— Claro que não. Mas o fato é que o beijo aconteceu e isso colocou Gabriel em uma situação bastante complicada.
— Você pode fazer um favor para mim?— Claro. O que você quer?— Quero que você nunca mais me peça para ir a algum lugar onde Gabriel possa estar, ok?— Mas, Angel... — César tenta argumentar, porém eu o interrompo.— Já está decidido. Posso conviver tranquilamente com Luiza, mas não me peça para aturar aquele idiota de novo!— Ok. — ele concorda, mas noto que faz isso contra a vontade. — Vou viajar hoje à tarde. — para meu alívio, ele decide mudar de assunto.— Para onde?— Rio Grande do Sul.— Mande um abraço para seus pais.— Pode deixar. — ele concorda, sorrindo. — Eu devo estar de volta no final de semana, você vai ficar bem até lá?— Vou sim. Não se preocupe comigo.As frequentes viagens são possivelmente a parte que César mais gosta do seu trabalho. No entanto, para mim elas não possuem um significado tão atrativo. Significam apenas que mais uma vez, estou sozinha.Acordo devido a alguns barulhos que parecem vir do andar de baixo. Contra a vontade, acabo levantando para ver o que está acontecendo. Assim que coloco o pé no primeiro degrau da escada ouço a voz de Gabriel e paro imediatamente.Ele está conversando com César sobre mim.— Você não conseguiria suportar ela. — meu irmão afirma.— Você está duvidando de mim? — Gabriel questiona em tom desafiador.— Dois meses namorando ela. Mas namoro sério, com tudo o que tem direito. — ouço César propor e arregalo os olhos, sem acreditar que ele esteja de fato fazendo isso comigo.— Fechado! — Gabriel responde, deixando-me completamente atordoada.Não tenho coragem para ouvir mais nada, nem mesmo para saber qual será o prêmio da aposta. Sinto meu corpo ferver de raiva, no entanto, me esforço para manter os pensamentos claros. Preciso decidir o que vou fazer.Não posso simplesmente dizer a eles que ouvi a conversa. Preciso encontrar uma maneira de me vingar. Deito novamente na cama enquanto analiso cuidadosamente as opções que tenho. Chego à conclusão de que talvez valha a pena entrar no jogo deles. Assim, posso infernizar a vida de Gabriel e de quebra fazer com que César perca a aposta.Paro de pensar no assunto quando vejo meu irmão entrando em meu quarto.— Tudo bem? — ele pergunta, como se a conversa que estava tendo a pouco fosse sobre algo sem importância alguma.— Tudo ótimo! — respondo, aderindo a mesma postura descontraída dele.— Tem algum problema se a Isa vir jantar aqui hoje?— Claro que não.— E por acaso você já tem algum compromisso?— Não, mas posso sair e deixar a casa livre para vocês. Sem problema algum!— Na verdade perguntei por que queria que você jantasse com a gente.— Tem certeza? — peço, sem a mínima vontade para receber visitas na atual circunstância.— Absoluta.— Mas depois do jantar eu subo para o quarto, está bem?— Como preferir. — ele concorda, sorrindo.— E como foi sua viagem? — indago tentando encontrar um assunto que seja mais seguro de ser abordado.César começa fazer uma descrição detalhada da sua semana, mas não consigo prestar atenção em muita coisa. Fico me perguntando apenas quais devem ser os motivos que levaram a essa aposta idiota.Depois de contar tudo o que queria, César volta a me deixar sozinha e aproveito para fazer algo útil. Decido arrumar meu closet a fim de me manter concentrada em outras coisas.Levo boa parte da tarde para deixar tudo como queria. Só então me concentro nos preparativos para o jantar. Apesar de ser ideia de César, seria um milagre se ele se encarregasse de alguma coisa.Quando Luiza chega — um pouco mais cedo do que o combinado, já tenho tudo devidamente organizado e por isso, aproveito para conhecê-la melhor. A impressão que tenho, logo de início, é a de que César escolheu a pessoa certa. Ao contrário do irmão, a companhia dela é extremamente agradável.Depois do jantar, Luiza me ajuda com a louça e só então eu me despeço e subo até meu quarto. Pego no sono rapidamente, considerando o dia cansativo que tive.Desperto com alguém tocando de forma descontrolada a campainha. Com medo de que possa ser algo realmente importante, levanto-me e logo no corredor dou de cara com Luiza.— Bom dia. — ela sorri, mas posso perceber quão envergonhada ela está.— Bom dia. — retribuo seu sorriso de forma carinhosa. — Você está esperando alguém?— Não, mas posso apostar que é o Gabriel. — ela responde, e o fato de eu não ter perguntado o que ela está fazendo aqui, parece deixá-la mais calma. — Ele vai fazer um escândalo. — comenta, revirando os olhos.— Deixe ele comigo. Só avise César para não descer agora. — aconselho a ela, que concordando entra no quarto do meu irmão.Sigo em direção à porta de entrada já sabendo o que vou fazer.— Olá! — dou um grande sorriso para um homem que agora está completamente sem reação.— Luiza está aqui? — ele pergunta nervoso, depois de parecer ter recuperado os sentidos.Por uma questão de "isso não é do seu interesse" opto por não responder a pergunta. Isso parece irritar Gabriel que tenta avançar para dentro da casa. Impeço-o colocando meu corpo em sua frente. Meu gesto nos faz ficar bastante próximos.Esse homem pode dizer ao mundo inteiro que me odeia, mas seu corpo deixa claro o quanto eu o afeto. Aproveito a oportunidade e coloco minha mão direita no bolso de trás da calça dele. Minha provocação o deixa ainda mais imóvel.— Qual o motivo do nervosismo? — peço para ele, com a voz sussurrada.— O que deu em você? — ele usa o mesmo tom, mas posso notar uma ponta de desconfiança em sua voz.— Absolutamente nada. — respondo, mas ele se afasta abruptamente.Luiza enfim apareceu na sala.— Eu sabia que você estava aqui! — ele esbraveja, encarando-a furtivamente.— Ela está aqui porque eu insisti. Não sabia que estaria causando tanto problema. Realmente sinto muito. — me intrometo, antes que Luiza possa dizer algo.— Posso saber por que você quis que ela ficasse? — Gabriel desvia o olhar para mim e vejo um vinco formado em sua testa.— Eu acabei passando mal depois do jantar e pedi que ela me fizesse companhia.— E César?— Ela dormiu no meu quarto, se é isso que você quer saber. — rebato sem pestanejar.— E por que você não atendeu ao celular? — ele se volta novamente para a irmã.— Porque esqueci o celular aqui na sala. — ela aponta para o sofá, indicando o lugar onde sua bolsa está.— Qual a parte do "eu passei mal" você ainda não entendeu? — questiono a ele, tentando colocar um fim a discussão.— Tudo bem. — ele cede, mas pouco convencido. — Agora vamos para casa.Luiza vem até mim e me abraça, sussurrando um "muito obrigada" em meu ouvido. Assim que ela sai, eu e Gabriel ficamos sozinhos mais uma vez. Ele me encara por longos segundos, até que decide ir embora.— Se cuide, meu bem. — falo, antes de ele sair. Tenho a impressão de que ele hesita momentaneamente, mas em seguida, some porta a fora.Eu definitivamente estou entrando no jogo que César e Gabriel decidiram iniciar. O que talvez nenhum deles saiba, é quando entro em algo, entro para ganhar.— O que aconteceu? — meu irmão está no corredor, visivelmente nervoso.— Para todos os efeitos, ontem eu passei mal e pedi para a Isa ficar aqui. — explico para não correr o risco de Gabriel descobrir a mentira que inventei. — E ela dormiu no meu quarto, inclusive. — concluo por precaução.— Fico te devendo mais uma. — ele diz, enquanto descemos em direção à sala.— Esteja certo que vou lhe cobrar. Não foi nada fácil convencer seu cunhado. Ele estava bastante irritado.— Ele está com ciúmes. Se é assim com a irmã, imagina com a namorada?! — César se joga no sofá, mais relaxado do que nunca. Tomo consciência de que essa é a primeira vez que o ouço criticando seu melhor amigo.O que uma aposta não faz!— Vamos jogar vídeo game? — ele sugere arrancando-me do meu devaneio.— Vamos!Quando se convive com um homem, você é praticamente obrigada a aprender a jogar e modéstia parte, depois que peguei o jeito, me tornei uma ótima jogadora.Passamos a manhã toda em frente à televisão, em meio a provocações e risadas.— Vou tomar banho que ganho mais! — César resmunga, depois de ter sido derrotado novamente por mim.— E eu vou pedir o almoço.Depois de ligar para o restaurante, ouço o barulho de um celular tocando. Encontro o aparelho de César no sofá e vejo o nome de Gabriel na tela.— Alô.— É quem?— Nenhuma amante do César, isso eu garanto. — respondo ironicamente.— Ah é você! — ele exclama, parecendo sem jeito. — César está?— Ele está no banho.— Você pode pedir para ele me ligar depois?— Posso sim. — concordo, fazendo-me de boa moça. — Mais alguma coisa?— Tem sim. — ele murmura depois de um instante em silêncio.— Estou ouvindo.— Quando você vai esquecer o que aconteceu naquele maldito jantar?— Talvez quando você se desculpar.— Eu realmente sinto muito, Angel.— Vou pensar no seu caso com carinho. — prometo e em seguida encerro a ligação.As coisas não serão assim tão fáceis para Gabriel.— Seu sócio ligou. — informo meu irmão assim que ele dá as caras novamente.— E você atendeu? — ele pede, parecendo duvidar da ideia.— Sim. E ele pediu para que você retornasse. — passo o recado enquanto me dirijo para a cozinha. — Mas vamos almoçar primeiro, pode ser?Ele concorda e me ajuda a pôr os pratos na mesa.— Nós poderíamos ir pescar hoje à tarde, o que você acha? — ele pergunta já se servindo.— Quando você diz"nós"se refere a quem exatamente?— A mim e você.— Sem incluir a Luiza?— É melhor deixar oGabriel se acalmar um pouco.— Em resumo, eu virei um quebra galho! — decido fazer um pouco de drama.— Olha o ciúme! — ele ri e engatamos uma calorosa discussão sobre o assunto.Somente depois de termos organizado a cozinha e as coisas que vamos precisar é que seguimos para o luga
— Não é nada. — tento fazer com que minha voz soe convincente e aproveito nossa proximidade para abraçá-lo novamente. Tanto para esconder meu rosto, tanto para poder encontrar a fonte de seu perfume, que agora se tornou oficialmente o melhor que já senti.Gabriel aceita sem relutância meu abraço e não faz qualquer menção de encerrá-lo mesmo depois de longos minutos.Nos afastamos somente quando César e Luiza aparecem, nenhum deles parecendo surpreso com o fato de eu eGabriel estarmos juntos e, para meu alívio, acabo não ouvindo qualquer comentário sobre o assunto.De certo modo, acho engraçada a forma comoGabriel se dispõem em segurar minha mão e em se manter ao meu lado durante o restante da noite. Aventuro-me a dizer que grande parte das mulheres se apaixonaria facilmente por ele, no entanto, estou convicta de que n&ati
Como se todas essas dúvidas não bastassem, ainda tento compreender a razão pela qual parei de ter pesadelos desde o dia em que nos beijamos pela primeira vez. E porque, mesmo estando nutrindo uma raiva diária porGabriel, meu corpo ainda reage positivamente a seus toques.E por fim há mais uma questão que me intriga: a aceitação de César. Se eu estivesse no lugar dele, tentaria fazer o possível e o impossível para dar um fim em meu namoro comGabriel. Usaria de todos os meios que estivessem ao meu alcance para poder ganhar a aposta ao invés de simplesmente fingir que não me importo, como ele vem fazendo.Céus! A que ponto eu deixei minha vida chegar?Se pudesse voltar no tempo, mandaria os dois à merda e seguiria minha vida tranquilamente, tomando cuidado para manterGabriel distante... Mas agora parece ser um pouco tarde demais para isso.
— Você tem certeza?— Claro. Pode ir tranquilo.— Se precisar de qualquer coisa me ligue, certo? — balanço a cabeça positivamente e recebo um novo beijo.— Cuide-se. — peço a ele, com os lábios ainda próximos dos seus.— Cuide-se também. — ele sussurra para mim e em seguida se afasta. — Tchau, Bela.— Tchau. — ela responde, sorridente como sempre e então estamos sós.—Gabriel conhece você? — acabo perguntando, quanto tomo ciência de que ele a chamou pelo nome, sem que eu os tenha apresentado.— É claro! Trabalho na casa dele também.Meu queixo cai com a novidade. Por essa eu definitivamente não esperava. Começo a me mexer desconfortavelmente na cadeira, sabendo que isso é uma espécie de aviso para Bela. Ela sabe que tenho algo a dizer, mas n
— Detesto lhe dizer não, mas agora vou ter que fazê-lo. — dá de ombros e não tenho dúvidas de que ele está absolutamente feliz em me frustrar.Termino com a distância que nos separa e o fuzilo com o olhar.— Essa é minha casa,Gabriel. Faço o queeubem entender aqui dentro. Então faça a gentileza de me dar à chave e me deixar sair daqui. — minha voz sussurrada soa tão fria quanto eu gostaria.— Sinto muito. — ele nega novamente, fazendo-me perder completamente a paciência.—Eu odeio você!— rosno e assim que vejo seu rosto se contorcer, arrependo-me do que disse.Prendo a respiração assim que ele puxa meu corpo para junto do seu. Fecho os olhos, sem conseguir encontrar coragem para encará-lo. Sei que agora ele deve estar furioso comigo. Espero por
A conversa deGabriel e César é interrompida apenas quando entrego a meu namorado uma xícara de café e me sento ao seu lado. Somente agora tomo ciência de quão faminta estou.— Achei uma serventia para você. O café está bom! — ouçoGabriel exclamar e me viro para encará-lo.— Que bom que tenho alguma serventia para você, porque você não tem nenhuma para mim. — retruco e César começa a rir.— Vou deixar vocês discutirem a relação em paz. — disse, levantando-se.Meu comentário faz meu namorado ficar emburrado durante o restante do café. Assim que se dá por satisfeito ele deixa a mesa e vai se sentar na sala. Deixo-o alimentando sua raiva por mim e vou lavar a louça. Sei que não vai demorar para ele voltar a estar na palma de minha mão.Somente quan
Segurando a mão de Luiza, César a guia em direção à porta, como se a possibilidade de depender das minhas habilidades gastronômicas fosse algo terrível.Talvez seja.Sigo para a cozinha com um sorriso nos lábios, decidida a esquecer momentaneamente a conversa que tive com minha cunhada, até porque tenho certeza queGabriel não está apaixonado por mim.Reviro os olhos ao perceber que meu irmão não se deu ao trabalho de ao menos lavar a louça que usou no café. Concentro-me em meus afazeres, mas não demora para que eu sinta um corpo musculoso tocar minhas costas enquanto minha cintura é envolvida por um braço.— Como você conseguiu entrar? — indago, reconhecendo instantaneamente o perfume inconfundível do meu namorado.— A porta estava destrancada. — ele responde depois que seus lá
— Mas estou bastante satisfeita com nossas aquisições. — ela declara, com um sorriso enorme no rosto. Somente agora me dou conta de algumas semelhanças entre ela e seu irmão.— Que não foram poucas, diga-se de passagem. — comento, encarando as sacolas que estão organizadas ao meu lado.— Vou lhe contar um segredo! — Luiza informa, assim que o garçom deixa nossos pedidos sobre a mesa.— Estou ouvindo.— Você é a primeira namorado do meu irmão que eu realmente aprovo.— Jura? — questiono, um pouco surpresa com sua revelação.— Sim. — ela reafirma, tomando um gole do seu suco logo em seguida. — Vocês dois tem uma sintonia fascinante. Não é difícil perceber que estão apaixonados um pelo outro.— Você está exagerando. — balbucio, sem sab