Janne Romano(Cinco meses depois) Olho para o espelho terrivelmente chateada ao ver que já não entro mais em meus vestidos. Por mais que eu tente, já estou usando quarenta e dois. Aquilo me aborrece intimamente. Eu precisava admitir que estava exagerando nas massas e nos doces. Não dava para ficar comendo tudo o que aparecia pela frente enquanto meu marido a cada dia que passava continuava com o abdome trincado._ Que carinha é essa bambina? – Matteo pergunta assim que sai do banho com a toalha ainda presa nos quadris._ Eu estou engordando – Admito decepcionada._ Você está cada dia mais gostosa._ Matteo – Eu o repreendo irritada. Era por causa de suas conversas que eu me acomodava – Acabou. A partir de hoje só vou comer saladas._ Só precisa levar os treinos mais a sério._ Quanto mais eu treino, mais fome eu sinto._ Então vamos recontratar a nutricionista que você dispensou. _ Sim – Concordo decidida e ele segura o meu rosto beijando a minha boca ainda sorrindo._ Isso
Matteo Romano Janne tinha sérios problemas com seus traumas do passado. Segundo o endocrinologista, ela tinha predisposição para engordar e hipotireoidismo, o que só complicava um pouco mais as coisas, então me pergunto, o que ela passou na casa de seus tios para ficar tão magra. Só de pensar, sinto raiva por não ter estrangulado seu malditö primo. Tentei ajuda-la de algumas maneiras, mas não queria que isso parecesse forçado, pois poderia piorar suas preocupações. Eu não tinha medo de que engordasse, mas não suportava ver como ela se olhava no espelho. Parecia sempre magoada e insatisfeita e isso facilmente derrubava o seu humor. Ajoelhei diante dela e beijei sua barriga. Sei o quanto estava sendo egoísta em estar tão feliz naquele momento. O médico falou que gravidez gemelar, por si só já oferecia riscos, associado aos medos dela e a sua deficiência de hormônio, tudo se tornava ainda mais complicado, mas eu não podia evitar. Eram meus filhos que ela estava esperando, cara
23 anos depois _ Só me mostra quem foi? – Beatriz exige a prima mais nova, possuída de raiva. _ O de camisa branca – Aurora responde constrangida – Por favor, não faz nada, só vamos embora... _ Fica aqui – Beatriz se solta da prima que insistia em segurá-la e caminha até o aglomerados de garotos em volta de um carro esportivo de luxo. Era noite e como sempre naquele horário, o pátio da faculdade estava cheio de garotos idiotäs exibindo seus carros, bebendo, contando lorotas e paquerando garotas. _ Então é você o babac@ que saiu com a minha prima e depois espalhou pra todo mundo? – Ela encara o grupo de cinco rapazes altos e fortes, sem se deixar intimidar. _ Está falando comigo? – O rapaz de camiseta branca e calça jeans pergunta voltando sua atenção pra ela. O descaso com que ele olhou pra ela e fez a pergunta terminou de enfurece-la. Beatriz se considerava uma mulher calma, educada e realmente gentil, mas com aquele tipo de pessoa ela não tinha qualquer tolerância.
Matteo Romano(13 anos antes) _ Vá – Papai ordena. Meu coração naquele momento já estava estrangulado dentro do peito. A mulher olha pra mim, me avaliando com um sorrisinho safado, enquanto eu me esforçava para não deixar ninguém perceber o meu pânico. Não sei o que papa seria capaz de fazer se descobrisse que seu filho mais velho, que adorava exibir como troféu, estava tremendo como um frouxo. O pior é que eu já tinha idade. Já tinha quatorze anos e nada. Papai dizia que tinha perdido a virgindade dele com onze e que com sete, seu pai já o levava para os cabarés. Era por isso que desde pequeno eu sempre o acompanhava naqueles lugares. Confirmei com a cabeça e levantei sério. Não sabia bem que cara meu pai esperava de mim, mas com certeza não devia ser a cara de morte que estava exibindo. Eu estava suando por baixo das roupas. Se eu não conseguisse, a surra em casa seria garantida, mas o pior não era isso. A última mulher com quem não tinha consegui nem mesmo ficar duro,
**OBS:**É importante que fique claro que a cena descreve um crime de violência sexual infantil, ainda que a forma como o protagonista conta não tenha ênfase no assunto.Matteo Romano Naquela noite retornei para casa destruído. Eu simplesmente não conseguia tirar as imagens do meu pai em cima daquela pobre menina. Minha cabeça estava revirada e meu corpo trêmulo. Eu não conseguia parar de pensar no que seria dela. Queria poder voltar lá e tirar a garota de lá._ Entra nessa merdä! – Papa estava com muita raiva. Ele não conseguia entender qual era o meu problema._ Que porrä você está fazendo Matteo? – Ele me puxou pela roupa, quase batendo seu rosto no meu. A essa altura eu já nem estava sabendo porque ele estava com raiva._ Limpa esse seu rosto, seu filho de uma putä – Berrou muito enfurecido, me empurrando contra a porta ainda fechada do carro – Você é uma vergonha. Passei a mão no rosto, constatando o que nem tinha percebido. Meu rosto estava úmido. Não sei como aquilo ti
Lyra Müller _ Infelizmente essa mancha em seu pulmão possui caráter maligno._ O que? – Fiquei completamente sem reação. Fui ao médico por causa de uma tosse alérgica persistente e agora não sei como entender isso._ O senhor tem certeza disso? – Eu me sentia sadia demais para descobrir que estava morrendo._ Vou pedir mais alguns exames, mas as imagens são bem claras. Esse padrão de comportamento só ocorre nesse tipo específico de tumor. Ele tem um início rápido e possui uma progressão acelerada. Como pode ver aqui – Ele aponta para a tela do computador – Ele já comprometeu a sua pleura. Eu lamento muito ter que dizer isso, mas a senhora está diante de um tumor agressivo e o quanto antes começar a quimioterapia, mais chances terá de conseguir pelo menos retardar a evolução da doença._ Quimioterapia? – Meu mundo desmoronou diante dos meus olhos. Sai daquele consultório sem rumo e sem direção. Entrei no carro e nem sei por quanto tempo fiquei dentro dele. O médico me deu três mes
Lyra Müller Eu não podia guardar aquilo só pra mim. Precisava dividir com alguém e precisava ser alguém que não fosse da família. _ Eu não estou bem de saúde Louise – Admiti por fim – Apareceu uma mancha em meu pulmão e parece que é grave. Fui em dois médicos e ambos disseram que... não tenho muito tempo de vida. Foi muito difícil dizer aquilo. Parecia até que estava falando de qualquer outra pessoa, menos de mim mesma._ Como assim? E não dá para tratar? _ Não. Eles me passaram umas medicações, mas é apenas para prorrogar o irremediável. Eu estou me abrindo com você porque não tenho com quem fazer isso e preciso de ajudar. _ Não se preocupe. Pode contar comigo para tudo o que precisar. _ Eu não quero que diga nada a Brian. Eu não quero antecipar seu sofrimento, nem estragar a festa de casamento de minha irmã que está aproxima. _ Mas eles precisam saber. _ Não agora. Na hora certa eu vou conversar com eles – Expliquei e ela concordou comigo. Da clínica eu retorne
Matteo Romano _ As tradições precisam ser cumpridas – Antonelli, um dos velhos do conselho reclama em alto e bom som, se escorando no apoio que tem do restante do conselho. Ele não tem medo de mim, nenhum deles tem e isso é bom. Os deixam seguros, relaxados, embriagados pela falsa impressão de que possuem controle sobre mim. Papai costumava dizer que quanto mais se massageava o ego de um homem, mais dependente ele se tornava de reconhecimento. A vaidade era um vício a ser alimentado e constantemente tosado. _ A família é a base de tudo. É o centro e a motivação do coração de um homem e isso precisa vir antes de qualquer coisa – Continua Valério. Reestabelecer o conselho demandou algum esforço. Para meu irmão, o conselho era desnecessário, para mim, peças essenciais de manobra. A organização da máfia era isso, um tabuleiro de xadrez. Quanto mais peças, melhor. Claro que um movimento em falso poderia me colocar em cheque. Era assim que as coisas funcionavam e comigo não e