O peso do arrependimento apertava o peito de Guilherme quando se deitou para dormir. A penumbra envolvia o quarto. A luz fraca do abajur do lado dela projetava sombras suaves nas paredes, estava deitado, observando o feixe de luz vindo do banheiro, em que Tábata tomava banho. Ergueu a cabeça do travesseiro, apoiando-a na mão, ao ouvir o chuveiro ser desligado, som substituído pelo do secador de cabelo.Longos minutos depois, ela saia vestindo uma de suas camisetas largas de algodão com figuras de animação, deixando a mostra as pernas macias. Ao se aproximar da cama, não trocou olhares com Guilherme, apagou a luz e deitou-se de costas para ele, ajustando o travesseiro sob a cabeça e puxando o cobertor até a altura do peito. Guilherme suspirou baixinho, observando as costas dela por alguns instantes antes de estender a mão e deslizar os dedos com suavidade pela curva do pescoço delicado.— Taby... — a voz dele rompeu a quietude, rouca e pesada. — Eu não queria ofender você, muito meno
Na manhã seguinte, como prometido para Tábata, Guilherme ficou até a chegada de sua prima para se desculpar por sua péssima atitude diante do novo relacionamento dela.Cinicamente, resmungou que pediria desculpas ao consagrado escolhido, se dessa vez ele não tivesse deixado Paulina e partido sem beijos explícitos no meio da rua. Comentário que fez Taby rir e Paulina corar.Paulina sentou na beira do sofá, as mãos se apertando no colo, atenta ao primo, que parecia prestes a explodir de raiva novamente. E de fato estava, mas se controlava com a habilidade de alguém acostumado a medir cada reação. Tábata, sentada na ponta do sofá, balançava suavemente o moisés onde Lean descansava, enquanto observava os dois com um sorriso leve de incentivo para ambos. — Lina, passei do ponto ontem. Não vou contar nada ao tio sobre o Simon. — Guilherme garantiu, logo jogando uma enxurrada de conselhos: — Mas precisa ser responsável e definir o que tem com ele. Ficar escondendo as coisas só vai abrir esp
Na sexta, Tábata levou a filha para fazer o exame que iniciaria a nova batalha em sua vida. A discreta clínica no centro da cidade, com paredes claras e cadeiras alinhadas ao longo do corredor tinha uma música ambiente ecoando na recepção para tranquilizar seus pacientes, Taby supôs. Nela aumentou a ansiedade e tornou ainda mais opressor a imposição de estar ali.A demora só não foi mais angustiante que o exame. Sua pequena filha passando por um procedimento intrusivo por causa dela, por ter acreditado em um canalha sem coração.— Está tudo bem, minha abelhinha, já passou... — murmurou embalando a filha, que chorava, incomodada pelo exame recente. — Mamãe está aqui... — murmurou, o tom trêmulo não acalmando a bebê, que continuava a chorar, as mãozinhas rechonchudas agarrando o tecido da blusa da mãe. Seus dedos acariciavam as costas da pequena para confortá-la, mas a bebê não parava de chorar.— Posso tentar? — Guilherme pediu parado ao lado delas, após uma rápida conversa com o pro
O sábado amanheceu chuvoso, mas dentro de casa o aroma de café e dos pãezinhos com geleia de morango se espalhava pelo ambiente, enquanto Guilherme, Tábata e Lean tomavam o café da manhã.Com Lean entre eles, na cadeirinha, se intercalavam entre comer e oferecer colheradas de papinha de legumes à pequena, que emitia risadinhas encantadoras e tentava agarrar a colher com as mãozinhas rechonchudas.O celular dele vibrou no bolso da calça jeans. Ao reconhecer o nome que brilhava na tela, atendeu bem humorado. — Bom dia, dona Mirela! — Bom dia, Guilherme! Espero não estar atrapalhando. Liguei para pedir que, se for visitar seu pai hoje, passe aqui na mansão — pediu, explicando em seguida: — Estou organizando uma festa de aniversário para o Simon e adoraria que você, Tábata e a bebê participem. Guilherme apertou o maxilar, desviando os olhos para a janela. A expressão dele não passou despercebida por Tábata, que arqueou as sobrancelhas, movendo os lábios numa pergunta muda para saber o
A água morna escorria pelas perninhas rechonchudas de Lean, enquanto Tábata esfregava delicadamente o sabão em sua pele macia. A bebê agitava os braços e pés inquieta, espirrando pequenas gotas para todos os lados da banheirinha.— Lean, vai deixar a mamãe ensopada antes do banho acabar. — Taby comentou ao tentar segurar as mãozinhas da filha, que agora agarravam a esponja.A leveza do momento foi quebrada por um brado irritado de Guilherme do lado de fora do quarto da bebê. — Ela ficou louca!Com o cenho franzindo, Tábata ergueu o rosto na direção da porta entreaberta, a curiosidade aguçada, mas os resmungos da filha a trouxeram de volta à tarefa a sua frente. — Já vamos ver o que é, abelhinha. Vamos terminar rapidinho. — Enxaguou a bebê com cuidado, sentindo o coração inquieto diante da voz de Guilherme, cada vez mais exaltada vindos da sala.Supôs que ele estava em uma ligação, uma vez que não escutava o outro lado da discussão. O tom dele se elevava em picos de frustração, segui
Sem entender o rompante, Tábata apertou Lean contra o peito, tentando acalmar a pequena que resmungava inquieta.— Minha culpa? O que foi que eu fiz? — perguntou, segurando Lean com um braço enquanto acariciava suavemente a cabecinha da bebê com a outra mão.Andando de um lado para o outro, os dedos passando inquietos pelo cabelo, ele resmungou em resposta:— Você e suas ideias de apoiar todo mundo sem pensar nas consequências! Esse noivado é um erro. Um erro gigantesco!Ela o encarou, ainda mais confusa, mas mantendo a serenidade para não assustar Lean.— Calma! Vamos por partes — pediu, ajustando a posição da bebê em seus braços. — Que noivado?— Simon e Paulina estão noivos — ele comunicou nervoso. — Você ficou insistindo que eu estava exagerando. E agora olha só!
— O que aconteceu, Lina? — Tábata perguntou calma, afastando-se de Guilherme, que evitava Lean puxar e babar mais fios de seu cabelo. Paulina hesitou, mas acabou desabafando:— Estraguei tudo com o Simon. — Amiga, me responde com sinceridade: Você o ama? — Sim, mais do que podia imaginar... — A voz dela quebrou em soluços. — Mas não sei como ele se sente a meu respeito. — Oh, querida, esse homem é caidinho por você — disse para tranquilizar a amiga, recordando todas as vezes que os viu juntos. — Se ele ainda não disse que te ama, talvez Guilherme tenha razão e ele seja um boçal. — Boçal é elogio! — Guilherme resmungou, afastar as mãozinhas da bebê, que agora tentava apertar seu nariz.Tábata lançou um olhar reprovador ao namorado, afirmando após abaixar um pouco o aparelho:— Ainda acho que está errado e exagerando. — Logo voltou a se concentrar no telefonema. — Conselho de uma pessoa que quase perdeu o homem que ama: Procure o Simon e arranque dele a resposta para sua dúvida.—
O sol do fim de tarde entrava suavemente pela janela, iluminando a sala de Guilherme com tons dourados. Ele estava sentado à sua mesa, os dedos tamborilando levemente sobre a superfície polida, enquanto os olhos âmbar fitavam o horizonte do lado de fora. Por mais que tentasse, que estivesse em uma semana corrida, sua mente insistia em recordar a frase dita por Tábata dias antes.“Para algumas mulheres, o casamento é a maior prova de amor”.Vinha revirando as palavras, tentando decifrar o que significavam para Tábata. Será que ela também pensava assim? Será que ele estava falhando ao desdenhar da instituição matrimonial, como se fosse apenas um pedaço de papel sem valor? A dúvida o incomodava mais do que gostaria de admitir.Era algo que Simone tinha mencionado há pouco tempo, o desejo por um laço maior do que ele estava disposto a oferecer. Na ocasião tinha desdenhado, retrucado algo friamente para afastar a Muller de seu caminho. Agora não tinha tanta