Olhei para Nial esperando pela minha resposta tanto quanto ela, mas ele parecia tão desesperado quanto eu. Se eu dissesse não seria estranho, Amanda iria fazer um interrogatório do porquê odeio seu noivo, e ela odiava ser odiada.
Dou de ombros.— Claro.Saí em disparada para fora, assim que passei pelo portão comecei a correr, mesmo ouvindo ele batendo a porta de casa atrás de mim.Aumentei a velocidade quando percebi que ele estava mais próximo de mim, mesmo com minhas canelas ardendo, fazia anos que eu não corria.— Cass! — Gritou ele atrás de mim. — Podemos conversar?Continuei correndo. Saímos do condomínio, agora era apenas uma longa rua com poucos carros passando a quilômetros de nós.— Caramba, poderia me escutar?Meu peito ardia em raiva, pura e genuína, mas eu continuava a correr como se minha vida dependesse daquilo.Ele fez eu me apaixonar por aquela noite, me fez acreditar que eu era especial, quando na verdade ele iria se casar daqui há poucos dias com a minha irmã. Nial não tinha o direito de fazer aquilo.— Me desculpe, por favor, vamos conversar.Parei no meio do caminho, com as mãos apoiadas nos joelhos, buscando ar. Ele se posicionou a minha frente, com as mãos na cintura, recuperando o folego.— Eu sinto muito, mesmo...— Não, não sente. Alguém que sente muito não diria para outra garota que ela é especial, não transaria a noite inteira sem lembrar que tem uma noiva!Ele morde o lábio inferior com força olhando para o lado.— Não sei o que é pior, você estar noivo ou a noiva ser a minha irmã! — Passo a mãos no rosto com força. — Você é um galinha, a merda de um cafajeste.— Não planejei aquilo, não entrei naquele bar planejando trair a sua irmã. Aconteceu, você sabe, simplesmente aconteceu. — Ele diz no mesmo tom, parecendo tão decepcionado quanto eu. — Sinto muito por essa situação, mas eu juro que nada daquilo foi planejado.Olho para cima, não queria nem olhar para seu rosto perfeitamente angelical e acreditar que aqueles olhos cinza tinha realmente mentido para mim.— Acreditei em você, como fui burra... — rosno. — Realmente pensei que fosse especial, passei as últimas semanas pensando em você, pensando no que fiz de errado para você nem ter pedido meu número. Talvez eu não tenha sido tão interessante, pensei, mas a merda do problema foi você!— Cass... — ele tenta segurar meu pulso.— Não me chama assim! — Ele olha para seus pés. — Meu deus, eu transei com você, eu... estou enojada de imaginar toda essa situação.Ele tentava acompanhar meus movimentos, mas seria impossível, eu sempre gesticulava muito quando estava irritada.— Tudo o que lhe disse foi verdade, também pensei em você mais do que deveria nas últimas semanas. — Desvio meu olhar para a estrada, sentindo uma crise de ansiedade cada vez mais próximo. — Eu sinto muito, se eu pudesse mudaria toda essa situação e...Minha mandíbula estava apertada. Ele toca meu braço com cuidado, parecia ter medo de eu recuar, e foi o que fiz.— Você é especial e ponto.— Isso é o quê? Algum tipo de prêmio de consolação? Vai se foder, Nial.Volto a correr, ele permanece atrás de mim no mesmo ritmo que eu.— Quer se certificar que não vou contar para a Amanda? — Pergunto.— Faça o que quiser, apenas quero saber se vai ficar bem.— Ah — coloco a mão no peito —, você realmente é um lord.Ouço ele suspirar.— Não vou dizer nada para ela, pode voltar para a sua noiva.Percebo que ele não estava mais vindo atrás de mim, ficou pelo caminho.Volto a correr mais rápido, na tentativa de me afastar e ele não conseguir ver as lágrimas se formando nos meus olhos. Então eu piso em falso no meio-fio, meu pé torce para o lado e eu caio no chão como um saco de batatas, apertando meu tornozelo.Nial vem correndo até mim, se agacha no chão a minha altura, preocupado.— Não se aproxime, estou bem. — Falo ríspida.— Estou vendo, a sua cara de dor deve ser por outra coisa, né? — Ele puxa meu pé para cima do seu colo, analisa meu calcanhar com atenção. Seu toque na parte nua do meu tornozelo fez a dor diminuir drasticamente, como se eu tivesse tomado uma injeção de morfina. — Você pisou em falso, não foi uma contusão. Faz muito tempo que não pratica nada?Reviro os olhos.— Moro em Nova York, o que você acha?Os cantos da sua boca se elevam em um sorriso.— Não foi nada de mais, mas temos que voltar e colocar uma compressa gelada em cima antes que fique inchadoNial ainda segurava meu pé, sua respiração descompassada batia na minha pele arrepiando todo o meu corpo.— Não me disse que era médico, mentiu isso também?Ele olhou bem para mim com as bochechas vermelhas por conta do sol, meu coração acelerou.— Não sou, mas quando um dos seus amigos se machucam em uma escalada você aprende essas coisas.Nial movimentou meu pé para a esquerda, uma dor despontou do meu calcanhar até a panturrilha, recuo num grunhido. Seu queixo afrouxou enquanto ele olhava para mim por baixo das pestanas, me observando com o mesmo olhar de desejo daquela noite.Tentei levantar, mas o tornozelo continuava a doer, Nial foi rápido e me pegou em seus braços, seu perfume era o mesmo daquela noite, amadeirado e forte. Mesmo suado ele permanecia cheiroso, mesmo com suor escorrendo em sua testa ele continuava a parecer um deus grego.Fixei meus olhos na rua, sentindo os dele em mim.— Não pense que fomos amigos. — Advirto. — E eu espero mesmo que aquilo só tenha acontecido comigo, apesar de ser uma pessoa com caráter duvidoso, Amanda não merece isso.Ele fungou.— Eu juro, foi apenas com você. — Assegurou.Nial era forte, me carregou até em casa sem demonstrar qualquer fraqueza, Amanda abriu a porta da frente com preocupação, e ele finalmente me deixou sentada no sofá e foi para a cozinha atrás de gelo.— O que aconteceu? — Pergunto ela tirando os fiapos de cabelo no meu rosto.— Pisei em falso.Mamãe apareceu na sala e pôs as duas mãos em frente aos lábios.— Pelos céus, se machucou?— Vou pegar o xarope. — Vovô disse indo para a cozinha.— Estou bem, Nial me trouxe de volta para casa.Nial apareceu na sala com um saco de ervilhas congeladas, em seguida pressionou contra meu tornozelo dolorido.— Acho melhor levá-la para o quarto. — Mamãe diz.— Estou bem...— Amor, leva ela, vou preparar alguma coisa para comer. — Amanda pede.— Estou bem! — Afirmo atordoada. Todos param para me olhar. Eu estava visivelmente abalada. — Certo, me ajude.Nial me levou para cima enquanto eu sentia minhas bochechas arderem. Ele me colocou na cama com cuidado, depois ficou parado olhando para mim.— Já pode sair. — Aponto com o queixo em direção à porta.Ele olha para mim com um olhar perdido.— Eu não sei o que posso fazer pra conseguir o seu perdão.— Deveria se preocupar mais com a sua noiva, se ela descobrir será pior.Ele parecia querer dizer algo, mas sua mandíbula endureceu quando Amanda adentrou o quarto com uma bandeja nas mãos. Ele saiu logo em seguida com ela.Joguei minha cabeça para trás sentindo o peso do remorso, então tomei a decisão de ir embora quanto antes daqui.Meu celular iluminou a tela novamente, Aysha estava me ligando, contei a ela tudo o que aconteceu nas últimas horas.— Parece novela mexicana, eu deveria estar aí, que merda! — Exclamou ela.— Acontece que nem eu vou estar aqui amanhã.— Espera, aí, como assim?!— Vou adiantar minha passagem, quero ir embora daqui.— Negativo!— Aysha...— Agora que você deveria dar o troco nesse homem, fazê-lo sofrer. — Rebateu ela.Passo a mão na testa.— Aysha, isso não é a merda de uma novela mexicana.— Foda-se, dá o troco nele.— Quais as suas ideias?— Pega algum primo gostoso, sai com alguém, provoca! Menina, deixa de ser tão parada. Além disso são suas férias, homem nenhum deveria interferir nisso.Olho para os dois no jardim, Nial estava com o braço ao redor do pescoço da Amanda, rindo de algo. Ambos felizes, aquela cena me doeu, de certo modo, me enfureceu.— Você tem razão.— Sempre tenho.Passei o resto do dia folheando revistas teen da minha adolescência, enquanto no pé ainda descansava numa bolsa térmica.Olhando ao redor eu era uma bela nerd, quem usava meias com sapatilha? A Cassie, ou melhor, Cassandra do passado adorava, provavelmente ela estaria triste por foder com o namorado da irmã, em contra ponto me sinto vingada, mas ela não era assim.Coloco a revista no meu colo suspirando, toda essa situação me deixou esgotada. Queria contar a Amanda tudo, mas ao mesmo tempo me sentia tão culpada por ainda ter meus sentimentos envolvidos nisso, vê-lo casar com minha irmã doeria de qualquer forma.Duas batidas na porta me tiram do meu devaneio, era o minha mãe. — Acha que consegue descer para o jantar? Tem alguém querendo vê-la no andar de baixo. — Anunciou em um tom confortável.— Quem?Ela sorrir e permanece calada.— Certo, minha curiosidade consegue ser maior que minha dor. — Digo tentando me levantar.Minha mãe me ajudou a levantar da cama e descer as escadas, mas
Amanda me acordou no dia seguinte cutucando meu braço, esqueci de como ela era irritante. Puxei o lençol para cima da cabeça, mas não adiantou, pois, ela simplesmente o arrancou de mim.— Vamos, não volte a dormir, Cassie!Reviro os olhos.— Me deixe aproveitar minhas férias.— Vai aproveitar seguindo seus deveres de madrinha, agora levante se não vou jogar um balde de água em você.— Estou com o tornozelo machucado, esqueceu?Ela olha para mim desconfiada.— Você não quebrou o pé, já está melhor. Vamos logo! — Foi embora em seguida.Olhei para o teto bufando, por esses motivos que eu tinha minha própria casa.Peguei meu celular para checar as mensagens, no meu e-mail tinha uma da Miranda, quase derrubei o celular no chão. Abri o e-mail e dizia: "Olá, Cassandra. Soube que realmente viajou para buscar inspiração, fico feliz que esteja seguindo meu conselho e espero que faça o que pedi com maestria. Sei que consegue, Miranda".Miranda havia mesmo me mandado mensagem, ela realmente esper
Assim que virei a esquina vi o carro que Amanda usava estacionado na garagem de casa, tão torto quanto meus dentes antes do aparelho.Respiro fundo.Teria que ouvir a palestrinha do meu pai de que somos irmãs e devemos nos manter unidas, mas se eles prestassem bem atenção saberiam que a Amanda é tão irritante quanto um dente siso. Não estou dizendo que ela é a pior pessoa do mundo, ela tinha sim, seus pontos positivos, mas parecia que algo em mim a incomodava ao ponto dela fazer da minha vida um inferno enquanto finge ser a pessoa mais dócil do mundo inteiro.Entro batendo a porta da frente sem querer, aperto os olhos por conta do barulho e me mantenho estática.— Cassie! — Ouço a voz estridente da Amanda cada vez mais próximo até ela aparecer no corredor na minha direção. — Meu deus, fiquei preocupada. Por onde esteve?Meus pais aparecem logo atrás dela. Acontece que o caminho de volta foi mais demorado do que pensei, então cheguei em casa pela parte da tarde, morrendo de fome e os c
Paguei as compras usando o cartão do Nial, não cheguei a pensar que a Amanda realmente achou que eu pagaria pelas compras, eu mal tinha dinheiro para o presente de casamento dela. Pelo menos o Nial não reclamou, ambos sabíamos que o débito que ele tinha comigo tinha um custo alto, embora umas compras para churrasco não fossem o suficiente para pagar toda a confusão.Ele me ajudou a guardar as coisas no banco de trás e nós demos partida de volta para casa. O silêncio dentro do carro parecia constrangedor, nós tínhamos muito para conversar, mas quando eu estava perto dele só pensava nos dias que esse mesmo perfume que ele está usando agora ficou na minha roupa. Eu sei, ficar pensando essas coisas a respeito do noivo da minha irmã não era nada bom, mas não conseguia esquecer que eu ainda estava apaixonada por ele.Merda.— Realmente não precisamos conversar? — Perguntou ele quebrando o silêncio, tudo parecia pior, alguém falar sobre o silêncio é pior do que só sentir isso. Fiquei estarre
O churrasco finalmente estava pronto, mamãe e Amanda serviram a mesa do jardim que ficava próximo à churrasqueira. Após tomar quase uma garrafa inteira de vinho eu finalmente me levantei e fui até lá, Amanda usava um biquíni estampado de flores rosas e uma saída de banho branca. Nial fingiu não notar minha presença, estava ao lado de meu pai assando as carnes de hambúrguer.— Ah, Cassandra! Eu fiz o molho de barbecue que você tanto ama. — Amanda anuncia apontando para o pote de vidro cheio de molho. — Não está tão bom quanto o da vovó, mas eu tentei.Arrasto uma cadeira em frente a mesa e me sento.— Obrigada, Amanda.Ela coloca um prato com costela e barbecue para mim.— Pensei que você fosse entrar na piscina também. — Mamãe diz arrumando os cachorros quente. Olho para a piscina bem iluminada, ela foi reformada há um ano, quando eu morava aqui estava rachada e sempre vazia. A noite estava quente, mas eu não faria isso.Balanço a cabeça.— Não trouxe biquíni.— Eu tenho alguns novos
No dia seguinte fingir estar doente para não ter que resolver as coisas de casamento com a Amanda e sua tropa de madrinhas insuportáveis, também porque pensar em qualquer coisa ela ou o Nial ainda me dava náuseas. Desci para tomar café mais tarde, felizmente só estava eu em casa, o Vovô havia ido ao bingo, papai e Nial foram para o golfe e resolver coisas do casamento. Casamento. O dia da cerimônia estava cada vez mais próxima, havia caixas e mais caixas de lembranças e ornamentação.Preparei um café bem forte. Nem mesmo a bebida mais forte que eu já tomei me fez sentir tão na fossa quanto me sinto agora. Meus olhos estavam com lápis de olho ao redor, eu usava tanto aquilo que mesmo quando não passava a tinta parecia ainda estar lá, me dando sempre essa expressão de ressaca e cansaço eterno e os cabelos pretos presos em um coque emaranhado, com apenas minha franja espessa cobrindo a testa. Amanda não tinha isso, na verdade, dificilmente eu a via usando maquiagem, ela tinha toda aquel
Pedimos algumas cervejas e petiscos. Liam me contava sobre a parte boa da sua vida durante esses sete anos longe, eu falei algumas coisas sobre mim, mas nada que chegasse aos pés dele. Enquanto Liam tinha uma vida simples e estável, eu costumava ter crises depreciativas nos fins de semana e toda noite tomava vinho para dormir. — Eu queria ter te mandado mensagem antes, mas não sei... Eu balanço a cabeça. — Eu entendo, você estava com raiva de mim, disse que me odiaria pra sempre e bateu a porta do meu quarto na minha cara. — Coloco as mãos no rosto, com vergonha. — Eu não deveria ter dito aquilo, era a sua primeira vez. Fui um idiota. Amanda morreria se soubesse que minha virgindade foi tirada pelo Liam poucos meses antes de eu aceitar me casar com o André, pouco antes de eu quase negar ir para a faculdade para ficar com o André. Que idiota. Éramos dois adolescentes virgens e cheios de curiosidade. Foi bom, mas acabamos brigado e por consequência, parando de se falar por todo ess
Acordei com batidas da Amanda na minha porta. Minha cabeça parecia pesar uma tonelada. Me arrastei para levantar da cama, caminhei até o espelho e passei as mãos no rosto. Havia rímel borrado nas minhas bochechas, tirei apenas o vestido e me joguei na cama na noite passada. Apesar de a noite passada ter sido um maldito clarão, eu tinha conhecimento das coisas que fiz. Liam. Nial.Liguei o chuveiro e tomei um banho longo, apesar da Amanda me avisar a cada cinco minutos que estávamos atrasados. Eu não queria ver o Nial, não queria que ele olhasse para mim hoje. Queria poder esquecer tudo o que aconteceu nessas últimas semanas.Vesti uma saía jeans, camisa branca e um tênis. Coloquei um óculos e estava pronta para descer e ser recebida pela enxurrada de perguntas da Amanda ou da minha mãe sobre o encontro com Liam.Assim que me viu, Amanda correu até mim, ela usava um vestido florido com saia plissada, parecendo uma dona de casa dos anos 60.— Quero que me conte absolutamente tudo! — Ela