Após mais de duas décadas, presa a um homem que nunca me amou, é incrível viver novamente na casa onde nasci. Mesmo estando sozinha, não há sensação melhor do que estar em um lugar só seu, onde se pode sentar em frente à lareira e descansar, apesar das lembranças das marcas e das dores que me assombram ocasionalmente.
Tudo estaria perfeito se não fosse pelo fato de precisar constantemente da vigilância de seguranças. Não consigo sair em paz, sempre há seguranças me seguindo. Vlad pode pensar que não percebo, mas eu também tento estar sempre alerta. Afinal, se a ex-mulher dele não representasse uma ameaça, minha casa não estaria cercada por seguranças.
Quando saio, o ambiente se torna caótico e desconfortável. Mas isso não diminui minha vontade de explorar e conhecer novos lugares. Neste exato momento, já estamos no meio da manhã. Tomei um banho e vesti roupas confortáveis e discretas, que escondem ao máximo meu corpo. As cicatrizes ainda me incomodam, mesmo que sejam difíceis de serem vistas. Imagino que qualquer homem que as visse, por mínimas que fossem, me envergonharia. E essas marcas nem são as piores.
Já faz duas semanas desde que minhas filhas tiveram seus filhos. Estou feliz por estarem felizes com seus maridos. Sinto alívio por elas não terem seguido o mesmo destino que eu no passado, quando foram forçadas a casar após seu pai, as venderem.
Hoje, saio para fazer compras, um novo passatempo que admito ter desenvolvido. No entanto, sempre há um carro com vidros escuros me seguindo. Finjo que não vejo, pois eles geralmente não me incomodam. No entanto, desta vez, sinto que é o depravado do Don que está me seguindo. Vou tentar ignorá-lo ao máximo, pois sei que, ao menor sinal de interesse, ele me envolverá em seus braços. Não que seja desagradável, mas... é estranhamente bom, porém errado, dadas as coisas que ainda não consegui superar.
No final, acabo não comprando nada, pois minha ansiedade não me permite relaxar. Ele está constantemente em minha mente. Faço um passeio, visito uma livraria e passo algumas horas lá. Vou a um restaurante e me pergunto se ele tem fome. Ele não sai do carro, então volto para casa no início da tarde. O dia começa a esfriar, o céu escurece. Essa mudança repentina no tempo me faz pensar que é melhor estar em casa antes da chuva.
A distância entre onde estou e minha casa permite que eu volte a pé. Sigo em passos largos e rápidos, não vejo mais o carro e nem os outros seguranças. Faz um tempo que não me sinto segura quando eles desaparecem assim. Pareço a Scarlett, talvez tenha herdado essa sensação de atrair perigo e se machucar.
Logo, percebo um homem estranho me seguindo. Ele não se encaixa no perfil dos seguranças que tenho visto. Ele usa um capuz e calças jeans, tentando ocultar o rosto. Estou apenas a uma rua de minha casa e sei que ele não faz parte dos homens que Don contratou como seguranças.
Sem pensar duas vezes, começo a correr, e como esperado, ele continua me seguindo. O mais dramático é que o bairro onde moro é normalmente tranquilo, e neste momento há poucas pessoas na rua.
Continuo correndo, já estou ao lado de minha casa, correndo próximo aos muros. Basta virar a esquina e chegar ao portão, mas como entraria sem que ele conseguisse invadir?
Passo rapidamente por um poste e ouço um baque alto atrás de mim. Olho de relance e vejo o homem caindo no chão, contorcendo-se de dor, enquanto Vlad emerge de trás do poste após tê-lo golpeado com força.
Suspirei aliviada por ele chegar a tempo. Ele lançou o homem tão longe que é difícil acreditar que tenha sido apenas ele. Logo, alguns homens aparecem e levam o perseguidor até uma van. Tenho certeza de que isso tem dedo da Hayna. Observo toda a situação, sem forças para correr.
Vlad está de costas, observando os homens levarem o intruso. Mas onde estavam antes? Ele me encara de maneira imparcial, e é difícil saber o que ele está pensando, enquanto meu coração parece querer me sufocar.
Ele sorri, um sorriso fechado, com um toque de humor, enquanto se aproxima de mim com elegância, mantendo as mãos nos bolsos de suas calças, seu jeito, sua postura mesmo em uma postura que deveria ser relaxada ele inspira imponência.
— Você está bem? — ele perguntou, e eu abro os lábios cética, franzindo o cenho.
— Estou bem. Você conhece esse homem que estava me seguindo? — questiono, incapaz de fazer contato visual.
— Não. Você não percebeu nenhum homem suspeito te observando nos últimos dias?
— Acredito que essa seja a sua função. Se não fosse por sua esposa, eu estaria segura e em paz na minha casa. — resmungo, dando as costas e me preparando para seguir. No entanto, ele segura meu braço e me puxa de volta.
— Você não precisa ficar tão na defensiva. Estou apenas te protegendo. Até onde sei, Henry disse que você sente a minha falta. Então, por que continuar me tratando assim?
— Ele estava errado. Eu nunca senti falta de você! — digo friamente e lhe dou as costas, mas de alguma forma, isso me incomoda.
Após entrar em casa, ele volta para o carro e fica estacionado em frente ao meu portão, com as janelas abertas. Já está escurecendo, e ele continua ali. Mesmo que não goste de tê-lo tão perto, sinto-me inquieta. Afinal, se não fosse pela sua proteção, tudo isso ainda seria culpa dele.
Olho furtivamente pela janela várias vezes, até que ele finalmente me percebe observando. Decido seguir até a cozinha, onde sinto um pouco de frio e desejo algo quente. Será que é confortável ficar tanto tempo em um carro?
Preparo um cappuccino e alguns brownies, mas sinto receio em levá-los até ele. Vlad sempre arranja uma maneira de me provocar. Suspiro profundamente, reúno coragem e saio com a comida em um prato. No meio do caminho, a chuva começa a cair. Corro cuidadosamente para não derrubar nada. A janela do carro dele está fechada, mas a porta se abre, e ele me observa enquanto passo pelo portão em sua direção.
— Pensei que não gostaria de falar comigo. — ele comentou indiferente, mas percebo os segundos que seu olhar vacila demonstrando surpresa.
— Eu não quero! — digo, enquanto percebo a chuva ficar mais intensa. — Pode simplesmente pegar de uma vez? Já está prestes a chover. — enrijeci a voz, estendendo o braço e oferecendo-lhe a comida. Em vez de pegar o prato completo, ele pega apenas o copo, colocando-o no suporte próximo ao volante, e em seguida o prato, mas também agarra meu braço no processo e em razão de segundos estou dentro do veículo.
— Quando você vai parar de negar? — perguntou, enquanto a chuva cai como se fosse o fim do mundo.
— Não sei do que está falando. Apenas me deixe ir. — bradei, empurrando-o.
— Você sabe muito bem do que estou falando. Se sente minha falta, basta me deixar ficar com você. — diz, soltando-me. Tento sair do carro, mas ele já o trancou, e as gotas de chuva batem no vidro com força.
— Não sinto sua falta. Não quero que você fique perto de mim. — ele coloca a mão sobre o volante e olha para fora com impaciência.
— Ok, não vou insistir. Os dias em que fiquei afastado foram bons para você? — perguntou, e ouço o carro destravar.
— Claro... — engulo em seco.
— Tudo bem, não vou mais aparecer. — ele diz com seriedade.
— O que está dizendo? — pergunto, franzindo o cenho.
— Você ouviu muito bem. Eu já disse que vou desistir. Mas você continua dando sinais e depois simplesmente me rejeita como se fosse um jogo. Se é isso que quer... talvez eu seja um pouco velho demais para isso. — confessou, indicando para que eu saia.
O encarei cética e aborrecida, enquanto ele me ignora. Saio do carro e caminho sob a chuva, odiando como ele me faz sentir como uma adolescente apaixonada, algo que até hoje apenas ele conseguiu despertar em mim.
— Shelly! — ele gritou, mas não me viro para o encarar, e parece que saiu do carro.
Para minha infelicidade, acabei deixando o portão aberto enquanto corria em direção a porta.
— Você é tão descuidada assim? — ele rosnou, encontrando-me à porta antes que eu pudesse entrar. — O que poderia acontecer se você deixasse o portão aberto assim? — ele perguntou, visivelmente irritado.
Após me repreender ele volta ao portão, minhas pernas estão travadas e internamente torço para que ele vá embora, mas ao olhar de relance, vejo que ele apenas o fechou e voltou até mim.
Capítulo 2me aproximo dela, já não tinha uma peça de roupa que não estivesse encharcada, e ela ainda se atreve a não me encarar. — Não me evite Shelly Mozart. — Asseverei desejando que ela olhasse em meus olhos. — Você não vai ficar aqui, certo? — perguntou ela com receio enquanto observo ao redor da casa, infelizmente, fiquei desatento por alguns minutos quando ela esteve no carro, pode ser que tenha algum intruso aqui, não posso deixá-la sozinha.— Bom… ao menos me arrume roupas secas, eu vou para casa assim que a chuva passar. — peço, ela me encara desconfiada, mas assim como eu poucos segundos na chuva a fez ficar encharcada.— Vlad, eu não tenho roupas masculinas na minha casa. — diz hesitando em girar a maçaneta, ela realmente não quer que eu entre, mas que se foda, ela nem mesmo sabe o que quer.Giro a maçaneta e abri a porta a levando para dentro comigo, o vento está terrivelmente frio e ela pode ficar doente assim.— tem secadora?— Não acredito que essas peças que você est
Cap.3Shely (Narrando).Ele ficou surpreso quando viu que o disparo tinha saído de minha arma, com certeza ele pensa que sou a mesma mulher indefesa à deriva nas mãos de qualquer homem, mas eu não saí de um inferno para cair em outro sem estar pronta.Vou em direção a ele e ele parece que nem percebeu seu braço sangrando, puxei o tecido da camisa desejando que fosse sangue de um dos bandidos, mas, na verdade, é dele, além de a costela também está ferida, encaro tudo aquilo com preocupação, a chuva ainda cai muito forte.— Você se machucou… — resmungo preocupada, mas ele tira a camisa bruscamente e joga sobre mim.— Nem tinha percebido, sugiro que entre agora, a sua situação agora não é a mais adequada. — diz ele indiferente indo até os seus seguranças. — recolham os corpos e limpe o quintal sem deixar nenhum vestígios, podem ir para casa, ninguém mais vai ousar invadir, mas antes não esqueçam de vasculhar todo o local.Ele ordena se mantendo firme e forte, sua postura imponente de cos
Cap. 4Pela manhã bem cedo ela pulou de meu colo ao levar um susto quando ouviu alguém bater à porta, com certeza era um de meus seguranças trazendo minhas roupas.Na janela o sol já se mostra a raiar e a lareira está apagada com algumas brasas acesas, a noite acabou sendo quente, apesar de cansativa, meu corte na costela ainda doí um pouco, mas não é nada grave levando em conta que está doendo porque estava a acomodando em meu colo.Ela correu escada acima sem nem mesmo me dirigir a palavra.— Bom dia, também… — suspiro para ela, em seguida fui atender a porta.Pego minhas roupas e subo até um dos quartos vazios, conheço todo esse lugar de ponta a ponta já que eu mesmo ajudei na reforma.Estava ansioso para vê-la sair, ver como está sempre tão linda e recatada, é o tipo que demonstra insegurança e medo ao mesmo tempo que sabe se vestir bem, ontem ela me deixou impressionado quando matou aquele homem, é a primeira vez que recebo ajuda de uma mulher nesse quesito.Eles exageraram troux
cap.5Shely (Narrando)Fiquei surpresa quando o vi entrar com uma mulher ao seu lado ainda intimamente com os braços entrelaçados, encaro ainda próxima à porteira e ele apenas me ignora, o que ele pensa que está fazendo?Ele parece bem íntimo daquela mulher que aparenta ser bem mais nova que eu, ele se aproxima seguindo em linha reta pela trilha em minha direção, mas foi interrompido quando duas meninas novatas passaram por mim em alvoroço.— Vlad, chegou! — grita uma delas agitada, elas tinham entre dezoito e vinte anos, e parecem bem interessadas nele.Encaro cética a situação, eles estão próximos o suficiente para que eu consiga ouvir qualquer conversa.— Faz tanto tempo… — pula uma das meninas agitadas, ele analisa cada uma delas e franze o cenho.— Vocês não estão com frio? Isso não é roupas para usar no frio. — comentou confuso.Mas realmente elas não estão adequadas, o vento frio parece cortar a pele e elas usam bermudas e blusinhas de alça.— Na verdade não, queríamos estar ma
Cap. 6Shely (Narrando).Seguimos para a saída, ele fez questão de segurar em meu braço, se não fosse pela ordinária nos seguindo eu já teria o agredido e fugido, não sei onde estava com a cabeça, mas para manter as aparências vou ter que levar isso até o final.— Sinto minha dama um pouco tensa, acredito que já tenha se arrependido de seu equívoco.— Sim, mas você não vai entrar naquela casa com essa mulher. — rosno baixinho para ele.— Isso pode ser uma aposta. — diz levianamente enquanto seguimos para a saída.Assim que chegamos ao seu carro, nem bem me aproximei da porta do passageiro quando ela insinuou que iria entrar no carro de Vlad.— pensei que você tinha vindo no seu próprio veículo.— Sempre seguimos juntos quando temos esse tipo de reunião, aproveitamos e conversamos no carro. — diz com um sorriso preso, parece que está insinuando algo.— Não mais, na verdade nunca mais, acredito que você seja bonita o suficiente para defender e preservar seu caráter se limitando a correr
Cap.7— você pode descer e pedir a um dos empregados para preparar uma bebida quente, para o frio? — pergunta para mim.Ele deve estar de brincadeira.— Eu não sou sua empregada, você deveria dar ordens a seus empregados, a Rhudy é uma delas, então ela que vá buscar as bebidas. — ordena a encarando duramente, ela se levanta e sai da sala.— Não reclame quando eu te der ordens na cama. — diz discretamente enquanto se mantêm lendo. — Você está indo muito bem, me agrada a ideia que você não só fique lá para passar o tempo, a casa de acolhimento precisa de atenção e você parece entender alguma coisa.— Não sou burra como pensa, Scarlett não é inteligente por milagre. — digo com arrogância, mas não tive chance de estudar quando estava presa a meu antigo carrasco, mas tenho estudado de tudo, tenho que levar minha vida a frente sem depender de ninguém e nem da proteção de ninguém.— Isso é muito mais animador… — suspira com o olhar admirado.— Eu espero que saiba que assim que Rhudy for embo
cap.8.Vlad (Narrando)Permaneci um pouco distante, enquanto ela se cuidava, ela secava o cabelo ainda enrolada na coberta, sei que não se levantaria dali enquanto eu estivesse aqui, ela parece aquelas gatinhos de rua raivosos que não estão acostumados com cuidado, por qualquer motivo arranha, mas meu verdadeiro interesse é ver seus arranhões, enquanto ela seca o cabelo, finjo procurar algo ao redor do quarto, ela me observa mas basta eu a encarar que ela desvia o olhar emburrada.Consigo pegar seu pijama da cama e colocá-lo discretamente no guarda-roupa, volto a me encostar na escrivaninha onde fico a observando, ela suspira e demonstrando incômodo com a minha presença.— você pode sair? — pergunta ao terminar de secar o cabelo.— Não, ainda estou apreciando você em minha cama sem poder te tocar… ainda. — lamento, mas meu corpo todo corresponde a ela, cada músculo, as pontas de meus dedos, queria tocar cada parte de sua pele e fazê-la sentir prazer nem que seja com minhas mãos.Ela
cap.9Shely (Narrando) A manhã estava gelada quando acordei, mas o quarto estava quente, a cama macia e extremamente confortável estava quente devido aos lençóis, mas olho ao redor e não o encontro.Nem sei porque o procurei, ainda me sinto constrangida pela noite de ontem. Coloco os pés descalços no chão e o chão está terrivelmente frio, talvez esteja nevando, Sant Andreas sempre é muito fria no inverno.Visto-me um casaco quente e saio do quarto, sigo pelo corredor e não tem ninguém, essa casa vazia me dá um pouco de vertigem.Vou até seu escritório, mas ele não está lá, pensei que poderia encontrar ele em algum desses quartos, porém sei que esse horário ele não estaria mais dormindo.Sigo até a sala, logo após a cozinha e nem sinal dele, a cada segundo meu peito aperta, sei que gosto de ficar só em minha casa, mas não quero essa sensação de está presa.— Senhorita Ravenclaw. — chama uma das empregadas e franzo o cenho, como assim? Ravenclaw? — está procurando seu marido?— Ele não