Respirei fundo, estralei os dedos e encarei a tela do computador, o aplicativo Word estava aberto há horas, esperando que qualquer palavra fosse digitada, mas nem me espremendo conseguiria sair algo bom.
Passei as mãos no rosto.Tento recordar do que pensei quando escrevi aquele primeiro artigo, lembro de estar com os olhos cheios de lágrimas e o peito em ódio puro, odiando minha irmã mais que qualquer outra pessoa no universo.Ódio era o melhor combustível, mas tudo o que eu sentia eram as borboletas no meu estômago, o calafrio na espinha e as mãos do Nial em mim.Massageio minhas têmporas com um pouco de força.Já passou dois dias, porém a minha memória parecia mais vivida que nunca.Olhei para o computador novamente, o ponto de início piscando, implorando para eu escrever algo.Fecho o notebook com força, apertando meu pescoço.— Quer comer pizza hoje? — Aysha invade meu quarto. — Ficou o dia inteiro aí?Assenti batendo a cabeça na mesa.Aysha senta na minha perna, agarro sua cintura murmurando enquanto ela passa suas mãos no meu cabelo.— Por que diabos ele não sai da minha cabeça? Acho que estou ficando maluca.Ela segura meu rosto com às duas mãos.— Você só está apaixonada.Faço bico.— Às vezes eu penso que foi coisa da minha cabeça, já nem sei mais o que é real. — Choramingo.— Já procurei ele em todas as redes sociais, nenhum perfil tem as descrições que você me deu. — Ela franze os lábios.— Ele foi super misterioso.— Quem ele pensa que é? O Edward Cullen?Estalo os dedos.— Acorda, era óbvio que ele só queria uma transa bem dada.Aysha assentiu.— Você também, mas resolveu se apaixonar!Empurro ela do meu colo, levanto da cadeira e me jogo na cama, frustrada.— Tive uma ideia brilhante!Olho para ela.— Que tal nos irmos à mansão dele?— Claro, nós vamos lá implorar que ele se case comigo. — Bufo. — Invasão de propriedade também é crime, sabia?Aysha senta na borda da cama ao meu lado.— Tenho certeza que a sua vergonha na cara não é maior que o desejo de vê-lo novamente. — Enfio meu rosto no travesseiro. Ela me cutuca — vamos logo, aproveita que ainda tenho gasolina no tanque.— E se de nada adiantar?— Pelo menos você vai ter mais inspiração, vamos... — ela faz beicinho.Olho ao redor do meu quarto, estava trancada aqui desde aquele dia pensando no que poderia ser sido se pedisse o número dele.— Certo. — Aysha b**e palmas. — Mas não vamos fazer nada absurdo pra conseguir!Ela pisca para mim.— Sou discreta igual a um glitter.Encaro-a pelo rabo do olho.Aysha pegou a chave do carro e nós saímos, seu carro era um Ford antigo na cor azul, com certeza seríamos muito discretas.Tinha alguns lapsos de memória, lembrei do caminho pouco a pouco enquanto Aysha dirigia. Minhas mãos começam a suar quando percebo ser o caminho certo para a casa dele, meu coração palpitava no peito.— Que droga, estamos perto. — Resmungo.— Esse caminho é perigoso, não ficou com medo daquele homem? — Aysha pergunta olhando para a estrada deserta.Dei de ombros.— Eu estava bêbada.— Nunca mais te deixo sozinha, Cassie.Quase perdi o fôlego, o mesmo portão preto da propriedade brilhando sob o sol, não tinha mais como voltar. Aysha estacionou o carro em frente, saí do carro com as pernas bambas.Avistamos o interfone, nenhuma de nós tinha coragem para apertar.— Você é uma frouxa! — Ela aperta o botão diversas vezes, aperto os olhos virando para trás. — Ele não está em casa ou é surdo.Aysha anda ao redor do portão procurando alguma brecha, então ela para por alguns instantes.— Uau — exclamou —, que casona. Ele não está, na verdade, está tudo vazio.Alívio percorreu meu corpo, mas confesso ter ficado chateada por não ter sequer visto ele mais uma vez.— Vamos embora. — Abro a porta do carona, mas Aysha permanece parada em frente ao portão. — Aysha?— Quero ver como é lá dentro, não quer ver pela última vez?Balanço a cabeça freneticamente.— Pois eu quero. — Ela corre até um arbusto.— Aysha! — Grito desesperada.Olho para os lados, completamente deserto, então vou atrás dela. A mesma espreitava a casa por cima do muro através de um pequeno relevo.— Você sabe que tem alarme de segurança, não é?— Está desativado, se tivesse ligado já teria sido acionado. Caramba, deve ser um sonho morar aí. — Ela olha para o chão do lado de dentro. — Acho que consigo pular.— Aysha! Por favor, para de ser maluca, você é viciada em adrenalina ou o quê?Ela sorrir.— Deixa de ser chata, vamos logo, ninguém vai nos pegar.Antes que eu pudesse protestar Aysha já havia pulado, acenou para eu pular também. Respirei fundo. Subi no muro e pulei toda desajeitada, caí no chão desmantelada.
Aysha gargalhou enquanto me ajudava a levantar.— Não tem graça.— Vamos logo!Fomos em direção à porta principal, não pude evitar olhar para a piscina com borda infinita, agora ela estava vazia com as luzes apagadas, mas não impediu que minha cabeça me levasse até aquele dia.Aysha me puxa para dentro pelo pulso, a casa estava completamente vazia, não tinha mais nem as caixas.Ela me lança um olhar penoso.— Ele disse que iria se mudar em alguns dias, já teve de ter acontecido.— Sinto muito, amiga.Pisco algumas vezes mostrando um sorriso amarelo.— Tudo bem, pelo menos eu não me apaixono e me machuco de novo. — Minha voz saiu estranha.Aysha caminha pelo salão olhando as paredes e a varanda, eu a sigo, não queria que ela fizesse alguma besteira.— Vamos embora, Aysha.Der repente ela para, se agacha e pega algo do chão.— Agora acredito na sua história. — Me aproximo dela, em suas mãos havia uma foto de Nial onde ele estava com mais dois homens, porém seu sorriso desfocava todos os outros. — Que homem, amiga.Umedeço os lábios observando a fotografia, segurando como se fosse um tesouro.— É, eu sei.Aysha me entrega a foto e continua andando pelos cômodos, dobro a foto ao meio cortando os outros homens, deixando apenas ele. Nial era real, lindo. Os olhos cinza, sorriso com dentes perfeitos... aquele homem não era um simples sonho.— Quer que eu te deixe a sós com a sua fotografia ou podemos ir? — Ela me tira dos meus devaneios.Voltei para casa segurando a foto, de vez enquanto olhava, mas tentei não parecer tão melosa ao lado da Aysha. Fora a foto, não encontramos mais nada.Chegando em casa fui para meu quarto, coloquei a foto dele apoiada em porta canetas e abri o computador. Passei a madrugada escrevendo um texto sobre paixões platônicas, pessoas passageiras que conseguem ser intensas e marcar alguém em tão pouco tempo. Reli aquele artigo mais de dez vezes, me certificando se estava da maneira exata que queria, se consegui transpassar todos os meus sentimentos para o papel. Estava ótimo. Na manhã seguinte me arrumei, tomei um banho de lavar a alma, coloquei uma roupa bonita para tentar recuperar meu emprego. Aysha fez um café reforçado, me senti confiante.Servi um pouco de cereal com leite em uma tigela e li mais uma vez o artigo.— Está bom, Cassie. — Aysha afirma.— Não precisa só estar bom, precisar ser impecável. — Vejo um erro ortográfico e corrijo.Aysha suspira e vai olhar o bacon da frigideira.
Guardei algumas camisas, calças, calcinhas na mala, faltava apenas as meias que estavam na máquina e meu computador. Aysha observava me movimentando pelo quarto atrás do que faltava, a primeira coisa que ela disse após eu dizer que iria viajar para Nashville foi: "vadia, você está louca?", ela sabia de tudo que aconteceu antes de nós conhecemos na universidade; odiava minha irmã sem nem conhecê-la, não a julgava por isso.— Acha que deveria levar? — Coloco o óculos de grau no rosto, a vejo fazer careta. — Não consigo ler nada sem eles.— Acho que você não deveria ir.Olho para ela pelo rabo do olho.— Sério mesmo, quer ver sua irmã perfeita se gabando da vida perfeita e do futuro marido perfeito dela? — Ela se senta na cama largando a revista.— Sei como lidar com egocentrismo da minha irmã, afinal trabalho para a Miranda. — Observo o óculos fundo de garrafa, definitivamente não. Coloco de volta na mesa de cabeceira.Pego alguns livros jogando na mala também, olho para Aysha, com as m
O silêncio se estabeleceu na sala, todos olhavam para mim sem entender o que estava acontecendo ali. Eu olhava fixo para ele, pergunta-lhe o que diabos era aquilo, talvez ele não fosse o noivo da minha irmã, mas o que estaria fazendo aqui? Me procurando que não seria. Nial, o cara com quem transei e tive uma paixão platônica estava em carne e osso a minha frente, com os olhos azuis disparados e a boca semiaberta, tão surpreso quanto eu.— Vocês se conhecem? — Amanda perguntou olhando para mim e depois para ele.Ele franziu os lábios, se acovardando o suficiente para me deixar explicar sozinha. Minha boca secou, porém a medida que o silêncio aumentava mais estranha a situação ficava.— N-não, óbvio que não. — Bato a mão na testa — você falou tanto sobre ele...— Ah, é verdade. — Amanda sorrir. — Bem, mas apresentando vocês formalmente, querido, essa é minha irmã Cassandra.Por sorte ela não ouviu ele falar meu nome, acho que somente eu vi seus lábios pronunciarem. Amanda o puxou. Vendo
Olhei para Nial esperando pela minha resposta tanto quanto ela, mas ele parecia tão desesperado quanto eu. Se eu dissesse não seria estranho, Amanda iria fazer um interrogatório do porquê odeio seu noivo, e ela odiava ser odiada.Dou de ombros.— Claro.Saí em disparada para fora, assim que passei pelo portão comecei a correr, mesmo ouvindo ele batendo a porta de casa atrás de mim.Aumentei a velocidade quando percebi que ele estava mais próximo de mim, mesmo com minhas canelas ardendo, fazia anos que eu não corria.— Cass! — Gritou ele atrás de mim. — Podemos conversar?Continuei correndo. Saímos do condomínio, agora era apenas uma longa rua com poucos carros passando a quilômetros de nós.— Caramba, poderia me escutar?Meu peito ardia em raiva, pura e genuína, mas eu continuava a correr como se minha vida dependesse daquilo.Ele fez eu me apaixonar por aquela noite, me fez acreditar que eu era especial, quando na verdade ele iria se casar daqui há poucos dias com a minha irmã. Nial
Passei o resto do dia folheando revistas teen da minha adolescência, enquanto no pé ainda descansava numa bolsa térmica.Olhando ao redor eu era uma bela nerd, quem usava meias com sapatilha? A Cassie, ou melhor, Cassandra do passado adorava, provavelmente ela estaria triste por foder com o namorado da irmã, em contra ponto me sinto vingada, mas ela não era assim.Coloco a revista no meu colo suspirando, toda essa situação me deixou esgotada. Queria contar a Amanda tudo, mas ao mesmo tempo me sentia tão culpada por ainda ter meus sentimentos envolvidos nisso, vê-lo casar com minha irmã doeria de qualquer forma.Duas batidas na porta me tiram do meu devaneio, era o minha mãe. — Acha que consegue descer para o jantar? Tem alguém querendo vê-la no andar de baixo. — Anunciou em um tom confortável.— Quem?Ela sorrir e permanece calada.— Certo, minha curiosidade consegue ser maior que minha dor. — Digo tentando me levantar.Minha mãe me ajudou a levantar da cama e descer as escadas, mas
Amanda me acordou no dia seguinte cutucando meu braço, esqueci de como ela era irritante. Puxei o lençol para cima da cabeça, mas não adiantou, pois, ela simplesmente o arrancou de mim.— Vamos, não volte a dormir, Cassie!Reviro os olhos.— Me deixe aproveitar minhas férias.— Vai aproveitar seguindo seus deveres de madrinha, agora levante se não vou jogar um balde de água em você.— Estou com o tornozelo machucado, esqueceu?Ela olha para mim desconfiada.— Você não quebrou o pé, já está melhor. Vamos logo! — Foi embora em seguida.Olhei para o teto bufando, por esses motivos que eu tinha minha própria casa.Peguei meu celular para checar as mensagens, no meu e-mail tinha uma da Miranda, quase derrubei o celular no chão. Abri o e-mail e dizia: "Olá, Cassandra. Soube que realmente viajou para buscar inspiração, fico feliz que esteja seguindo meu conselho e espero que faça o que pedi com maestria. Sei que consegue, Miranda".Miranda havia mesmo me mandado mensagem, ela realmente esper
Assim que virei a esquina vi o carro que Amanda usava estacionado na garagem de casa, tão torto quanto meus dentes antes do aparelho.Respiro fundo.Teria que ouvir a palestrinha do meu pai de que somos irmãs e devemos nos manter unidas, mas se eles prestassem bem atenção saberiam que a Amanda é tão irritante quanto um dente siso. Não estou dizendo que ela é a pior pessoa do mundo, ela tinha sim, seus pontos positivos, mas parecia que algo em mim a incomodava ao ponto dela fazer da minha vida um inferno enquanto finge ser a pessoa mais dócil do mundo inteiro.Entro batendo a porta da frente sem querer, aperto os olhos por conta do barulho e me mantenho estática.— Cassie! — Ouço a voz estridente da Amanda cada vez mais próximo até ela aparecer no corredor na minha direção. — Meu deus, fiquei preocupada. Por onde esteve?Meus pais aparecem logo atrás dela. Acontece que o caminho de volta foi mais demorado do que pensei, então cheguei em casa pela parte da tarde, morrendo de fome e os c
Paguei as compras usando o cartão do Nial, não cheguei a pensar que a Amanda realmente achou que eu pagaria pelas compras, eu mal tinha dinheiro para o presente de casamento dela. Pelo menos o Nial não reclamou, ambos sabíamos que o débito que ele tinha comigo tinha um custo alto, embora umas compras para churrasco não fossem o suficiente para pagar toda a confusão.Ele me ajudou a guardar as coisas no banco de trás e nós demos partida de volta para casa. O silêncio dentro do carro parecia constrangedor, nós tínhamos muito para conversar, mas quando eu estava perto dele só pensava nos dias que esse mesmo perfume que ele está usando agora ficou na minha roupa. Eu sei, ficar pensando essas coisas a respeito do noivo da minha irmã não era nada bom, mas não conseguia esquecer que eu ainda estava apaixonada por ele.Merda.— Realmente não precisamos conversar? — Perguntou ele quebrando o silêncio, tudo parecia pior, alguém falar sobre o silêncio é pior do que só sentir isso. Fiquei estarre