Matteo Romano
_ As tradições precisam ser cumpridas – Antonelli, um dos velhos do conselho reclama em alto e bom som, se escorando no apoio que tem do restante do conselho. Ele não tem medo de mim, nenhum deles tem e isso é bom. Os deixam seguros, relaxados, embriagados pela falsa impressão de que possuem controle sobre mim.
Papai costumava dizer que quanto mais se massageava o ego de um homem, mais dependente ele se tornava de reconhecimento. A vaidade era um vício a ser alimentado e constantemente tosado.
_ A família é a base de tudo. É o centro e a motivação do coração de um homem e isso precisa vir antes de qualquer coisa – Continua Valério.
Reestabelecer o conselho demandou algum esforço. Para meu irmão, o conselho era desnecessário, para mim, peças essenciais de manobra. A organização da máfia era isso, um tabuleiro de xadrez. Quanto mais peças, melhor. Claro que um movimento em falso poderia me colocar em cheque. Era assim que as coisas funcionavam e comigo não era diferente.
Para passar despercebido por eles, tive o cuidado de nomear famiglias com antigas rixas, garantindo que gastassem o tempo deles alfinetando um ao outro enquanto me movimentava entre eles sem grandes problemas, contudo, meu casamento era um ponto de consenso geral. Eu precisava me casar e eles tinham pressa.
_ Um capo solteiro, não passa confiança – Bufou outro – Além disso, não há nenhum motivo para que o senhor permaneça solteiro.
Casamentos na máfia era um caminho de ida sem volta. Não dava para devolver a esposa depois do casamento consumado, afinal, se algo não estivesse como o combinado, no mínimo, a vida da garota seria cobrada. Isso se a família inteira não pagasse o preço da desonra. Era justamente por isso que as famiglias se preocupavam tanto com a pureza de suas filhas. A virgindade costumava ser um pré-requisito da grande maioria dos noivos.
_ O baile de San Jorgino já está sendo organizado – Diz Danti – Será uma boa oportunidade para anunciar o nome de sua futura esposa.
_ Certamente – Concordei por fim, já entediado com aquele assunto. Casar era apenas mais uma formalidade que de fato precisava ser cumprida.
Levantei da poltrona dando o assunto por encerrado e deixei o salão em silêncio. Fabrizio me seguiu sem dizer nada. Ele sabia que aquele não era um assunto que me preocupava. Eu precisava de uma esposa apenas para cumprir protocolos. A mulher que eu queria, estava em Nova Iorque, casada e com dois filhos. Ela sim, demandaria um pouco de trabalho.
Com as moças da máfia, minha única preocupação seria garantir que fosse silenciosa e submissa. Há alguns anos atrás, essas eram as características marcantes de nossas moças, hoje, nem tanto.
Fabrizio e Petta apareceram com fotos de todas as garotas da máfia em idade de casar e Luna com Kate derramaram seus relatórios sobre cada uma delas.
Desde que meu pai estuprou aquela garota na minha frente, eu nunca mais consegui olhar para mulheres como as que estava vendo naquelas fotos, com cara de virgens a serem reivindicadas. Só de pensar eu sentia repulsa. Isso não funcionava em mim como fetiche, porque me trazia lembranças de um passado que não conseguia superar. Um passado que me recusava a superar, pois era a única coisa que de fato me diferenciava dele.
_ Isso não vai funcionar – Empurro as fotos já sem paciência e puxo a gravata me sentindo sufocado.
_ Matteo – Fabrizio bufa fazendo uma careta e eu empurro na garganta uma boa dose de bebida.
_ Vocês estão dispensados – Deixo os três no escritório e vou para o meu quarto. Tiro a roupa e entro no banho.
“Infernö” – Me apoio na parede enquanto a água desce por meu corpo nu. Por mais que eu tente, não consigo pensar em construir uma família de verdade. Eu não tinha esse direito.
Fecho os olhos tentando tirar meus fantasmas da cabeça e pra isso penso em Lyra, molhada, dentro da piscina, com seu corpo colado no meu. Ela é a única que consegue limpar a minha mente. Lyra é como um anestésico sobre um ferimento exposto.
Lembro da minha boca contra a dela na piscina e já estou massageando o meu paü, fugindo do abismo obscuro em que me encontrava. Sua boca gostosa e quente, seu cheiro... caralh#o. Pensar nela me excita de um jeito viciante, me ascende, me enlouquece e por mais que seja casada, não me sinto culpado. As sensações que ela desperta em mim, me tiram completamente do eixo.
“Drogä” – Eu precisava resolver minha situação com ela. Não estava sendo nada engraçado ficar me enganando com outras.
Deixei o banheiro frustrado. Ter consciência de que a mulher que eu queria estava na cama de outro era de adormecer a porra dos nervos e isso acendia um alerta de que eu precisava me acalmar. Eu não era o tipo de pessoa que sabia drenar raiva. Ela se acumulava me deixando vulnerável a atitudes mais incisivas e com Lyra eu precisava ser um pouco mais paciência.
Olho para cama e vejo Geovana nua deitada nela. Olhei para a porta, me dando conta de que a tinha esquecido aberta. Com Geovana não dava para vacilar.
_ Não vai conseguir fugir de mim pra sempre – Ela fala sorrindo.
_ O que você quer Geovana? – Pergunto ignorando sua nudez já conhecida.
_ O que você acha?
_ Eu não estou brincando.
_ Nem eu – Ela fala ficando de pé, vindo em minha direção – Soube que vai precisar se casar – A mão dela acaricia meu abdome e depois desce até meu membrö. Antes isso me deixava louco, hoje nem tanto.
_ Sabe que não vai ocupar essa vaga, não é mesmo? – Digo o óbvio, no intuito de alfinetá-la. Anos antes, era ela quem tinha debochado da ideia, agora era a minha vez de me divertir com o assunto.
_ Eu não tenho tal pretensão, mas posso te ajudar a escolher alguém.
_ É mesmo? E quais seriam os seus critérios? – Pergunto tirando a mão dela do meu paü.
_ Anna Caruso. Ela é filha de uma das famiglias mais poderosas e é visivelmente submissa. Você conseguiria facilmente conduzi-la sem grandes problemas.
_ Conduzi-la? – Digo em um tom zombeteiro. Eu sabia muito bem qual era a preocupação de Geovana em me conseguir uma mulher submissa.
_ Pode me recriminar, mas sabe que estou certa. Escolha uma mulher submissa, mesmo que isso te desagrade.
_ Não estou com saco para ficar brincando de escolher esposas – Admito terminando de vestir a calça.
_ Matteo... – Ela me puxa pelo braço com força _ Por quanto tempo vamos continuar assim? – Ela me imprensa contra a parede e beija meu tórax. Seus cabelos deslizam contra minha pele e sua boca começa a traçar um caminho perigoso.
Eu a seguro pelos cabelos, antes que ela assuma o controle. Vejo suas pupilas dilatadas e a boca entreaberta. Está excitada.
_ Seu brinquedinho está indisponível no momento – Falo com meu rosto perto do seu e ela ergue a cabeça mordendo meu queixo.
Sua mão novamente aperta meu membrö por cima da calça e eu solto um rosnado rouco. Eu tinha que reconhecer que sua mão era habilidosa e que ela sabia me atiçar.
_ Eu estou duro assim, mas não é por sua causa. Eu estava batendo uma no banheiro, pra ela – Digo ciente de que ela sabe que estou falando de Lyra e vejo que minhas palavras surtem efeito imediato, pois ela me empurra.
Eu começo a sorrir de seu comportamento e ela sai do quarto enfurecida.
Geovana era perigosa, ela achava que ainda tinha sua coleira no meu pescoço e se irritava quando percebia que as coisas tinham mudado.
Matteo Romano O dia do casamento chegou. Chegamos no hotel as cinco da manhã, mas eu não me sentia cansado. _ Tem certeza de que vai fazer isso? – Fabrizio me olha da poltrona, observando eu ajustar o terno no corpo. _ Se fosse para não fazer, eu não teria vindo. _ Você é louco, Matteo – Ele ri. _ Ela está me esperando. _ Ela te respondeu alguma coisa? – Ele pergunta descrente e eu o fito por um momento. Penso em responder, mas me restrinjo a um sorriso curto. Ele não vai estragar meu bom humor. _ Acho que temos direito a uma conversa. _ Sequestrando ela? _ E tem alguma outra maneira de eu conseguir falar com ela de forma tranquila, sem que seu marido encha o saco? Só vamos passar uma noite juntos e não vou fazer nada que ela não queira. _ Além de sequestrá-la. _ Além de sequestra-la – Confirmo avaliando o caimento dos cabelos. _ Você não é louco, você é pirado – Ele diz ficando de pé, também se olhando no espelho. Contra fatos não dava pra argumentar. Eu a qu
Lyra MüllerA semana do casamento de Eduarda tinha chegado. Ela estava atarefada, precisando de mim como nunca, mas eu não estava em condições de lhe fazer companhia, então pedi a minha mãe que a ajudasse. Inventei um tanto de coisas a ela e para o meu alívio, minha mãe entendeu e ficou com Eduarda.As coisas entre Brian e eu não ficaram nada bem. Ele estava magoado e a culpa era minha. Brian não tinha como saber pelo que eu estava passando. Então eu liguei pra ele e pedi perdão, disse que minhas enxaquecas estavam piorando e prometi que iria ao médico. Ele também me pediu perdão. Meu coração se aqueceu com sua presença e a vontade de contar tudo o que estava acontecendo veio até a garganta.Brian era louco por mim, eu não conseguia me imaginar contando pra ele que logo eu já não estaria mais ao seu lado. Não conseguia nem pensar no sofrimento que lhe traria. Por mais que eu tentasse, não conseguia aceitar aquela situação.Mais uma vez eu apenas apertei seu braço e me encolhi ali, inc
Lyra MüllerNão sei por quanto tempo eu dormi. Os braços de Brian me abraçavam como um polvo. Não tínhamos costume de dormir abraçados. Ele até que tentou no começo de nosso casamento, mas nunca deu certo. Sempre fui espaçosa na cama e gostava de liberdade. Eu até tentava pegar no sono, mas meu braço doía, ou eu ficava mudando de posição. Resumindo, eu não dormia até estar completamente solta na cama.Eu apertei ele com carinho e quando fiz isso senti algo estranho. O abdome dele parecia tão firme que tive que passar a mão para ter certeza e quando fiz isso, ele colocou sua mão sobre a minha. Brian era vaidoso, tinha o corpo em forma, mas não ao ponto de estar tão definido.Ergui o corpo porque precisava ver a mágica que tinha acontecido ali e quando vi, franzi o cenho confusa. Olhei para o rosto do homem com tórax despido ao meu lado e minha cabeça quase deu um nó quando vi Matteo Romano olhando pra mim._ Bom dia, princesa – Falou me despertando do transe que cai e minha reação foi
Matteo RomanoEla diz que está com câncer e por um momento não sei como lhe dar com isso. Não consigo acreditar em uma porra dessas, mas também não posso acreditar que ela esteja brincando com isso. Aquela notícia foi como um tiro no meio do meu peito. Não sei o que vou fazer se isso for verdade.Depois que se troca no banheiro, seus cabelos estão novamente organizados e o vestido perfeitamente ajustado ao corpo. Avalio seu corpo magro e sinto um aperto desconfortável no peito. Eu precisava dar um passo a frente em nossa relação, precisava explicar que em breve me casaria e que por isso não iria mais receber minhas mensagens. Eu precisava sentir suas reações e a deixar a par de meus planos. Ela não era imune a mim, mas tinha uma resistência deliciosa.Talvez meu sumiço não significasse nada pra ela, mas eu gostava de pensar que significava. Gostava de ver como se comportava em seu escritório quando recebia minhas mensagens. Ela não tinha a menor ideia de que eu tinha uma câmera em seu
Lyra Müller Retorno para minha casa muito feliz. Feliz como se tivesse renascido. Uma felicidade tão grande que explodia meu coração. Tudo o que eu queria era encontrar meus filhos e meu esposo e dizer o quanto euos amava e o quanto era grata por terem eles na minha vida. Entro no meu apartamento e quando vejo minha mãe e meus filhos, eu os abraço com muita força e choro de tanta felicidade._ Onde esteve Lyra? – Minha mãe pergunta com o semblante preocupado – Seu marido estava te procurando como um louco – Ela fala e um frio transpassa por minha barriga. Brian entra na sala e a sua cara não é de boas-vindas. Ele me olha de cima a baixo e sem dizer nada sobepara o quarto. Eu sinto um nó esquisito na minha garganta, diferente de qualquer coisa que já tenha sentido antes. Entro no quarto e Brian está de pé diante da janela. Fecho a porta e ele se vira pra mim._ Passou a noite com ele? – Percebo ele novamente olhando para minhas roupas. Meu coração subiu para a boca.
Lyra Müller Naquela noite fui dormir pensando em tudo o que tinha acontecido. Era inegável que a culpa de tudo o que tinha acontecido na minha vida era de Matteo. Aquela conversa furada de que só queria dizer que iria se casar não passava de um pretexto para terminar de acabar com meu casamento. Aquilo agora era tão óbvio que me fazia sentir uma completa idiota. Ele com certeza decidiu que se não me teria, destruiria minha vida. Era assim que mafiosos agiam, destruíam tudo o que não lhes pertenciam. Tudo aconteceu de forma tão inesperada que ainda não sei como chegou a esse ponto. Matteo tinha passado três meses me atormentando. Não consigo acreditar que nada que venha dele possa ser bom – Digo a mim mesma quando lembro a forma como se preocupou ao descobrir que eu estava doente. Talvez fosse um bom ator, ou apenas educado o suficiente para enfiar a faca no meu peito e ainda parecer gentil. Não sei nem o que pensar. A ideia diabólica de que ele podia estar por trás de
Bellano - ItáliaJanne de Santis (Narrando) – Um mês antes. O que dizer a meu respeito? Não sou bonita, nem rica e nem legal. É triste ter que admitir isso, mas pior ainda é viver iludida com o contrário, como minhas primas que não aceitam o fato de serem tão pobres quanto eu. Digo pobre porque precisamos trabalhar para sobreviver, já que o dinheiro não cai do céu._ Você vai ficar responsável pelo almoço e pela limpeza da casa – Roberta fala antes de sair de casa. Aquilo me dá uma raiva tão grande que meu corpo adormece. Tudo bem que sou a única que está desempregada, mas se vou ficar responsável pela casa e pelo almoço, então eu também deveria receber uns trocados delas, mas nem adianta eu me iludir com isso, porque nem Roberta, nem Vivian vão gastar um mísero centavo comigo. Elas já acham que ganho muito por estar morando de favor na casa delas. Retiro a carne congelada do frízer e a jogo na pia. Eu não sou legal, não gosto de ser legal. Na verdade eu odeio ser
Janne di Santis Minha nossa senhora das gordinhas esquecidas, aquilo não era uma casa, era um castelo fora da cidade._ Lembra que eu falei que o emprego era quase perfeito – Dulce cochicha no meu ouvido. Ela estava de folga aquele dia e me levou em seu carro na entrevista._ Não – Eu não era boa em processar pontos negativos. Geralmente quando me empolgava com as coisas esquecia de lembrar que nem tudo era flores._ Então. Essa família é muito famosa na Itália, não só pelo vinho e pela fortuna que possuem, mas porque dizem que são abertamente mafiosos._ O que? – Fiquei branca – Você é doida? Quer que eu venha trabalhar pra bandido?_ Você disse que qualquer coisa servia – Ela reclama pegando corda._ Qualquer coisa dentro da lei._ Isso é dentro da lei. Você vai cuidar da criança e não participar dos roubos._ Não Dulce. Você ficou biruta. Pode dá... – meu coração acelerou quando o segurança da mansão bateu no vidro do carro e perguntando o que estávamos fazendo ali._ Ela veio