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Sensação Inquietante

Thales

Desliguei a chamada com aquela sensação inquietante. Eu estava ansioso e já faziam dias.

Falar com ela me deixou nervoso como alguém prestes a dar um primeiro beijo. Sua chegada naquele dia foi inesperada, arrebatadora.

Ela tinha um olhar confiante quando entrou, eu me senti quase hipnotizado, até mesmo as sardas em seu rosto eram motivos para minha inquietação. Certamente, linda.

E não costumava ficar tão impressionado com uma mulher, às vezes me envolvia com uma ou outra, mas nada que tivesse feito meu corpo e mente reagirem daquela forma. Aurora, como sua mãe disse claramente, me causou desejo, sede.

Sua mão estava quente quando a toquei e eu quis puxá-la para mim. Era uma sensação louca e tentadora. Uma atração que não conseguia por em palavras, era uma excitação urgente.

Ou talvez eu só estivesse impressionado por sua beleza incomum, por aqueles olhos fascinantes e lábios rosados. Até mesmo os cabelos revoltos e ruivos me causavam calor.

Queria vê-la novamente e estava ansioso por essa breve ida a sua casa.

— Então? — Diego perguntou quando colocou a cabeça por uma pequena brecha da porta do escritório.

— Tudo certo. Vamos deixá-la daqui a pouco.

— Beleza, vou levar as garrafas vazias no depósito e já volto.

Saí do cômodo e olhei suas costas até entrar no depósito.

Quando retornei para o bar a música já estava baixa, isso era o primeiro sinal que dávamos para os clientes de que iríamos fechar, claro, o aviso que a neve iria engrossar tinha sido dado, ninguém queria passar por dificuldades para chegar em casa, ainda assim, havia aqueles que ficavam até o último minuto.

Era o único bar na cidade, meu pai o herdou e eu, consecutivamente, já que meu irmão seguiu por outros caminhos. Talvez não fosse motivo de orgulho, mas eu gostava de tocar esse negócio.

A cidade era pequena, mas não deserta. As pessoas que moravam aqui gostavam do lugar, não havia violência, podíamos criar nossas crianças sem medo, o máximo que tinha eram algumas brigas triviais e alguns homens bêbados.

Claro, era uma cidade fria com neve quase todo ano, as pessoas gostavam de se esquentar tomando uma bebida forte.

Olhei a mulher de cabelos escuros no canto do bar e suspirei, ela estava bem alta e já tinha até chorado. Ninguém a incomodou, mesmo assim, os olhares julgadores eram insistentes e as fofocas intensas. Certamente, ela já estava na boca da cidade toda.

A nova professora chegou com uma filha, todos já sabiam seus nomes, Janete e Aurora. Mas já havia boatos maldosos sobre uma mulher sozinha e sua filha que nunca saía de casa. A cidade era acolhedora, sem dúvidas, mas a língua desse povo sempre foi grande.

Coloquei o pano no ombro e recolhi os copos de uma mesa. Depois de limpar, levei-os para a pia atrás do balcão. Estava curioso para saber o que uma mulher que parecia ser refinada fazia em uma mesa de um bar.

— Ela está chorando de novo? — Diego perguntou ao sentar na frente do balcão.

— Ela só está bêbada. — Enxaguei o copo e coloquei ao lado.

— É quando estamos bêbados que deixamos transparecer nossos problemas.

— Não importa o que seja, ela pagou por aquela garrafa inteira. — Dei de ombros.

— Será que foi uma desilusão amorosa? O Marcel disse que ela não deu detalhes quando alugou a casa.

— E por quê ela daria?

— Não está curioso para saber porquê vieram pra cá? Parece que elas atravessaram o país.

— Não sei quem é mais fofoqueiro, Diego, se as mulheres daquele clube ou você.

— Só estou comentando.

— Ao invés de falar bobagens, vá expulsar aqueles homens daquela mesa. Temos que fechar.

— Você manda mais que minha mulher, cara — reclamou quando desceu do bando alto.

— Tenho certeza que Amélia até te b**e, deixe de mentiras.

— Quem disse isso?

— As notícias voam — Sorri da sua cara de idiota e terminei de enxugar o último copo.

— Só aconteceu uma vez e nem foi tão sério assim — disse, quase tão baixo que faltei não ouvir.

Sorri e arrumei os copos na bandeja. Éramos da mesma idade, vinte e sete anos, fomos para a mesma escola, mas ele se casou primeiro e em breve será pai, Amélia está no início da gestação. Às vezes sinto inveja, nunca tive uma paixão arrebatadora a ponto de querer me unir com alguém. E eu também não queria me casar antes do meu irmão mais velho.

Mas ele era muito complicado, as mulheres o achavam atraente pelo físico e por sua posição como xerife. O problema era que ele priorizava sua profissão e isso irritava qualquer uma.

A mulher no canto bebeu mais uma dose da bebida forte e limpou as lágrimas. Quem saberia quais eram seus sofrimentos. Cada um com suas dores para aguentar.

Peguei a vassoura e iniciei a limpeza do salão enquanto Diego se despedia dos último grupo de homens, deixei a música ligada apenas por respeito à última cliente que durou até finalmente irmos embora.

— Podemos ir? — perguntei ao parar ao lado.

— Hum? Claro, querido. Podemos. — Suas palavras arrastadas apenas afirmaram o quanto estava bêbada — Você avisou pra minha filha? Não tinha sinal. Ela deve estar preocupada.

— Sim senhora.

— Que rapaz gentil. — Levantou, mas a amparei quando cambaleou. — Ops, acho que bebi um tiquinho demais. — Ela juntou os dedos próximo ao rosto e sorriu. Seus olhos estavam inchados e as bochechas vermelhas.

— Eu a levarei em segurança, não se preocupe. — Peguei o casaco que estava na cadeira ao lado e lhe entreguei. Ela vestiu desajeitadamente e parou ao voltar a chorar.

— Se Otávio estivesse aqui ele saberia o que fazer. — Fungou e terminou de vestir o casaco grosso. — Ele amava tanto nossa menina.

Olhei para Diego que me esperava na porta e a ajudei a caminhar. Quando entramos no carro ela pareceu se acalmar. Eu segui para sua casa com Diego me seguindo de perto.

Talvez ela realmente tivesse um grande problema, no entanto, me senti um pouco culpado por aproveitar essa oportunidade para ver sua filha.

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