Capítulo 08

Voltei para casa segurando a foto, de vez enquanto olhava, mas tentei não parecer tão melosa ao lado da Aysha. Fora a foto, não encontramos mais nada.

Chegando em casa fui para meu quarto, coloquei a foto dele apoiada em porta canetas e abri o computador. Passei a madrugada escrevendo um texto sobre paixões platônicas, pessoas passageiras que conseguem ser intensas e marcar alguém em tão pouco tempo. Reli aquele artigo mais de dez vezes, me certificando se estava da maneira exata que queria, se consegui transpassar todos os meus sentimentos para o papel. Estava ótimo. Na manhã seguinte me arrumei, tomei um banho de lavar a alma, coloquei uma roupa bonita para tentar recuperar meu emprego. Aysha fez um café reforçado, me senti confiante.

Servi um pouco de cereal com leite em uma tigela e li mais uma vez o artigo.

— Está bom, Cassie. — Aysha afirma.

— Não precisa só estar bom, precisar ser impecável. — Vejo um erro ortográfico e corrijo.

Aysha suspira e vai olhar o bacon da frigideira.

Rolava a tela do Word pelo meu notebook quando abre uma tela de chamada de vídeo do meu pai, exclamei um "tsc", quase deixei cair na caixa postal, mas atendi.

— Oi, pai.

A ligação demorou a estabilizar, porém, quando todos os píxeis se organizaram pude ver que não era meu pai, era a Amanda, seus cabelos loiros e os olhos extremamente azuis permaneciam do mesmo jeito, agora ela também usava uma franja espessa no rosto, o que lhe deixava ainda mais bonita. O tempo não passou para ela.

— Oi, Cassandra! — Ela falou animada.

— Oi...

— Caramba, você tá muito linda, quanto tempo! — Seus olhos arregalam em ânimo. — Você mudou muito, Jacarezinho.

Olho para Aysha que segurava o riso.

— Mudei, você continua... a mesma Amanda de sempre.

— Quem é? — Ouço a voz da minha mãe.

Balanço a cabeça para Kate.

— É a Cassandra, vem dar um oi, mãe!

Minha mãe aparece na tela do computador com um pano de prato no ombro, ela aperta os olhos e acena para mim com um sorriso.

— Oi, querida, quanta saudade. — Gritou como se eu não entendesse seu idioma. — Estamos com saudades.

— Oi, mamãe.

Amanda rouba a web cam colocando-a em seu rosto, der repente ela abre um sorriso de orelha a orelha enquanto aponta seu dedo com um belo anel de brilhantes.

— Adivinhe só!

— Um anel, que legal.

— Não, boba. Eu vou me casar! — Ela dá um gritinho estérico, ouço minha mãe sorrindo também. — Ele é maravilhoso, parece que saiu de um seriado alemão. Nos conhecemos em uma viagem para Miami, desde então estamos juntos, já vai fazer dois anos.

Aysha já havia desistido de olhar o bacon, prestava atenção atentamente em mim.

— Isso é... incrível, meus parabéns.

— Obrigada, mas a notícia mesmo é que você vai ser uma das minhas madrinhas, não tem mais volta, já comprei suas passagens! — Ela avisa.

Franzo o cenho.

— Como assim, você comprou minhas passagens, Amanda?!

Ela estala a língua no céu da boca.

— Faz anos que você não vem aqui, quis fazer uma surpresa. — Indagou de forma inocente. — Você nem vem mais no natal.

Reviro os olhos.

— Acontece que estou ocupada com o trabalho.

— Ah, é! Mamãe comentou sobre você escrever algumas baboseiras para uma revista, quem ler revista hoje em dia. — Ela força um sorriso novamente — você vem?

Travo minha mandíbula, realmente não queria me estressar hoje.

— Estou ocupada, Amanda.

— Não pode nem pensar a respeito, Jacarezinho? — Ela faz beicinho.

— Amanda, eu...

Ela olha para o lado abrindo um sorriso, parece que alguém chegou na cozinha.

— Tenho que desligar, meu noivo chegou. Te mando o comprovante da passagem, beijos!

A tela escurece e Amanda desapareceu.

Fico alguns instantes tentando voltar a raciocinar, Amanda sempre fazia isso, não dava ouvidos a ninguém, não sabia ouvir um "não".

Casar? Minha irmã mais nova vai se casar, agora sim, ela teria mais um motivo para se gabar e lembrar a todos que fui abandonada no altar.

— Ei, se acalma, Cassie. — Aysha fala trazendo um prato com bacon. — Não deixa ela estragar seu dia.

Fico algum tempo observando a tela do computador.

Amanda era o terror da minha adolescência, conseguiu ser tudo aquilo que eu queria sendo mais nova que eu um ano. Agora, com seus 25 anos iria se casar.

— Tem razão, tenho que ir.

Levanto da cadeira com meu notebook nas mãos, quase não consigo abrir o zíper da minha bolsa, enfio o pobre aparelho todo desajeitado quase rasgando o tecido da bolsa. Aysha olha para mim com as sobrancelhas arqueadas, mas não estava com cabeça para xingá-la.

Já no táxi respiro fundo, lembro o motivo de não falar com a minha família.

Miranda lia atentamente meu artigo, sem demonstrar nenhuma feição, em dando momento ela levantou as sobrancelhas rapidamente, mas foi quase imperceptível. Quando terminou, jogou seu ipad em cima da mesa com desprezo, dei um pulinho na cadeira com o susto.

— Então? — Pergunto.

— É melhor que tudo que você escreveu todos esses meses. — Abro um sorriso. — Mas não é o que eu quero. Te dei essa tarefa na sexta, não faz nem uma semana, você se precipitou, deveria ter analisado mais.

— Miranda, eu dei o meu melhor.

Ela me lança um olhar mortal.

— Eu teria vergonha de dizer isso, Cassandra. — Ela os dedos nas têmporas. — Vou te dar uma segunda oportunidade de refazer, mas dessa vez coloque seu sangue nisso se for preciso.

Cruzo as mãos em frente a barriga.

— Talvez não seria uma má ideia ir para Nashville, perder a cabeça com a minha família e escrever um texto sobre o quanto odeio minha irmã. — Os olhos da Miranda transformam-se.

Ela b**e a mão na mesa.

— É isso! Era exatamente esse o sentimento dos seus primeiros textos.

Olho para ela assustada, Miranda raramente demonstrava uma expressão que não fosse uma carranca.

— Era uma brincadeira.

— Pois agora vai ser o que você vai fazer, a menos que não preze tanto assim pelo seu emprego. — Rebateu.

Ir para a casa dos meus pais ver a pentelha da minha irmã se gabar por dias, meu emprego aqui valia todo esse esforço? Fazia anos que eu não visitava meu passado, que a Cassandra de 18 anos deixou Nashville completamente arrasada.

— Tem razão, vou para Nashville.

— Ótimo! Pode ir, está liberada.

Pego minha bolsa, mas antes de eu sair ela diz:

— Não dou segundas oportunidades, mas você merece, então não me faça arrepender disto. — Disse entre dentes. — O próximo texto que for me entregar vai ser o decisivo.

Juntei o resto da minha dignidade e saí.

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