Cap. TRÊS

— Você é realmente incrível. O melhor irmão que eu poderia ter encontrado e sinto muito por não corresponder à altura ás vezes. Eu sabia que essa noite era importante para você, deveria ter me controlado. Você tem todo o direito de ficar irritado comigo.

— Vou esquecer o que aconteceu hoje com uma condição. — estreito os olhos para César que agora está sorrindo. — Eu e a Luisa marcamos de sair amanhã à noite, porém Gabriel acabou se convidando para ir também.

— Céus! Ele é tão lerdo assim? — questiono fazendo César rir. — Você quer que eu vá também, estou certa?

— Está. Não estou pedindo para que você se torne a melhor amiga dele, só quero ter um trunfo na manga caso ele não deixe eu e a Isa em paz.

— E como você sabe que eu vou conseguir mantê-lo longe de vocês?

— Acredite em mim, se tem alguém que pode fazer isso, esse alguém só pode ser você.

Tudo bem! Não posso negar que César tem um pouco de razão. Digamos que eu levo jeito para enrolar os homens. Mas quando acordo na manhã seguinte, percebo que terei que me preparar psicologicamente para, muito provavelmente, ter que aturar Gabriel durante a noite toda. Mesmo odiando com todas as forças a ideia, é o mínimo que posso fazer por meu irmão.

Tento manter meus pensamentos focados em outros assuntos durante o dia, mas a noite chega e eu não posso mais evitar o bendito encontro. Arrumo-me e espero por César na sala.

— Qual o motivo desse desânimo? — meu irmão questiona assim que me vê.

— Você ainda pergunta?

— Ele não é tão ruim assim, garanto a você.

— Não dizem que a primeira impressão é a que fica?

— Acho que ainda está para nascer alguém mais complicada que você. — acabo sorrindo. Ele está coberto de razão. — Vamos indo, antes que você desista.

Não fico nada surpresa ao perceber que estamos indo em direção a Estação 296, a casa de shows que pertence a César e Gabriel.

Luiza já está com o irmão em um dos camarotes. Ela me cumprimenta de forma bastante gentil, enquanto Gabriel mal dirige o olhar para mim. Não me incomodo nenhum pouco com sua atitude e fico bastante aliviada ao perceber que ele se afasta poucos minutos depois da nossa chegada.

Deixo Luiza e César sozinhos e me dirijo para uma mesa próxima ao bar. Peço uma bebida e fico sentada sozinha por um bom tempo, observando as pessoas se divertirem, até que noto alguém se sentando ao meu lado.

Reviro os olhos.

— Ela pediu um tempo depois daquilo que você disse. — obviamente Gabriel se refere à namorada.

— Você não deveria estar em casa pensando nela? — peço, enquanto giro despreocupadamente meu copo de bebida que está sobre a mesa.

— Eu não vou ficar com outra mulher. — ele afirma, com um tom de voz bastante decidido.

— Eu não falei isso.

— Mas insinuou.

— Acho que você está imaginando coisas. Mas de qualquer modo, é bastante provável que você não resista. Afinal, os homens simplesmente não prestam.

Deixo Gabriel falando sozinho, porque nada do que ele possa dizer fará com que eu mude de opinião.

Consciente de que mexi em uma ferida ainda muito recente, tomo o cuidado de manter uma distância segura entre mim e Gabriel, mas sem perdê-lo do meu campo de visão, afinal, não quero que ele desconte sua frustração em César e Luiza. No entanto, algo me diz que é exatamente isso que vai acontecer.

Dito e feito!

Não demora muito para que ele siga em direção ao casal e eu faço o mesmo, disposta a não deixar nada e nem ninguém estragar com a noite do meu irmão.

— Vamos dançar! — puxo Gabriel pelo braço, que meio confuso me segue até a pista de dança.

Percebo imediatamente que deve existir alguém conspirando contra mim, quando uma música lenta ecoa pelo espaço, substituindo a anterior que era bem mais agitada.

Um Gabriel constrangido se aproxima de mim e leva uma de suas mãos até minhas costas. Sem muitas opções, sou obrigada a fazer o mesmo. Nossa proximidade faz com que eu perceba duas coisas: ele é muito mais forte do que eu julgava que fosse e seu perfume é definitivamente um dos melhores que já senti.

Quando me dou conta a respeito do que estou pensando, procuro de forma quase involuntária os olhos de Gabriel. Praticamente paramos no meio da pista e o inesperado acontece: ele me beija.

Confesso que poucos caras beijam dessa forma. No entanto, não é só o beijo em si que é surpreendente. Gabriel é intenso e sabe o que fazer exatamente na hora certa. Ele conseguiria facilmente me fazer perder a cabeça, caso eu tivesse me esquecido da nossa conversa de mais cedo.

Mas eu não esqueci.

Quando sinto os lábios dele se afastarem dos meus, sussurro algumas palavras:

— Eu disse que você não resistiria, não disse?

Gabriel se mantem completamente imóvel, possivelmente assimilando o significado do que acabou de acontecer. Sorrindo, eu ainda mordo levemente o lábio inferior dele e só então vou embora, triunfante.

Opto por voltar para casa de táxi e mando uma mensagem para César avisando-o para não se preocupar comigo. Torço para que ele não tenha me visto com Gabriel, porque se ele viu, estou certa de que não terei mais um minuto de paz.

Somente quando deito na cama é que começo relembrar de fato os acontecimentos da noite e inevitavelmente me vejo pensando em Gabriel. Concluo que se não fosse por mim, ele não teria ficado com nenhuma outra mulher, como havia dito que faria.

— Acorda, Angel! — quando abro os olhos, tenho a sensação de que não faz cinco minutos que me deitei, mas pela claridade que entra pela janela já deve ter amanhecido faz tempo.

— O que você quer? — peço para César, cobrindo minha cabeça com a coberta.

— Só vim avisar que vou sair um pouquinho. — jogo um travesseiro em meu irmão e o fuzilo com os olhos.

— Dá próxima vez deixe um bilhete na cozinha.

— Que mau humor!

— Não sei se você percebeu, mas não tive uma noite tão boa quanto sua.

— Pensei que você tivesse, pelo menos, dormido bem.

— Como assim? — pergunto, sem entender a razão do seu comentário.

— Você não gritou essa noite.

— Tem certeza?

— Tenho sim. — ele responde bastante convicto, já caminhando em direção à porta. — Acredito que a explicação para isso é aquele beijo de ontem. — e antes mesmo de eu poder brigar, ele some porta a fora, me deixando sozinha.

Decido que não é muito seguro ficar pensando nas suposições de César e desço até a cozinha para tomar café. Assim que termino de guardar a louça, ouço a campainha tocar. Abro a porta e sou surpreendida por Gabriel. Ele avança para dentro e me encurrala contra uma parede.

— Você conseguiu o que queria! — ele rosna e seus olhos parecem soltar fagulhas de raiva.

— A única coisa que quero de você é distância, mas infelizmente ainda não consegui isso. — rebato, na vã tentativa de me defender.

— Você acabou com meu namoro!

— Ah, francamente! Estou pouco me lixando para você e seus problemas com sua namorada.

— Se você não tivesse me beijado ontem, isso não estaria acontecendo.— É claro! A culpa é toda minha agora. Você não tem a mínima responsabilidade sobre o que aconteceu. — retruco e apresar de toda minha irritação, eu sinto um desconforto enorme tendo em vista que o rosto de Gabriel está a poucos centímetros de distância do meu.

— Se um não quer dois não beijam.

— Não sei se você se deu conta, mas isso significa que se você não quisesse, o beijo não teria acontecido. — as palavras saem da minha boca como um jorro.

Gabriel me fita por um instante parecendo completamente perdido e finalmente vai embora, sem dizer mais nada. Rezo para que eu tenha conseguido me livrar dele de uma vez por todas.

Mal tenho tempo de me sentar no sofá e ouço a porta da frente se abrindo. Em um momento de delírio penso que pode ser Gabriel novamente, mas logo me lembro de que tranquei a porta depois que ele saiu.

— Oi, pensei que você ainda estivesse dormindo. — César sorri, se jogando no sofá. — Você está bem? Parece que viu um fantasma.

— Vi sim. — murmuro e deito minha cabeça sobre as penas dele.

— Eu desconfiei, porque vi um saindo daqui. — conta, acariciando meus cabelos. — Gabriel parecia bastante perturbado.

— Ele veio aqui para me culpar pelo fim do namoro, acredita? — questiono incrédula.

— Convenhamos que você não é totalmente inocente da acusação.

— Você está defendendo ele, é isso mesmo?

— A questão não é essa. Mas pense comigo: você colocou uma pulga atrás da orelha da Keila quando deixou a entender que Gabriel se envolvia com outras mulheres.

— Eu só falei aquilo porque estava irritada.

— Eu sei disso. Mas depois do que aconteceu ontem, fica difícil para o Gabriel encontrar um argumento. — César observa. — Pelo que Luiza me disse, uma amiga de Keila contou para ela que viu vocês dois juntos.

— Vai me culpar pelo beijo também? — pergunto completamente aborrecida.

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