A Alfa e seu Companheiro
A Alfa e seu Companheiro
Por: Cristinna Ramos
Cativeiro

21 anos antes…

Mary

A barriga de oito meses não era tão grande como já vi em outras mulheres, mas deve ser pelo fato de eu não ser uma mulher comum.

O colchão duro deixava minhas costas doloridas, porém, nada naquela sala era para me dar algum conforto, ao contrário, as câmeras posicionadas nos quatro cantos não me deixavam esquecer do porquê estava ali. A sala bem iluminada e insalubre estava bem trancada, através do vidro reforçado, via o corredor branco e vazio.

Perdi a noção do tempo que estava ali, é incrível como a vida de uma pessoa pode mudar drasticamente. Há um tempo, eu tinha uma vida “comum”, tinha casa, trabalho, uma vida... tudo o que uma pessoa normal deseja.

Mas eu não era uma pessoa normal.

Havia uma anomalia em meus genes, herdado dos meus antepassados. Minha mãe certa vez contou sobre a maldição da nossa família, disse que éramos fadados a morte, nunca passávamos dos quarenta anos de idade. Segundo ela, era devido a nossos genes de lupinos.

Uma criatura que existiu há muito tempo: humanos que se transformavam em lobos e lobisomens. Eu nunca acreditei nessa história, até ser capturada.

Aconteceu em um dia quando voltava do trabalho, alguém me abordou e me desacordou, quando abri os olhos estava em uma sala como esta. Fui torturada diariamente com testes e mais testes, exames e drogas sendo injetadas em meu corpo. De alguma forma, eles sabiam dos meus genes e estavam tentando forçar minha transformação.

O objetivo era desenvolver uma nova raça que fosse superior aos humanos e era uma questão de tempo para eu ser dissecada.

Frustrados, eles mudaram de tática; fui espancada quase diariamente, abusada, violada... E só assim eles conseguiram o que queriam. Em um desses abusos a fera surgiu assumindo meu corpo, mas não totalmente.

Adquiri garras e pelos pelo corpo, um leve focinho, dentes maiores e pontudos. Não era nem humana e nem lobisomem, no entanto, forte o suficiente para matar. Ainda assim, eles eram mais fortes e conseguiram me manter enjaulada. Eu não sei como completar a transformação, nenhum dos nossos soube.

Há um livro, mas foi escrito em uma linguagem que não existe nos registros atuais. O fato é que não é possível ler, mas acredito que nele está a resposta para tudo.

Minha mãe só sabia que em um determinado momento, eu iria ficar fértil, querendo ou não, iria engravidar e que seria uma menina. Nascia uma menina em cada geração. Foi assim com ela e com nossas gerações anteriores, algo sobrenatural nos induz a procurar um parceiro para acasalar. Precisamos passar os genes adiante.

Quando ela contava essas coisas eu não acreditava, parecia tão surreal. Minha mãe não casou; segundo ela, sua alma de loba não aceitava ter um companheiro, ela sentia repulsa e a única vez que aceitou, foi no seu período fértil, porém, a minha avó se casou e viveu uma vida de sofrimento até seus dias chegarem ao fim.

Quando questionei porque não passávamos de uma certa idade, a resposta veio simples.

"A alma não sobrevive sem seu par."

Limpei as lágrimas que escorreram, perdi as contas de quantas vezes chorei e de quantas vezes pedi aos deuses que me libertasse daquela dor.

Em vão...

O barulho do rangido das rodas daquela cadeira alertou-me, todos os dias eles viam para fazer testes.

Permaneci imóvel em cima da cama de cimento encostada na parede. Estava cansada e não precisava de uma dose de choque naquele dia, não iria sujeitar a minha bebê que nem nasceu, a esse sofrimento mais uma vez.

Virei a cabeça apenas para ver o assistente daquela cientista louca entrar no quarto.

― Boa tarde, Mary.

Não respondi, apenas olhei a cadeira com travas de um metal reforçado.

― Parece mais abatida que o costume. Está sentindo algo? Sente alguma coisa referente a sua bebê? ― Ele aguardou, esperando resposta, mas hoje não queria falar. — Tudo bem, já vi que não está muito disposta hoje. Pelo menos coopere e não me dê motivos para revidar, ok?

Observei a arma com o tranquilizante e a de choque quando ele afastou o jaleco. Amaro não era de todo ruim, eu via em seus olhos que ele não gostava de me maltratar, apenas cumpria ordens e tentava fazer seu trabalho da melhor maneira possível.

Ou talvez eu só estivesse enlouquecendo a ponto de enxergar alguma gentileza nele.

Aceitei sua mão oferecida para me ajudar a levantar, sempre gentil, mesmo depois de tantas vezes que o ataquei tentando fugir. Suspirei. Não havia muito o que ser feito.

Sentar naquela cadeira metálica era aterrorizante, eu só sentava ali para ser torturada. Amaro optou por colocar-me a focinheira antes de travar meus pés e mãos, mas antes, pedi:

— Por favor, me ajude. — Encarei seus olhos escuros.

— Desculpe — disse antes de encaixar a focinheira.

Após fechar as travas, empurrou a cadeira até a sala: a sala de exames, ou de torturas. Dava na mesma.

Quando entramos, ela já estava lá.

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