AuroraAinda agachada rente a porta, tentava pôr meus pensamentos em ordem. Como eu pude agarrar um desconhecido desse jeito?Que descontrole foi esse?Aquele cheiro… tão perfeito, diferente de tudo que já senti antes. As sensações de beijar sua boca... Sentir o gosto da sua pele… Não conseguia parar.Foi o primeiro beijo que realmente senti algo: prazer, vontade de mais. A boca dele era tão macia, saborosa. Eu ainda sinto a pele formigar devido aos leves arranhões de sua barba.O calor de sua pele...Quase que não consegui colocá-lo para fora, aproveitei o momento de lucidez. Se eu não parasse, iríamos terminar indo longe demais. E, eu não podia ter a minha primeira vez com um estranho, mesmo que ele não saísse dos meus pensamentos.As ações do meu corpo foram tomadas, eu estava consciente, via e sentia tudo, mas… algo mais forte dominou-me, algo havia mudado em meu corpo. Aquele homem… Não podia negar que ele era bonito, os cabelos macios… longos o suficiente para encher as mãos,
Era uma história absurda, mas não me deixou mais abalada do que já estava. O que faltava acontecer? Até mesmo estava comendo carne crua no meio da noite.— Eu estava apenas me enganado sobre uma coisa que já sabia. Eu tinha esperanças que você não fosse como sua mãe.— Um lobo.— Um lobisomem. Sua mãe era um lobisomem.— Acho que não faz diferença ser um ou outro. As duas opções são absurdas. — Você provavelmente é os dois, Aurora.— É para fazer cara de surpresa?— Aurora, isso é um assunto sério!— O que a senhora quer que eu diga? Quer que eu comemore?— Filha…— Essa história é tão absurda quanto a minha vida. E eu não posso discordar porque essa parece ser a explicação mais lógica para tudo. — Levantei me sentindo extremamente irritada. Por que meus sentidos estavam tão aflorados hoje?— Eu vi, Aurora. Vi com meus próprios olhos como sua mãe era. Ela se transformou na minha frente e só me conformei que não estava louca porque Otávio também viu.Sentei novamente e olhei para fren
ThalesOlhei os cacos de vidro no chão com impaciência, era o quarto copo que quebrava naquele dia. — Desse jeito vamos ter prejuízo, Thales. É melhor você deixar de mexer nos vidros por hoje, imagina se quebra uma garrafa de bebida, aí o prejuízo será bem maior. — Diego encheu um copo e colocou na bandeja.— Não sei o que há. — Sentia-me nervoso.— Pois eu sei! Está assim porque a filha da professora te pegou de jeito.— Fale baixo, idiota! — ralhei. — E não é nada disso!— Algumas pessoas gostam de se enganar, mas voltando ao foco aqui, é melhor você fazer outra coisa que não seja mexer com vidros. Hana está aqui hoje e pode te substituir no balcão.— Que seja, vou ajeitar lá nos fundos, se eu ficar sem fazer nada vou enlouquecer.— Cara, essa garota mexeu mesmo com você.— Não gosto de mulheres loucas. — Uhum, sei.Ignorei Diego e saí pelos fundos. Passei pela porta da pequena cozinha e olhei Hana que cantarolava enquanto preparava alguns petiscos. Ela vinha só nos fins de seman
ThalesDitei o ritmo daquele beijo como desejei desde a última vez. Ela agarrou minha camisa grossa, talvez tentasse rasgar como antes, no entanto, ela era surpreendente. Com um único movimento ela me abraçou com as pernas, sustentei seu peso e senti um enorme prazer por tê-la tão bem encaixada, tão entregue.Explorei sua boca de maneira calma, queria saboreá-la. Suas mãos agarraram meus cabelos e rasparam em minha nuca, arrepiando-me. Encostei-a nas grades empilhadas e cheia de garrafas que se moviam causando o choque entre os vidros. O beijo mais intenso estava me enlouquecendo novamente. Nossas línguas disputavam por domínio, ela era insaciável e naquele momento, eu também.— Por que você me domina dessa forma? Por que não consigo parar? — perguntei assim que afastei meus lábios dos seus.Desci meus beijos para seu pescoço sentindo seu calor, ela tinha as mãos nas minhas costas e apertava com força assim como suas pernas. Empurrei minha ereção em seu centro a fazendo arfar, ela g
Aurora— Eu preciso ir. — Desviei o olhar para frente e puxei minha mão. Por mais que eu sentisse aquele desejo insano por ele, não achava justo trazê-lo para essa loucura. Na verdade, estava com medo dele me rejeitar quando soubesse. Certamente, ele não vai aguentar a realidade de estar com uma mulher que não é normal, que vira um animal. E, eu o entendo, acho que no seu lugar, faria o mesmo. Ele está sendo gentil e quer me conhecer, fazer coisas normais… Como eu poderia fazer coisas normais se agora mesmo estou me segurando para não atacá-lo novamente? Como eu poderia ser normal se quero mordê-lo tanto que minha gengiva chega a doer? Como poderia… se eu sinto aquela febre que nunca passa?Eu não tenho nada além de incertezas para oferecer a ele. Mas sua voz me acalma tanto, seu toque…— Tem certeza que está bem? Eu posso te acompanhar até em casa. — Não. Não quero ocupar mais do seu tempo.— Eu decido o que fazer do meu tempo, Aurora. Abri a boca, mas sua expressão séria me fez
Aurora— Estou tão feliz em te conhecer, Aurora, você é tão linda, assim como sua loba.Olhei para minha mãe e ela estava séria.— Aurora, essa é Adelya, a pessoa que te falei.— Muito prazer em conhecê-la — Adelya disse com um sorriso gentil.Não sabia como agir, não me sentia bem diante de estranhos, no entanto, Adelya parecia diferente.— Oi. Minha mãe falou ao seu respeito.— Não fiquem aí na porta, sentem-se. — Minha mãe disse e voltou a se sentar.Esperei que a visita se sentasse e me acomodei perto de minha mãe. Adelya era exuberante e parecia ter a por volta dos quarenta anos, estava vestida com um longo xale com bordados coloridos que pareciam indígenas, talvez fosse originária desses povos.— Eu vejo que as coisas estão indo bem. — Ela começou e achei estranho. — A aura em sua volta está intensa, é o sinal que está bem próximo do despertar.— O que você sabe sobre isso? — perguntei.— Eu sei o que meu povo conta, sei o que foi me passado de gerações em gerações. Sei o que s
AuroraAdelya foi embora na promessa que me ajudaria quando chegasse a hora. Fiquei em silêncio por um longo tempo remoendo aquelas palavras. Eu não tinha razões para duvidar, na próxima lua cheia, eu seria uma loba. Quando chamaram-me para jantar, apenas fui. Não tinha fome, mas sentei à mesa e belisquei a comida, era como se não tivesse gosto. Minha mãe também não estava bem, mas ela se esforçava por mim e isso era tão desgastante.No fim daquele jantar que mais parecia um velório, arrumei a cozinha para que ela descansasse e quando terminei, sentei na sala e olhei o telefone na mesinha ao lado. Será que ele realmente ligaria? Queria ouvir sua voz.Como será que ele vai reagir se souber?Talvez eu não devesse contar, eu poderia manter segredo, mas era provável que não conseguisse levar uma relação normal, agora mesmo, estava febril e com dor nas articulações, já não me incomodava tanto, me acostumei a sentir dor.O telefone tocou e meu coração disparou, me apressei em atender.— Al
AuroraAlguém chorava e me chamava, parecia minha mãe, mas estava escuro e frio, eu não conseguia levantar.“Ainda está fraca”Virei em direção daquela voz e me assustei. Era a face pouco iluminada de um lobo, os olhos amarelos eram vivos e brilhantes. Eu senti medo.“Eu sei que tem medo. — A voz ecoou na minha cabeça. — E é por isso que está fraca”A loba levantou e veio até mim, só então vi nitidamente sua aparência, era grande de pelos vermelhos. Ela lembrava a mim.“É claro, eu sou você e você sou eu.”Não, eu não sou um animal. Eu não quero…Sua lufada quente bateu em meu rosto, ela rosnou baixo e quando expôs seus dentes grossos e longos. Senti sua fúria.“Não me negue! Você pertence a mim. Olhe ao redor, não há para onde correr. Mesmo que corra, não conseguirá fugir de mim, porque somos uma só.”Ela desapareceu e de repente me vi diante de um espelho. Apenas um lado do meu rosto estava iluminado. Meus cabelos estavam revoltos e os olhos amarelos, mesmo o que estava sob a escuri