O silêncio se estabeleceu na sala, todos olhavam para mim sem entender o que estava acontecendo ali. Eu olhava fixo para ele, pergunta-lhe o que diabos era aquilo, talvez ele não fosse o noivo da minha irmã, mas o que estaria fazendo aqui? Me procurando que não seria. Nial, o cara com quem transei e tive uma paixão platônica estava em carne e osso a minha frente, com os olhos azuis disparados e a boca semiaberta, tão surpreso quanto eu.
— Vocês se conhecem? — Amanda perguntou olhando para mim e depois para ele.Ele franziu os lábios, se acovardando o suficiente para me deixar explicar sozinha. Minha boca secou, porém a medida que o silêncio aumentava mais estranha a situação ficava.— N-não, óbvio que não. — Bato a mão na testa — você falou tanto sobre ele...— Ah, é verdade. — Amanda sorrir. — Bem, mas apresentando vocês formalmente, querido, essa é minha irmã Cassandra.Por sorte ela não ouviu ele falar meu nome, acho que somente eu vi seus lábios pronunciarem. Amanda o puxou. Vendo-o frente a frente pude ter certeza que era realmente ele, mas desta vez seu cabelo estava desgrenhado de uma forma casual e a barba por fazer.Ele estende sua mão para mim, pausadamente, retribui sentindo meu rosto inteiro pinicar.— Cassandra, esse é o Nj ou Nial Jacobs. — Seu olhar brilhava quando pairava sobre ele.— Pode me chamar apenas de Cassie. — Aperto sua mão o suficiente para amenizar minha raiva.— É um prazer — pigarreou —, finalmente conhecê-la.Minha mãe b**e as mãos.— Vamos jantar?A comida cheirava bem, o rosbife com batatas coradas da minha mãe sempre foi minha comida preferida, mas sentar frente a frente com o noivo da minha irmã cujo transei loucamente tirou completamente meu apetite.Sinto seu olhar inflamar sobre a minha pele enquanto Amanda falava a respeito do casamento. Nial era tão descarado que não fazia questão de esconder que estava a me comer com os olhos, mas óbvio que a Amanda nunca perceberia, ela estava ocupada demais falando sobre si e sobre o casamento.Viro um gole do vinho nos lábios, implorando para que ele parasse, a situação ficava ainda mais constrangedora.— Você sabia que o Nj morou em Nova York, Cassandra? — Amanda vira-se para mim.Quase engasguei com o vinho.— É mesmo? — Olho para ele.— Morei, mas era um condomínio. — Disse ele de maneira convincente. — Se eu soubesse, adoraria ter a sua visita.Apoio o queixo na mão.— Deveria ser uma casa encantadora. — Falo entre dentes, mas eles não percebem todo meu desdém. — Aposto que era uma bela casa.— Era sim, uma pena que ele vendeu. — Amanda lamenta deitando sua cabeça no ombro dele.Papai larga os talheres em cima do prato.— Sua mãe me falou que você conseguiu a promoção na revista, fiquei muito contente por isso.Umedeço os lábios e sorrio.— É mesmo? — Nial indaga com um sorriso divertido.Merda, ele sabia de tudo, até a parte que eu estava desempregada.— Sim, estou extasiada. — Afirmo voltando minha atenção para meu pai. — O melhor emprego da minha vida.— Trabalha onde? — Nial pergunta, como se já não soubesse.— New moon.— Ninguém esperava que as historinhas que a Cassandra inventava tomariam esse rumo. — Minha mãe sorrir como se fosse um elogio. — Agora temos uma escritora na família.Amanda exclama um "humpt".— Eu também seria uma grande escritora se quisesse, mas não acho que essa seja meu hobby. — Deu de ombros — prefiro mais a ação.— Não é um hobby, é o meu trabalho, irmãzinha. — Viro mais uma vez a taça nos lábios.— Sua avó também era boa com as palavras, ainda bem que herdou esse dom lindo. — Vovô diz.Sorrio gentilmente para ele.— Acho incrível a habilidade que um escritor tem de nos fazer sentir apenas com palavras. — Nial afirma olhando bem para mim. — É dom muito bonito, Cassie, parabéns.Suas pupilas se contraiam a medida que falava, me deixando com a boca aberta e o coração acelerado.Meu rosto pegava fogo, mas precisava dizer algo.— Obrigada.Amanda se arrumou na cadeira fungando.— Cassie é boa com as palavras, eu sou boa em quase tudo. — Piscou para mim. — Já disse que vou cantar na festa do casamento?Encolho os ombros quando o assunto passa a ser sobre os lírios como ornamentação, o vestido da Amanda, o penteado da Amanda, os sapatos da Amanda.Comi o resto da torta de pêssego que minha mãe fez e fui para o quarto antes de todos, pelo menos tinha a desculpa de estar cansada da viagem. Os olhos de Nial me acompanharam até eu sumir na escada, parecia que ele queria explicar-se, mas aquilo não tinha explicação.Me joguei na cama soltando um suspiro, sentindo meus olhos marejados. Mais uma vez Amanda tomou algo de mim, mas dessa vez ela era completamente inocente, e eu a errada por gostar tanto do seu noivo.Sorrio amargurada, ele realmente me fez acreditar que era única, tornou aquela noite uma das mais especiais da minha vida. Agora, com o mesmo poder de fazer, ele destruiu.A tela do meu celular iluminou-se, era Aysha, provavelmente querendo saber como estava sendo as primeiras horas na casa dos meus pais, porém não queria atender com voz de choro.Eu estava tão confusa, tão magoada por aquela situação. Então era por isso que ele deixou claro que era algo casual e todo aquele teatrinho sobre não saber sobre o amanhã.Adormeci, acordei com meu celular despertando, era tão cedo que provavelmente ninguém estaria acordado. Separei uma roupa para fazer caminhada, precisava respirar fora daqui.Desci a escada ainda amarrando os cabelos em rabo de cavalo alto, para a minha surpresa todos já estavam de pé, mas não vi o Nial.— Já de pé, Jacarezinho? — Amanda perguntou enquanto servia a mesa farta.Respirei fundo.— Sim, mas vou caminhar.— Não quer comer antes?— Não, estou sem apetite. — Olho para os pães, mas nada descia minha garganta.— Uau, realmente quer se manter magra — piscou para mim —, esse é o espírito.Continuei olhando para seu rosto, pedindo aos céus que fosse apenas mais uma brincadeira sem graça, mas não era.Ouvimos alguém descendo os degraus da escada, ambas olhamos para trás, porém assim que avistei o Nial com uma regada e shorts de corrida voltei minha atenção para a mesa, sentindo meu coração acelerar.Ele se aproximou da Amanda e depositou um beijo em sua têmpora, olhando diretamente para mim.— Já vou, até logo.— Espere — Amanda indaga —, Nial pode ir com você, já que ele também corre todas as manhãs. Seria bom para vocês se conhecerem melhor.Eu vi o pau dele, o que mais teria para conhecer? Pensei.Olhei para Nial esperando pela minha resposta tanto quanto ela, mas ele parecia tão desesperado quanto eu. Se eu dissesse não seria estranho, Amanda iria fazer um interrogatório do porquê odeio seu noivo, e ela odiava ser odiada.Dou de ombros.— Claro.Saí em disparada para fora, assim que passei pelo portão comecei a correr, mesmo ouvindo ele batendo a porta de casa atrás de mim.Aumentei a velocidade quando percebi que ele estava mais próximo de mim, mesmo com minhas canelas ardendo, fazia anos que eu não corria.— Cass! — Gritou ele atrás de mim. — Podemos conversar?Continuei correndo. Saímos do condomínio, agora era apenas uma longa rua com poucos carros passando a quilômetros de nós.— Caramba, poderia me escutar?Meu peito ardia em raiva, pura e genuína, mas eu continuava a correr como se minha vida dependesse daquilo.Ele fez eu me apaixonar por aquela noite, me fez acreditar que eu era especial, quando na verdade ele iria se casar daqui há poucos dias com a minha irmã. Nial
Passei o resto do dia folheando revistas teen da minha adolescência, enquanto no pé ainda descansava numa bolsa térmica.Olhando ao redor eu era uma bela nerd, quem usava meias com sapatilha? A Cassie, ou melhor, Cassandra do passado adorava, provavelmente ela estaria triste por foder com o namorado da irmã, em contra ponto me sinto vingada, mas ela não era assim.Coloco a revista no meu colo suspirando, toda essa situação me deixou esgotada. Queria contar a Amanda tudo, mas ao mesmo tempo me sentia tão culpada por ainda ter meus sentimentos envolvidos nisso, vê-lo casar com minha irmã doeria de qualquer forma.Duas batidas na porta me tiram do meu devaneio, era o minha mãe. — Acha que consegue descer para o jantar? Tem alguém querendo vê-la no andar de baixo. — Anunciou em um tom confortável.— Quem?Ela sorrir e permanece calada.— Certo, minha curiosidade consegue ser maior que minha dor. — Digo tentando me levantar.Minha mãe me ajudou a levantar da cama e descer as escadas, mas
Amanda me acordou no dia seguinte cutucando meu braço, esqueci de como ela era irritante. Puxei o lençol para cima da cabeça, mas não adiantou, pois, ela simplesmente o arrancou de mim.— Vamos, não volte a dormir, Cassie!Reviro os olhos.— Me deixe aproveitar minhas férias.— Vai aproveitar seguindo seus deveres de madrinha, agora levante se não vou jogar um balde de água em você.— Estou com o tornozelo machucado, esqueceu?Ela olha para mim desconfiada.— Você não quebrou o pé, já está melhor. Vamos logo! — Foi embora em seguida.Olhei para o teto bufando, por esses motivos que eu tinha minha própria casa.Peguei meu celular para checar as mensagens, no meu e-mail tinha uma da Miranda, quase derrubei o celular no chão. Abri o e-mail e dizia: "Olá, Cassandra. Soube que realmente viajou para buscar inspiração, fico feliz que esteja seguindo meu conselho e espero que faça o que pedi com maestria. Sei que consegue, Miranda".Miranda havia mesmo me mandado mensagem, ela realmente esper
Assim que virei a esquina vi o carro que Amanda usava estacionado na garagem de casa, tão torto quanto meus dentes antes do aparelho.Respiro fundo.Teria que ouvir a palestrinha do meu pai de que somos irmãs e devemos nos manter unidas, mas se eles prestassem bem atenção saberiam que a Amanda é tão irritante quanto um dente siso. Não estou dizendo que ela é a pior pessoa do mundo, ela tinha sim, seus pontos positivos, mas parecia que algo em mim a incomodava ao ponto dela fazer da minha vida um inferno enquanto finge ser a pessoa mais dócil do mundo inteiro.Entro batendo a porta da frente sem querer, aperto os olhos por conta do barulho e me mantenho estática.— Cassie! — Ouço a voz estridente da Amanda cada vez mais próximo até ela aparecer no corredor na minha direção. — Meu deus, fiquei preocupada. Por onde esteve?Meus pais aparecem logo atrás dela. Acontece que o caminho de volta foi mais demorado do que pensei, então cheguei em casa pela parte da tarde, morrendo de fome e os c
Paguei as compras usando o cartão do Nial, não cheguei a pensar que a Amanda realmente achou que eu pagaria pelas compras, eu mal tinha dinheiro para o presente de casamento dela. Pelo menos o Nial não reclamou, ambos sabíamos que o débito que ele tinha comigo tinha um custo alto, embora umas compras para churrasco não fossem o suficiente para pagar toda a confusão.Ele me ajudou a guardar as coisas no banco de trás e nós demos partida de volta para casa. O silêncio dentro do carro parecia constrangedor, nós tínhamos muito para conversar, mas quando eu estava perto dele só pensava nos dias que esse mesmo perfume que ele está usando agora ficou na minha roupa. Eu sei, ficar pensando essas coisas a respeito do noivo da minha irmã não era nada bom, mas não conseguia esquecer que eu ainda estava apaixonada por ele.Merda.— Realmente não precisamos conversar? — Perguntou ele quebrando o silêncio, tudo parecia pior, alguém falar sobre o silêncio é pior do que só sentir isso. Fiquei estarre
O churrasco finalmente estava pronto, mamãe e Amanda serviram a mesa do jardim que ficava próximo à churrasqueira. Após tomar quase uma garrafa inteira de vinho eu finalmente me levantei e fui até lá, Amanda usava um biquíni estampado de flores rosas e uma saída de banho branca. Nial fingiu não notar minha presença, estava ao lado de meu pai assando as carnes de hambúrguer.— Ah, Cassandra! Eu fiz o molho de barbecue que você tanto ama. — Amanda anuncia apontando para o pote de vidro cheio de molho. — Não está tão bom quanto o da vovó, mas eu tentei.Arrasto uma cadeira em frente a mesa e me sento.— Obrigada, Amanda.Ela coloca um prato com costela e barbecue para mim.— Pensei que você fosse entrar na piscina também. — Mamãe diz arrumando os cachorros quente. Olho para a piscina bem iluminada, ela foi reformada há um ano, quando eu morava aqui estava rachada e sempre vazia. A noite estava quente, mas eu não faria isso.Balanço a cabeça.— Não trouxe biquíni.— Eu tenho alguns novos
No dia seguinte fingir estar doente para não ter que resolver as coisas de casamento com a Amanda e sua tropa de madrinhas insuportáveis, também porque pensar em qualquer coisa ela ou o Nial ainda me dava náuseas. Desci para tomar café mais tarde, felizmente só estava eu em casa, o Vovô havia ido ao bingo, papai e Nial foram para o golfe e resolver coisas do casamento. Casamento. O dia da cerimônia estava cada vez mais próxima, havia caixas e mais caixas de lembranças e ornamentação.Preparei um café bem forte. Nem mesmo a bebida mais forte que eu já tomei me fez sentir tão na fossa quanto me sinto agora. Meus olhos estavam com lápis de olho ao redor, eu usava tanto aquilo que mesmo quando não passava a tinta parecia ainda estar lá, me dando sempre essa expressão de ressaca e cansaço eterno e os cabelos pretos presos em um coque emaranhado, com apenas minha franja espessa cobrindo a testa. Amanda não tinha isso, na verdade, dificilmente eu a via usando maquiagem, ela tinha toda aquel
Pedimos algumas cervejas e petiscos. Liam me contava sobre a parte boa da sua vida durante esses sete anos longe, eu falei algumas coisas sobre mim, mas nada que chegasse aos pés dele. Enquanto Liam tinha uma vida simples e estável, eu costumava ter crises depreciativas nos fins de semana e toda noite tomava vinho para dormir. — Eu queria ter te mandado mensagem antes, mas não sei... Eu balanço a cabeça. — Eu entendo, você estava com raiva de mim, disse que me odiaria pra sempre e bateu a porta do meu quarto na minha cara. — Coloco as mãos no rosto, com vergonha. — Eu não deveria ter dito aquilo, era a sua primeira vez. Fui um idiota. Amanda morreria se soubesse que minha virgindade foi tirada pelo Liam poucos meses antes de eu aceitar me casar com o André, pouco antes de eu quase negar ir para a faculdade para ficar com o André. Que idiota. Éramos dois adolescentes virgens e cheios de curiosidade. Foi bom, mas acabamos brigado e por consequência, parando de se falar por todo ess