Capítulo 7

Lyra Müller

A semana do casamento de Eduarda tinha chegado. Ela estava atarefada, precisando de mim como nunca, mas eu não estava em condições de lhe fazer companhia, então pedi a minha mãe que a ajudasse. Inventei um tanto de coisas a ela e para o meu alívio, minha mãe entendeu e ficou com Eduarda.

As coisas entre Brian e eu não ficaram nada bem. Ele estava magoado e a culpa era minha. Brian não tinha como saber pelo que eu estava passando. Então eu liguei pra ele e pedi perdão, disse que minhas enxaquecas estavam piorando e prometi que iria ao médico. Ele também me pediu perdão. Meu coração se aqueceu com sua presença e a vontade de contar tudo o que estava acontecendo veio até a garganta.

Brian era louco por mim, eu não conseguia me imaginar contando pra ele que logo eu já não estaria mais ao seu lado. Não conseguia nem pensar no sofrimento que lhe traria. Por mais que eu tentasse, não conseguia aceitar aquela situação.

Mais uma vez eu apenas apertei seu braço e me encolhi ali, incapaz de dar uma notícia tão horrenda, incapaz de aceitar que me olhasse como uma moribunda. Brian sempre disse que se orgulhava de mim por ser uma mulher forte e não conseguia aceitar desfazer essa imagem que tinha de mim. Eu estava doente, estava morrendo e ter consciência disso estava me matando mais que a própria doença.

_ Lian está ocupado com os preparativos para o casamento, então terei que assumir os negócios essa semana – Brian fala acariciando meus cabelos – Mas já falei com Louise e pedi a ela que te leve no médico.

_ Tudo bem. Não quero que se preocupe – Falei ainda aninhada em seus braços.

Apesar de tudo, eu não podia reclamar de nada em minha vida. Eu tinha sido feliz, muito feliz. Tinha um marido maravilho e filhos saudáveis. Meu lar era um lugar abençoado e eu tinha alcançado o sucesso no trabalho. Eu amava minha irmã mais do que qualquer coisa e também amava a minha mãe. Dizem que a vida nunca é perfeita, mas a minha era, pois eu tinha tudo o que eu amava e me sentia completa e grata por isso.

Eu não queria acreditar que estava morrendo, não conseguia aceitar isso, mesmo com todos os sinais aparecendo a cada dia que passava. Meu peso tinha diminuído, meus cabelos estavam frágeis. Eu tinha até medo de pentear meus cabelos. Mas eu não tinha o direito de reclamar. Minha vida estava sendo curta, bem mais curta do que eu gostaria, então quando Brian deixou o nosso quarto aquele dia, eu fiz uma oração e pedi misericórdia, pedi por mais dias, mas também agradeci por tudo o que já tinha recebido.

Louise apareceu para irmos ao médico, mas lhe dei uma nova desculpa e saí com meus filhos. Fomos para o parque e passamos a tarde toda juntos. Ryan e Beatriz se divertiram muito e a tarde foi realmente agradável. Tanya e Louise também nos acompanharam. Louise tinha se mostrado um verdadeiro anjo na minha vida. Ouvia minhas lamentações e aguentou meus choros sempre em silêncio, me entregando sempre uma palavra amiga.

Dois dias depois fui novamente experimentar meu vestido. Eu não bebi mais os remédios aquela semana, pois eles me deixavam realmente mal e porque eram eles que estavam fazendo meus cabelos cair e isso acabava comigo.

O vestido era lindo, pena que eu estava muito magra, então tive que novamente reajustar a cintura, mas tirando isso, estava perfeito.

A festa de casamento de Eduarda não podia ter sido mais linda. Fiquei sem tomar as medicações, pois me deixavam tontas. Naquele dia, decidi que não lembraria mais daquele assunto e apenas aproveitaria minha vida.

_ Matteo Romano está te aguardando lá embaixo para te levar a igreja – Minha mãe falou e por um momento achei que estava imaginando coisas.

_ Eu estou de carro – Respondi a ela em um tom firme e desci me sentindo tensa. Como se não bastasse o inferno que estava vivendo, aquele homem ainda insistia em atormentar o meu juízo.

O impacto de me deparar com ele na sala foi mais severo do que eu estava preparada. Meu corpo inteiro se agitou diante da presença dele e eu me odiei terrivelmente por isso. Ele desceu lentamente seus olhos por meu corpo, como se eu fosse alguma pretendente ao seu alcance.

Ergui a cabeça e passei por ele sem lhe dirigir qualquer palavra. Ele também não disse nada. Meu coração estava tão acelerado que poderia sair pela boca. Eu realmente não estava preparada para vê-lo. Achei que Lian tivesse proibido a presença dele no casamento.

Matteo Romano tinha plena consciência de sua m*****a beleza e achava que isso lhe dava algum direito de fantasiar coisas. Tenho certeza de que era em sua beleza que ele se confiava, pois além de beleza, ele não tinha nada. Um homem com um mínimo de respeito, não dava em cima de mulheres casadas. Eu nunca tinha lhe dado nenhuma liberdade para agir do jeito que agia comigo.

Com certeza se achava um homem irresistível e achava que isso era suficiente para confundir a cabeça das mulheres, mas eu era uma mulher casada e muito bem-casada e tinha dois filhos que amava mais do que qualquer coisa nesse mundo e jamais trairia minha família por um caso extraconjugal, só porque o cara não entendia o que significava respeito.

Entrei no meu carro e Louise e Tanya também vieram comigo.

_ Você parece muito bem hoje – Disse Louise.

_ Eu estou. Hoje é um dia muito especial na vida de minha irmã – Disse com um sorriso leve e mais tranquilo. Logo estaria na igreja e assim que a cerimônia religiosa acabasse, ficaria ao lado de Brian e não teria nenhum motivo para prestar atenção em Matteo novamente. Eu definitivamente não confiava nele.

Infelizmente tive que entrar na igreja ao lado de Matteo, já que ele substituiu o lugar do irmão como o padrinho de minha irmã. Nunca perdoaria Eduarda por ter escolhido um Romano como padrinho. Para meu alívio, Brian não criou confusão e Matteo não tentou se aproximar mais que o necessário. Tudo seguiu da forma mais tranquila possível e isso me deixou mais calma. Brian ficava extremamente nervoso quando me via perto de Matteo.

Após a despedida dos noivos, seguimos para o salão de festas. Eu estava um pouco fraca, mas bastante animada. Ryan e Beatriz tinha ficado com a babá em casa, por se tratar de uma festa de adultos.

Não era de beber, mas peguei a taça e propus um brinde. Luise brindou conosco. Uma música animada começou a tocar e ela puxou o meu braço insistindo que eu deveria dançar. Eu só tinha tomado duas taças do champagne, mas já estava me sentindo um pouco tonta.

_ Ah não. Não vou arriscar. Vá com ela – Disse a Brian sorrindo. Tanya já estava de pé – Nós viemos nos divertir e é isso que quero.

Brian me olhou pensativo e Louise puxou a mão dele. Aquilo me causou uma sensação estranha, mas fingi que estava tudo bem. Meu fôlego ameaçou faltar e toda a alegria que estava sentido pareceu se transformar em uma sensação de náuseas.

A vida era mesmo uma piada cruël. Nunca imaginei em toda a minha vida que veria meu marido dançando com outra mulher na minha frente e não faria nada. Eles não estavam se agarrando, nem beijando, mas perceber que ele levantou da mesa e me deixou sozinha para fazer companhia a ela, por mais que fosse apenas por uma dança, me magoou de um jeito desconcertante.

Eu sabia que estava sendo exagerada. Que se realmente amasse meu marido, estaria feliz em vê-lo feliz, mas eu era mesquinha e pequena. Vê-lo feliz quando eu estava a beira da morte, não foi algo agradável. Na verdade foi perturbador.

Levantei da mesa e fui ao banheiro feminino. Me sentindo enjoada, fui ao vaso e vomitei tudo o que tinha bebido e comido até aquele momento. Eu estava cada dia pior e a vontade que sentia era a de por logo um fim em tudo aquilo.

Tonta, cai sentada no piso do banheiro e fechei os olhos. Minha visão foi perdendo o foco e quando me dei por mim, alguém já me erguia do chão. Abracei o homem na certeza de que era meu marido e deixei que ele me tirasse dali.

Um casaco foi colocado sobre meu rosto, mas não me incomodei. Na verdade me senti mais protegida. Não queria que as pessoas soubessem quão deplorável eu estava.

_ Por que está chorando assim? – A voz do homem não era a de Brian. Ele puxou o casaco e mesmo com a visão duplicada, pude ver o rosto de Matteo Romano diante dos meus olhos.

_ Matteo? – Eu soltei seu pescoço, mas suas mãos me seguraram. Ele sorriu pra mim e eu tentei me levantar de seu colo, mas meu corpo estava pesado e fraco.

_ Está tudo bem. Logo o efeito da bebida que ingeriu vai passar – Ele avisou em um tom de voz tranquilo e o sono foi tomando de conta do meu corpo, me fazendo apagar por completo.

 

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