Após algumas horas os Perez que moravam na mansão Salvatore partiram, restando Paulina que acomodou-se ao lado de Tábata para conversar, sem pressa para partir. Guilherme saiu para trocar Lean e colocá-la para dormir, deixando as duas sozinhas.Tranquila, o peso de tantas semanas de incerteza finalmente encontrando um caminho para escapar, Tábata confessou:— Estava morrendo de medo de contar para sua família sobre mim e o Gui, porque sabia que também precisaria falar do pai da Lean. Achei que reagiriam pior... — Engoliu seco, desviando o olhar para as próprias mãos. — No fim só seu pai se mostrou contra.— Meu pai tem ideias conservadoras — Paulina explicou. — O que importa é que a maioria dos Perez gosta de você e do Guilherme juntos. Nós vemos como ele cuida e se importa com você e a Lean... — Paulina alisou o tecido da almofada em seu colo. — Fiquei sem graça quando percebi que só eu não tinha notado que havia algo entre você e o Guilherme.— Tentei esconder.Paulina riu baixinh
Não querendo passar outra tarde solitária em casa se martirizando pelo medo de perder a filha, depois que Guilherme saiu para o trabalho e Paulina partiu após outra breve visita, arrumou as coisinhas de Lena, o carrinho e foi para a casa de seus pais. Aproveitou e mandou uma mensagem para as amigas, marcando de encontra-las na hora de almoço delas.Logo que chegou a casa foi recebida pelo sorriso caloroso do pai e o frio inclinar de lábios de sua mãe, algo comum ao longo de sua vida.A sala estava iluminada pela luz suave que atravessava as cortinas de renda, e o ar carregava o leve aroma de chá recém-preparado, colocado sobre a mesinha de centro. Tábata tinha acomodado Lean no carrinho, ajustando o apoio e a mantinha florida da bebê, que esticava os dedinhos para brincar com os enfeites acima de sua cabeça. Em sua cadeira de rodas, Claudiano observava a cena fascinado, os olhos brilhando de ternura.— Essa menina vai crescer forte e esperta como a mãe — disse ele, a voz fraca e hesit
No horário marcado, Tábata encontrou suas amigas na lanchonete próxima ao antiquário. O lugar, lotado pelo horário de almoço, exalava o aroma de miríade de sabores. Junto com a filha, ocupou uma mesa no canto minutos antes, o que garantiu que tivessem lugar quando as amigas vieram para almoçar com ela.Depois de fazerem os pedidos, contou o ocorrido no antiquário.— Finalmente teve coragem! — Hana comemorou.— Sim — confirmou orgulhosa de si mesma. — Deixei claro que não volto a trabalhar sem um salário justo e a carteira assinada.Maya bateu palmas, animada, acompanhada pela cumplicidade de Hana.— Já estava mais do que na hora de você se posicionar. Quantas vezes eu te disse que era exploração? — indicou Maya.— Muitas — admitiu abaixando os olhos para esconder a vergonha por sua atitude passada. — Eu só não tinha coragem de enfrentar minha mãe... Sabem como ela é. Mas depois de ser expulsa, percebi que não tenho lugar nem na casa e nem na loja deles.Calaram um momento com a chegad
O quarto estava mergulhado em uma penumbra acolhedora, as cortinas semiabertas deixando um rastro da luz do exterior tingindo um filete do chão até a parede ao lado da cama, enquanto a chuva suave tamborilava na janela, compondo uma melodia aconchegante. Tábata repousava a cabeça no tórax de Guilherme, os dedos traçando desenhos invisíveis sobre o peito nu, aproveitando o refúgio do calor de seus corpos enquanto contava como foi seu dia.— Meu pai parece outro quando está com a Lean — comentou. — Ele sorri. Fazia tanto tempo que não via aquele sorriso... — A abelhinha tem esse efeito nas pessoas — ele disse deslizando os dedos pelo cabelo dela. — É impossível não se encantar por ela. Tábata ergueu o olhar, apoiando o queixo em seu peito, os olhos castanhos buscando os dele. — Estive com a Maya e a Hana depois disso — contou. — A gente conversou bastante, mas elas disseram algo que ficou na minha cabeça. — E o que foi?— Viram o Mateus vestido com roupas de grife, carro e relógio c
Saindo da sala de arquivo carregando as pastas de um processo, Guilherme caminhava em direção à sua sala, lendo por alto um dos arquivos. O dia estava intenso, e ele só desejava um pouco de paz para organizar os contratos que precisavam de sua revisão antes de voltar para casa. — Boa tarde, querido!A voz com uma entonação que oscilava entre provocação e falsa doçura, fez Guilherme erguer o olhar, encarando sem emoção a mulher a sua frente.No passado gostava e até ansiava pela presença dela. Contudo, agora, sempre que aparecia carregava consigo uma energia pesada, uma tempestade prestes a desabar sobre a cabeça dele. Dessa vez não foi diferente.— Fiquei sabendo que pediu ajuda de um colega nosso — começou ela, bloqueando o caminho com sua postura elegante e sorriso enigmático nos lábios pintados de rosa. — Deve estar inseguro agora que o ex da coisi... hum... Tábata retornou.O semblante de Guilherme permaneceu impassível, mas seu maxilar tensionado entregava a verdade.— Tenho tra
Sentado no sofá após o jantar, Guilherme segurava Lean no colo, embalando-a de leve. A bebê, com as mãozinhas rechonchudas, brincava com o cordão do moletom dele, enquanto Tábata, em pé junto à janela, observava pensativa a grama molhada da recente chuva, iluminada pelo poste da rua.Pensando com calma desde o momento dos insistentes telefonemas e mensagens recebidas ao longo do dia, virou-se devagar para as duas pessoas que amava.— Gui, o Mateus me procurou novamente — lançou de uma vez. Ele ergueu o olhar da bebê para a jovem, os olhos âmbar atentos e sérios. — Disse que quer me encontrar... Sozinha.Os ombros de Guilherme se enrijeceram. Embora a raiva pelo homem ameaçando sua paz atravessasse seu corpo, a mão que segurava Lean continuou a afagar o rostinho da bebê suavemente. — E pretende atender esses termos?Tábata hesitou por um momento, entrelaçando os dedos enquanto buscava as palavras certas, caminhou até o sofá, sentando-se ao lado deles. — Pensei muito a respeito e conc
O relógio reluzente no pulso de Mateus captou toda a atenção de Tábata quando se aproximou, gesticulando exageradamente. Anos avaliando peças no antiquário a fez perceber se tratar de um legítimo rolex de ouro. O balançar do pulso deu a ela a certeza que o movimento era proposital, só para exibir o objeto. O terno impecável e o cabelo meticulosamente engomado completavam a figura de um homem que claramente queria impressionar. A saudação, a confiança exagerada e a esfuziante vaidade, causava desconforto em Tábata, que assim que o cumprimentou friamente voltou a sentar.Lançou um olhar para Lean, distraída com seus brinquedos no carrinho ao seu lado, depois retornou a atenção para o homem tirando o paletó para ajeita-lo cuidadosamente no encosto da cadeira.Cruzou os braços, controlando-se diante da cena teatral que ele proporcionava aos outros clientes do local.Ele puxou a cadeira com elegância ensaiada e sentou-se.— Tábata, está linda como sempre! — exclamou, com um sorriso largo
A vontade de desaparecer foi esmagadora.— Levanta! — Tábata sibilou entre dentes, gesticulando irritada a ordem. — Levanta e acaba logo com essa palhaçada! Houve um instante de pesado e constrangedor silêncio. Lean soltou um gritinho agudo, quebrando a tensão e fazendo um arfar coletivo de encantamento e surpresa ecoar.— Aceite, minha querida! Quero corrigir meu erro, por você e por nossa filha — ele insistiu, movendo a caixinha para mais perto do olhar dela, como se a joia fosse suficiente para fazê-la aceitar a proposta. — Prometo fazer você e nossa filha as mulheres mais felizes deste mundo.Os sussurros nas mesas próximas aumentaram. Percebeu, ao levantar o olhar, que Maya e Hana se erguiam sem tirar a atenção deles. A certeza que viriam em seu auxilio lhe trouxe um pouco de alívio e força. — Se quer nos fazer feliz, saia de nossas vidas — pediu apertando os dedos na barra do carrinho da filha.— Mocinha, não se trata um homem apaixonado assim! — Uma senhora idosa, sentada lo