo. — Fiquei sem graça quando percebi que só eu não tinha notado que havia algo entre você e o Guilherme.— Tentei esconder.Paulina riu baixinh
Não querendo passar outra tarde solitária em casa se martirizando pelo medo de perder a filha, depois que Guilherme saiu para o trabalho e Paulina partiu após outra breve visita, arrumou as coisinhas de Lena, o carrinho e foi para a casa de seus pais. Aproveitou e mandou uma mensagem para as amigas, marcando de encontra-las na hora de almoço delas.Logo que chegou a casa foi recebida pelo sorriso caloroso do pai e o frio inclinar de lábios de sua mãe, algo comum ao longo de sua vida.A sala estava iluminada pela luz suave que atravessava as cortinas de renda, e o ar carregava o leve aroma de chá recém-preparado, colocado sobre a mesinha de centro. Tábata tinha acomodado Lean no carrinho, ajustando o apoio e a mantinha florida da bebê, que esticava os dedinhos para brincar com os enfeites acima de sua cabeça. Em sua cadeira de rodas, Claudiano observava a cena fascinado, os olhos brilhando de ternura.— Essa menina vai crescer forte e esperta como a mãe — disse ele, a voz fraca e hesit
No horário marcado, Tábata encontrou suas amigas na lanchonete próxima ao antiquário. O lugar, lotado pelo horário de almoço, exalava o aroma de miríade de sabores. Junto com a filha, ocupou uma mesa no canto minutos antes, o que garantiu que tivessem lugar quando as amigas vieram para almoçar com ela.Depois de fazerem os pedidos, contou o ocorrido no antiquário.— Finalmente teve coragem! — Hana comemorou.— Sim — confirmou orgulhosa de si mesma. — Deixei claro que não volto a trabalhar sem um salário justo e a carteira assinada.Maya bateu palmas, animada, acompanhada pela cumplicidade de Hana.— Já estava mais do que na hora de você se posicionar. Quantas vezes eu te disse que era exploração? — indicou Maya.— Muitas — admitiu abaixando os olhos para esconder a vergonha por sua atitude passada. — Eu só não tinha coragem de enfrentar minha mãe... Sabem como ela é. Mas depois de ser expulsa, percebi que não tenho lugar nem na casa e nem na loja deles.Calaram um momento com a chegad
O quarto estava mergulhado em uma penumbra acolhedora, as cortinas semiabertas deixando um rastro da luz do exterior tingindo um filete do chão até a parede ao lado da cama, enquanto a chuva suave tamborilava na janela, compondo uma melodia aconchegante. Tábata repousava a cabeça no tórax de Guilherme, os dedos traçando desenhos invisíveis sobre o peito nu, aproveitando o refúgio do calor de seus corpos enquanto contava como foi seu dia.— Meu pai parece outro quando está com a Lean — comentou. — Ele sorri. Fazia tanto tempo que não via aquele sorriso... — A abelhinha tem esse efeito nas pessoas — ele disse deslizando os dedos pelo cabelo dela. — É impossível não se encantar por ela. Tábata ergueu o olhar, apoiando o queixo em seu peito, os olhos castanhos buscando os dele. — Estive com a Maya e a Hana depois disso — contou. — A gente conversou bastante, mas elas disseram algo que ficou na minha cabeça. — E o que foi?— Viram o Mateus vestido com roupas de grife, carro e relógio c
Saindo da sala de arquivo carregando as pastas de um processo, Guilherme caminhava em direção à sua sala, lendo por alto um dos arquivos. O dia estava intenso, e ele só desejava um pouco de paz para organizar os contratos que precisavam de sua revisão antes de voltar para casa. — Boa tarde, querido!A voz com uma entonação que oscilava entre provocação e falsa doçura, fez Guilherme erguer o olhar, encarando sem emoção a mulher a sua frente.No passado gostava e até ansiava pela presença dela. Contudo, agora, sempre que aparecia carregava consigo uma energia pesada, uma tempestade prestes a desabar sobre a cabeça dele. Dessa vez não foi diferente.— Fiquei sabendo que pediu ajuda de um colega nosso — começou ela, bloqueando o caminho com sua postura elegante e sorriso enigmático nos lábios pintados de rosa. — Deve estar inseguro agora que o ex da coisi... hum... Tábata retornou.O semblante de Guilherme permaneceu impassível, mas seu maxilar tensionado entregava a verdade.— Tenho tra
Sentado no sofá após o jantar, Guilherme segurava Lean no colo, embalando-a de leve. A bebê, com as mãozinhas rechonchudas, brincava com o cordão do moletom dele, enquanto Tábata, em pé junto à janela, observava pensativa a grama molhada da recente chuva, iluminada pelo poste da rua.Pensando com calma desde o momento dos insistentes telefonemas e mensagens recebidas ao longo do dia, virou-se devagar para as duas pessoas que amava.— Gui, o Mateus me procurou novamente — lançou de uma vez. Ele ergueu o olhar da bebê para a jovem, os olhos âmbar atentos e sérios. — Disse que quer me encontrar... Sozinha.Os ombros de Guilherme se enrijeceram. Embora a raiva pelo homem ameaçando sua paz atravessasse seu corpo, a mão que segurava Lean continuou a afagar o rostinho da bebê suavemente. — E pretende atender esses termos?Tábata hesitou por um momento, entrelaçando os dedos enquanto buscava as palavras certas, caminhou até o sofá, sentando-se ao lado deles. — Pensei muito a respeito e conc
O relógio reluzente no pulso de Mateus captou toda a atenção de Tábata quando se aproximou, gesticulando exageradamente. Anos avaliando peças no antiquário a fez perceber se tratar de um legítimo rolex de ouro. O balançar do pulso deu a ela a certeza que o movimento era proposital, só para exibir o objeto. O terno impecável e o cabelo meticulosamente engomado completavam a figura de um homem que claramente queria impressionar. A saudação, a confiança exagerada e a esfuziante vaidade, causava desconforto em Tábata, que assim que o cumprimentou friamente voltou a sentar.Lançou um olhar para Lean, distraída com seus brinquedos no carrinho ao seu lado, depois retornou a atenção para o homem tirando o paletó para ajeita-lo cuidadosamente no encosto da cadeira.Cruzou os braços, controlando-se diante da cena teatral que ele proporcionava aos outros clientes do local.Ele puxou a cadeira com elegância ensaiada e sentou-se.— Tábata, está linda como sempre! — exclamou, com um sorriso largo