Janne di Santis Dizem que pelo menos uma vez na sua vida, a sorte bate em sua porta. Meu pai me disse isso e eu sempre aguardei a minha. Jurei a mim mesma he que na primeira batida, não pensaria duas vezes em arreganhar as portas. Eu não vou matar, nem roubar, nem distribuir drogas, eu só vou ter que pousar de esposa por dois anos. Isso é moleza, digo, o que eu teria que fazer para conseguir cinco milhóes de euros? Não dava para ficar se lastimando por vender dois anos da minha vida. Aperto a campainha do apartamento de Dulce pela terceira vez consecutiva, eu preciso urgentemente contar tudo a ela._ Me diga que alguém morreu ou eu juro que vou arrancar seu dedo fora – Ela fala e eu pulo nos braços dela dando gritinhos._ O que foi? – Ela fica agitada e eu a solto para fechar a porta._ Você está sozinha?_ É claro, dããã... – Bufa, pois a única visita que costuma receber, era eu – Conta logo._ Olha... – Falo diminuindo a altura da voz – É super, mega, hiper confidencial. Ti
Lyra Müller Alguém buzina atrás de mim, me trazendo de volta ao trânsito. Ninguém quer saber se sua vida desmoronou ou se te fizeram de trouxa, o mundo não para. Simples assim. Tento me concentrar no transito, pelo menos até chegar em casa, mas minha cabeça parece um tornado desgovernado. Raiva e desespero parecem dispostos a me levar a loucura. Giro o volante para cortar caminho e bato de frente com outro carro. Tudo é tão rápido... Minha visão escurece e as imagens se retorcem diante dos meus olhos. Acho que matei alguém. Alcanço a maçaneta da porta, contudo não encontro forças para sair do automóvel. A porta se abre e vejo um homem de terno escuro colocar a mão no meu pescoço._ A senhora está me ouvindo? – Ele pergunta me observando. Vejo algumas tatuagens em seu pescoço, entre ela um crânio com duas letras, uma sobre posta na outra, “CN”, ou algo assim. Eu concordo com a cabeça e logo a ambulância para ao nosso lado. Sou conduzida direto para o hospital, mesmo e
Lyra Müller Após a alta hospitalar fui com Brian para sua casa. Meu coração estava rasgado, minha alma pisoteada. Eu tinha plena consciência de que Brian, assim como eu e assim como meus filhos, éramos vítimas de um plano maligno daquela família doentia. Os Romanos eram doentes. Essa era a única certeza que eu tinha, mas nem mesmo essa certeza conseguia amenizar a mágoa que estava sentindo em meu peito. Sei que Brian tinha sido envenenado por fotos, afrontado pelo meu sequestro, mas meu coração estava rachado, para não dizer estilhaçado. Eu não conseguia nem mesmo olhar pra ele enquanto estava dirigindo. Doía ter que aceitar que minha palavra não significava nada. Doía ter consciência de que tinham destruído a minha vida e eu não sabia o que fazer para reparar os danos, principalmente quando os piores danos estavam dentro de mim. Fizemos todo o trajeto em silêncio e quando chegamos em casa, fui direto para o quarto de Ryan, onde Beatriz também estava dormindo. Deitei com
Lyra MüllerLian era o capo da máfia novaiorquina e Brian, além de seu primo, era como seu braço direito. Ele aguardou que eu fizesse o pedido, mas eu pedi apenas um suco. Ele também se restringiu a pedir apenas uma bebida. Lian era um homem muito bom, “para minha irmã e para sua família”, mas agora eu sinceramente não sabia até onde ele me considerava como família. Isso era importante, pois o apoio dele pesava diretamente em qualquer assunto da família e eu tinha plena consciência disso. _ Eu acredito que tenha uma ideia do que está acontecendo – Falo e ele me observa sem dizer nada. A sensação é desconfortante – Você também acha que estou traindo meu marido? – Não consigo evitar a pergunta._ Um homem com ciúmes perde a capacidade de ver e raciocinar. Matteo Romano já mostrou que sabe disso e está brincando com seu marido._ Você falou com ele?_ Brian ligou pra ele._ E o que ele disse? – Meu coração quase parou. Era como se outra faca estivesse apontada para o meu peito, preste a
Janne di Santis Madonna Mia! Eu futuquei o cü do diabö quando assinei aquele contrato. Todo mundo veio com tudo pra cima de mim e não foi só a nonna e a megera não, até os empregados queriam a minha cabeça. O sr. Matteo pediu que eu me sentasse junto com eles no café da manhã e soltou a bomba. Depois disso, minha vida se tornou um verdadeiro pesadelo._ A empregada? – A sra. Geovana foi a primeira. Ela fala como se trabalhar fosse motivo de vergonha. O senhor Matteo lança um olhar assassino pra ela, do tipo que eu no seu lugar teria evaporado, mas ela continua olhando pra ele como se esperasse por uma explicação._ Janne danadinha… - O sr. Luigi, esposo da sra. Diana fala com um sorriso malicioso no rosto, me olhando de um jeito que não sabia onde enfiar a minha cara. _ Parece que foi uns chás que andou servindo – Diz Fabrizio com um sorriso ainda mais descarado._ Eu não sabia que Matteo gostava de chá – Continua o sr. Luigi sem tirar os olhos de mim._ O da Janne é di
Janne de Santis O sr. Matteo entra na sala, como sempre acompanhado por Fabrizio, seu cão de guarda. Os dois estavam quase sempre juntos. Levanto rápido e eles me olham com certa surpresa. Digo que preciso conversar e o sr. Matteo abre a porta, fazendo sinal para que eu entre. Para minha infelicidade, Fabrizio entra logo atrás._ O que aconteceu? – O sr. Matteo pergunta assim que se senta e mesmo sem olhar para trás, sei que Fabrizio também está me olhando._ Eu pensei melhor e infelizmente não vou poder aceitar a proposta que o senhor me fez. Esse história de casamento é bem mais complicada do que eu imaginei e infelizmente não terei como fazer isso. Eu sinto muito._ Janne – O sr. Matteo chama meu nome e eu quase entalo – Você leu o contrato que assinou? – Ele olha para o primo e eu sinto a tensão subir em minhas costas._ Ela leu – Fabrizio garante antes que eu possa responder._ Eu li, só que não vai dar pra mim. Sinto muito mesmo._ Se leu, então deveria saber que no contrato
Lyra Müller Chego em casa, troco de roupas e vou para a piscina com as crianças. Não vou voltar a me trancar e chorar como uma idiota só porque Brian decidiu se preocupar mais com a vagabunda que acabou com a minha vida, em vez de se preocupar comigo. Ryan e Beatriz pulam junto comigo na água. Ryan puxa Beatriz para o fundo, mesmo sabendo que ela tem medo. Beatriz começa a chorar e eu puxo Ryan pelo braço com força. Ele faz uma careta e eu solto seu braço tentando me acalmar._ Não faça esse tipo de brincadeira com sua irmã e não façam muita bagunça. A mamãe não está bem – Falo sentando Beatriz na borda da piscina._ O que aconteceu? – Ele pergunta e eu olho para o bracinho dele e vejo que está vermelho por causa da agressividade com que o puxei. Beatriz me abraça, passando as mãos nos meus cabelos com carinho._ Me desculpa – Peço com meu coração dolorido. Não era em meus filhos que deveria estar descontando minha raiva._ Mãe, eu quero nadar – Beatriz abraça meu pescoço
Lyra Müller Eduarda vai embora e fico pensando sozinha. Pego no telefone pelo menos umas dez vezes pensando em uma desculpa só para saber onde Brian está, mas desisto todas as vezes. Não consigo aceitar que depois de tudo sou eu que vou ficar correndo atrás dele. Não é fácil engolir isso. Saio da piscina junto com as crianças, troco de roupas, ajudo a montar a mesa do chá da tarde, tento pensar em qualquer coisa, menos no fato de que Brian não ter aparecido, nem ter ligado. Olho no relógio e quando percebo que ele está demorando, decido finalmente ligar. Penso em qualquer desculpa para falar com ele. Tudo o que consigo pensar é se ele ainda está com ela. Uma parte de mim se recusa a acreditar. Brian não era o tipo de homem que traia. Nunca foi. Ele podia ter mil defeitos, mas nunca me deu real motivos para desconfiar dele._ Alô – Uma voz feminina atende a ligação - Lyra? – Meu corpo adormece quando reconheço a voz de Louise. Olhei novamente para meu celular só para