Capítulo 3

Lyra Müller

_ Infelizmente essa mancha em seu pulmão possui caráter maligno.

_ O que? – Fiquei completamente sem reação. Fui ao médico por causa de uma tosse alérgica persistente e agora não sei como entender isso.

_ O senhor tem certeza disso? – Eu me sentia sadia demais para descobrir que estava morrendo.

_ Vou pedir mais alguns exames, mas as imagens são bem claras. Esse padrão de comportamento só ocorre nesse tipo específico de tumor. Ele tem um início rápido e possui uma progressão acelerada. Como pode ver aqui – Ele aponta para a tela do computador – Ele já comprometeu a sua pleura. Eu lamento muito ter que dizer isso, mas a senhora está diante de um tumor agressivo e o quanto antes começar a quimioterapia, mais chances terá de conseguir pelo menos retardar a evolução da doença.

_ Quimioterapia? – Meu mundo desmoronou diante dos meus olhos.

    Sai daquele consultório sem rumo e sem direção. Entrei no carro e nem sei por quanto tempo fiquei dentro dele. O médico me deu três meses de vida, no máximo seis meses. Eu estava a beira da morte e não sabia.

    Como entender isso? Como digerir isso? Eu simplesmente não sabia. Pensei nos meus filhos. Meu deus! Meus filhos ainda eram pequenos. Ryan tinha apenas cinco anos e Beatriz quatro. Quem cuidaria deles? E Brian, meu esposo? O que aconteceria quando eu não estiver mais aqui? Como eu diria a ele que estava a beira da morte, que precisariam ser forte? Eu simplesmente não podia.

“Mãe, vá buscar as crianças na escola” – Mandei a mensagem para a minha mãe e voltei a chorar. Eu estava destruída.

    Jogada dentro daquele carro, eu pensei em ligar para minha irmã, mas ela estava ocupada com os preparativos para seu casamento, eu não podia estragar sua felicidade daquela forma.

    Já estava anoitecendo quando decidi enxugar o rosto e retornar para minha casa. Meu celular vibrou. Olhei na tela e vi que era uma mensagem de Matteo. Todos os dias ele insistia mandando suas mensagens, mesmo eu nunca as respondendo.

Cuore mio, mi manchi” – (Meu coração, estou sentindo sua falta) – Leio a mensagem e desligo a tela. Não sei como pode sentir minha falta se nunca lhe dei nenhuma atenção. Ele é no mínimo louco ou apenas tem prazer em se divertir com a minha cara.  

    Enxugo o rosto e retoco a maquiagem. Não posso passar a noite toda chorando ali. Ligo o carro pensando em milhões de coisas ao mesmo tempo e quando estou saindo da garagem, bato em um carro e o homem sai de lá me xingando.

_ Desculpa, eu sinto muito – Anoto os dados do homem, mesmo com ele me escroteando e retorno para casa tentando prestar mais atenção nas coisas. Não é porque eu estava com os dias contados que tinha o direito de sair causando o caos por onde passava.

    Peguei todos os remédios que o médico passou e os enfiei na bolsa. Não podia deixar que Brian visse aquilo. Dei um suspiro profundo e subi para minha casa.

    Olhei para os botões do elevador e por um momento esqueci até qual era o andar que eu morava. Meu deus! Em três meses eu estaria morta e enterrada. Talvez sobrevivesse por seis meses, mas quem sabe em quais condições.

_ Senhora Müller – Lola, a senhora que cuidava da minha casa, olhou pra mim certamente sem entender o que eu fazia parada no meio da sala.

_ Onde estão meus filhos? – Perguntei e antes que ela me respondesse, Beatriz apareceu na sala correndo para abraçar minhas pernas. Eu a apertei com força contra meus braços e não aguentei. Chorei muito.

_ Mãe. Por que a senhora está chorando? – Ryan perguntou me olhando com um de seus brinquedos na mão.

_ A minha cabeça está doendo um pouco, querido. Não é nada demais – Eu também o puxei para os meus braços e o abracei com força.

_ Lyra, querida, você está bem? – Minha mãe ainda estava me aguardando.

_ Bati o carro quando estava saindo da clínica e agora estou com uma terrível enxaqueca.

_ Tome seus remédios e tente descansar. Me encarregarei de dar o jantar da crianças e depois Lola pode coloca-las para dormir – Minha mãe olhou para Lola que concordou prontamente. Dulce, a babá das crianças tinha tirado aquele dia de folga.

    Fui para o quarto e tomando um banho demorado, coloquei uma camisola e me encolhi embaixo dos cobertores. Algo ali não podia estar certo. Eu não podia estar morrendo, eu era uma mulher muito saldável. Minha alimentação era regrada e mesmo com minha agenda lotada, eu sempre respeitava minhas atividades físicas. Eu não podia aceitar isso. Eu não fumava, eu praticamente não bebia, eu não era uma pessoa rüim. Meu deus, aquilo não tinha como ser verdade.

    Quando Brian chegou aquela noite, fingi que estava dormindo. Ele não tentou me acordar. Tomou seu banho, passou um bom tempo fora do quarto e quando voltou já era quase meia noite. Ele ainda me abraçou, mas eu apenas fingi que estava dormindo e logo ele adormeceu. Ele pegava no sono muito rápido.

     Aquela noite eu simplesmente não consegui dormi. Vi o dia amanhecer sem conseguir pregar os olhos. Eu já nem estava mais preocupada com a minha morte e sim com os meus filhos.

      Levantei bem cedo e sai antes que Brian levantasse. Eu não queria que ele percebesse nada. Então apenas fugi dele e fui para o escritório.

     Quando passei por Louise, minha secretária e assistente pessoal, pedi que me acompanhasse até minha sala. Luise Cepagatti era uma garota de vinte anos que tinha passado por muitos problemas, tendo perdido a mãe de forma bem trágica e agora vivia com sua irmã. No começo tive dificuldades em compreender a situação dela, mas hoje a vejo e a trato como se fosse minha própria irmã, pois sua trajetória de vida foi, de certa forma, parecida com a minha.

_ Desmarque toda a minha agenda desta semana.

_ Toda? – Ela me olhou surpresa.

_ Sim e não agende nenhuma viagem ou compromisso sem antes me consultar.

_ Está certo – Ela concordou sem fazer perguntas e quando me deu as costas para deixar a sala, eu a chamei.

_ Eu gostaria de que me acompanhasse em uma consulta. Pode ser?

_ É claro – Ela concordou prontamente. Por mais que eu tivesse tentando, não conseguia aceitar aquele diagnostico, então peguei os exames que tinha realizado e segui para uma outra consulta. Louise foi dirigindo. Para o meu alivio, ela era uma garota discreta e não me fez nenhuma pergunta.

    Entrei no consultório sozinha e quando entreguei os exames que tinha feito, para a médica oncologista, as palavras dela foram as mesmas do médico anterior. Ela disse que precisaria fazer a biopsia e começar a quimio e a radioterapia.  

    Ela agendou um retorno, me dando um tempo para absorver a notícia e pediu que eu retornasse acompanhada nas próximas consultas. Eu expliquei a ela que já estava fazendo um tratamento com outro médico e que só tinha marcado aquela consulta porque queria um segundo parecer. 

    Desta vez eu não chorei. Retornei para o carro completamente destruída e vazia e quando me sentei, pedi a Louise que me levasse de volta para o escritório.

_ Aconteceu alguma coisa Lyra? – Ela perguntou, mas não consegui olhar no rosto dela. Eu estava derrotada.

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