Cap. DOIS

Não seria muito mais fácil se eles apenas aceitassem a derrota e seguissem em frente?

Decido esquecer esse assunto por hora, para me concentrar em algo que agora é muito mais importante: César está namorando. Até que ponto isso irá interferir ou modificar nossas vidas? Eu não faço a menor ideia. Sei apenas que meu irmão merece mais do que ninguém ser feliz. E se a felicidade dele está relacionada à Luiza, o mínimo que posso fazer, é apoiá-lo.

Estou na cozinha, comendo um sanduíche, tendo em vista que acordei depois do almoço, quando César aparece visivelmente nervoso.

— Você precisa escolher alguma coisa para eu vestir hoje à noite.

— Você sempre fez isso sozinho.

— Mas agora é diferente.

— Você já foi a inúmeros jantares e nunca precisou de mim. Sendo franca, sempre achei que você tem um excelente senso de estilo.

— Esse jantar é mais importante do que os outros.

— Tudo bem! Depois dou uma olhada no seu closet e separo algo.

— Obrigado. — ele murmura e por um instante, tenho a sensação de que ele está perdido no "fantástico mundo de César". — Sei que estou parecendo patético, mas é realmente importante para mim.

— Eu entendo. — digo para tentar confortá-lo, mas a verdade é que por mais que eu tente, simplesmente não consigo me ver na situação que ele está vivendo. — Mas eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Não tem porque não dar.

— Você tem razão. — ele concorda, balançando discretamente a cabeça, como se quisesse se livrar de alguns pensamentos.

— Eu sempre tenho razão! — brinco enquanto me levanto para lavar a louça.

César mantem-se visivelmente distraído o restante da tarde. Concluo que ele está com a cabeça cheia de ideias, planejando o que acontecerá a noite. Por fim, acabo desistindo de tentar conversar com ele, depois de ter que repetir várias vezes algumas coisas, sem obter realmente sua atenção.

Como prometi, fui até o closet dele e deixei sobre a cama o que considero apropriado para a ocasião. Satisfeita com minha escolha, vou para meu quarto decidida a ficar pronta mais cedo, porque caso haja algum imprevisto que me faça atrasar, certamente eu perderei o irmão.

— Acho que já podemos ir, não é? — César aparece em meu quarto, mais cedo do que o combinado, aparentemente nervoso. Concordo sem levantar qualquer objeção, considerando que já estou pronta. — Você está linda! — ele comenta enquanto seguimos para a casa de Luiza.

— Obrigada. Meu grande objetivo dessa noite é não fazer você passar vergonha. — digo e enfim vejo-o sorrindo.

— Tenho certeza que não vai, caso contrário, você corre o risco de ficar desabrigada. — ele brinca e me sinto satisfeita por ao menos ser útil para deixá-lo um pouco mais relaxado.

De certa forma, fico aliviada ao perceber que não demoramos muito para chegarmos ao nosso destino. "Quanto antes isso começar, mais cedo terminará", penso assim que César toca a campainha.

Somos recebidos por Gabriel, que cumprimenta seu amigo com o mesmo sorriso que me deu na noite passada, quando nos conhecemos. Porém, seu sorriso se desfaz assim que seus olhos recaem sobre mim.

Isso não é um bom sinal!

— Você foi embora com ela ontem a noite, não foi? — Gabriel fita César, como se estivesse exigindo explicações.

— Sim. — meu irmão responde de sobrancelhas franzidas.

— Então por que diabos ela está aqui? — o outro retruca, com a voz áspera.

— Parece bastante óbvio. — me intrometo na conversa, porque uma pequena desconfiança começa a crescer dentro de mim.

— Não parece não! — ele responde dirigindo a mim um olhar de desaprovação. — Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto. — Gabriel resmunga, mais para si mesmo do que para nós.

Percebo então duas figuras se aproximarem. Reconheço a namorada de César sem muito esforço e deduzo que a outra seja a namorada de Gabriel no instante em que eles entrelaçam as mãos.

Sinto uma raiva enorme se apoderar de mim.

— O que está acontecendo aqui? — Luiza pergunta, possivelmente sentindo o clima tenso que nos envolve.

— É o que eu estou tentando descobrir. — Gabriel responde visivelmente incomodado com minha presença.

— Não é nada, Luiza. — esclareço, tentando ao máximo controlar o tom da minha voz. Ela não tem culpa de ter um irmão tão idiota. — Só fico me perguntando por que as pessoas não conseguem ver a mim e César como irmãos e começam a nos julgar tão ridiculamente.

— Como é? — Gabriel indaga, agora espantando.

— Essa é a Angel, minha irmã, Gabriel. — César explica e tenho certeza que ele entendeu tão bem quanto eu o que Gabriel vinha pensando de nós.

— Eu não acredito que ele fez isso! — Luiza esconde o rosto entre as mãos e parece impossível decidir quem está mais constrangido.

— Tudo bem, só não tem mais clima para mim.

— Angel, por favor. — César pede, mas dessa vez terei que desapontá-lo.

— Vai ser ainda pior se eu ficar. — digo a ele, que acaba concordando, já que me conhece há tanto tempo.

— Eu sinto muito, de verdade. — Luiza lamenta, sem ter coragem suficiente para me encarar.

— Não se preocupe. Nós conversamos outra hora, está bem? — tento ser educada e recebo um sorriso aliviado em troca. Mas aí, meus olhos encontram o cara que estragou completamente à noite. Respiro fundo, mas não consigo evitar, quando me dou conta, as palavras já estão saindo da minha boca.

— César não é como você que não fica satisfeito com apenas uma mulher.

Confesso que eu não sei se Gabriel se envolve com outras mulheres ou não, mas depois do que ele insinuou, seria completamente injusto eu deixar barato. Apanhei demais da vida, mas agora eu aprendi a bater também.

O ato de pegar um táxi e ir parar em casa pareceu bastante inconsciente para mim. Há muitas perguntas sem respostas zanzando em minha mente. O que aconteceu essa noite poderia ter sido algo absolutamente normal se viesse de um estranho qualquer, mas se tratando do melhor amigo do meu irmão é completamente estranho e sem sentido.

Esforço-me para imaginar alguma justificativa plausível, mas parece impossível entender sozinha o que aconteceu. Deito-me no sofá já conformada com o fato de que terei que esperar César chegar, para talvez, conseguir algumas respostas.

Me pego pensando então, em como o clima deve ter ficado pesado depois que fui embora. Começo a torcer para que meu irmão seja um pouco compressivo e não queira me matar pelo que fiz essa noite.

Mas, afinal de contas, por que é que o irmão de Luiza tem que ser tão babaca assim? Por que não posso ter um momento de sossego em minha vida e fazer com que pelo menos as coisas possam dar certo para César?

São apenas mais perguntas, que não possuem repostas.

— Angel?

Abro os olhos assustada, deixando para trás um mundo de pesadelos. Porém, assim que vejo César me fitando tenho a sensação de que talvez o pesadelo ainda não tenha de fato chegado ao fim.

— Sinto muito por ter estragado seu jantar. — me apresso em dizer, sentando-me em seguida.

— Foi uma situação chata. Você tinha razão em ter ficado brava. — ele responde enquanto se senta ao meu lado. Sua expressão ainda não me deixa claro o que ele está sentindo.

— Devo procurar um lugar novo para morar? — questiono, lembrando-me do que ele havia me dito pouco antes de chegarmos à casa de Luiza.

— Não seja boba! — ele revira os olhos, mas agora percebo que ele está se segurando para não rir.

— Como as coisas ficaram depois que eu fui embora? — peço, com uma ponta de culpa.

— Acho que você arrumou uma boa encrenca para o Gabriel. A namorada dele não ficou nada satisfeita com o seu comentário.

— Bem feito para ele! — dou de ombros, sem sentir um pingo de remorso por ter dito o que disse para o amigo do meu irmão.

— Aquilo não era verdade, ou era? — César me lança um olhar sério e sei que a resposta para isso pode fazer toda a diferença em relação à amizade dele com Gabriel.

— Claro que não. Não sei nada a respeito da vida dele e nem faço a menor questão de saber.

— Você sabe como animar um jantar! — meu irmão sorri, parecendo mais a vontade.

— Posso te perguntar uma coisa? — indago, depois de alguns instantes de silêncio.

— Pode sim.

— Gabriel é seu sócio e seu melhor amigo. Como ele não sabia que eu sou sua irmã?

César solta um longo suspiro antes de responder.

— Você sabe como sou discreto em relação a minha vida pessoal. É claro que tanto o Gabriel quanto alguns outros amigos meus sabem que eu tenho uma irmã, mas pense comigo: até dois anos atrás eu era filho único e de repente surge uma irmã do nada. Acho que é difícil para eles associarem você a uma mulher de 21 anos.

"Talvez pensem que meus pais adotaram uma garota mais nova... Enfim, eu nunca fiz questão de ficar explicando porque isso levantaria a curiosidade de muitos. E falar sobre você pode significar falar sobre o seu passado. E esse é um assunto apenas nosso e de mais ninguém. Você entende?" — ele me fita com expectativa, como se estivesse tentando me explicar algo realmente complexo.

— Claro que entendo. — afirmo, porque sua justificativa faz todo o sentindo para mim. — Mas o que você vai dizer para o Gabriel agora?

— Andei pensando nisso já. Ele não precisa saber dos detalhes, então vou dizer que você sempre foi minha melhor amiga e que acabou ficando sem um lugar para morar e por isso veio para cá.

— Obrigada por cuidar de mim dessa maneira. É muito mais difícil para você do que eu poderia imaginar.

— Faço tudo que posso para proteger você, Angel.

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