Cap. QUATRO

— Claro que não. Mas o fato é que o beijo aconteceu e isso colocou Gabriel em uma situação bastante complicada.

— Você pode fazer um favor para mim?

— Claro. O que você quer?

— Quero que você nunca mais me peça para ir a algum lugar onde Gabriel possa estar, ok?

— Mas, Angel... — César tenta argumentar, porém eu o interrompo.

— Já está decidido. Posso conviver tranquilamente com Luiza, mas não me peça para aturar aquele idiota de novo!

— Ok. — ele concorda, mas noto que faz isso contra a vontade. — Vou viajar hoje à tarde. — para meu alívio, ele decide mudar de assunto.

— Para onde?

— Rio Grande do Sul.

— Mande um abraço para seus pais.

— Pode deixar. — ele concorda, sorrindo. — Eu devo estar de volta no final de semana, você vai ficar bem até lá?

— Vou sim. Não se preocupe comigo.

As frequentes viagens são possivelmente a parte que César mais gosta do seu trabalho. No entanto, para mim elas não possuem um significado tão atrativo. Significam apenas que mais uma vez, estou sozinha.

Acordo devido a alguns barulhos que parecem vir do andar de baixo. Contra a vontade, acabo levantando para ver o que está acontecendo. Assim que coloco o pé no primeiro degrau da escada ouço a voz de Gabriel e paro imediatamente.

Ele está conversando com César sobre mim.

— Você não conseguiria suportar ela. — meu irmão afirma.

— Você está duvidando de mim? — Gabriel questiona em tom desafiador.

— Dois meses namorando ela. Mas namoro sério, com tudo o que tem direito. — ouço César propor e arregalo os olhos, sem acreditar que ele esteja de fato fazendo isso comigo.

— Fechado! — Gabriel responde, deixando-me completamente atordoada.

Não tenho coragem para ouvir mais nada, nem mesmo para saber qual será o prêmio da aposta. Sinto meu corpo ferver de raiva, no entanto, me esforço para manter os pensamentos claros. Preciso decidir o que vou fazer.

Não posso simplesmente dizer a eles que ouvi a conversa. Preciso encontrar uma maneira de me vingar. Deito novamente na cama enquanto analiso cuidadosamente as opções que tenho. Chego à conclusão de que talvez valha a pena entrar no jogo deles. Assim, posso infernizar a vida de Gabriel e de quebra fazer com que César perca a aposta.

Paro de pensar no assunto quando vejo meu irmão entrando em meu quarto.

— Tudo bem? — ele pergunta, como se a conversa que estava tendo a pouco fosse sobre algo sem importância alguma.

— Tudo ótimo! — respondo, aderindo a mesma postura descontraída dele.

— Tem algum problema se a Isa vir jantar aqui hoje?

— Claro que não.

— E por acaso você já tem algum compromisso?

— Não, mas posso sair e deixar a casa livre para vocês. Sem problema algum!

— Na verdade perguntei por que queria que você jantasse com a gente.

— Tem certeza? — peço, sem a mínima vontade para receber visitas na atual circunstância.

— Absoluta.

— Mas depois do jantar eu subo para o quarto, está bem?

— Como preferir. — ele concorda, sorrindo.

— E como foi sua viagem? — indago tentando encontrar um assunto que seja mais seguro de ser abordado.

César começa fazer uma descrição detalhada da sua semana, mas não consigo prestar atenção em muita coisa. Fico me perguntando apenas quais devem ser os motivos que levaram a essa aposta idiota.

Depois de contar tudo o que queria, César volta a me deixar sozinha e aproveito para fazer algo útil. Decido arrumar meu closet a fim de me manter concentrada em outras coisas.

Levo boa parte da tarde para deixar tudo como queria. Só então me concentro nos preparativos para o jantar. Apesar de ser ideia de César, seria um milagre se ele se encarregasse de alguma coisa.

Quando Luiza chega — um pouco mais cedo do que o combinado, já tenho tudo devidamente organizado e por isso, aproveito para conhecê-la melhor. A impressão que tenho, logo de início, é a de que César escolheu a pessoa certa. Ao contrário do irmão, a companhia dela é extremamente agradável.

Depois do jantar, Luiza me ajuda com a louça e só então eu me despeço e subo até meu quarto. Pego no sono rapidamente, considerando o dia cansativo que tive.

Desperto com alguém tocando de forma descontrolada a campainha. Com medo de que possa ser algo realmente importante, levanto-me e logo no corredor dou de cara com Luiza.

— Bom dia. — ela sorri, mas posso perceber quão envergonhada ela está.

— Bom dia. — retribuo seu sorriso de forma carinhosa. — Você está esperando alguém?

— Não, mas posso apostar que é o Gabriel. — ela responde, e o fato de eu não ter perguntado o que ela está fazendo aqui, parece deixá-la mais calma. — Ele vai fazer um escândalo. — comenta, revirando os olhos.

— Deixe ele comigo. Só avise César para não descer agora. — aconselho a ela, que concordando entra no quarto do meu irmão.

Sigo em direção à porta de entrada já sabendo o que vou fazer.

— Olá! — dou um grande sorriso para um homem que agora está completamente sem reação.

— Luiza está aqui? — ele pergunta nervoso, depois de parecer ter recuperado os sentidos.

Por uma questão de "isso não é do seu interesse" opto por não responder a pergunta. Isso parece irritar Gabriel que tenta avançar para dentro da casa. Impeço-o colocando meu corpo em sua frente. Meu gesto nos faz ficar bastante próximos.

Esse homem pode dizer ao mundo inteiro que me odeia, mas seu corpo deixa claro o quanto eu o afeto. Aproveito a oportunidade e coloco minha mão direita no bolso de trás da calça dele. Minha provocação o deixa ainda mais imóvel.

— Qual o motivo do nervosismo? — peço para ele, com a voz sussurrada.

— O que deu em você? — ele usa o mesmo tom, mas posso notar uma ponta de desconfiança em sua voz.

— Absolutamente nada. — respondo, mas ele se afasta abruptamente.

Luiza enfim apareceu na sala.

— Eu sabia que você estava aqui! — ele esbraveja, encarando-a furtivamente.

— Ela está aqui porque eu insisti. Não sabia que estaria causando tanto problema. Realmente sinto muito. — me intrometo, antes que Luiza possa dizer algo.

— Posso saber por que você quis que ela ficasse? — Gabriel desvia o olhar para mim e vejo um vinco formado em sua testa.

— Eu acabei passando mal depois do jantar e pedi que ela me fizesse companhia.

— E César?

— Ela dormiu no meu quarto, se é isso que você quer saber. — rebato sem pestanejar.

— E por que você não atendeu ao celular? — ele se volta novamente para a irmã.

— Porque esqueci o celular aqui na sala. — ela aponta para o sofá, indicando o lugar onde sua bolsa está.

— Qual a parte do "eu passei mal" você ainda não entendeu? — questiono a ele, tentando colocar um fim a discussão.

— Tudo bem. — ele cede, mas pouco convencido. — Agora vamos para casa.

Luiza vem até mim e me abraça, sussurrando um "muito obrigada" em meu ouvido. Assim que ela sai, eu e Gabriel ficamos sozinhos mais uma vez. Ele me encara por longos segundos, até que decide ir embora.

— Se cuide, meu bem. — falo, antes de ele sair. Tenho a impressão de que ele hesita momentaneamente, mas em seguida, some porta a fora.Eu definitivamente estou entrando no jogo que César e Gabriel decidiram iniciar. O que talvez nenhum deles saiba, é quando entro em algo, entro para ganhar.

— O que aconteceu? — meu irmão está no corredor, visivelmente nervoso.

— Para todos os efeitos, ontem eu passei mal e pedi para a Isa ficar aqui. — explico para não correr o risco de Gabriel descobrir a mentira que inventei. — E ela dormiu no meu quarto, inclusive. — concluo por precaução.

— Fico te devendo mais uma. — ele diz, enquanto descemos em direção à sala.

— Esteja certo que vou lhe cobrar. Não foi nada fácil convencer seu cunhado. Ele estava bastante irritado.

— Ele está com ciúmes. Se é assim com a irmã, imagina com a namorada?! — César se joga no sofá, mais relaxado do que nunca. Tomo consciência de que essa é a primeira vez que o ouço criticando seu melhor amigo.

O que uma aposta não faz!

— Vamos jogar vídeo game? — ele sugere arrancando-me do meu devaneio.

— Vamos!

Quando se convive com um homem, você é praticamente obrigada a aprender a jogar e modéstia parte, depois que peguei o jeito, me tornei uma ótima jogadora.

Passamos a manhã toda em frente à televisão, em meio a provocações e risadas.

— Vou tomar banho que ganho mais! — César resmunga, depois de ter sido derrotado novamente por mim.

— E eu vou pedir o almoço.

Depois de ligar para o restaurante, ouço o barulho de um celular tocando. Encontro o aparelho de César no sofá e vejo o nome de Gabriel na tela.

— Alô.

— É quem?

— Nenhuma amante do César, isso eu garanto. — respondo ironicamente.

— Ah é você! — ele exclama, parecendo sem jeito. — César está?

— Ele está no banho.

— Você pode pedir para ele me ligar depois?

— Posso sim. — concordo, fazendo-me de boa moça. — Mais alguma coisa?

— Tem sim. — ele murmura depois de um instante em silêncio.

— Estou ouvindo.

— Quando você vai esquecer o que aconteceu naquele maldito jantar?

— Talvez quando você se desculpar.

— Eu realmente sinto muito, Angel.

— Vou pensar no seu caso com carinho. — prometo e em seguida encerro a ligação.

As coisas não serão assim tão fáceis para Gabriel.

— Seu sócio ligou. — informo meu irmão assim que ele dá as caras novamente.

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