Saindo da sala de arquivo carregando as pastas de um processo, Guilherme caminhava em direção à sua sala, lendo por alto um dos arquivos. O dia estava intenso, e ele só desejava um pouco de paz para organizar os contratos que precisavam de sua revisão antes de voltar para casa. — Boa tarde, querido!A voz com uma entonação que oscilava entre provocação e falsa doçura, fez Guilherme erguer o olhar, encarando sem emoção a mulher a sua frente.No passado gostava e até ansiava pela presença dela. Contudo, agora, sempre que aparecia carregava consigo uma energia pesada, uma tempestade prestes a desabar sobre a cabeça dele. Dessa vez não foi diferente.— Fiquei sabendo que pediu ajuda de um colega nosso — começou ela, bloqueando o caminho com sua postura elegante e sorriso enigmático nos lábios pintados de rosa. — Deve estar inseguro agora que o ex da coisi... hum... Tábata retornou.O semblante de Guilherme permaneceu impassível, mas seu maxilar tensionado entregava a verdade.— Tenho tra
Sentado no sofá após o jantar, Guilherme segurava Lean no colo, embalando-a de leve. A bebê, com as mãozinhas rechonchudas, brincava com o cordão do moletom dele, enquanto Tábata, em pé junto à janela, observava pensativa a grama molhada da recente chuva, iluminada pelo poste da rua.Pensando com calma desde o momento dos insistentes telefonemas e mensagens recebidas ao longo do dia, virou-se devagar para as duas pessoas que amava.— Gui, o Mateus me procurou novamente — lançou de uma vez. Ele ergueu o olhar da bebê para a jovem, os olhos âmbar atentos e sérios. — Disse que quer me encontrar... Sozinha.Os ombros de Guilherme se enrijeceram. Embora a raiva pelo homem ameaçando sua paz atravessasse seu corpo, a mão que segurava Lean continuou a afagar o rostinho da bebê suavemente. — E pretende atender esses termos?Tábata hesitou por um momento, entrelaçando os dedos enquanto buscava as palavras certas, caminhou até o sofá, sentando-se ao lado deles. — Pensei muito a respeito e conc
O relógio reluzente no pulso de Mateus captou toda a atenção de Tábata quando se aproximou, gesticulando exageradamente. Anos avaliando peças no antiquário a fez perceber se tratar de um legítimo rolex de ouro. O balançar do pulso deu a ela a certeza que o movimento era proposital, só para exibir o objeto. O terno impecável e o cabelo meticulosamente engomado completavam a figura de um homem que claramente queria impressionar. A saudação, a confiança exagerada e a esfuziante vaidade, causava desconforto em Tábata, que assim que o cumprimentou friamente voltou a sentar.Lançou um olhar para Lean, distraída com seus brinquedos no carrinho ao seu lado, depois retornou a atenção para o homem tirando o paletó para ajeita-lo cuidadosamente no encosto da cadeira.Cruzou os braços, controlando-se diante da cena teatral que ele proporcionava aos outros clientes do local.Ele puxou a cadeira com elegância ensaiada e sentou-se.— Tábata, está linda como sempre! — exclamou, com um sorriso largo
A vontade de desaparecer foi esmagadora.— Levanta! — Tábata sibilou entre dentes, gesticulando irritada a ordem. — Levanta e acaba logo com essa palhaçada! Houve um instante de pesado e constrangedor silêncio. Lean soltou um gritinho agudo, quebrando a tensão e fazendo um arfar coletivo de encantamento e surpresa ecoar.— Aceite, minha querida! Quero corrigir meu erro, por você e por nossa filha — ele insistiu, movendo a caixinha para mais perto do olhar dela, como se a joia fosse suficiente para fazê-la aceitar a proposta. — Prometo fazer você e nossa filha as mulheres mais felizes deste mundo.Os sussurros nas mesas próximas aumentaram. Percebeu, ao levantar o olhar, que Maya e Hana se erguiam sem tirar a atenção deles. A certeza que viriam em seu auxilio lhe trouxe um pouco de alívio e força. — Se quer nos fazer feliz, saia de nossas vidas — pediu apertando os dedos na barra do carrinho da filha.— Mocinha, não se trata um homem apaixonado assim! — Uma senhora idosa, sentada lo
O pequeno parque estava calmo naquela tarde ensolarada, com poucas pessoas aproveitando a brisa leve que agitava as folhas das árvores. As risadas de algumas crianças brincando no escorregador ecoavam ao longe, enquanto o ranger do carrinho de bebê acompanhava o ritmo dos passos lentos de Tábata, Maya e Hana, protelando a volta ao trabalho. Lean, aconchegada no colo de Tábata, brincava com uma abelha de pelúcia, alheia aos conflitos dos adultos.— É muita cara de pau do Mateus tentar se aproximar de novo — bradou Maya, empurrando o carrinho vazio enquanto olhava para Tábata. — E esfregar aquele anelzinho mequetrefe na sua cara depois da cachorrada que fez.— Concordo com quase tudo — Tábata falou atraindo os olhares curiosos das amigas. — Aquele anel não era mequetrefe. Assim como aquele relógio... — Tábata ajeitou Lean no colo e suspirou, olhando para o céu com expressão pensativa. — Só não consigo entender de onde está vindo esse dinheiro todo. Mateus reclamava que tinha de trabalha
Na manhã seguinte, depois de tomar banho e se trocar, Guilherme estava parado diante do espelho do quarto, ajeitando o nó da gravata com movimentos firmes, mas distraídos. O aroma fresco do banho ainda pairava no ar, misturado ao leve perfume amadeirado que usava. A expressão no reflexo, mostrava o olhar perdido em pensamentos.A conversa com Tábata no dia anterior martelava em sua mente. A suspeita dela sobre Mateus fazia sentido, e Guilherme sabia que precisavam agir rápido. Se aquele homem realmente estava envolvido em algo ilegal, como ela imaginava, isso poderia ser uma peça crucial na batalha judicial que se aproximava. O exame de DNA seria inevitável e qualquer prova adicional poderia fortalecer a proteção de Lean.Inspirou profundamente, ajustando a postura. Não podia deixar as preocupações transparecerem. Tábata e Lean precisavam dele forte, confiante.Seguiu para a cozinha, onde encontrou Tábata sentada à mesa com Lean no colo. A bebê balbuciava, as mãozinhas gorduchas brinc
A sala imediatamente tornou-se um campo de batalha, em que só um lado tinha voz, com Guilherme caminhando de um lado para o outro, ardendo de desaprovação. Paulina, sentada no sofá, permanecia com os olhos baixos cravados no chão. Ao seu lado, Tábata segurava Lean no colo, acariciando distraidamente o cabelo da filha. — É um absurdo, Paulina! — disparou Guilherme, interrompendo seu próprio trajeto e encarando a prima com desgosto. — Como pode sequer pensar em se envolver com alguém como o Simon? Que sempre te maltratou e fez pior com outras. Paulina apertou os dedos contra a barra da saia, os lábios tremendo levemente. Não respondeu, preferindo o silêncio a enfrentar às chamas da repreensão de seu primo. — Gui, talvez esteja exagerando... — Tábata tentou intervir, mas ele virou-se bruscamente para ela, os olhos âmbar faiscando. — Exagerando? — repetiu com um tom incrédulo, erguendo a sobrancelha. — Simon não leva nada a sério! Usa as mulheres como se fossem brinquedos descartáveis
Tendo adicionado mais uma questão a resolver, logo que chegou ao trabalho, Guilherme buscou a solução de seu problema mais urgente: Afastar Mateus do caminho de seu caminho e de Tábata.— Movimentações anormais? — Guilherme perguntou, girando a caneta entre os dedos, o olhar fixo na tela do laptop, lendo algumas das informações que pediu sobre o ex de Tábata.Do outro lado da linha, a voz do investigador particular Marcelo Vasquez soou em resposta. — Exatamente. Depósitos consideráveis, transferências vindo de contas que... vamos dizer, não são fáceis de rastrear. Guilherme fechou os olhos por um momento, pressionando a ponte do nariz. — Isso confirma algumas suspeitas. Tem alguma pista do que ele esconde? Da fonte desse dinheiro?— Tem uma pista que estou seguindo, mas, por precaução, não posso falar por enquanto. — Marcelo fez uma pausa, o som de um motor de moto ao fundo denunciando sua movimentação. — O que envie é a ponta do iceberg.Guilherme ergueu uma sobrancelha, inclinan