Capítulo 10

O silêncio se estabeleceu na sala, todos olhavam para mim sem entender o que estava acontecendo ali. Eu olhava fixo para ele, pergunta-lhe o que diabos era aquilo, talvez ele não fosse o noivo da minha irmã, mas o que estaria fazendo aqui? Me procurando que não seria. Nial, o cara com quem transei e tive uma paixão platônica estava em carne e osso a minha frente, com os olhos azuis disparados e a boca semiaberta, tão surpreso quanto eu.

— Vocês se conhecem? — Amanda perguntou olhando para mim e depois para ele.

Ele franziu os lábios, se acovardando o suficiente para me deixar explicar sozinha. Minha boca secou, porém a medida que o silêncio aumentava mais estranha a situação ficava.

— N-não, óbvio que não. — Bato a mão na testa — você falou tanto sobre ele...

— Ah, é verdade. — Amanda sorrir. — Bem, mas apresentando vocês formalmente, querido, essa é minha irmã Cassandra.

Por sorte ela não ouviu ele falar meu nome, acho que somente eu vi seus lábios pronunciarem. Amanda o puxou. Vendo-o frente a frente pude ter certeza que era realmente ele, mas desta vez seu cabelo estava desgrenhado de uma forma casual e a barba por fazer.

Ele estende sua mão para mim, pausadamente, retribui sentindo meu rosto inteiro pinicar.

— Cassandra, esse é o Nj ou Nial Jacobs. — Seu olhar brilhava quando pairava sobre ele.

— Pode me chamar apenas de Cassie. — Aperto sua mão o suficiente para amenizar minha raiva.

— É um prazer — pigarreou —, finalmente conhecê-la.

Minha mãe b**e as mãos.

— Vamos jantar?

A comida cheirava bem, o rosbife com batatas coradas da minha mãe sempre foi minha comida preferida, mas sentar frente a frente com o noivo da minha irmã cujo transei loucamente tirou completamente meu apetite.

Sinto seu olhar inflamar sobre a minha pele enquanto Amanda falava a respeito do casamento. Nial era tão descarado que não fazia questão de esconder que estava a me comer com os olhos, mas óbvio que a Amanda nunca perceberia, ela estava ocupada demais falando sobre si e sobre o casamento.

Viro um gole do vinho nos lábios, implorando para que ele parasse, a situação ficava ainda mais constrangedora.

— Você sabia que o Nj morou em Nova York, Cassandra? — Amanda vira-se para mim.

Quase engasguei com o vinho.

— É mesmo? — Olho para ele.

— Morei, mas era um condomínio. — Disse ele de maneira convincente. — Se eu soubesse, adoraria ter a sua visita.

Apoio o queixo na mão.

— Deveria ser uma casa encantadora. — Falo entre dentes, mas eles não percebem todo meu desdém. — Aposto que era uma bela casa.

— Era sim, uma pena que ele vendeu. — Amanda lamenta deitando sua cabeça no ombro dele.

Papai larga os talheres em cima do prato.

— Sua mãe me falou que você conseguiu a promoção na revista, fiquei muito contente por isso.

Umedeço os lábios e sorrio.

— É mesmo? — Nial indaga com um sorriso divertido.

Merda, ele sabia de tudo, até a parte que eu estava desempregada.

— Sim, estou extasiada. — Afirmo voltando minha atenção para meu pai. — O melhor emprego da minha vida.

— Trabalha onde? — Nial pergunta, como se já não soubesse.

— New moon.

— Ninguém esperava que as historinhas que a Cassandra inventava tomariam esse rumo. — Minha mãe sorrir como se fosse um elogio. — Agora temos uma escritora na família.

Amanda exclama um "humpt".

— Eu também seria uma grande escritora se quisesse, mas não acho que essa seja meu hobby. — Deu de ombros — prefiro mais a ação.

— Não é um hobby, é o meu trabalho, irmãzinha. — Viro mais uma vez a taça nos lábios.

— Sua avó também era boa com as palavras, ainda bem que herdou esse dom lindo. — Vovô diz.

Sorrio gentilmente para ele.

— Acho incrível a habilidade que um escritor tem de nos fazer sentir apenas com palavras. — Nial afirma olhando bem para mim. — É dom muito bonito, Cassie, parabéns.

Suas pupilas se contraiam a medida que falava, me deixando com a boca aberta e o coração acelerado.

Meu rosto pegava fogo, mas precisava dizer algo.

— Obrigada.

Amanda se arrumou na cadeira fungando.

— Cassie é boa com as palavras, eu sou boa em quase tudo. — Piscou para mim. — Já disse que vou cantar na festa do casamento?

Encolho os ombros quando o assunto passa a ser sobre os lírios como ornamentação, o vestido da Amanda, o penteado da Amanda, os sapatos da Amanda.

Comi o resto da torta de pêssego que minha mãe fez e fui para o quarto antes de todos, pelo menos tinha a desculpa de estar cansada da viagem. Os olhos de Nial me acompanharam até eu sumir na escada, parecia que ele queria explicar-se, mas aquilo não tinha explicação.

Me joguei na cama soltando um suspiro, sentindo meus olhos marejados. Mais uma vez Amanda tomou algo de mim, mas dessa vez ela era completamente inocente, e eu a errada por gostar tanto do seu noivo.

Sorrio amargurada, ele realmente me fez acreditar que era única, tornou aquela noite uma das mais especiais da minha vida. Agora, com o mesmo poder de fazer, ele destruiu.

A tela do meu celular iluminou-se, era Aysha, provavelmente querendo saber como estava sendo as primeiras horas na casa dos meus pais, porém não queria atender com voz de choro.

Eu estava tão confusa, tão magoada por aquela situação. Então era por isso que ele deixou claro que era algo casual e todo aquele teatrinho sobre não saber sobre o amanhã.

Adormeci, acordei com meu celular despertando, era tão cedo que provavelmente ninguém estaria acordado. Separei uma roupa para fazer caminhada, precisava respirar fora daqui.

Desci a escada ainda amarrando os cabelos em rabo de cavalo alto, para a minha surpresa todos já estavam de pé, mas não vi o Nial.

— Já de pé, Jacarezinho? — Amanda perguntou enquanto servia a mesa farta.

Respirei fundo.

— Sim, mas vou caminhar.

— Não quer comer antes?

— Não, estou sem apetite. — Olho para os pães, mas nada descia minha garganta.

— Uau, realmente quer se manter magra — piscou para mim —, esse é o espírito.

Continuei olhando para seu rosto, pedindo aos céus que fosse apenas mais uma brincadeira sem graça, mas não era.

Ouvimos alguém descendo os degraus da escada, ambas olhamos para trás, porém assim que avistei o Nial com uma regada e shorts de corrida voltei minha atenção para a mesa, sentindo meu coração acelerar.

Ele se aproximou da Amanda e depositou um beijo em sua têmpora, olhando diretamente para mim.

— Já vou, até logo.

— Espere — Amanda indaga —, Nial pode ir com você, já que ele também corre todas as manhãs. Seria bom para vocês se conhecerem melhor.

Eu vi o pau dele, o que mais teria para conhecer? Pensei.

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