CAPÍTULO 3
Maria Luíza Duarte Ao chegar no quarto, fui amparada pela minha mãe e levada até o chuveiro do banheiro. Esse é o lugar que normalmente passo horas. A água escorria pelo meu corpo. O calor do abraço da minha mãe misturado com a textura da água, era o único conforto naquele momento, amenizando a minha angústia e o meu desespero. Muitas coisas aconteceram de uma vez só, estava difícil de assimilar. Ela sabia que palavras não trariam solução, e isso que nem imagina que também fui enganada por Marco, mas sua presença sempre conseguiu amenizar as tempestades dentro de mim. Ficamos ali, abraçadas e vestidas, até que as lágrimas secaram e meu coração encontrou um ritmo mais calmo. — Você é forte, filha — minha mãe disse suavemente, passando a mão pelos meus cabelos. — Só quero que saiba disso. Eu sabia que precisava ser forte. A vida inteira fui preparada para os acordos que moldavam nossa família, e embora soubesse que não teria como escapar do destino que me foi traçado, algo dentro de mim lutava com todas as forças para não ceder. Saí do chuveiro com a mente mais clara, mas o peso da decisão ainda estava sobre meus ombros. Fiz uma pequena mala com roupas simples. No outro dia, o silêncio pairava pela casa enquanto eu me despedia dos meus pais. — Filha, me deixe salvar o número de Alexei pra você — meu pai disse e lhe entreguei o celular. Não houve longos abraços ou promessas de retorno, porque todos nós sabíamos o que aquele casamento significava. Eles acreditavam estar garantindo minha segurança e fortalecendo nossos laços com a máfia russa. E eu... eu estava me entregando a algo muito maior do que jamais imaginei. O voo convencional que Alexei mencionou estava pronto, mas para minha surpresa, uma mudança havia sido feita. Quando cheguei ao aeroporto, um jato particular estava à minha espera. As instruções haviam mudado. Subi as escadas do avião com passos pesados, meu coração batendo descompassado. Eu ainda estava processando os eventos do dia anterior, as palavras cortantes de Alexei, sua presença opressora. Sentei em uma poltrona de couro macio, tentando acalmar a respiração enquanto o avião taxiava na pista. Eu precisava fazer algo. Como eu pude aceitar isso? Por mais centrada que sempre fui, simplesmente não podia agora, deveria ter alguma outra forma. Com mãos trêmulas, peguei o celular. O impulso de cancelar o casamento que me corroía, agora se tornava impossível de ignorar. Sabia que não seria fácil, mas não deixaria de tentar uma última vez. Quando Alexei atendeu, o silêncio do outro lado da linha foi mais ameaçador do que qualquer palavra. — Alexei, precisamos conversar — disse, tentando manter minha voz firme, mas sabia que ele sentiria o tremor nas minhas palavras. — Sim, estou ouvindo — ele respondeu com a mesma frieza do dia anterior, como se aquilo fosse apenas mais uma interrupção na sua rotina controlada. Respirei fundo. — Eu pensei muito sobre isso e... existe alguma forma de cancelarmos esse acordo? O silêncio dele foi como uma faca cortando o ar. Por um momento, quase pude sentir o peso da sua raiva contida antes dele responder, com uma calma que me gelou a espinha. — Ah, pensou muito, foi? — A ironia escorria das suas palavras. — E desde quando o que você pensa significa algo pra mim? Apertei o celular com força, sentindo as unhas cravarem na palma da mão. Ele estava me provocando. — Alexei, eu não sou sua propriedade! Não posso viver assim, sendo forçada a algo que eu não quero. Eu não deveria ter aceitado. A risada dele ecoou pelo telefone, mas era uma risada fria, sem qualquer traço de humor. — Não posso? — ele disse, a voz mais baixa e mais ameaçadora. — Você realmente acha que tem escolha? Acha que pode simplesmente dizer 'não' e tudo estará resolvido? — de repente sua voz ficou bem alta — Espero que já esteja no avião e não me faça me estressar, caralho! Se você não aparecer na minha casa no horário programado, dê adeus para seus parentes de merda! Minha garganta secou, mas as palavras saíram antes que eu pudesse pensar duas vezes. — Prefiro morrer a ser sua esposa! O silêncio que se seguiu foi ainda mais assustador. E então, ele falou, dessa vez sem disfarçar a crueldade. — Esse casamento vai acontecer, quer você queira ou não. E se tentar fugir... quem vai sofrer não será só você, e não vou repetir. Por mais horrível que seja seu vocabulário Russo... burra sei que não é! Senti o sangue gelar nas veias. O pânico começou a tomar conta de mim. Eu tremia de raiva, de medo. Queria gritar, mas as palavras dele me prendiam, como correntes invisíveis apertando cada vez mais, sufocando minha vontade. Eu sentia um nó no estômago. Meu olhar fixo no horizonte não encontrava paz, acabei desligando para não complicar ainda mais. Cada quilômetro me afastava ainda mais da vida que eu queria. A cada segundo, sentia-me mais presa, mais sufocada. Como se as correntes invisíveis que me prendiam a Alexei Kim apertassem cada vez mais. Foi nesse momento que o avião começou a tremer. As luzes piscaram, e o clima de tensão se espalhou pela cabine. Olhei ao redor, vendo os rostos dos passageiros mudarem à medida que o pânico começava a se instaurar. A voz do piloto soou no alto-falante, mas era difícil ouvir em meio à confusão: — Senhores passageiros, estamos enfrentando uma pane elétrica. Pedimos que mantenham a calma enquanto nossa equipe técnica tenta resolver o problema. “Calma?“ A turbulência aumentava, o avião balançava violentamente. Olhei pela janela, tentando encontrar alguma coisa familiar, mas tudo que via eram nuvens e mais nuvens. O pânico começou a me dominar. O avião deu uma sacudida mais forte, e as luzes se apagaram. “Droga! Alexei rogou praga?“ O pânico explodiu na cabine, gritos de desespero cortavam o ar, e eu não conseguia respirar. Senti o celular escorregar das minhas mãos, caindo no chão enquanto tudo ao meu redor parecia desmoronar.CAPÍTULO 4 Maria Luíza Duarte Meu coração batia descompassado, como se fosse saltar do peito. O avião balançava cada vez mais, os gritos ecoavam por todos os lados, e a minha visão começou a embaçar. As luzes piscavam descontroladas, e a única coisa que conseguia sentir era o medo crescendo dentro de mim. “Eu não posso morrer aqui... Não agora.” — DROGA, ALEXEI! EU MENTI, NÃO QUERO MORRER, EU ME CASO COM VOCÊ! — Gritei com o choque, segurando firme na poltrona. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões pareciam não obedecer. O pânico subiu à minha garganta, as mãos tremiam, e eu me vi sem controle sobre o que acontecia ao meu redor. As paredes da cabine pareciam se fechar, e minha visão começou a escurecer. A crise de ansiedade estava voltando a dar sinais... senti a dor no peito, a falta de ar, o pânico, aquela sensação de que estou infartando, uma angústia muito forte... caramba! Um homem alto, de jaleco branco, se aproximou rapidamente de mim. Ele se ajoelhou ao
CAPÍTULO 5 Don Alexei Kim — Don Alexei... desculpe interromper, mas perdemos o sinal do avião que traria sua noiva — paro de contar as armas no mesmo instante, olhando para meu soldado parado na porta. — Porra! Por que diabos perdemos o sinal do avião? Você não disse que estava tudo certo? Acabei de falar com Maria Luíza, merda! — joguei a última pistola na caixa, fechando com raiva. Em seguida, peguei meu celular para ligar pra ela. — Nenhum dos nossos homens estão atendendo, Don. Eu estou tentando ligar, mas não estou conseguindo, nem mesmo o médico atende — olhei com raiva para o soldado com vontade de explodir sua cabeça, e comecei a xingar no telefone: — Atende, porra! Pra perturbar me ligou agora mesmo, caralho! — a ligação nem chamava, estava desligado. “Você não vai escapar de mim, Maria Luíza, não vai!“ — Devemos mandar uma equipe pra Roma, Don? — respiro fundo. — Já localizaram o avião? — Deu algum problema no localizador, não fazemos ideia de onde
CAPÍTULO 6 Maria Luíza Duarte Ouvir aquelas vozes discutindo a morte de Alexei e Don Antony, havia despertado um instinto de sobrevivência que eu não sabia que possuía. Eu precisava pensar rápido, agir antes que me descobrissem. Não podia deixar que as coisas saíssem do controle, mas também não podia permitir que Alexei ou Antony fossem mortos por nada. Cheguei à porta da sala de estar, onde os homens discutiam de forma acalorada. Minhas mãos estavam frias e trêmulas, e por um breve momento, considerei fugir. Mas me lembrei de que não havia para onde ir. Estava em uma ilha isolada, cercada de homens prontos para matar ou serem mortos. Se eu fosse descoberta como um peão entre os dois Dons, acabaria sendo o próximo alvo. Respirei fundo, reunindo toda a coragem que ainda me restava. “Vamos, Maria Luíza. Se tem uma coisa que aprendeu ao crescer nessa vida, foi a não demonstrar fraqueza”. Abri a porta de uma vez, entrando na sala com passos firmes. Todos os olhos se vol
CAPÍTULO 7 Alexei Kim O jato aterrissou com uma força brutal na pista rochosa da ilha de Elba, e eu não esperei sequer as turbinas desacelerarem para sair da cabine. Assim que meus pés tocaram o chão, minha equipe já estava a postos, formando um semicírculo em torno de mim, prontos para agir. Não precisaram de ordens. Eu sabia que Maria Luíza estava dentro da casa grande, e enquanto andava em direção à porta, a raiva queimava lentamente dentro de mim. “Essa mulher pensa que tenho tempo para essas merdas?“ Assim que entrei, vi Don Antony já acomodado, com aquele sorriso maldito no rosto, como se estivesse esperando por mim. — Alexei, sempre pontual. — Ele se levantou lentamente, estendendo a mão como se fosse um encontro amigável. Mas eu não estava interessado em cordialidades. — Onde ela está? — perguntei, ignorando o gesto e avançando diretamente para o centro da sala. — Depois que cumprimentar o Don vai saber... — era aquele maldito consigliere. O enc
CAPÍTULO 8 Maria Luíza Duarte Foram as horas mais detestadas da minha vida. Cada vez que Alexei me encarava, eu fazia pior, deixando claro que não me intimidaria. Ele me ignorava o tempo todo, mas não sou tonta, via quando olhava para minhas pernas. Acabei dormindo na poltrona, e acordei toda torta, assustada com aquela voz grossa, me chamando: — Vamos descer. — A voz de Alexei cortou o silêncio da cabine do jato como uma lâmina, me arrancando de um sono perturbado. Me esforcei para abrir os olhos e me orientar. Estava tão cansada que não sabia quanto tempo tinha passado desde que o jato pousou. Meu corpo doía de estar torta na poltrona e, ao levantar, me estiquei um pouco, soltando um suspiro frustrado. Alexei estava impassível na porta, me esperando, e, sem dizer mais nada, desci logo atrás dele. Assim que saímos do jato, ele caminhou na minha frente, sem olhar para trás. Ao longe, vi um carro preto esperando. Aquele silêncio todo me dava nos nervos. Ele achava que po
CAPÍTULO 9 Maria Luíza Duarte Olhei para o closet e fui até lá devagar. Me subiu uma raiva quando vi tantas roupas penduradas... roupas que eram da defunta, a mulher que meu futuro marido, amava. — Não vou usar nada disso, demônio encantador... — olhei a minha volta procurando pelas minhas coisas, e quase morri de raiva quando percebi que havia perdido tudo no avião. Entrei no banheiro para tomar um banho, a porta não tinha chave. “Ah, você me paga, Alexei!“ — Entrei no chuveiro mesmo assim, molhei todo o meu corpo e passei um shampoo no cabelo. Senti meu coração acelerar no mesmo instante em que ouvi um barulho no quarto. O som de passos pesados fez meu corpo congelar. Eu sabia que só podia ser ele, o homem que agora controlava minha vida. "Alexei..." pensei, com a espuma escorrendo pelos meus ombros. O pânico tomou conta. Meus olhos se abriram, mas a espuma ainda cobria meu rosto, me cegando. Com pressa, comecei a enxaguar o cabelo, tentando me livrar da
CAPÍTULO 10 Alexei Kim Eu estava irritado, Maria Luíza deveria se preocupar com a minha filha, mas nem tentou acalmá-la. Dobrei o corredor e já no meu escritório, ouvi a voz da babá ecoar pelo corredor. Ela parecia alarmada, o que raramente acontecia. Levantei a cabeça, irritado pela interrupção, mas quando ouvi as palavras claramente, senti um gelo correr pela espinha. — Don Alexei, a senhora desmaiou! — a babá gritou, desesperada. Larguei tudo e saí em disparada pelo corredor. O barulho dos meus passos ecoava pelas paredes da casa enquanto eu me aproximava. Não era normal Maria Luíza desmaiar. Algo estava muito errado. Ao virar o corredor, a vi caída no chão, inconsciente, a babá ajoelhada ao lado dela, com o rosto pálido. Me ajoelhei rapidamente ao lado de Maria Luíza, o pânico que eu raramente sentia começou a invadir minha mente. — Saia daqui, rápido! — rosnei para a babá. Ela se levantou num pulo e desapareceu pelo corredor, provavelmente indo atrás de a
Capítulo 11 Maria Luíza Acordei ofegante, com o coração disparado, os olhos arregalados tentando entender onde eu estava. A luz suave do quarto parecia distante, como se eu estivesse presa entre a realidade e um pesadelo do qual não conseguia escapar. Levei alguns segundos até reconhecer o quarto. A primeira coisa que senti foi o toque firme e quente de uma mão segurando a minha. — Calma, Maria Luíza. — A voz dele era baixa, quase suave, o que era estranho vindo de alguém como Alexei que sempre falava com autoridade. — Você está segura. Respire devagar. — O que... O que aconteceu? — Eu virei o rosto devagar e o encontrei sentado ao meu lado, seus olhos fixos em mim, cheios de algo que eu não conseguia decifrar. Não era o Alexei usual, tão impenetrável e duro. Minha mente ainda estava confusa. Tudo parecia lento, como se eu estivesse embaixo d’água, mas consegui focar no rosto dele. Eu não sabia o que pensar. Meu coração começou a acelerar, e me forcei a desviar o olhar, ten