No horário marcado, Tábata encontrou suas amigas na lanchonete próxima ao antiquário. O lugar, lotado pelo horário de almoço, exalava o aroma de miríade de sabores. Junto com a filha, ocupou uma mesa no canto minutos antes, o que garantiu que tivessem lugar quando as amigas vieram para almoçar com ela.Depois de fazerem os pedidos, contou o ocorrido no antiquário.— Finalmente teve coragem! — Hana comemorou.— Sim — confirmou orgulhosa de si mesma. — Deixei claro que não volto a trabalhar sem um salário justo e a carteira assinada.Maya bateu palmas, animada, acompanhada pela cumplicidade de Hana.— Já estava mais do que na hora de você se posicionar. Quantas vezes eu te disse que era exploração? — indicou Maya.— Muitas — admitiu abaixando os olhos para esconder a vergonha por sua atitude passada. — Eu só não tinha coragem de enfrentar minha mãe... Sabem como ela é. Mas depois de ser expulsa, percebi que não tenho lugar nem na casa e nem na loja deles.Calaram um momento com a chegad
O quarto estava mergulhado em uma penumbra acolhedora, as cortinas semiabertas deixando um rastro da luz do exterior tingindo um filete do chão até a parede ao lado da cama, enquanto a chuva suave tamborilava na janela, compondo uma melodia aconchegante. Tábata repousava a cabeça no tórax de Guilherme, os dedos traçando desenhos invisíveis sobre o peito nu, aproveitando o refúgio do calor de seus corpos enquanto contava como foi seu dia.— Meu pai parece outro quando está com a Lean — comentou. — Ele sorri. Fazia tanto tempo que não via aquele sorriso... — A abelhinha tem esse efeito nas pessoas — ele disse deslizando os dedos pelo cabelo dela. — É impossível não se encantar por ela. Tábata ergueu o olhar, apoiando o queixo em seu peito, os olhos castanhos buscando os dele. — Estive com a Maya e a Hana depois disso — contou. — A gente conversou bastante, mas elas disseram algo que ficou na minha cabeça. — E o que foi?— Viram o Mateus vestido com roupas de grife, carro e relógio c
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q
O celular vibrou sobre a escrivaninha, obrigando Guilherme Perez a tirar os olhos do documento que redigia. Sorriu ao ver a foto de seu amigo de infância preencher a tela.— Oi Lee! Como anda a vida?— Comigo tudo bem, cara. Estou nos Estados Unidos, participando de alguns eventos. Farei meu nome brilhar esse ano! — informou empolgado como sempre. — Mas não te liguei pra falar disso. Preciso da sua ajuda.— Jurídica? — Se endireitou em sua poltrona de couro marrom, intrigado com o pedido. Lee não costumava se meter em encrenca, não conseguia imagina-lo em uma situação que precisasse de um advogado.— Talvez... — O que você fez?— Eu? Nada. O problema é com a minha prima Tábata. Lembra-se dela? — Lembro...E como não lembrar? Sorriu nostálgico ao recordar da menina determinada, com constantes coques duplos, lembrando o penteado da personagem Pucca. A garota que seguia Lee e ele nos treinos de boxe e kung fu, sendo tão boa na luta quanto os dois. A jovem que lhe pediu um beijo de pres
Ele assentiu devagar observando seu rosto com tanta atenção que parecia querer ler sua alma, desnudá-la e penetrar sem misericórdia. Sentiu o rosto quente com a direção que sua mente tomava, quando deveria trabalhar em formas de resolver a confusão em que sua vida transformara-se. Culpando os hormônios da gravidez, ergueu-se e marchou em direção ao enorme carro preto estacionado em frente à lanchonete.— Sua casa fica longe? — perguntou, tentando focar em outra coisa.— Dever ser alguns minutos daqui.Ele colocou a mão em suas costas fazendo Tábata arrepiar-se dos pés à cabeça, e apressar o passo para manter distância do toque masculino. Mas ao chegar ao carro de quatro portas e caçamba percebeu que precisaria de ajuda.— O piso é alto... — comentou nervosa, voltando-se e dando de cara com o peito forte de Guilherme.Pousando as mãos nos ombros dela, Guilherme notou a confusão no rosto da Mamoru quando ela o encarou com seus profundos olhos castanhos.— Vai ficar tudo bem — ele garant
A casa de Guilherme ficava em um bairro de classe média, arborizado, jardins na maioria bem cuidados e casas que lembravam as de bonecas. No caminho Tábata visualizou um parque familiar, com crianças correndo e brincando com os aparelhos colocados especialmente para elas: escorregadores, caixas de areia, entre outros. Era um bairro perfeito para criar uma família, o que estava longe de combinar com a visão que tinha de Guilherme.Ela nunca questionou o primo a respeito do Perez, mas sabia que continuava solteiro, por isso presumiu que vivesse em um apartamento frio e solitário como o dono. Mas o bairro e a pequena casa de fachada creme e telhado de lajotas estavam longe de corresponder às suas expectativas. Parecia à casa perfeita para um comercial de margarina, só faltava o casal e as crianças felizes no quintal.Ele estacionou dentro da garagem, construída do lado da casa e com acesso ao imóvel, fechando a porta com o controle enquanto descia e dava a volta para abrir o lado dela. D
Ao acordar a primeira coisa que Tábata registrou foi o cheiro delicioso de café impregnando o ar. Seu estômago gemeu de apreciação, imaginando que o caçula em breve a sacudiria para tomarem o café em família. Foi o silêncio que a despertou para sua realidade, a fez sentar na cama e olhar ao seu redor com o coração apertado.Não haveria mais nenhuma refeição com sua família. Foi expulsa da casa por eles.Tombou o corpo novamente na cama, olhando cegamente para o teto branco, pensando no que fazer dali em diante.Do momento em que recusou a proposta de abortar do pai de seu bebê, até falar para seus pais sobre a gravidez, teve tempo para pensar nas consequências. Apesar de suas desavenças com a mãe, tinha uma vida estável, um trabalho garantido e teto seguro. E abriu mão de tudo isso ao decidir ficar com a crian&cced