CAPÍTULO 1(

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A intensa luz da manhã invadia o quarto de Nala, despertando-a de um sono agitado, pleno de interrupções e insônia. Desde que ela chegara à capital espanhola, a vida não lhe oferecia sorrisos sinceros. Apesar de sua força de vontade inabalável, os dias têm sido desafiadores para a guineense. Deixar a família, os amigos e um noivo com quem, embora não tivesse qualquer sentimento, tinha que se relacionar, não foi uma decisão fácil. Conforme a tradição de sua tribo, toda mulher, ao deixar a adolescência, deve obrigatoriamente unir-se a um homem para se tornar uma verdadeira mulher.

Entretanto, viver as suas aventuras e realizar os sonhos de menina era uma aspiração que a acompanhava desde os cinco anos. Nala não desejava reproduzir a opressão que testemunhara no casamento de seus pais; isso não era o que ela queria para sua vida. Cresceu em um mundo onde tudo girava em torno do homem e onde as escolhas das mulheres eram limitadas. Diante dessa realidade sufocante, Nala sentiu-se obrigada a romper com aquela tradição m*****a. Se não fosse ela, outras mulheres viriam a sofrer o mesmo destino.

Assim, Nala embarcou em sua jornada rumo à felicidade, deixando tudo para trás, livre de pesos na consciência ou arrependimentos; nada mais povoava sua mente.

No entanto, ao chegar ao destino escolhido pelo coração, Nala se deparou com uma realidade dura. Embora tivesse se formado em telecomunicação social, a busca por emprego em sua área era escassa. O simples fato de ser mulher, e ainda por cima negra, fazia com que os comentários machistas e racistas surgissem constantemente. Sempre que deixava seu cantinho em busca de uma oportunidade para se manter no país, sentia o peso de olhares discriminatórios. Mesmo vivendo em uma cidade pequena como Barcelona, onde muitas esperanças poderiam brotar, a realidade era cruel; as pessoas a viam como um ser inferior.

Infelizmente, o racismo ainda erguia barreiras imensas, impedindo que muitos negros na cidade tivessem acesso a um emprego digno. Essa era uma batalha que, sem dúvida, Nala enfrentaria, mesmo que não quisesse, algo que ela jamais aceitaria. E assim, a luta por seus sonhos seguia, mesma na adversidade.

Tudo o que rodeava Nalla de negativo, ela tentava ignorar e seguir com a sua vida, mas, aos poucos, o cansaço pela busca de um emprego e os problemas que deixara na Guiné Equatorial começaram a vir à superfície, deixando-a cada vez mais esgotada. Contudo, isso era um pormenor na sua vida que logo passaria, pois Nalla estava disposta a tudo para dar o melhor de si e realizar os seus sonhos.

Voltando à realidade da sua nova vida, Nalla ergueu os pequenos braços e levou-os até à cabeça, causando um choque frouxo nos seus cabelos crespos. Suspirando de cansaço, levantou-se da cama, pondo-se em pé, firme para mais uma batalha da sua vida. Era sábado, e o dia amanhecera ensolarado. Ela desviou o olhar da cama para a pequena janela do seu quarto, cuja decoração simples não deixava de ser linda e elegante.

As paredes, em tons de roxo bebé, decoradas com efeitos de borboletas rosas, contrastavam com o teto adornado com estrelas fluorescentes, que ofereciam uma iluminação espetacular durante a noite. Ao lado, havia uma cama de solteiro encostada à parede, um pouco desarrumada. Ao lado, uma mesinha suportava o computador, um pequeno candeeiro e os seus livros de fantasia e romance.

No lado oposto da cama, na parede do armário, Nalla guardava os seus pertences pessoais, e um guarda-fato branco completava a decoração. No chão, próximo à cama, havia um pequeno tapete também branco. Tirando o foco da janela, Nalla começou a fazer a cama, arrumando os lençóis brancos e ajeitando as almofadas nos seus devidos lugares. De seguida, dirigiu-se para a porta, saindo e deixando o quarto aberto. O apartamento onde Nalla residia continha apenas três quartos, uma sala que se dividia com a cozinha, uma casa de banho e o seu próprio quarto; embora pequeno, Nalla sentia-se feliz por estar debaixo de um teto. Bastavam dois passos para percorrer a distância entre o seu quarto e a casa de banho. Dentro da casa de banho, Nalla fez as suas necessidades biológicas e, de seguida, tomou o seu banho.

Já vestida com roupas casuais, consistindo numa t-shirt e num par de ténis rosa, assim como uma blusinha de tecido leve preta de mangas curtas, Nalla dirigiu-se à cozinha para preparar um café. Enquanto os pães tostavam na máquina, a máquina de café sinalizou e ela retirou a jarra, despejando o líquido castanho fumegante na sua pequena chávena, que já estava preparada no balcão que separava a sala da cozinha. Em seguida, virou-se e andou até à tostadeira, que ficava ao lado do micro-ondas. Abrindo a máquina, antes de pegar nas tostadas, ergueu um pouco os pés para alcançar a porta do armário, que estava a uma altura que ela não conseguia alcançar.

Ao chegar lá, pegou num pires e voltou à sua posição inicial. Depois, tirou as tostadas e colocou-as no pratinho. Virando-se novamente, pegou o café junto ao pires, colocando tudo sobre uma bandeja, e saiu da cozinha em direção à sala. Ao chegar, Nalla sentou-se na sua poltrona preta. A sala, assim como o resto da casa, tinha uma decoração simples: um sofá e duas poltronas pretas, uma mesinha de madeira envernizada no centro e a televisão pendurada na parede à sua frente. No canto direito, havia também uma prateleira onde se encontravam quadros da sua família, outras fotos e quadros decoravam as paredes atrás do sofá, e uma mesa de jantar com quatro lugares completava o espaço. No lado direito, havia uma pequena estante de livros onde ela gostava de passar o seu tempo.

Assim que Nalla depositou a bandeja com o seu lanche na mesinha, pegou no telemóvel e ligou-o. As mensagens do W******p começaram a chegar em catadupa, deixando-a um pouco confusa, já que apenas passara um dia com o aparelho desligado por falta de carga. Para Nalla, aquele bombardeio de mensagens parecia desnecessário. Com toda a sua paciência, ela leu cada uma delas, vindas da sua família e do seu noivo, que eram imensas. Nalla respondeu apenas às mensagens da sua mãe e de alguns primos com quem não falava há muito, ignorando as do seu quase noivo, pois tudo o que ele dissesse não lhe interessava.

Suspirando, Nalla bloqueou o telemóvel e pegou no comando da televisão, ligando-a e deixando-a em qualquer canal. Com o tabuleiro de comida à sua frente, Nalla iniciou a refeição do dia. Era ainda cedo, cerca das sete da manhã, e como era sábado, não sairia de casa. Aproveitaria o tempo para ler alguns jornais em busca de anúncios de empregos, já que na sua área não encontrava nada e aceitaria qualquer oportunidade que surgisse.

Os olhos de Nalla, antes fixos na televisão, foram desviados para o aparelho que começou a tocar. Quando viu quem era, Nalla hesitou em atender, mas sabia que, se o ignorasse, ele poderia tornar-se um pesadelo por duas semanas. Não querendo passar por essa situação, decidiu atender.

- Ndala! - Ela demonstrou aborrecimento na voz.

- Nala, é assim que falas com o teu futuro marido? Estou a tentar contactar-te há dias e nada de respostas, o que se passa? - Disse Ndala, rude e sem paciência. Entretanto, Nalla ouvia tudo com um grande tédio. A verdade é que há dias Nalla colocara na sua cabeça que não queria casar-se com Ndala. O homem era rude e mal-educado, mas também não queria decepcionar a sua família, e por essa razão tinha aturado a grosseria de Ndala.

Um silêncio perturbador instalou-se por alguns instantes, mas logo foi quebrado pela voz estridente do homem, que berrou para Nalla através do telemóvel.

- Nala, estou a falar contigo, responde-me.

- O que queres afinal? - Perguntou ela, calma, mas sem muita paciência.

- O que eu quero? Isso é sério? - Exclamou ele, incrédulo com a tamanha falta de interesse por parte de Nalla. Então continuou: - Quer saber? Vou reportar este seu comportamento ao seus pais, porque você não merece ter pais como os seus. - Disse ele, furioso, e sem esperar pela resposta de Nalla, desligou.

- Eu... - Nalla ainda tentou falar, mas o telemóvel já havia sido desligado. Dando de ombros, Nalla voltou a concentrar-se no seu lanche, sem realmente se importar com o que ele dissesse sobre o seu comportamento aos seus pais.

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