Na manhã seguinte, depois de tomar banho e se trocar, Guilherme estava parado diante do espelho do quarto, ajeitando o nó da gravata com movimentos firmes, mas distraídos. O aroma fresco do banho ainda pairava no ar, misturado ao leve perfume amadeirado que usava. A expressão no reflexo, mostrava o olhar perdido em pensamentos.A conversa com Tábata no dia anterior martelava em sua mente. A suspeita dela sobre Mateus fazia sentido, e Guilherme sabia que precisavam agir rápido. Se aquele homem realmente estava envolvido em algo ilegal, como ela imaginava, isso poderia ser uma peça crucial na batalha judicial que se aproximava. O exame de DNA seria inevitável e qualquer prova adicional poderia fortalecer a proteção de Lean.Inspirou profundamente, ajustando a postura. Não podia deixar as preocupações transparecerem. Tábata e Lean precisavam dele forte, confiante.Seguiu para a cozinha, onde encontrou Tábata sentada à mesa com Lean no colo. A bebê balbuciava, as mãozinhas gorduchas brinc
A sala imediatamente tornou-se um campo de batalha, em que só um lado tinha voz, com Guilherme caminhando de um lado para o outro, ardendo de desaprovação. Paulina, sentada no sofá, permanecia com os olhos baixos cravados no chão. Ao seu lado, Tábata segurava Lean no colo, acariciando distraidamente o cabelo da filha. — É um absurdo, Paulina! — disparou Guilherme, interrompendo seu próprio trajeto e encarando a prima com desgosto. — Como pode sequer pensar em se envolver com alguém como o Simon? Que sempre te maltratou e fez pior com outras. Paulina apertou os dedos contra a barra da saia, os lábios tremendo levemente. Não respondeu, preferindo o silêncio a enfrentar às chamas da repreensão de seu primo. — Gui, talvez esteja exagerando... — Tábata tentou intervir, mas ele virou-se bruscamente para ela, os olhos âmbar faiscando. — Exagerando? — repetiu com um tom incrédulo, erguendo a sobrancelha. — Simon não leva nada a sério! Usa as mulheres como se fossem brinquedos descartáveis
Tendo adicionado mais uma questão a resolver, logo que chegou ao trabalho, Guilherme buscou a solução de seu problema mais urgente: Afastar Mateus do caminho de seu caminho e de Tábata.— Movimentações anormais? — Guilherme perguntou, girando a caneta entre os dedos, o olhar fixo na tela do laptop, lendo algumas das informações que pediu sobre o ex de Tábata.Do outro lado da linha, a voz do investigador particular Marcelo Vasquez soou em resposta. — Exatamente. Depósitos consideráveis, transferências vindo de contas que... vamos dizer, não são fáceis de rastrear. Guilherme fechou os olhos por um momento, pressionando a ponte do nariz. — Isso confirma algumas suspeitas. Tem alguma pista do que ele esconde? Da fonte desse dinheiro?— Tem uma pista que estou seguindo, mas, por precaução, não posso falar por enquanto. — Marcelo fez uma pausa, o som de um motor de moto ao fundo denunciando sua movimentação. — O que envie é a ponta do iceberg.Guilherme ergueu uma sobrancelha, inclinan
De volta ao aconchego de seu lar, Guilherme jantou com Tábata e ao fim a ajudou a tirar a mesa, logo ficando ao lado dela na pia, ela lavando e ele secando. A pequena Lean resmungava no moisés ao lado do sofá, distraída com um brinquedo colorido. — Fui atrás do Simon hoje — contou esfregando o pano de prato em um talher. Tábata parou de lavar, a esponja flutuando acima da louça restante. — Foi fazer o quê? — perguntou sem olhá-lo, retomando a sua missão com mais força. — Exigir que se afaste da Paulina, claro. Tábata virou-se devagar, pousando a travessa de arroz no centro da pia. Seus olhos amendoados estavam fixos nele, mas havia um revolta em sua expressão que ele não compreendeu de imediato. — Exigir como fez mais cedo? — Ela cruzou os braços. — Guilherme, está passando do ponto. Eles são adultos. Paulina tem mais de vinte anos e não precisa da sua permissão, ou mesmo do pai dela — frisou ao lembrar a ameaça dele de contar para o tio o que ocorria —, para escolher com quem s
O peso do arrependimento apertava o peito de Guilherme quando se deitou para dormir. A penumbra envolvia o quarto. A luz fraca do abajur do lado dela projetava sombras suaves nas paredes, estava deitado, observando o feixe de luz vindo do banheiro, em que Tábata tomava banho. Ergueu a cabeça do travesseiro, apoiando-a na mão, ao ouvir o chuveiro ser desligado, som substituído pelo do secador de cabelo.Longos minutos depois, ela saia vestindo uma de suas camisetas largas de algodão com figuras de animação, deixando a mostra as pernas macias. Ao se aproximar da cama, não trocou olhares com Guilherme, apagou a luz e deitou-se de costas para ele, ajustando o travesseiro sob a cabeça e puxando o cobertor até a altura do peito. Guilherme suspirou baixinho, observando as costas dela por alguns instantes antes de estender a mão e deslizar os dedos com suavidade pela curva do pescoço delicado.— Taby... — a voz dele rompeu a quietude, rouca e pesada. — Eu não queria ofender você, muito meno
Na manhã seguinte, como prometido para Tábata, Guilherme ficou até a chegada de sua prima para se desculpar por sua péssima atitude diante do novo relacionamento dela.Cinicamente, resmungou que pediria desculpas ao consagrado escolhido, se dessa vez ele não tivesse deixado Paulina e partido sem beijos explícitos no meio da rua. Comentário que fez Taby rir e Paulina corar.Paulina sentou na beira do sofá, as mãos se apertando no colo, atenta ao primo, que parecia prestes a explodir de raiva novamente. E de fato estava, mas se controlava com a habilidade de alguém acostumado a medir cada reação. Tábata, sentada na ponta do sofá, balançava suavemente o moisés onde Lean descansava, enquanto observava os dois com um sorriso leve de incentivo para ambos. — Lina, passei do ponto ontem. Não vou contar nada ao tio sobre o Simon. — Guilherme garantiu, logo jogando uma enxurrada de conselhos: — Mas precisa ser responsável e definir o que tem com ele. Ficar escondendo as coisas só vai abrir esp
Na sexta, Tábata levou a filha para fazer o exame que iniciaria a nova batalha em sua vida. A discreta clínica no centro da cidade, com paredes claras e cadeiras alinhadas ao longo do corredor tinha uma música ambiente ecoando na recepção para tranquilizar seus pacientes, Taby supôs. Nela aumentou a ansiedade e tornou ainda mais opressor a imposição de estar ali.A demora só não foi mais angustiante que o exame. Sua pequena filha passando por um procedimento intrusivo por causa dela, por ter acreditado em um canalha sem coração.— Está tudo bem, minha abelhinha, já passou... — murmurou embalando a filha, que chorava, incomodada pelo exame recente. — Mamãe está aqui... — murmurou, o tom trêmulo não acalmando a bebê, que continuava a chorar, as mãozinhas rechonchudas agarrando o tecido da blusa da mãe. Seus dedos acariciavam as costas da pequena para confortá-la, mas a bebê não parava de chorar.— Posso tentar? — Guilherme pediu parado ao lado delas, após uma rápida conversa com o pro
O sábado amanheceu chuvoso, mas dentro de casa o aroma de café e dos pãezinhos com geleia de morango se espalhava pelo ambiente, enquanto Guilherme, Tábata e Lean tomavam o café da manhã.Com Lean entre eles, na cadeirinha, se intercalavam entre comer e oferecer colheradas de papinha de legumes à pequena, que emitia risadinhas encantadoras e tentava agarrar a colher com as mãozinhas rechonchudas.O celular dele vibrou no bolso da calça jeans. Ao reconhecer o nome que brilhava na tela, atendeu bem humorado. — Bom dia, dona Mirela! — Bom dia, Guilherme! Espero não estar atrapalhando. Liguei para pedir que, se for visitar seu pai hoje, passe aqui na mansão — pediu, explicando em seguida: — Estou organizando uma festa de aniversário para o Simon e adoraria que você, Tábata e a bebê participem. Guilherme apertou o maxilar, desviando os olhos para a janela. A expressão dele não passou despercebida por Tábata, que arqueou as sobrancelhas, movendo os lábios numa pergunta muda para saber o