Fuga

Havia três seguranças dentro da sala em que estive anteriormente.

— Paradinha aí lobinha — outro falou com a arma apontada para mim.

Rosnei em resposta. Eu odiava esse apelido, eles me chamavam assim enquanto me espancavam ou abusavam de mim.

Deixei que minha natureza me dominasse, meu corpo cresceu um pouco mais, minha pele foi coberta com pelos na cor marrom, as garras ficaram maiores assim como os dentes. Senti minha bebê agitar-se, mas ela estava bem, apenas reagindo à loba dentro de mim.

Usando da velocidade, peguei a cadeira ao meu lado e a arremessei, o suficiente para eles saírem das posições.

O primeiro foi derrubado assim que minhas garras atingiram seu rosto, rasgando a pele. O segundo atirou, fui atingida no braço mas não parei, o ataquei da mesma forma, desarmando-o antes de afundar minhas garras em seu peito e matá-lo.

Senti o choque percorrer meu corpo, minha barriga se contraiu e minhas pernas amoleceram, mas não podia parar. Me joguei em cima do terceiro homem mordendo sua garganta, arrancando parte de sua carne.

O alarme tocou anunciando que meu tempo havia acabado. Peguei o livro no chão e saí da sala; outros seguranças estavam vindo.

— Peguem ela! — alguém gritou, mas não me dei o trabalho de olhar, eu ouvia bem os seus passos.

Corri na direção oposta, indo direto para a lateral do prédio, eu estava no térreo, então qualquer porta ou janela que encostasse serviria.

Minha perna fraquejou depois de receber um tiro, em seguida outro passou raspando pelo meu quadril.

— Não atirem na barriga! — um deles gritou.

Ignorei a dor e continuei correndo, eu tinha mais velocidade então estava em vantagem. Vasculhei as salas até encontrar uma com uma janela de vidro, tranquei a porta de vidro apenas por trancar, eles iriam quebrar de qualquer forma, porém ganharia tempo.

Com a uma cadeira pesada bati contra o vidro daquela janela, o vidro era bem mais resistente que o comum, mas não inquebrável. Arremessei a cadeira novamente causando um trinco, o som de um disparo veio antes do barulho de vidros estraçalhando pelo chão. Eles haviam quebrado a porta.

Apliquei toda força possível e bati novamente no vidro conseguindo quebrá-lo. Mas assim que pulei a janela, fui atingida no ombro por outro tiro.

Me recompus ao cair no chão do lado de fora, agarrei o livro e corri, eu ainda precisava pular o muro. Havia sistema elétrico nele e era alto o suficiente para ninguém conseguir pular. Eu não poderia ir direto para o portão, eles iriam me alvejar até matar-me e depois tirariam minha bebê.

— Me dê forças loba — supliquei.

O poder fluiu pelo meu corpo fazendo meus pelos eriçarem, minha bebê mexeu novamente. Comecei a ganhar velocidade na corrida até o grande muro.

Era tudo ou nada.

Os seguranças atiraram atrás de mim, não sei se fui atingida, naquela hora estava sob o domínio da loba, era uma corrida por sobrevivência, minha e da minha cria.

O livro estava na minha boca, os dentes o perfuravam mantendo-o seguro, ele contava toda a história da minha raça, assim como os seus segredos, não poderia ficar para trás.

Faltando poucos passos para chegar no muro, saltei. Não alcancei o topo, mas as garras das mãos e dos pés conseguiram perfurar a superfície o suficiente para impulsionar-me até o topo. Mordi o couro daquele livro com força quando a corrente elétrica passou pelo meu corpo e pulei.

Agarrando-me aos galhos das árvores consegui amortecer a queda e, antes de atingir o chão, curvei-me para proteger minha barriga.

Gemi de dor ao atingir o solo, estava esgotada. Quando levantei, um líquido escorreu entre minhas pernas, pelo cheiro sabia que estava sangrando, coloquei a mão da barriga sentindo um leve movimento; ela estava viva, mas não sabia se estava bem e nem se ia resistir, esforcei-me demais.

— Loba, por favor, dê minha vida a ela, mas não deixe que morra — implorei. Um arrepio percorreu meu corpo. Um sinal que tinha sido ouvida.

Peguei o livro no chão e corri, não tão rápido, mas seria o suficiente.

***

Janete

— Otávio, tenho certeza que já passamos por aqui. Já vi aquela placa caída ali.

— É impressão sua, amor.

— Não me venha com essa de amor! — exclamei zangada. — Nunca deveria ter concordado com essa sua ideia maluca de vir para essa casa no meio do nada.

Otávio tinha cada ideia. Onde já se viu procurar uma casa seguindo por uma trilha no meio da floresta à noite? E eu? Onde eu estava com a cabeça no momento que aceitei vir?

— Mas a casa é ótima e tem um rio próximo muito bom para pescar — Sorriu.

— Nós pelo menos deveríamos ter esperado até amanhecer, ia ser mais fácil achar o caminho. Dê a ré até aquela placa! — pedi, impaciente. — Quero tentar nos localizar no mapa. — Peguei o mapa no porta luvas e acendi a luz interna do carro.

Era uma da madrugada, não tínhamos sinal para usar o GPS. Eu devia ter ficado em um hotel e deixá-lo ter vindo sozinho.

Bufei mais uma vez.

Assim que o carro parou, peguei a lanterna e saí para olhar a placa com as letras quase cobertas pela ferrugem, ela apenas dizia a quilometragem daquela estrada de terra, mas seria o suficiente para nos localizarmos, então voltei para o carro para estudar aquele mapa.

— É a última vez que embarco nas suas loucuras, Otávio! Esteja certo.

— Não fique tão zangada, amor — pediu sorrindo.

Ele pensa que vai me ganhar com esses gracejos.

Ignorei sua cara de cachorro que caiu da mudança e voltei minha atenção para o mapa. Aquela era uma região de florestas, porém, havia fazendas e pequenas chácaras.

— Achei! — exclamei, mas um barulho forte no vidro me assustou, havia uma mulher ensanguentada ao lado do carro. — Otávio, tem uma pessoa ferida do lado de fora!

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