— Tem, mas você não vai abrir a porta, pode ser uma armadilha para um assalto.— É uma mulher ferida, Otávio! — afirmei já abrindo a porta.— Janete! Que mulher teimosa.A mulher se agachou, estava muito ferida, a bata que cobria seu corpo estava ensanguentada. E pior, ela estava grávida.— Me ajude, por favor… — suplicou e se afastou para se escorar em uma árvore. — Minha bebê vai nascer, me ajude.— Podemos levá-la ao hospital. Vem — Peguei em seu braço na intenção de ajudá-la a levantar, mas ela me impediu ao colocar sua mão por cima da minha.— Não vai dar tempo, está na hora. E não posso ir para o hospital, eles irão levá-la de volta para aquelas pessoas. Por favor, me ajude, não permita que ela vire uma cobaia.Apesar de não fazer ideia do que a mulher estava falando, pude sentir o seu medo, havia uma fraca iluminação da lua, ela estava cheia e bem alta no céu devido a hora. A mulher grunhiu se contorcendo, segurando a barriga.— Ela vai nascer agora, por favor…— Otávio, afaste
Atualmente Aurora — Não acredito que estamos fazendo isso de novo — murmurei ao ver minha mãe saindo da loja de conveniência. Tirei a mangueira de gasolina do carro e devolvi para a suporte. Estávamos há dias na estrada e ainda faltava muito para chegar na tal cidade. — Quer que eu dirija agora? — perguntei sem esconder meu aborrecimento. — Não. Ainda estou bem disposta. — Entregou-me a sacola ao passar por mim. — Anime-se, essa viagem está sendo ótima. Quase revirei os olhos ao ouvir isso. Entrei no carro e olhei as guloseimas que tinha comprado. — A senhora sempre diz a mesma coisa. — Bufei. — Aurora, não reclame. A cidade parece ótima, tenho certeza que vai gostar. — Ligou o carro e saímos devagar. — Fim de mundo a senhora quer dizer — retruquei. — Já vi fim de mundos piores... — Cantarolou daquele jeito provocador e irritante que sempre fazia. — Mãe, essa cidade nem está no mapa. Pra chegarmos aqui tivemos que atravessar o país e ainda entrar naquele mini avião que an
— Então, o que deseja? — O homem de aparência tão rústica quanto o lugar perguntou depois de um longo silêncio. — Ah, eu… Ele tinha um olhar intenso, profundo. Embora seus traços fossem fortes a ponto de deixá-lo com uma expressão séria, eu via uma gentileza contida. Tudo nele parecia combinar, desde os cabelos escuros e um pouco revoltos que caiam de forma desordenada por seu pescoço, até aquela barba que acentuava o maxilar definido. Parecia selvagem no primeiro momento, mas olhando-o profundamente, era aconchegante, tranquilo. Por um breve momento, senti como se tudo estivesse no lugar. Era como chegar em casa. — Você é a nova moradora ou turista? — Bem… — Estava agitada, sem saber como agir. — A primeira opção. — Imaginei, nós estávamos esperando os novos moradores. Seja bem vinda. — Estendeu-me a mão e me ofereceu um sorriso gentil. Olhei para sua mão e fiquei mais nervosa, porém quando a toquei, senti aquele arrepio, aquela sensação quente. Um calor se formou no meu ce
Agonia. Foi assim que eu acordei no meio da noite. Em agoria. O calor do meu corpo estava quase insuportável, o suor escorria no meu rosto e pescoço. Não era um sintoma desconhecido, porém, estava mais forte. Saí da cama sentindo-me tonta e, mesmo no escuro, cheguei ao banheiro. Quase não achei o interruptor para ligar a luz, meu corpo estava doendo como se estivesse prestes a quebrar-se, queimava como se rolasse em brasas. Tateei a pia para apoiar-me e derrubei vários frascos, vidros e embalagens metálicas caíram no chão fazendo um grande barulho. Gemi ao me cortar nos pés, o cheiro de perfume estava forte, embaralhando ainda mais meus sentidos. Foi um custo chegar ao chuveiro, eu não iria conseguir colocar a banheira para encher. Era sempre assim, as crises aconteciam durante a noite, eu deixava sempre a banheira ou qualquer outro recipiente grande com água, mas dessa vez fui pega de surpresa. Algo estava errado. Consegui ligar o chuveiro e escorreguei para o chão, não demo
Alguns dias depois…Aquela semana tinha sido dolorosa. Meus sintomas cada vez mais fortes eram motivos para as noites pouco dormidas e angústias, principalmente de minha mãe. Eu já não sabia o que fazer, os métodos que usamos ao longo do tempo estavam se tornando inúteis.Mesmo que tivesse impulsos estranhos para sair de casa, ainda não tinha conseguido, as febres eram fortes até durante o dia. A irritação estava na pele e até o silêncio era incômodo, não tinha paciência nem para pentear meus cabelos que não se decidiam se iriam ser lisos ou enrolados. Bem, de qualquer maneira, não me importava muito em me ajeitar.E aquele homem perturbava até os meus poucos sonhos. Fora a minha dor, esse era meu único pensamento, chegava a ser obsessivo.— Droga! — Larguei a faca e olhei o sangue em meu dedo. Eu só queria fazer um jantar, um bife simples com algum molho, mas talvez perdesse um pedaço do dedo. liguei a torneira e a água morna lavou o sangue do meu indicador. O corte não era grande,
ThalesDesliguei a chamada com aquela sensação inquietante. Eu estava ansioso e já faziam dias.Falar com ela me deixou nervoso como alguém prestes a dar um primeiro beijo. Sua chegada naquele dia foi inesperada, arrebatadora. Ela tinha um olhar confiante quando entrou, eu me senti quase hipnotizado, até mesmo as sardas em seu rosto eram motivos para minha inquietação. Certamente, linda.E não costumava ficar tão impressionado com uma mulher, às vezes me envolvia com uma ou outra, mas nada que tivesse feito meu corpo e mente reagirem daquela forma. Aurora, como sua mãe disse claramente, me causou desejo, sede. Sua mão estava quente quando a toquei e eu quis puxá-la para mim. Era uma sensação louca e tentadora. Uma atração que não conseguia por em palavras, era uma excitação urgente.Ou talvez eu só estivesse impressionado por sua beleza incomum, por aqueles olhos fascinantes e lábios rosados. Até mesmo os cabelos revoltos e ruivos me causavam calor.Queria vê-la novamente e estava a
Thales A porta se abriu antes mesmo que eu chegasse, paralisei por um momento ao revê-la. Os cabelos revoltos em um ruivo suave eram realmente instigantes, porém, o mais exuberante, eram seus olhos cristalinos. Eu me sentia desnudo sob aquele olhar intenso. Como um homem deveria reagir a um olhar que claramente mostrava desejo? Mas isso não era o mais importante, a questão era a minha ansiedade em apenas estar na frente dessa mulher que vi apenas uma vez. — Oi — custei a falar depois que parei na sua frente, ignorei até mesmo o peso da mulher em meus braços — Oi. — Sua resposta demorou. A voz suave me fez hesitar, seus lábios rosados me chamaram a atenção novamente. — Sua mãe. — Olhei a mulher que dormia tranquilamente em meus braços. Que situação estranha. — Ela dormiu. — Ah, desculpe, eu… — Ela passou a mão nos cabelos volumosos ao olhar para a mãe. Isso me prendeu mais do que deveria. — Entre. — Com licença. — Com cuidado, passei pela porta. — Poderia t
ThalesEncarei a madeira escura ainda sem conseguir raciocinar direito. O que foi tudo isso?— Aurora, abra a porta — pedi.— Vai embora ou vou chamar a polícia!! — Foi sua única resposta.Respirei fundo tentando recuperar a calma. Inacreditável. Foi ela quem começou, se ofereceu, me atacou. Como ela pôde me jogar para fora desse jeito? O que ela está pensando?E eu? Onde foi parar meu juízo?— Ah, que se foda!Saí a passos duros, não ia ficar me humilhando depois de levar um pé na bunda. Poderia ter outra mulher quando quisesse, uma normal que começa e termina; e principalmente, uma que não me enfeitiçasse daquela maneira. Agora eu estava com frio e com as bolas doendo e pior, minha ereção não queria diminuir. Aquela sensação inquietante continuava.— Que porra!Entrei no carro assustando Diego.— Thales? — Engasgou-se com a bebida que estava tomando no pequeno cantil e tossiu algumas vezes. Eu tomei o objeto de sua mão dando grandes goladas, a bebida desceu queimando. — O que diabo