POV: YULLI
Com dedos trêmulos, disquei seu número uma última vez. Meu corpo doía, não apenas pelos ferimentos, mas por todo peso das decisões que me trouxeram até aqui, aos portões ancestrais do clã das bruxas.
— Alô? — Sua voz grave e familiar fez meu coração apertar.
— Me perdoe, pulguento... — sussurrei direta, enquanto o vento gélido cortava minha pele. Uma lágrima teimosa escorria por meu rosto, mordi os lábios, tentando conter um soluço. — Não consegui ficar fora de confusão.
— Yulli? Onde você está? — A preocupação em seu rosnado me fez quase desistir de tudo.
— Preciso que pare de me procurar, vira-lata. — Endureci minha voz, mesmo que por dentro estivesse despedaçada. Ergui o queixo, como se ele pudesse me ver. — Siga com sua vida, encontre uma Luna e seja feliz. Não venha mais atrás de mim!
Desliguei antes que sua voz pudesse me fazer mudar de ideia. O celular encontrou seu fim sob meus pés, cada pedaço quebrado simbolizando o fim desta história. Com passos pesados, entrei na cidade chamada Fenda. Meus dedos percorreram as antigas gravuras na grande pedra ornamental contando o início da nossa história, uma história que agora também carregaria minha marca:
“Um romance proibido selou nosso destino: o amor impossível entre um poderoso rei Lycan e uma feiticeira lançou nossas espécies à beira da ruína, desencadeando uma maldição terrível sobre o nosso clã.
Desesperados por salvação, rituais eram realizados a cada década. Nas sombras da floresta, jovens feiticeiras poderosas eram sacrificadas aos Deuses, seus gritos ecoando enquanto os sacerdotes buscavam uma forma de nos libertar.
Resta apenas uma esperança: encontrar a chave de libertação para quebrar a maldição e salvar nosso povo da extinção.
Mas até que ela seja encontrada, o sangue continuará a ser derramado, e a linha entre salvação e destruição ficará cada vez mais tênue."
Atravessei o corredor do conselho com passos firmes, mesmo sentindo o peso dos olhares sobre mim. Os guardas, ao me reconhecerem, arregalaram os olhos em espanto, afinal, não era todo dia que uma traidora voltava por vontade própria. Parei diante deles e ergui meus braços em rendição.
— Anunciem ao feiticeiro supremo que Yulli Fireveil retornou — declarei com o queixo erguido e um olhar desafiador, completei: — A noiva traidora do clã das bruxas está pronta para seu julgamento e para enfrentar as consequências de seus atos!
Me vi ajoelhada em um chão frio e úmido, os ossos do meu corpo dolorido pelo despertar da marcar, sentia a raiz daquele maldito pacto absorvendo minhas forças vitais. Tentei me erguer, mas algo me puxou de volta impedindo, olhei ao redor, vendo correntes apertadas em torno dos meus pés e punhos, brilhando com uma energia que queimava minha pele e repelia qualquer tentativa de acessar o meu poder.
— Precisa mesmo de tudo isso? — Indaguei nervosa, sentindo seus olhos sobre mim, avaliando-me, ergui os punhos mostrando as algemas que marcavam minha pele, criando feridas profundas em minha carne.
— Sabemos que sim. — Drevan torceu o nariz com desgosto, parando diante de mim.
Com um movimento brusco, puxou a corrente que prendia meus pulsos, forçando meu corpo a contorcer-se, a inclinar-se em sua direção, até que nossos rostos estivessem a milímetros de distância. Seu olhar intenso cravado ao meu, cruel e dominador.
— Vim de bom grado, se fosse fugir não teria retornado, querido noivo. — Retruquei com sarcasmos gotejando raiva.
Drevan se agachou diante de mim, tão próximo que sua magia negra empesteava o ar. Seus dedos esguio e gélidos apertaram minhas bochechas, fazendo meus dentes rangerem de dor.
— Deveria se sentir honrada, minha adorável noiva... — sussurrou ele com perversidade. — Por ter o privilégio de ser escolhida por mim.
Seus olhos percorreram meus lábios com luxúria revoltando, a arrogância em sua voz causando-me náuseas.
— De todas as mulheres que já possuí — continuou ele, apertando ainda mais meu rosto — você foi a única que deixou uma marca. — Seu sorriso cruel despertou lembranças que me fizeram tremer. — Seus beijos permanecem em minha memória.
— Única que sobreviveu às suas atrocidades! — Gritei, arrancando meu rosto de suas mãos e cuspindo nele com todo o desprezo que sentia.
Drevan limpou o rosto devagar. Seus olhos negros faiscaram com uma fúria assassina enquanto seu sorriso se desfazia. O tapa veio violento, cortando o canto de minha boca. Antes que pudesse reagir, seus dedos envolveram meu pescoço, apertando, cravando na pele, roubando meu ar.
— Isso... termine logo com isso. — murmurei, sentindo a escuridão me envolver.
— Buscando a saída mais fácil? — sua gargalhada ecoou sinistra. — Não minha adorável Yulli, nós temos um casamento para firmar.
Com brutalidade, agarrou meus cabelos e puxou minha cabeça para trás, seus dedos se enroscando na base da minha nuca. Sem aviso, invadiu minha boca com sua língua asquerosa. O gosto amargo de sua presença queimava minha garganta, fazendo todo meu ser gritar em repulsa. Quando finalmente me libertou, jogou-me ao chão com violência.
Ofegante, tentei limpar a boca nos ombros, desesperada para apagar o rastro nojento de seus toques. Meus punhos se fecharam enquanto a fúria dentro de mim queimava cada vez mais intensa.
— Hora de oficializar nossa união! — anunciou ele, acenando para as empregadas. — Te vejo no altar, feiticeira.
Como uma boneca sem vida, fui entregue aos cuidados das criadas. Elas rasgaram minhas roupas com tesouras afiadas e limparam meus ferimentos sem gentileza, cada toque fazendo-me conter gemidos de dor. O vestido de noiva foi praticamente forçado em meu corpo, enquanto cobriam com maquiagem os hematomas, presentes do meu futuro marido. Finalizaram com um batom vermelho, cílios bem-marcados e um coque alto, deixando alguns fios dourados emoldurarem meu rosto.
Diante do espelho, não pude negar, estava linda. A maquiagem realçava o tom único de púrpura dos meus olhos. Em outro momento, se fosse com o lobo que verdadeiramente tinha meu coração este seria o dia mais feliz da minha vida. Mas as correntes em meus pulsos me lembravam da cruel realidade.
Os guardas me arrastaram sem cerimônia até o santuário sagrado, onde as sacerdotisas abençoavam as uniões dos feiticeiros. No altar, Drevan me aguardava em seu elegante terno preto, seus olhos negros brilhando com uma mistura de prazer e crueldade.
— Sorria, minha querida, hoje é o dia do seu casamento! — provocou ele, com um sorriso malicioso.
— A morte me parece mais convidativa — retruquei, recebendo seu olhar furioso em resposta.
A sacerdotisa começou o ritual, recitando as palavras de união até chegar ao momento decisivo:
— Enfim a profecia se cumprirá — declarou ela solenemente. — Se alguém tiver algo contra esta união, fale agora ou cale-se para sempre.
De repente, as portas do santuário explodiram em uma onda de poder primitivo. Um rosnado feroz ecoou pelas paredes, fazendo o ar vibrar e os presentes estremecerem. Por entre a poeira e destroços, surgiu ele, imponente em seu terno azul, cada passo seu uma declaração de domínio absoluto.
Keenan avançou com a elegância fatal de um predador alfa, mãos nos bolsos em uma falsa demonstração de casualidade. Seus olhos esverdeados cintilavam predatório, percorrendo o ambiente com uma intensidade. Um sorriso perigosamente sedutor brincava em seus lábios, uma aura de poder selvagem emanava de cada movimento seu.
— Eu tenho muitas objeções a este casamento — sua voz, rouca e profunda com um toque sedutor como pecado, reverberou pelo santuário. O chão tremeu sob seus pés, respondendo à sua presença dominante. Erguendo o olhar desafiador, suas pupilas dilataram fixas em sua presa. — Vocês têm algo que me pertence, e vim reivindicar o que é meu!
POV: YULLIDei alguns passos para o lado, meus olhos se arregalando enquanto ele se aproximava com uma confiança elegante e um ar de preguiçosa superioridade. Keenan andava como um predador que não se preocupava com a reação de suas presas, cada movimento calculado, mas desdenhoso. Atrás dele, seus lacaios seguiam em silêncio, todos vestidos com trajes formais, cada um emanando uma aura de ameaça controlada.— Fiquei chateado, encrenca. — Sua voz gotejava sarcasmo enquanto ele me olhava de cima a baixo, o olhar predatório fixo em mim. — Não recebi o convite para o seu casamento. — Seus lábios se curvaram em um sorriso insuportavelmente autoconfiante. — A propósito, você está linda.— Keenan, o que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando manter minha voz firme, embora o nervosismo me atravessasse. Com os olhos semicerrados enquanto ameaçava me aproximar dele, mas o feiticeiro supremo se colocou entre nós, bloqueando meu caminho. — Eu disse para não vir atrás de mim!Keenan apenas
POV: KEENANAntes de adentrar o carro, uma dor lancinante atravessou minhas costas até meu peito. O ar escapou de meus pulmões e cambaleei, apoiando-me na porta do carro para não cair. Um rosnado feroz escapou de minha garganta enquanto meus seguranças rapidamente formavam uma barreira protetora atrás de mim.Virei-me lentamente, minhas presas expostas, e encarei Drevan parado à distância. O feiticeiro exibia um sorriso triunfante, seus lábios e dentes manchados com sangue vermelho-ferrugem.— Vocês pagarão por isso! — ameaçou ele.— Mal posso esperar — respondi com um sorriso irônico, minha voz áspera pela dor. Com esforço, abri a porta do carro e empurrei Yulli para dentro, ignorando sua resistência. Entrei em seguida e suspirei pesadamente ao notar o líquido viscoso que escorria do ferimento, manchando o tecido. — Droga, era meu terno preferido.— Qual é o seu problema?! — Yulli gritou, acertando um tapa em meu ombro.— Ei, estou ferido, esqueceu? — arqueei uma sobrancelha, mantendo
POV: YULLIMeus olhos encontraram os dele, e um peso avassalador me impediu de desviar. Tentei empurrá-lo, forçando uma distância entre nós, mas ele permaneceu imóvel, como se minha força fosse insignificante. Antes que pudesse refletir sobre minhas ações, minha mão subiu em um gesto rápido e certeiro, descendo com força contra seu rosto. O som do impacto reverberou no ar, nítido e afiado, enquanto sua pele exibia um leve rubor onde meus dedos haviam deixado suas marcas. Apesar disso, ele sequer vacilou.— Foi só isso? — Sua voz carregava um sarcasmo irritante, e sua sobrancelha arqueada acentuava a provocação. — Já terminou, bruxinha?Seus lábios se curvaram em um sorriso frio, revelando as presas afiadas que brilhavam sob a luz fraca. Ele não demonstrava dor ou surpresa, apenas uma confiança perigosa que parecia se expandir com meu ato impulsivo. Seus olhos fixaram-se em mim com precisão, estudando cada reação, cada tremor em meu rosto, enquanto um brilho predatório cintilava em seu
POV: KEENAN— É mesmo? — perguntei em voz baixa e provocativa, mantendo as mãos nos bolsos enquanto o encarava. A presença do meu lobo dominava o ambiente. — O que te dá o direito de exigir algo dentro da minha alcateia, Constantine?— Estamos fartos da sua proteção a essa traidora! — rosnou o Alfa da alcateia convergente, os olhos faiscando de raiva. — O Alfa Supremo pode ser complacente por sua amizade, mas nós...— Nós? — cortei sua fala com frieza, arqueando uma sobrancelha. Avancei devagar, cada passo uma ameaça silenciosa. — Quem mais ousa me desafiar?— Você sabe que o Conselho não a deixará escapar do que fez. — Ele também avançou, mostrando os caninos com um sorriso debochado. — O feitiço dessa bruxa te cegou, Alfa do Norte. Talvez um confronto te faça enxergar.Um sorriso frio se formou em meus lábios.— Eu adoraria ver você tentar.Liberei a força do meu lobo, tornando o ar denso e pesado. Meus músculos se retesaram, prontos para o ataque. Cada movimento meu emanava uma amea
POV: KEENAN— A sacerdotisa garantiu nossa vitória na primeira guerra. — declarei com rispidez. Direcionei o olhar para Yulli e suas algemas, antes de enfrentar Constantine novamente. — Ela não tem regalias. Está sob minha custódia, impedida de usar magia.Fechei o punho, contendo a fera que rugia para ser libertada.— Respondo por seus atos. — Dei um passo à frente, encarando-o. — Se busca vingança pela incompetência do seu filho, enfrente alguém que pode revidar!Constantine rosnou sem avançar. Senti Olson, meu lobo, agitar-se violentamente, exigindo carne e sangue.Aproximei-me mais, mas antes que qualquer um de nós pudesse agir, Aaron moveu-se. O Supremo colocou-se entre mim e Constantine, sua postura irradiando uma autoridade que ninguém ousaria questionar. Seu olhar passou rapidamente por Constantine, uma repreensão silenciosa que congelou o outro Alfa no lugar, antes de se voltar para mim.— Mandei você recuar, Keenan. — As palavras do Supremo soaram gélidas e ameaçadoras, sua p
POV: KEENANAfastei os braços de Yulli do meu quadril, resistindo à sensação de paz que seu toque proporcionava. Ela recuou alguns passos, envergonhada, o rosto corado realçando sua beleza angelical, os lábios volumosos avermelhados sendo pressionado por seus dentes em um aperto hesitante e tímido.Aaron avançou, seu olhar pesado sobre mim.— Desafiou a ira dos ancestrais e do clã das bruxas. O Feiticeiro Supremo exige a noiva de volta ou... — pausou com um rosnado. — O tratado de paz será revogado.— Vou retornar. — Yulli interrompeu, decidida. A lancei um olhar repreensível, silenciando-a.— Rei Lycan, precisamos discutir os motivos do meu ataque. — Minha voz soou mais grave, impregnada de seriedade. — Não foi apenas pela prisioneira.Yulli me encarou atônita, encrenqueira como era, parecia incapaz de evitar se envolver em problemas. Aaron, por outro lado, cruzou os braços lançando um olhar desconfiado.— Que razões justificariam destruir minha diplomacia pela paz, Keenan? — question
POV: YULLISem qualquer delicadeza, Allison escancarou a porta do quarto e me empurrou para dentro com força, fazendo-me tropeçar.— Ei, sarnento! — reclamei, minha voz transbordando irritação enquanto me recuperava. Sua resposta veio em forma de um olhar furioso acompanhado de um rosnado ameaçador. — Isto aqui é um absurdo!— Concordo, feiticeira. — A voz dele era fria, carregada de desprezo enquanto ele avançava na minha direção. — Nosso Alfa deveria eliminá-la e nos poupar do fardo de sua presença. — Sua postura era intimidadora, e o tom de ameaça em suas palavras era inconfundível. — Você só trouxe desgraças a ele!Respirei fundo, ignorando a dor pulsante em minhas costelas e a exaustão que parecia dominar meu corpo. Ergui o queixo, meu olhar desafiador fixo nele.— Eu fui embora, não fui? — rebati, minha voz firme. — Foi seu Alfa quem me trouxe de volta contra a minha vontade. Nunca quis envolvê-lo em nada disso.Os olhos de Allison brilharam com raiva contida enquanto ele se apro
POV: KEENAN— Sim. — Assenti lentamente, os olhos fixos em Aaron enquanto ponderava. — Sabemos que durante o evento celestial o poder dos bruxos se intensifica significativamente, enquanto nossos lobos tornam-se mais vulneráveis, propensos ao descontrole e à magia. Acha que é esse o motivo do retorno do Feiticeiro Supremo?Aaron soltou uma risada baixa desdenhosa, antes de me encarar.— Então você sabia sobre ele? — Indagou, avaliando os limites do meu conhecimento. — Achei que estava completamente cego por aquela traidora.Meu sorriso se alargou friamente, o rosnado em minha garganta foi audível, deixando claro que mesmo o Rei Lycan não estava imune à minha insatisfação. As presas brilharam afiadas quando avancei um passo, a postura rígida.— Curioso, Aaron... há não muito tempo essa “traidora” era sua aliada. Uma grande amiga. — Mantive o tom ameaçador implícito. — Sei sobre o Feiticeiro Supremo, que ele retornou e tomou o comando do clã devido ao seu poder. O que ainda não sei, caro