Voltei para casa segurando a foto, de vez enquanto olhava, mas tentei não parecer tão melosa ao lado da Aysha. Fora a foto, não encontramos mais nada.
Chegando em casa fui para meu quarto, coloquei a foto dele apoiada em porta canetas e abri o computador. Passei a madrugada escrevendo um texto sobre paixões platônicas, pessoas passageiras que conseguem ser intensas e marcar alguém em tão pouco tempo. Reli aquele artigo mais de dez vezes, me certificando se estava da maneira exata que queria, se consegui transpassar todos os meus sentimentos para o papel. Estava ótimo. Na manhã seguinte me arrumei, tomei um banho de lavar a alma, coloquei uma roupa bonita para tentar recuperar meu emprego. Aysha fez um café reforçado, me senti confiante.Servi um pouco de cereal com leite em uma tigela e li mais uma vez o artigo.— Está bom, Cassie. — Aysha afirma.— Não precisa só estar bom, precisar ser impecável. — Vejo um erro ortográfico e corrijo.Aysha suspira e vai olhar o bacon da frigideira.Rolava a tela do Word pelo meu notebook quando abre uma tela de chamada de vídeo do meu pai, exclamei um "tsc", quase deixei cair na caixa postal, mas atendi.— Oi, pai.A ligação demorou a estabilizar, porém, quando todos os píxeis se organizaram pude ver que não era meu pai, era a Amanda, seus cabelos loiros e os olhos extremamente azuis permaneciam do mesmo jeito, agora ela também usava uma franja espessa no rosto, o que lhe deixava ainda mais bonita. O tempo não passou para ela.— Oi, Cassandra! — Ela falou animada.— Oi...— Caramba, você tá muito linda, quanto tempo! — Seus olhos arregalam em ânimo. — Você mudou muito, Jacarezinho.Olho para Aysha que segurava o riso.— Mudei, você continua... a mesma Amanda de sempre.— Quem é? — Ouço a voz da minha mãe.Balanço a cabeça para Kate.— É a Cassandra, vem dar um oi, mãe!Minha mãe aparece na tela do computador com um pano de prato no ombro, ela aperta os olhos e acena para mim com um sorriso.— Oi, querida, quanta saudade. — Gritou como se eu não entendesse seu idioma. — Estamos com saudades.— Oi, mamãe.Amanda rouba a web cam colocando-a em seu rosto, der repente ela abre um sorriso de orelha a orelha enquanto aponta seu dedo com um belo anel de brilhantes.— Adivinhe só!— Um anel, que legal.— Não, boba. Eu vou me casar! — Ela dá um gritinho estérico, ouço minha mãe sorrindo também. — Ele é maravilhoso, parece que saiu de um seriado alemão. Nos conhecemos em uma viagem para Miami, desde então estamos juntos, já vai fazer dois anos.Aysha já havia desistido de olhar o bacon, prestava atenção atentamente em mim.— Isso é... incrível, meus parabéns.— Obrigada, mas a notícia mesmo é que você vai ser uma das minhas madrinhas, não tem mais volta, já comprei suas passagens! — Ela avisa.Franzo o cenho.— Como assim, você comprou minhas passagens, Amanda?!Ela estala a língua no céu da boca.— Faz anos que você não vem aqui, quis fazer uma surpresa. — Indagou de forma inocente. — Você nem vem mais no natal.Reviro os olhos.— Acontece que estou ocupada com o trabalho.— Ah, é! Mamãe comentou sobre você escrever algumas baboseiras para uma revista, quem ler revista hoje em dia. — Ela força um sorriso novamente — você vem?Travo minha mandíbula, realmente não queria me estressar hoje.— Estou ocupada, Amanda.— Não pode nem pensar a respeito, Jacarezinho? — Ela faz beicinho.— Amanda, eu...Ela olha para o lado abrindo um sorriso, parece que alguém chegou na cozinha.— Tenho que desligar, meu noivo chegou. Te mando o comprovante da passagem, beijos!A tela escurece e Amanda desapareceu.Fico alguns instantes tentando voltar a raciocinar, Amanda sempre fazia isso, não dava ouvidos a ninguém, não sabia ouvir um "não".Casar? Minha irmã mais nova vai se casar, agora sim, ela teria mais um motivo para se gabar e lembrar a todos que fui abandonada no altar.— Ei, se acalma, Cassie. — Aysha fala trazendo um prato com bacon. — Não deixa ela estragar seu dia.Fico algum tempo observando a tela do computador.Amanda era o terror da minha adolescência, conseguiu ser tudo aquilo que eu queria sendo mais nova que eu um ano. Agora, com seus 25 anos iria se casar.— Tem razão, tenho que ir.Levanto da cadeira com meu notebook nas mãos, quase não consigo abrir o zíper da minha bolsa, enfio o pobre aparelho todo desajeitado quase rasgando o tecido da bolsa. Aysha olha para mim com as sobrancelhas arqueadas, mas não estava com cabeça para xingá-la.Já no táxi respiro fundo, lembro o motivo de não falar com a minha família.Miranda lia atentamente meu artigo, sem demonstrar nenhuma feição, em dando momento ela levantou as sobrancelhas rapidamente, mas foi quase imperceptível. Quando terminou, jogou seu ipad em cima da mesa com desprezo, dei um pulinho na cadeira com o susto.— Então? — Pergunto.— É melhor que tudo que você escreveu todos esses meses. — Abro um sorriso. — Mas não é o que eu quero. Te dei essa tarefa na sexta, não faz nem uma semana, você se precipitou, deveria ter analisado mais.— Miranda, eu dei o meu melhor.Ela me lança um olhar mortal.— Eu teria vergonha de dizer isso, Cassandra. — Ela os dedos nas têmporas. — Vou te dar uma segunda oportunidade de refazer, mas dessa vez coloque seu sangue nisso se for preciso.Cruzo as mãos em frente a barriga.— Talvez não seria uma má ideia ir para Nashville, perder a cabeça com a minha família e escrever um texto sobre o quanto odeio minha irmã. — Os olhos da Miranda transformam-se.Ela b**e a mão na mesa.— É isso! Era exatamente esse o sentimento dos seus primeiros textos.Olho para ela assustada, Miranda raramente demonstrava uma expressão que não fosse uma carranca.— Era uma brincadeira.— Pois agora vai ser o que você vai fazer, a menos que não preze tanto assim pelo seu emprego. — Rebateu.Ir para a casa dos meus pais ver a pentelha da minha irmã se gabar por dias, meu emprego aqui valia todo esse esforço? Fazia anos que eu não visitava meu passado, que a Cassandra de 18 anos deixou Nashville completamente arrasada.— Tem razão, vou para Nashville.— Ótimo! Pode ir, está liberada.Pego minha bolsa, mas antes de eu sair ela diz:— Não dou segundas oportunidades, mas você merece, então não me faça arrepender disto. — Disse entre dentes. — O próximo texto que for me entregar vai ser o decisivo.Juntei o resto da minha dignidade e saí.Guardei algumas camisas, calças, calcinhas na mala, faltava apenas as meias que estavam na máquina e meu computador. Aysha observava me movimentando pelo quarto atrás do que faltava, a primeira coisa que ela disse após eu dizer que iria viajar para Nashville foi: "vadia, você está louca?", ela sabia de tudo que aconteceu antes de nós conhecemos na universidade; odiava minha irmã sem nem conhecê-la, não a julgava por isso.— Acha que deveria levar? — Coloco o óculos de grau no rosto, a vejo fazer careta. — Não consigo ler nada sem eles.— Acho que você não deveria ir.Olho para ela pelo rabo do olho.— Sério mesmo, quer ver sua irmã perfeita se gabando da vida perfeita e do futuro marido perfeito dela? — Ela se senta na cama largando a revista.— Sei como lidar com egocentrismo da minha irmã, afinal trabalho para a Miranda. — Observo o óculos fundo de garrafa, definitivamente não. Coloco de volta na mesa de cabeceira.Pego alguns livros jogando na mala também, olho para Aysha, com as m
O silêncio se estabeleceu na sala, todos olhavam para mim sem entender o que estava acontecendo ali. Eu olhava fixo para ele, pergunta-lhe o que diabos era aquilo, talvez ele não fosse o noivo da minha irmã, mas o que estaria fazendo aqui? Me procurando que não seria. Nial, o cara com quem transei e tive uma paixão platônica estava em carne e osso a minha frente, com os olhos azuis disparados e a boca semiaberta, tão surpreso quanto eu.— Vocês se conhecem? — Amanda perguntou olhando para mim e depois para ele.Ele franziu os lábios, se acovardando o suficiente para me deixar explicar sozinha. Minha boca secou, porém a medida que o silêncio aumentava mais estranha a situação ficava.— N-não, óbvio que não. — Bato a mão na testa — você falou tanto sobre ele...— Ah, é verdade. — Amanda sorrir. — Bem, mas apresentando vocês formalmente, querido, essa é minha irmã Cassandra.Por sorte ela não ouviu ele falar meu nome, acho que somente eu vi seus lábios pronunciarem. Amanda o puxou. Vendo
Olhei para Nial esperando pela minha resposta tanto quanto ela, mas ele parecia tão desesperado quanto eu. Se eu dissesse não seria estranho, Amanda iria fazer um interrogatório do porquê odeio seu noivo, e ela odiava ser odiada.Dou de ombros.— Claro.Saí em disparada para fora, assim que passei pelo portão comecei a correr, mesmo ouvindo ele batendo a porta de casa atrás de mim.Aumentei a velocidade quando percebi que ele estava mais próximo de mim, mesmo com minhas canelas ardendo, fazia anos que eu não corria.— Cass! — Gritou ele atrás de mim. — Podemos conversar?Continuei correndo. Saímos do condomínio, agora era apenas uma longa rua com poucos carros passando a quilômetros de nós.— Caramba, poderia me escutar?Meu peito ardia em raiva, pura e genuína, mas eu continuava a correr como se minha vida dependesse daquilo.Ele fez eu me apaixonar por aquela noite, me fez acreditar que eu era especial, quando na verdade ele iria se casar daqui há poucos dias com a minha irmã. Nial
Passei o resto do dia folheando revistas teen da minha adolescência, enquanto no pé ainda descansava numa bolsa térmica.Olhando ao redor eu era uma bela nerd, quem usava meias com sapatilha? A Cassie, ou melhor, Cassandra do passado adorava, provavelmente ela estaria triste por foder com o namorado da irmã, em contra ponto me sinto vingada, mas ela não era assim.Coloco a revista no meu colo suspirando, toda essa situação me deixou esgotada. Queria contar a Amanda tudo, mas ao mesmo tempo me sentia tão culpada por ainda ter meus sentimentos envolvidos nisso, vê-lo casar com minha irmã doeria de qualquer forma.Duas batidas na porta me tiram do meu devaneio, era o minha mãe. — Acha que consegue descer para o jantar? Tem alguém querendo vê-la no andar de baixo. — Anunciou em um tom confortável.— Quem?Ela sorrir e permanece calada.— Certo, minha curiosidade consegue ser maior que minha dor. — Digo tentando me levantar.Minha mãe me ajudou a levantar da cama e descer as escadas, mas
Amanda me acordou no dia seguinte cutucando meu braço, esqueci de como ela era irritante. Puxei o lençol para cima da cabeça, mas não adiantou, pois, ela simplesmente o arrancou de mim.— Vamos, não volte a dormir, Cassie!Reviro os olhos.— Me deixe aproveitar minhas férias.— Vai aproveitar seguindo seus deveres de madrinha, agora levante se não vou jogar um balde de água em você.— Estou com o tornozelo machucado, esqueceu?Ela olha para mim desconfiada.— Você não quebrou o pé, já está melhor. Vamos logo! — Foi embora em seguida.Olhei para o teto bufando, por esses motivos que eu tinha minha própria casa.Peguei meu celular para checar as mensagens, no meu e-mail tinha uma da Miranda, quase derrubei o celular no chão. Abri o e-mail e dizia: "Olá, Cassandra. Soube que realmente viajou para buscar inspiração, fico feliz que esteja seguindo meu conselho e espero que faça o que pedi com maestria. Sei que consegue, Miranda".Miranda havia mesmo me mandado mensagem, ela realmente esper
Assim que virei a esquina vi o carro que Amanda usava estacionado na garagem de casa, tão torto quanto meus dentes antes do aparelho.Respiro fundo.Teria que ouvir a palestrinha do meu pai de que somos irmãs e devemos nos manter unidas, mas se eles prestassem bem atenção saberiam que a Amanda é tão irritante quanto um dente siso. Não estou dizendo que ela é a pior pessoa do mundo, ela tinha sim, seus pontos positivos, mas parecia que algo em mim a incomodava ao ponto dela fazer da minha vida um inferno enquanto finge ser a pessoa mais dócil do mundo inteiro.Entro batendo a porta da frente sem querer, aperto os olhos por conta do barulho e me mantenho estática.— Cassie! — Ouço a voz estridente da Amanda cada vez mais próximo até ela aparecer no corredor na minha direção. — Meu deus, fiquei preocupada. Por onde esteve?Meus pais aparecem logo atrás dela. Acontece que o caminho de volta foi mais demorado do que pensei, então cheguei em casa pela parte da tarde, morrendo de fome e os c
Paguei as compras usando o cartão do Nial, não cheguei a pensar que a Amanda realmente achou que eu pagaria pelas compras, eu mal tinha dinheiro para o presente de casamento dela. Pelo menos o Nial não reclamou, ambos sabíamos que o débito que ele tinha comigo tinha um custo alto, embora umas compras para churrasco não fossem o suficiente para pagar toda a confusão.Ele me ajudou a guardar as coisas no banco de trás e nós demos partida de volta para casa. O silêncio dentro do carro parecia constrangedor, nós tínhamos muito para conversar, mas quando eu estava perto dele só pensava nos dias que esse mesmo perfume que ele está usando agora ficou na minha roupa. Eu sei, ficar pensando essas coisas a respeito do noivo da minha irmã não era nada bom, mas não conseguia esquecer que eu ainda estava apaixonada por ele.Merda.— Realmente não precisamos conversar? — Perguntou ele quebrando o silêncio, tudo parecia pior, alguém falar sobre o silêncio é pior do que só sentir isso. Fiquei estarre
O churrasco finalmente estava pronto, mamãe e Amanda serviram a mesa do jardim que ficava próximo à churrasqueira. Após tomar quase uma garrafa inteira de vinho eu finalmente me levantei e fui até lá, Amanda usava um biquíni estampado de flores rosas e uma saída de banho branca. Nial fingiu não notar minha presença, estava ao lado de meu pai assando as carnes de hambúrguer.— Ah, Cassandra! Eu fiz o molho de barbecue que você tanto ama. — Amanda anuncia apontando para o pote de vidro cheio de molho. — Não está tão bom quanto o da vovó, mas eu tentei.Arrasto uma cadeira em frente a mesa e me sento.— Obrigada, Amanda.Ela coloca um prato com costela e barbecue para mim.— Pensei que você fosse entrar na piscina também. — Mamãe diz arrumando os cachorros quente. Olho para a piscina bem iluminada, ela foi reformada há um ano, quando eu morava aqui estava rachada e sempre vazia. A noite estava quente, mas eu não faria isso.Balanço a cabeça.— Não trouxe biquíni.— Eu tenho alguns novos