Capítulo 11

Olhei para Nial esperando pela minha resposta tanto quanto ela, mas ele parecia tão desesperado quanto eu. Se eu dissesse não seria estranho, Amanda iria fazer um interrogatório do porquê odeio seu noivo, e ela odiava ser odiada.

Dou de ombros.

— Claro.

Saí em disparada para fora, assim que passei pelo portão comecei a correr, mesmo ouvindo ele batendo a porta de casa atrás de mim.

Aumentei a velocidade quando percebi que ele estava mais próximo de mim, mesmo com minhas canelas ardendo, fazia anos que eu não corria.

— Cass! — Gritou ele atrás de mim. — Podemos conversar?

Continuei correndo. Saímos do condomínio, agora era apenas uma longa rua com poucos carros passando a quilômetros de nós.

— Caramba, poderia me escutar?

Meu peito ardia em raiva, pura e genuína, mas eu continuava a correr como se minha vida dependesse daquilo.

Ele fez eu me apaixonar por aquela noite, me fez acreditar que eu era especial, quando na verdade ele iria se casar daqui há poucos dias com a minha irmã. Nial não tinha o direito de fazer aquilo.

— Me desculpe, por favor, vamos conversar.

Parei no meio do caminho, com as mãos apoiadas nos joelhos, buscando ar. Ele se posicionou a minha frente, com as mãos na cintura, recuperando o folego.

— Eu sinto muito, mesmo...

— Não, não sente. Alguém que sente muito não diria para outra garota que ela é especial, não transaria a noite inteira sem lembrar que tem uma noiva!

Ele morde o lábio inferior com força olhando para o lado.

— Não sei o que é pior, você estar noivo ou a noiva ser a minha irmã! — Passo a mãos no rosto com força. — Você é um galinha, a merda de um cafajeste.

— Não planejei aquilo, não entrei naquele bar planejando trair a sua irmã. Aconteceu, você sabe, simplesmente aconteceu. — Ele diz no mesmo tom, parecendo tão decepcionado quanto eu. — Sinto muito por essa situação, mas eu juro que nada daquilo foi planejado.

Olho para cima, não queria nem olhar para seu rosto perfeitamente angelical e acreditar que aqueles olhos cinza tinha realmente mentido para mim.

— Acreditei em você, como fui burra... — rosno. — Realmente pensei que fosse especial, passei as últimas semanas pensando em você, pensando no que fiz de errado para você nem ter pedido meu número. Talvez eu não tenha sido tão interessante, pensei, mas a merda do problema foi você!

— Cass... — ele tenta segurar meu pulso.

— Não me chama assim! — Ele olha para seus pés. — Meu deus, eu transei com você, eu... estou enojada de imaginar toda essa situação.

Ele tentava acompanhar meus movimentos, mas seria impossível, eu sempre gesticulava muito quando estava irritada.

— Tudo o que lhe disse foi verdade, também pensei em você mais do que deveria nas últimas semanas. — Desvio meu olhar para a estrada, sentindo uma crise de ansiedade cada vez mais próximo. — Eu sinto muito, se eu pudesse mudaria toda essa situação e...

Minha mandíbula estava apertada. Ele toca meu braço com cuidado, parecia ter medo de eu recuar, e foi o que fiz.

— Você é especial e ponto.

— Isso é o quê? Algum tipo de prêmio de consolação? Vai se foder, Nial.

Volto a correr, ele permanece atrás de mim no mesmo ritmo que eu.

— Quer se certificar que não vou contar para a Amanda? — Pergunto.

— Faça o que quiser, apenas quero saber se vai ficar bem.

— Ah — coloco a mão no peito —, você realmente é um lord.

Ouço ele suspirar.

— Não vou dizer nada para ela, pode voltar para a sua noiva.

Percebo que ele não estava mais vindo atrás de mim, ficou pelo caminho.

Volto a correr mais rápido, na tentativa de me afastar e ele não conseguir ver as lágrimas se formando nos meus olhos. Então eu piso em falso no meio-fio, meu pé torce para o lado e eu caio no chão como um saco de batatas, apertando meu tornozelo.

Nial vem correndo até mim, se agacha no chão a minha altura, preocupado.

— Não se aproxime, estou bem. — Falo ríspida.

— Estou vendo, a sua cara de dor deve ser por outra coisa, né? — Ele puxa meu pé para cima do seu colo, analisa meu calcanhar com atenção. Seu toque na parte nua do meu tornozelo fez a dor diminuir drasticamente, como se eu tivesse tomado uma injeção de morfina. — Você pisou em falso, não foi uma contusão. Faz muito tempo que não pratica nada?

Reviro os olhos.

— Moro em Nova York, o que você acha?

Os cantos da sua boca se elevam em um sorriso.

— Não foi nada de mais, mas temos que voltar e colocar uma compressa gelada em cima antes que fique inchado

Nial ainda segurava meu pé, sua respiração descompassada batia na minha pele arrepiando todo o meu corpo.

— Não me disse que era médico, mentiu isso também?

Ele olhou bem para mim com as bochechas vermelhas por conta do sol, meu coração acelerou.

— Não sou, mas quando um dos seus amigos se machucam em uma escalada você aprende essas coisas.

Nial movimentou meu pé para a esquerda, uma dor despontou do meu calcanhar até a panturrilha, recuo num grunhido. Seu queixo afrouxou enquanto ele olhava para mim por baixo das pestanas, me observando com o mesmo olhar de desejo daquela noite.

Tentei levantar, mas o tornozelo continuava a doer, Nial foi rápido e me pegou em seus braços, seu perfume era o mesmo daquela noite, amadeirado e forte. Mesmo suado ele permanecia cheiroso, mesmo com suor escorrendo em sua testa ele continuava a parecer um deus grego.

Fixei meus olhos na rua, sentindo os dele em mim.

— Não pense que fomos amigos. — Advirto. — E eu espero mesmo que aquilo só tenha acontecido comigo, apesar de ser uma pessoa com caráter duvidoso, Amanda não merece isso.

Ele fungou.

— Eu juro, foi apenas com você. — Assegurou.

Nial era forte, me carregou até em casa sem demonstrar qualquer fraqueza, Amanda abriu a porta da frente com preocupação, e ele finalmente me deixou sentada no sofá e foi para a cozinha atrás de gelo.

— O que aconteceu? — Pergunto ela tirando os fiapos de cabelo no meu rosto.

— Pisei em falso.

Mamãe apareceu na sala e pôs as duas mãos em frente aos lábios.

— Pelos céus, se machucou?

— Vou pegar o xarope. — Vovô disse indo para a cozinha.

— Estou bem, Nial me trouxe de volta para casa.

Nial apareceu na sala com um saco de ervilhas congeladas, em seguida pressionou contra meu tornozelo dolorido.

— Acho melhor levá-la para o quarto. — Mamãe diz.

— Estou bem...

— Amor, leva ela, vou preparar alguma coisa para comer. — Amanda pede.

— Estou bem! — Afirmo atordoada. Todos param para me olhar. Eu estava visivelmente abalada. — Certo, me ajude.

Nial me levou para cima enquanto eu sentia minhas bochechas arderem. Ele me colocou na cama com cuidado, depois ficou parado olhando para mim.

— Já pode sair. — Aponto com o queixo em direção à porta.

Ele olha para mim com um olhar perdido.

— Eu não sei o que posso fazer pra conseguir o seu perdão.

— Deveria se preocupar mais com a sua noiva, se ela descobrir será pior.

Ele parecia querer dizer algo, mas sua mandíbula endureceu quando Amanda adentrou o quarto com uma bandeja nas mãos. Ele saiu logo em seguida com ela.

Joguei minha cabeça para trás sentindo o peso do remorso, então tomei a decisão de ir embora quanto antes daqui.

Meu celular iluminou a tela novamente, Aysha estava me ligando, contei a ela tudo o que aconteceu nas últimas horas.

— Parece novela mexicana, eu deveria estar aí, que merda! — Exclamou ela.

— Acontece que nem eu vou estar aqui amanhã.

— Espera, aí, como assim?!

— Vou adiantar minha passagem, quero ir embora daqui.

— Negativo!

— Aysha...

— Agora que você deveria dar o troco nesse homem, fazê-lo sofrer. — Rebateu ela.

Passo a mão na testa.

— Aysha, isso não é a merda de uma novela mexicana.

— Foda-se, dá o troco nele.

— Quais as suas ideias?

— Pega algum primo gostoso, sai com alguém, provoca! Menina, deixa de ser tão parada. Além disso são suas férias, homem nenhum deveria interferir nisso.

Olho para os dois no jardim, Nial estava com o braço ao redor do pescoço da Amanda, rindo de algo. Ambos felizes, aquela cena me doeu, de certo modo, me enfureceu.

— Você tem razão.

— Sempre tenho.

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