POV: YULLI
O ar frio de Orion cortava meus pulmões enquanto eu tentava puxar o ar desesperadamente, cada respiração um esforço doloroso que parecia inútil. A chuva intensa golpeava minhas costas sem piedade, transformando a cidade em um labirinto traiçoeiro. Meus pés se afundavam em poças geladas, cada impacto contra o solo mandando ondas de dor pelas pernas que já ameaçavam ceder. Estavam em chamas, ardendo a cada passo, a exaustão da fuga corroendo minhas forças.
Quando minhas pernas finalmente vacilaram, deixei meu corpo cair contra uma parede áspera, coberta de musgo úmido. Pressionei a testa contra a pedra fria, tentando conter o pânico que rastejava pela minha espinha.
— Merda, eles nunca desistem? — murmurei, minha voz rouca, quase engolida pelo som da chuva. Levantei o olhar para o céu escuro, gotas de água escorrendo pelo meu rosto como se fossem lágrimas. — Deusa... eu sei que não mereço nada de você, mas, por favor... me ajude.
Uma brisa sutil tocou meu rosto, como um sussurro, trazendo consigo um fio de esperança. Peguei esse sinal e me movi novamente, ignorando a dor latejante nos músculos enquanto mergulhava nos becos estreitos, procurando escapar dos meus perseguidores. Encontrei refúgio temporário em um canto escuro e puxei o colar que trazia ao pescoço. Com as mãos trêmulas, comecei a murmurar um feitiço, minha voz embargada pelo medo. Se ao menos pudesse camuflar meu cheiro...
Mas o som me congelou. Um som agudo, como garras arranhando pedra, reverberou pelo beco, o suficiente para fazer meu coração acelerar como se fosse explodir.
— Como eles me encontraram? — sussurrei para mim mesma, sentindo as mãos vacilarem enquanto afastava os cabelos encharcados do rosto. Meu corpo inteiro tremia, mas mesmo assim, ajustei a postura, forçando-me a uma posição defensiva.
— Muito esperta, feiticeira — disse uma voz, baixa e ameaçadora, carregada de malícia. O som de um assobio longo. — Mas já aprendemos seus truques. Eles não funcionam mais.
O rosnado que se seguiu fez o chão sob meus pés parecer menos firme. O predador estava ali. Perto demais.
Vultos se aglomeravam ao meu redor, bloqueando qualquer caminho de fuga. As sombras nas paredes aumentavam minha sensação de estar encurralada. Meu coração disparava, batendo tão forte que parecia querer romper meu peito. O frio cortante fazia minhas articulações doerem. Meu corpo tremia, sem saber se era pelo medo ou pelo cansaço de uma perseguição interminável.
— Lobos errantes — disse com firmeza, apesar de estar à beira do colapso. Recuei um passo, fixando meu olhar no brilho ameaçador dos olhos vermelhos de um Lycan. — Até vocês estão atrás de mim? Por quê?
— Não se faça de inocente, ratinha — respondeu com um sorriso cruel, os caninos se alongando enquanto falava. Sua voz misturava desprezo e diversão, revirando meu estômago. O círculo de lobos se fechava, empurrando-me contra a parede. Não havia escapatória. Minha garganta secou ao perceber a desvantagem esmagadora. Mordi os lábios, tentando conter o pânico.
— Uma bruxa considerada traidora pelo alfa supremo e pelo próprio clã das bruxas deveria saber que caçadores não precisam de outra justificativa para caçá-la — provocou, estralando a língua como se saboreasse minha derrota.
— Sou prisioneira do Alfa do Norte! Vocês não podem... — meu protesto foi interrompido por um rugido ensurdecedor que me paralisou. Um lobo avançou, dentes arreganhados, prestes a me atacar.
— O Alfa do Norte? — ele gargalhou com uma frieza cortante. — Ele foi banido por sua causa, bruxa. Não há ninguém para protegê-la agora.
A raiva explodiu, superando o medo. Apertei o colar em minhas mãos, sua superfície fria lembrando-me do único poder que ainda me restava.
— Keenan vai matá-los quando souber disso! — gritei em desafio. Comecei a entoar um feitiço, cada palavra carregada de tensão crescente. Eu não iria cair sem lutar.
— Você está encurralada, bruxa miserável. — A voz dele era carregada de sarcasmo e desdém, arrancando gargalhadas dos outros. — Quando ele souber, será tarde demais. Tudo o que encontrará será apenas os seus ossos roídos!!
Endireitei o corpo e lancei um sorriso frio.
— A única coisa que vão encontrar aqui serão suas peles de lobo que servirá de tapete. — Disse, com uma calma venenosa. Sem hesitar, joguei o amuleto ao chão. O pó de desorientação se espalhou rapidamente, formando uma cortina sufocante.
— Não inalem! — gritou o Lycan, interrompido por uma tosse violenta. — Ela está tentando nos desorientar! Matem-na, agora!
A fumaça espessa dificultava minha visão, mas eu sabia que não tinha muito tempo. Dei alguns passos para trás, tateando o caminho, até que algo úmido e quente tocou minhas costas. Um rosnado feroz ressoou atrás de mim, gelando meu sangue. Virei-me instintivamente, mas não rápido o suficiente. Pulei para frente quando senti dentes afiados rasparem contra minha perna, arrancando um grito de dor e frustração.
— Malditos vira-latas! — Cuspi, a dor alimentando minha fúria. Mas antes que pudesse reagir, um lobo enorme saltou sobre mim, me derrubando com força. O impacto fez minha cabeça bater contra o chão, um estalo surdo que deixou minha visão turva. O peso da criatura era esmagador, e suas presas investiam com ferocidade, buscando meu rosto e pescoço.
Lutando contra o atordoamento, minha mão tateou desesperadamente pelo chão até encontrar algo sólido: Uma barra de ferro. Com todas as forças que ainda restavam, a ergui e a prendi contra o maxilar do lobo que avançava.
— Engole isso, desgraçado! — gritei, empurrando com força, o som do metal rangendo contra os dentes dele.
Ajoelhei com toda a força nas costelas da criatura, repetindo o movimento até que seu grunhido se tornou um urro de dor. A barra de ferro escorregou de sua mandíbula e ele cambaleou para o lado. Aproveitei o momento, arrastando meu corpo para trás enquanto recuperava o equilíbrio, e desferi um golpe certeiro contra sua cabeça. O impacto ressoou como um estrondo abafado, e o lobo balançou o focinho desorientado antes de tombar no chão, seu corpo imóvel denunciando que a vida havia escapado.
— Um já foi. — Murmurei, ofegante, enquanto meus dedos tocavam o ombro ferido. O sangue quente escorria pelo rasgo deixado por seus dentes. Cerrei os dentes, ignorando a dor, e encarei o próximo inimigo. — Quem é o próximo?
POV: YULLI— Quanta coragem, presa. — A voz do Lycan era um rosnado profundo, carregado de ódio. Ele avançou com a velocidade de um predador, cada movimento tão rápido que mal tive tempo de reagir. — Vamos ver se continua assim quando eu rasgar sua carne.Antes que eu pudesse me defender, fui arremessada contra a parede. O impacto arrancou o ar dos meus pulmões, uma onda de dor explodindo em minhas costas enquanto o mundo ao meu redor girava.— Onde está a sua força agora? — Ele rugiu, suas presas a milímetros do meu rosto. O hálito quente e fétido fazia meu estômago revirar. Com um último esforço desesperado, chutei suas partes íntimas com toda a força que consegui reunir. Ele soltou um rosnado de dor, mas sua reação foi tão rápida quanto brutal. Suas garras enormes se fecharam em torno do meu pescoço, esmagando minha traqueia enquanto eu me debatia, a sensação de sufocamento me fazendo entrar em pânico.— Maldita. — Sua voz era implacável, cada palavra gotejando veneno. — Íamos brin
POV: YULLICom dedos trêmulos, disquei seu número uma última vez. Meu corpo doía, não apenas pelos ferimentos, mas por todo peso das decisões que me trouxeram até aqui, aos portões ancestrais do clã das bruxas.— Alô? — Sua voz grave e familiar fez meu coração apertar.— Me perdoe, pulguento... — sussurrei direta, enquanto o vento gélido cortava minha pele. Uma lágrima teimosa escorria por meu rosto, mordi os lábios, tentando conter um soluço. — Não consegui ficar fora de confusão.— Yulli? Onde você está? — A preocupação em seu rosnado me fez quase desistir de tudo.— Preciso que pare de me procurar, vira-lata. — Endureci minha voz, mesmo que por dentro estivesse despedaçada. Ergui o queixo, como se ele pudesse me ver. — Siga com sua vida, encontre uma Luna e seja feliz. Não venha mais atrás de mim!Desliguei antes que sua voz pudesse me fazer mudar de ideia. O celular encontrou seu fim sob meus pés, cada pedaço quebrado simbolizando o fim desta história. Com passos pesados, entrei n
POV: YULLIDei alguns passos para o lado, meus olhos se arregalando enquanto ele se aproximava com uma confiança elegante e um ar de preguiçosa superioridade. Keenan andava como um predador que não se preocupava com a reação de suas presas, cada movimento calculado, mas desdenhoso. Atrás dele, seus lacaios seguiam em silêncio, todos vestidos com trajes formais, cada um emanando uma aura de ameaça controlada.— Fiquei chateado, encrenca. — Sua voz gotejava sarcasmo enquanto ele me olhava de cima a baixo, o olhar predatório fixo em mim. — Não recebi o convite para o seu casamento. — Seus lábios se curvaram em um sorriso insuportavelmente autoconfiante. — A propósito, você está linda.— Keenan, o que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando manter minha voz firme, embora o nervosismo me atravessasse. Com os olhos semicerrados enquanto ameaçava me aproximar dele, mas o feiticeiro supremo se colocou entre nós, bloqueando meu caminho. — Eu disse para não vir atrás de mim!Keenan apenas
POV: KEENANAntes de adentrar o carro, uma dor lancinante atravessou minhas costas até meu peito. O ar escapou de meus pulmões e cambaleei, apoiando-me na porta do carro para não cair. Um rosnado feroz escapou de minha garganta enquanto meus seguranças rapidamente formavam uma barreira protetora atrás de mim.Virei-me lentamente, minhas presas expostas, e encarei Drevan parado à distância. O feiticeiro exibia um sorriso triunfante, seus lábios e dentes manchados com sangue vermelho-ferrugem.— Vocês pagarão por isso! — ameaçou ele.— Mal posso esperar — respondi com um sorriso irônico, minha voz áspera pela dor. Com esforço, abri a porta do carro e empurrei Yulli para dentro, ignorando sua resistência. Entrei em seguida e suspirei pesadamente ao notar o líquido viscoso que escorria do ferimento, manchando o tecido. — Droga, era meu terno preferido.— Qual é o seu problema?! — Yulli gritou, acertando um tapa em meu ombro.— Ei, estou ferido, esqueceu? — arqueei uma sobrancelha, mantend
POV: YULLIMeus olhos encontraram os dele, e um peso avassalador me impediu de desviar. Tentei empurrá-lo, forçando uma distância entre nós, mas ele permaneceu imóvel, como se minha força fosse insignificante. Antes que pudesse refletir sobre minhas ações, minha mão subiu em um gesto rápido e certeiro, descendo com força contra seu rosto. O som do impacto reverberou no ar, nítido e afiado, enquanto sua pele exibia um leve rubor onde meus dedos haviam deixado suas marcas. Apesar disso, ele sequer vacilou.— Foi só isso? — Sua voz carregava um sarcasmo irritante, e sua sobrancelha arqueada acentuava a provocação. — Já terminou, bruxinha?Seus lábios se curvaram em um sorriso frio, revelando as presas afiadas que brilhavam sob a luz fraca. Ele não demonstrava dor ou surpresa, apenas uma confiança perigosa que parecia se expandir com meu ato impulsivo. Seus olhos fixaram-se em mim com precisão, estudando cada reação, cada tremor em meu rosto, enquanto um brilho predatório cintilava em seu
POV: KEENAN— É mesmo? — perguntei em voz baixa e provocativa, mantendo as mãos nos bolsos enquanto o encarava. A presença do meu lobo dominava o ambiente. — O que te dá o direito de exigir algo dentro da minha alcateia, Constantine?— Estamos fartos da sua proteção a essa traidora! — rosnou o Alfa da alcateia convergente, os olhos faiscando de raiva. — O Alfa Supremo pode ser complacente por sua amizade, mas nós...— Nós? — cortei sua fala com frieza, arqueando uma sobrancelha. Avancei devagar, cada passo uma ameaça silenciosa. — Quem mais ousa me desafiar?— Você sabe que o Conselho não a deixará escapar do que fez. — Ele também avançou, mostrando os caninos com um sorriso debochado. — O feitiço dessa bruxa te cegou, Alfa do Norte. Talvez um confronto te faça enxergar.Um sorriso frio se formou em meus lábios.— Eu adoraria ver você tentar.Liberei a força do meu lobo, tornando o ar denso e pesado. Meus músculos se retesaram, prontos para o ataque. Cada movimento meu emanava uma ame
POV: KEENAN— A sacerdotisa garantiu nossa vitória na primeira guerra. — declarei com rispidez. Direcionei o olhar para Yulli e suas algemas, antes de enfrentar Constantine novamente. — Ela não tem regalias. Está sob minha custódia, impedida de usar magia.Fechei o punho, contendo a fera que rugia para ser libertada.— Respondo por seus atos. — Dei um passo à frente, encarando-o. — Se busca vingança pela incompetência do seu filho, enfrente alguém que pode revidar!Constantine rosnou sem avançar. Senti Olson, meu lobo, agitar-se violentamente, exigindo carne e sangue.Aproximei-me mais, mas antes que qualquer um de nós pudesse agir, Aaron moveu-se. O Supremo colocou-se entre mim e Constantine, sua postura irradiando uma autoridade que ninguém ousaria questionar. Seu olhar passou rapidamente por Constantine, uma repreensão silenciosa que congelou o outro Alfa no lugar, antes de se voltar para mim.— Mandei você recuar, Keenan. — As palavras do Supremo soaram gélidas e ameaçadoras, sua
POV: KEENANAfastei os braços de Yulli do meu quadril, resistindo à sensação de paz que seu toque proporcionava. Ela recuou alguns passos, envergonhada, o rosto corado realçando sua beleza angelical, os lábios volumosos avermelhados sendo pressionado por seus dentes em um aperto hesitante e tímido.Aaron avançou, seu olhar pesado sobre mim.— Desafiou a ira dos ancestrais e do clã das bruxas. O Feiticeiro Supremo exige a noiva de volta ou... — pausou com um rosnado. — O tratado de paz será revogado.— Vou retornar. — Yulli interrompeu, decidida. A lancei um olhar repreensível, silenciando-a.— Rei Lycan, precisamos discutir os motivos do meu ataque. — Minha voz soou mais grave, impregnada de seriedade. — Não foi apenas pela prisioneira.Yulli me encarou atônita, encrenqueira como era, parecia incapaz de evitar se envolver em problemas. Aaron, por outro lado, cruzou os braços lançando um olhar desconfiado.— Que razões justificariam destruir minha diplomacia pela paz, Keenan? — questio