[Trilogia Os Guardiões - Livro 2] Homens e mulheres já não conseguem mais viver em harmonia. Quase um milênio foi necessário para que os dois reinados conseguissem se separar em sociedades distintas, mas próximas. Dentro da sociedade feminina está Acácia, uma garota que, como as outras, sonha em se tornar uma Guerreira para combater a ameaça masculina eminente. Ela precisa honrar sua família (sua mãe e irmã) que sempre alcançou altos cargos na categoria. Entretanto, as dúvidas acerca do passado da sociedade lhe incomodam e se acentuam quando descobre que todos os livros da história antiga foram queimados, rasgados e riscados. Então, se o passado é incerto, o futuro se torna ainda mais duvidoso. E, nessa guerra milenar entre a princesa Marilene e o príncipe Matthew, Cia vai começar a perceber que é apenas um grão de areia perdida numa infinidade de mistérios.
Ler maisA primeira pergunta que passa pela minha cabeça é se eu morri. Junto com essa pergunta, vem uma dor insuportável no mesmo lugar. Aos poucos, a consciência vai retornando, me dizendo não ter chegado meu momento ainda. Forço meus olhos a abrirem, embora um zumbido irritante no meu ouvido me impeça de ouvir o redor.Assim que minha visão vai tomando forma, percebo que estou num chão terroso. Tusso com a poeira levantando ao redor e vejo mulheres correndo, desviando do buraco onde eu me encontrava. Suas bocas estão abertas e suas armas estão em punhos. Devem estar gritando. Sinto falta da minha capacidade de ouvir.Pisco algumas vezes e procuro pela princesa Marilene. A encontro alguns metros de distância, com os olhos abertos. Por um segundo penso que est&aac
Apesar do sol de meio-dia ter demorado chegar, meu estômago chegou a dar um nó de nervosismo por saber o que estava por vir. A adaga de gelo pareceu ficar pesada no meu antebraço. Mesmo assim, criei coragem para sair da barraca ao ser chamada pela oficial Abbott em nome da princesa Marilene. Já trajava as roupas a mim concedidas para aquele momento.Era negra, completamente negra. Uma capa também negra estava presa aos meus ombros. Cobria todo meu corpo como a proteção que as Guerreiras usavam por baixo da armadura de ferro. Uma saia metálica cobria minha cintura, além de uma bota de metal prateado, cotoveleiras, joelheiras e um corpete igualmente metálico protegia meu busto. Embora as Guerreiras não costumassem incentivar o uso do cabelo solto, pelo meu ainda estar consideravelmente curto — não tinh
Apesar dali ser a divisa entre Mariah e Mateh, nuvens negras começaram a encher o céu. Só percebi esse fato quando me aproximei suficiente do muro e, de maneira quase mágica, as árvores não cresciam próximas a ele. Apesar disso, um rio corria naquele ponto específico e passava por grades de ferro grosas até o outro lado. Um vento pouco aconchegante passou por mim, mexendo nos meus cabelos negros.Minha garganta arranhava levemente por causa dos grasnados dados em luto ao príncipe.Espero podermos nos encontrar no nosso outro destino, pensei por um momento, mexendo no seu anel em meu dedo. Tinha voltado apenas para pegá-lo. Outra lembrança dele que estava levando comigo. Isso me ajudaria a não me esquecer da promessa que havia feito a ele.
Despertei num susto quando alguém parece tocar o meu ombro. Meu coração chegou a acelerar um pouco por causa desse sobressalto e levo alguns segundos para me dar conta de que quem estava tentando me acordar era a princesa Marilene.Já havíamos completado quatro dias de viagem e estávamos chegando ao quinto dia. Tinha parado para cochilar após o almoço e antes dele, ela já havia me avisado de estarmos próximos de chegar no local onde tudo ocorreria.Porém, tinha tido um pesadelo na noite anterior, em contraste com o sonho pacífico tido com a deusa Asteria. O pesadelo me fez lembrar da cabeça pálida da minha mãe, separada do corpo; a mãe de Karen morta de maneira brutal e várias outras mulheres sendo mortas por nós
Faltando três dias para o plano de expansão, o castelo ficou agitado. Mandaram-me guardar umas roupas para viagem e para o dia do plano. Fiz isso, guardando tudo numa bolsa. Fiquei repassando o plano na minha cabeça. Tinha tido tempo de sobra já que o príncipe me veio ver apenas duas vezes depois daquele dia. Ele alegava que a princesa o estava vigiando bastante e não gostaria nada de nos ver juntos.Alguém bate na porta e eu fecho a bolsa, ajeitando o meu vestido. Tinha um tom rosado e com mangas. Ultimamente a casta 1 tinha ficado mais fria.Talvez a presença do príncipe de gelo tenha trazido um pouco de frio para o clima quente de Mariah, pensei enquanto caminhava até a porta.A abro e vejo a oficial Abbott com sua expressão séria. Estava
Convencer a oficial Abbott de que eu deveria ver a princesa Marilene custou muitos, muitos argumentos e bastante insistência. Ela se recusava a me deixar ver a princesa, mesmo sabendo o meu grau de importância. Internamente me perguntava se isso era uma insegurança sua de perder seu importante cargo para mim por eu ter sido a primeira auxiliar nisso tudo.— Eu preciso mesmo falar com a princesa Marilene uma última vez — insisto.— Está bem. — Ela suspira, parecendo furiosa em ter de ficar discutindo comigo sobre isso. — Mas será por um curto tempo. A princesa deixou claro não querer ser incomodada por ninguém. Se eu receber qualquer advertência, vou transferi-la para você.Assenti, só
Os lábios do príncipe Matthew são tão gélidos quanto as suas mãos naquele momento. Mesmo assim eles não deixam de ser praticamente reconfortantes. Nunca pensei que fosse sentir falta do seu toque e, como se estivesse lendo meus pensamentos, seus dedos tocam a minha cintura e me trazem calmamente para os seus braços. O momento parece congelar enquanto me perco naquele beijo. Fazia meses que não nos víamos.— Não pense que ainda não estou brava — murmuro quando precisamos encerrar o beijo para tomar mais fôlego.— Não sei mais como me desculpar.Ele transforma nossa proximidade num abraço e me permito pousar a cabeça no seu ombro. Apesar de todos esses gestos d
Um treinamento de Iniciandas se passou — ou seja, um mês — desde que fui mantida prisioneira da princesa Marilene visto que havíamos feito um trato. Tinha ainda conseguido barganhar uma visita semanal a Bianca e acompanhava sempre o seu estado. Via olheira em seus olhos, pois dormir numa cela não era nada confortável, todavia não parecia estar passando fome e não tinha indícios de tortura ou que fosse morrer em algum momento.A princesa estava cumprindo sua parte do trato.Quanto a mim, vez ou outra era convidada a acompanhar a oficial Abbott e a princesa para discutirmos sobre o plano e como as coisas deveriam funcionar. Os dias estavam passando lentamente e a cada reunião eu tentava pensar numa maneira de intervir. Ainda não tinha um plano concreto de como acabaria com aquilo tudo e meu tempo estava só esgotando.Fora o fato de que vou ter de pensar num jeito de tirar Bianca do ca
A forma de corvo toma conta do meu corpo antes de eu me estatelar no chão do jardim, correndo risco de sofrer sérios ferimentos. Felizmente Moros tinha soprado um pouco de sorte no meu caminho e eu agradecia internamente por isso. Minhas pernas prendem o vidrinho vermelho com força para não me escapar. Alço voo na direção do telhado e lá me sinto segura o suficiente para voltar a ser humana.Respiro fundo, um pouco aliviada. Não ouvia mais chiados e sabia que ninguém vigiava o telhado a menos que houvesse alguma suspeita de invasão por parte dos homens. Felizmente não parecíamos nos preocupar com esse tipo de coisa ultimamente.Escondo-me atrás de uma pequena casinha ali em cima só por garantia. Não queria mais surpresas.