23 anos depois _ Só me mostra quem foi? – Beatriz exige a prima mais nova, possuída de raiva. _ O de camisa branca – Aurora responde constrangida – Por favor, não faz nada, só vamos embora... _ Fica aqui – Beatriz se solta da prima que insistia em segurá-la e caminha até o aglomerados de garotos em volta de um carro esportivo de luxo. Era noite e como sempre naquele horário, o pátio da faculdade estava cheio de garotos idiotäs exibindo seus carros, bebendo, contando lorotas e paquerando garotas. _ Então é você o babac@ que saiu com a minha prima e depois espalhou pra todo mundo? – Ela encara o grupo de cinco rapazes altos e fortes, sem se deixar intimidar. _ Está falando comigo? – O rapaz de camiseta branca e calça jeans pergunta voltando sua atenção pra ela. O descaso com que ele olhou pra ela e fez a pergunta terminou de enfurece-la. Beatriz se considerava uma mulher calma, educada e realmente gentil, mas com aquele tipo de pessoa ela não tinha qualquer tolerância.
Matteo Romano(13 anos antes) _ Vá – Papai ordena. Meu coração naquele momento já estava estrangulado dentro do peito. A mulher olha pra mim, me avaliando com um sorrisinho safado, enquanto eu me esforçava para não deixar ninguém perceber o meu pânico. Não sei o que papa seria capaz de fazer se descobrisse que seu filho mais velho, que adorava exibir como troféu, estava tremendo como um frouxo. O pior é que eu já tinha idade. Já tinha quatorze anos e nada. Papai dizia que tinha perdido a virgindade dele com onze e que com sete, seu pai já o levava para os cabarés. Era por isso que desde pequeno eu sempre o acompanhava naqueles lugares. Confirmei com a cabeça e levantei sério. Não sabia bem que cara meu pai esperava de mim, mas com certeza não devia ser a cara de morte que estava exibindo. Eu estava suando por baixo das roupas. Se eu não conseguisse, a surra em casa seria garantida, mas o pior não era isso. A última mulher com quem não tinha consegui nem mesmo ficar duro,
**OBS:**É importante que fique claro que a cena descreve um crime de violência sexual infantil, ainda que a forma como o protagonista conta não tenha ênfase no assunto.Matteo Romano Naquela noite retornei para casa destruído. Eu simplesmente não conseguia tirar as imagens do meu pai em cima daquela pobre menina. Minha cabeça estava revirada e meu corpo trêmulo. Eu não conseguia parar de pensar no que seria dela. Queria poder voltar lá e tirar a garota de lá._ Entra nessa merdä! – Papa estava com muita raiva. Ele não conseguia entender qual era o meu problema._ Que porrä você está fazendo Matteo? – Ele me puxou pela roupa, quase batendo seu rosto no meu. A essa altura eu já nem estava sabendo porque ele estava com raiva._ Limpa esse seu rosto, seu filho de uma putä – Berrou muito enfurecido, me empurrando contra a porta ainda fechada do carro – Você é uma vergonha. Passei a mão no rosto, constatando o que nem tinha percebido. Meu rosto estava úmido. Não sei como aquilo ti
Lyra Müller _ Infelizmente essa mancha em seu pulmão possui caráter maligno._ O que? – Fiquei completamente sem reação. Fui ao médico por causa de uma tosse alérgica persistente e agora não sei como entender isso._ O senhor tem certeza disso? – Eu me sentia sadia demais para descobrir que estava morrendo._ Vou pedir mais alguns exames, mas as imagens são bem claras. Esse padrão de comportamento só ocorre nesse tipo específico de tumor. Ele tem um início rápido e possui uma progressão acelerada. Como pode ver aqui – Ele aponta para a tela do computador – Ele já comprometeu a sua pleura. Eu lamento muito ter que dizer isso, mas a senhora está diante de um tumor agressivo e o quanto antes começar a quimioterapia, mais chances terá de conseguir pelo menos retardar a evolução da doença._ Quimioterapia? – Meu mundo desmoronou diante dos meus olhos. Sai daquele consultório sem rumo e sem direção. Entrei no carro e nem sei por quanto tempo fiquei dentro dele. O médico me deu três mes
Lyra Müller Eu não podia guardar aquilo só pra mim. Precisava dividir com alguém e precisava ser alguém que não fosse da família. _ Eu não estou bem de saúde Louise – Admiti por fim – Apareceu uma mancha em meu pulmão e parece que é grave. Fui em dois médicos e ambos disseram que... não tenho muito tempo de vida. Foi muito difícil dizer aquilo. Parecia até que estava falando de qualquer outra pessoa, menos de mim mesma._ Como assim? E não dá para tratar? _ Não. Eles me passaram umas medicações, mas é apenas para prorrogar o irremediável. Eu estou me abrindo com você porque não tenho com quem fazer isso e preciso de ajudar. _ Não se preocupe. Pode contar comigo para tudo o que precisar. _ Eu não quero que diga nada a Brian. Eu não quero antecipar seu sofrimento, nem estragar a festa de casamento de minha irmã que está aproxima. _ Mas eles precisam saber. _ Não agora. Na hora certa eu vou conversar com eles – Expliquei e ela concordou comigo. Da clínica eu retorne
Matteo Romano _ As tradições precisam ser cumpridas – Antonelli, um dos velhos do conselho reclama em alto e bom som, se escorando no apoio que tem do restante do conselho. Ele não tem medo de mim, nenhum deles tem e isso é bom. Os deixam seguros, relaxados, embriagados pela falsa impressão de que possuem controle sobre mim. Papai costumava dizer que quanto mais se massageava o ego de um homem, mais dependente ele se tornava de reconhecimento. A vaidade era um vício a ser alimentado e constantemente tosado. _ A família é a base de tudo. É o centro e a motivação do coração de um homem e isso precisa vir antes de qualquer coisa – Continua Valério. Reestabelecer o conselho demandou algum esforço. Para meu irmão, o conselho era desnecessário, para mim, peças essenciais de manobra. A organização da máfia era isso, um tabuleiro de xadrez. Quanto mais peças, melhor. Claro que um movimento em falso poderia me colocar em cheque. Era assim que as coisas funcionavam e comigo não e
Matteo Romano O dia do casamento chegou. Chegamos no hotel as cinco da manhã, mas eu não me sentia cansado. _ Tem certeza de que vai fazer isso? – Fabrizio me olha da poltrona, observando eu ajustar o terno no corpo. _ Se fosse para não fazer, eu não teria vindo. _ Você é louco, Matteo – Ele ri. _ Ela está me esperando. _ Ela te respondeu alguma coisa? – Ele pergunta descrente e eu o fito por um momento. Penso em responder, mas me restrinjo a um sorriso curto. Ele não vai estragar meu bom humor. _ Acho que temos direito a uma conversa. _ Sequestrando ela? _ E tem alguma outra maneira de eu conseguir falar com ela de forma tranquila, sem que seu marido encha o saco? Só vamos passar uma noite juntos e não vou fazer nada que ela não queira. _ Além de sequestrá-la. _ Além de sequestra-la – Confirmo avaliando o caimento dos cabelos. _ Você não é louco, você é pirado – Ele diz ficando de pé, também se olhando no espelho. Contra fatos não dava pra argumentar. Eu a qu
Lyra MüllerA semana do casamento de Eduarda tinha chegado. Ela estava atarefada, precisando de mim como nunca, mas eu não estava em condições de lhe fazer companhia, então pedi a minha mãe que a ajudasse. Inventei um tanto de coisas a ela e para o meu alívio, minha mãe entendeu e ficou com Eduarda.As coisas entre Brian e eu não ficaram nada bem. Ele estava magoado e a culpa era minha. Brian não tinha como saber pelo que eu estava passando. Então eu liguei pra ele e pedi perdão, disse que minhas enxaquecas estavam piorando e prometi que iria ao médico. Ele também me pediu perdão. Meu coração se aqueceu com sua presença e a vontade de contar tudo o que estava acontecendo veio até a garganta.Brian era louco por mim, eu não conseguia me imaginar contando pra ele que logo eu já não estaria mais ao seu lado. Não conseguia nem pensar no sofrimento que lhe traria. Por mais que eu tentasse, não conseguia aceitar aquela situação.Mais uma vez eu apenas apertei seu braço e me encolhi ali, inc