A vontade de desaparecer foi esmagadora.— Levanta! — Tábata sibilou entre dentes, gesticulando irritada a ordem. — Levanta e acaba logo com essa palhaçada! Houve um instante de pesado e constrangedor silêncio. Lean soltou um gritinho agudo, quebrando a tensão e fazendo um arfar coletivo de encantamento e surpresa ecoar.— Aceite, minha querida! Quero corrigir meu erro, por você e por nossa filha — ele insistiu, movendo a caixinha para mais perto do olhar dela, como se a joia fosse suficiente para fazê-la aceitar a proposta. — Prometo fazer você e nossa filha as mulheres mais felizes deste mundo.Os sussurros nas mesas próximas aumentaram. Percebeu, ao levantar o olhar, que Maya e Hana se erguiam sem tirar a atenção deles. A certeza que viriam em seu auxilio lhe trouxe um pouco de alívio e força. — Se quer nos fazer feliz, saia de nossas vidas — pediu apertando os dedos na barra do carrinho da filha.— Mocinha, não se trata um homem apaixonado assim! — Uma senhora idosa, sentada lo
O pequeno parque estava calmo naquela tarde ensolarada, com poucas pessoas aproveitando a brisa leve que agitava as folhas das árvores. As risadas de algumas crianças brincando no escorregador ecoavam ao longe, enquanto o ranger do carrinho de bebê acompanhava o ritmo dos passos lentos de Tábata, Maya e Hana, protelando a volta ao trabalho. Lean, aconchegada no colo de Tábata, brincava com uma abelha de pelúcia, alheia aos conflitos dos adultos.— É muita cara de pau do Mateus tentar se aproximar de novo — bradou Maya, empurrando o carrinho vazio enquanto olhava para Tábata. — E esfregar aquele anelzinho mequetrefe na sua cara depois da cachorrada que fez.— Concordo com quase tudo — Tábata falou atraindo os olhares curiosos das amigas. — Aquele anel não era mequetrefe. Assim como aquele relógio... — Tábata ajeitou Lean no colo e suspirou, olhando para o céu com expressão pensativa. — Só não consigo entender de onde está vindo esse dinheiro todo. Mateus reclamava que tinha de trabalha
Na manhã seguinte, depois de tomar banho e se trocar, Guilherme estava parado diante do espelho do quarto, ajeitando o nó da gravata com movimentos firmes, mas distraídos. O aroma fresco do banho ainda pairava no ar, misturado ao leve perfume amadeirado que usava. A expressão no reflexo, mostrava o olhar perdido em pensamentos.A conversa com Tábata no dia anterior martelava em sua mente. A suspeita dela sobre Mateus fazia sentido, e Guilherme sabia que precisavam agir rápido. Se aquele homem realmente estava envolvido em algo ilegal, como ela imaginava, isso poderia ser uma peça crucial na batalha judicial que se aproximava. O exame de DNA seria inevitável e qualquer prova adicional poderia fortalecer a proteção de Lean.Inspirou profundamente, ajustando a postura. Não podia deixar as preocupações transparecerem. Tábata e Lean precisavam dele forte, confiante.Seguiu para a cozinha, onde encontrou Tábata sentada à mesa com Lean no colo. A bebê balbuciava, as mãozinhas gorduchas brinc
A sala imediatamente tornou-se um campo de batalha, em que só um lado tinha voz, com Guilherme caminhando de um lado para o outro, ardendo de desaprovação. Paulina, sentada no sofá, permanecia com os olhos baixos cravados no chão. Ao seu lado, Tábata segurava Lean no colo, acariciando distraidamente o cabelo da filha. — É um absurdo, Paulina! — disparou Guilherme, interrompendo seu próprio trajeto e encarando a prima com desgosto. — Como pode sequer pensar em se envolver com alguém como o Simon? Que sempre te maltratou e fez pior com outras. Paulina apertou os dedos contra a barra da saia, os lábios tremendo levemente. Não respondeu, preferindo o silêncio a enfrentar às chamas da repreensão de seu primo. — Gui, talvez esteja exagerando... — Tábata tentou intervir, mas ele virou-se bruscamente para ela, os olhos âmbar faiscando. — Exagerando? — repetiu com um tom incrédulo, erguendo a sobrancelha. — Simon não leva nada a sério! Usa as mulheres como se fossem brinquedos descartáveis
Tendo adicionado mais uma questão a resolver, logo que chegou ao trabalho, Guilherme buscou a solução de seu problema mais urgente: Afastar Mateus do caminho de seu caminho e de Tábata.— Movimentações anormais? — Guilherme perguntou, girando a caneta entre os dedos, o olhar fixo na tela do laptop, lendo algumas das informações que pediu sobre o ex de Tábata.Do outro lado da linha, a voz do investigador particular Marcelo Vasquez soou em resposta. — Exatamente. Depósitos consideráveis, transferências vindo de contas que... vamos dizer, não são fáceis de rastrear. Guilherme fechou os olhos por um momento, pressionando a ponte do nariz. — Isso confirma algumas suspeitas. Tem alguma pista do que ele esconde? Da fonte desse dinheiro?— Tem uma pista que estou seguindo, mas, por precaução, não posso falar por enquanto. — Marcelo fez uma pausa, o som de um motor de moto ao fundo denunciando sua movimentação. — O que envie é a ponta do iceberg.Guilherme ergueu uma sobrancelha, inclinan
De volta ao aconchego de seu lar, Guilherme jantou com Tábata e ao fim a ajudou a tirar a mesa, logo ficando ao lado dela na pia, ela lavando e ele secando. A pequena Lean resmungava no moisés ao lado do sofá, distraída com um brinquedo colorido. — Fui atrás do Simon hoje — contou esfregando o pano de prato em um talher. Tábata parou de lavar, a esponja flutuando acima da louça restante. — Foi fazer o quê? — perguntou sem olhá-lo, retomando a sua missão com mais força. — Exigir que se afaste da Paulina, claro. Tábata virou-se devagar, pousando a travessa de arroz no centro da pia. Seus olhos amendoados estavam fixos nele, mas havia um revolta em sua expressão que ele não compreendeu de imediato. — Exigir como fez mais cedo? — Ela cruzou os braços. — Guilherme, está passando do ponto. Eles são adultos. Paulina tem mais de vinte anos e não precisa da sua permissão, ou mesmo do pai dela — frisou ao lembrar a ameaça dele de contar para o tio o que ocorria —, para escolher com quem s
O peso do arrependimento apertava o peito de Guilherme quando se deitou para dormir. A penumbra envolvia o quarto. A luz fraca do abajur do lado dela projetava sombras suaves nas paredes, estava deitado, observando o feixe de luz vindo do banheiro, em que Tábata tomava banho. Ergueu a cabeça do travesseiro, apoiando-a na mão, ao ouvir o chuveiro ser desligado, som substituído pelo do secador de cabelo.Longos minutos depois, ela saia vestindo uma de suas camisetas largas de algodão com figuras de animação, deixando a mostra as pernas macias. Ao se aproximar da cama, não trocou olhares com Guilherme, apagou a luz e deitou-se de costas para ele, ajustando o travesseiro sob a cabeça e puxando o cobertor até a altura do peito. Guilherme suspirou baixinho, observando as costas dela por alguns instantes antes de estender a mão e deslizar os dedos com suavidade pela curva do pescoço delicado.— Taby... — a voz dele rompeu a quietude, rouca e pesada. — Eu não queria ofender você, muito meno
Na manhã seguinte, como prometido para Tábata, Guilherme ficou até a chegada de sua prima para se desculpar por sua péssima atitude diante do novo relacionamento dela.Cinicamente, resmungou que pediria desculpas ao consagrado escolhido, se dessa vez ele não tivesse deixado Paulina e partido sem beijos explícitos no meio da rua. Comentário que fez Taby rir e Paulina corar.Paulina sentou na beira do sofá, as mãos se apertando no colo, atenta ao primo, que parecia prestes a explodir de raiva novamente. E de fato estava, mas se controlava com a habilidade de alguém acostumado a medir cada reação. Tábata, sentada na ponta do sofá, balançava suavemente o moisés onde Lean descansava, enquanto observava os dois com um sorriso leve de incentivo para ambos. — Lina, passei do ponto ontem. Não vou contar nada ao tio sobre o Simon. — Guilherme garantiu, logo jogando uma enxurrada de conselhos: — Mas precisa ser responsável e definir o que tem com ele. Ficar escondendo as coisas só vai abrir esp