07 – MANIPULAÇÃO

POV: KEENAN

Afastei os braços de Yulli do meu quadril, resistindo à sensação de paz que seu toque proporcionava. Ela recuou alguns passos, envergonhada, o rosto corado realçando sua beleza angelical, os lábios volumosos avermelhados sendo pressionado por seus dentes em um aperto hesitante e tímido.

Aaron avançou, seu olhar pesado sobre mim.

— Desafiou a ira dos ancestrais e do clã das bruxas. O Feiticeiro Supremo exige a noiva de volta ou... — pausou com um rosnado. — O tratado de paz será revogado.

— Vou retornar. — Yulli interrompeu, decidida. A lancei um olhar repreensível, silenciando-a.

— Rei Lycan, precisamos discutir os motivos do meu ataque. — Minha voz soou mais grave, impregnada de seriedade. — Não foi apenas pela prisioneira.

Yulli me encarou atônita, encrenqueira como era, parecia incapaz de evitar se envolver em problemas. Aaron, por outro lado, cruzou os braços lançando um olhar desconfiado.

— Que razões justificariam destruir minha diplomacia pela paz, Keenan? — questionou ameaçador. — Seja convincente, ou eu mesmo vou te surrar como fez com Constantine!

Um sorriso desafiador surgiu em meu rosto, e pisquei para ele com impetuosidade.

— Talvez você devesse reconsiderar suas escolhas de Alfas, amigo.

Aaron não respondeu de imediato, mas seu olhar se estreitou. Sem dar espaço para questionamentos, continuei:

— É simples. Revidei um ataque. — afirmei com convicção.

— Como assim revidou, Keenan? — Aaron bufou impaciente. — Seja mais claro.

— Vamos ao meu escritório, Rei Lycan. Tenho uma excelente seleção de vinhos e uísque nos esperando. — Coloquei as mãos atrás das costas em um gesto descontraído, mas minha voz firme deixava clara minha autoridade. Com um olhar, fiz o Beta endireitar a postura. — Allison, leve-a aos aposentos e chame a equipe médica. Quero que receba todos os cuidados.

— Não vou a lugar nenhum! — Yulli se desvencilhou de Allison e avançou em minha direção, os olhos faiscando. — O que quis dizer com "revidou"? Por que está escondendo isso de mim?

— Para uma prisioneira, você faz perguntas demais! — Allison rosnou, movendo-se para contê-la. Com um gesto sutil, o impedi.

— Não serei sua prisioneira. — Sua voz era desafiadora. Quando apontou o dedo em minha direção, avancei com um movimento fluido, deixando minhas presas roçarem próximas à sua mão. Ela recuou, os olhos arregalados.

— Keenan! — exclamou, a voz mesclando surpresa e fúria.

— Encrenca. — Sussurrei rouco, eliminando a distância entre nós. Toquei a ponta de seu nariz, meus olhos presos aos dela. — Acho que não entendeu o que eu disse. Não há regalias para você. Não sob a minha proteção.

— Não estou... — começou, teimosa, mas a interrompi com um rosnado que reverberou em meu peito. Ela apoiou a mão instintivamente sobre mim, seus olhos púrpuras faiscando de raiva contra os meus.

— Já disse que não pertenço a você!

— Por ora, bruxinha, você é completamente minha. — Um sorriso malicioso surgiu no canto dos meus lábios, cada palavra carregada de uma provocação calculada. Lancei um olhar para o beta, indicando que podia seguir em frente, enquanto me afastava devagar, as mãos mergulhando nos bolsos com uma postura relaxada. Antes de sair, parei, virando a cabeça ligeiramente para falar sobre os ombros. — Encrenca, seja uma prisioneira boazinha. Não me obrigue a puni-la por sua rebeldia.

Minhas palavras atingiram o alvo. Notei o rubor intenso em suas bochechas, substituindo a palidez inicial. Seus passos vacilaram por um instante, mas ela tentou se recompor. Seus lábios se umedeceram de forma involuntária, os olhos ainda presos aos meus enquanto era levada por Allison. A visão me arrancou um sorriso satisfeito. Ela estava sendo exatamente como eu esperava: teimosa, mas afetada.

— Você sempre gostou de perturbá-la. — A voz de Aaron trouxe-me de volta, enquanto ele parava ao meu lado, os olhos seguindo meu olhar para Yulli. — Me pergunto, Alfa, até onde vai sua devoção por ela?

Voltei-me para ele, meu queixo erguido, a confiança transbordando. — Não se preocupe, meu amigo. Minha lealdade ainda é sua. — Fiz questão de manter meu tom firme, mas deixei uma ponta de desafio implícita.

— Ainda? — Aaron arqueou uma sobrancelha, a desconfiança evidente em sua voz. — Talvez Constantine tenha razão. Talvez eu devesse eliminá-lo.

Um sorriso provocador curvou meus lábios enquanto dava um passo à frente.

— E perder o único amigo que suporta seu péssimo humor? — retruquei, com uma tranquilidade desarmante. Estendi a mão para que ele me acompanhasse. — Sabemos bem como sua vida se tornaria insuportavelmente tediosa sem mim por perto.

Aaron soltou um rosnado baixo.

— Suas ações estão tornando meus dias um inferno. — O Rei Lycan rugiu, a voz carregada de fúria reprimida. Seus passos ecoavam pelo chão, cada movimento denunciando a tensão acumulada em seu corpo. — O Conselho Lupino já me persegue, e agora os bruxos exigem sua cabeça.

— Não esqueçamos do adorável Constantine, que decidiu transformar sua dor em uma declaração aberta de guerra. — Respondi com ironia, abrindo a porta do escritório. Indiquei a poltrona para que se acomodasse e segui até o bar, preparando duas doses generosas de uísque. — E, para piorar, não sabia que o filho dele estava na patrulha de caça.

Aaron saboreou a bebida com um grunhido de aprovação.

— Com seu banimento, muitos segredos foram mantidos longe do seu alcance. — Seu olhar direto carregava uma intenção pesada. — Sam tinha acabado de completar seus vinte anos.

Fechei os olhos, absorvendo aquela revelação.

— Droga! — murmurei, a voz mais grave, jogando-me na cadeira executiva. O uísque desceu em um único gole, o copo batendo na mesa com mais força do que pretendia. — Que diabos Constantine pensava ao enviar um filhote tão despreparado para essa missão?

— Suas intenções permanecem obscuras. — A voz de Aaron era cortante, cada palavra calculada. Ele se inclinou, o copo rangendo sob a pressão de seus dedos. Seus olhos predatórios fixados em mim. — Desde a morte do irmão, ele tem andado estranho, culpando a feiticeira por tudo. Só precisa de um pretexto.

— E o Conselho Lupino? — Perguntei, desafiador. — Estão seguindo os conselhos e desejos dele?

Um suspiro pesado escapou de Aaron antes que continuasse:

— Diversas alcateias já manifestaram interesse em realizar a Noite de Caça às Bruxas. — Uma pausa carregada de significado pairou no ambiente. — A noite do evento celestial da Deusa Hécate está próxima. E você sabe exatamente o que isso representa...

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