CAPÍTULO 2
Maria Luíza Duarte Aquele homem parecia um demônio, mas não posso negar... um demônio que beija muito bem. Fiquei imóvel, em choque, imaginando como seria em território dele. Um homem frio, esnobe, que parece ter me detestado assim que me viu? Ele só me beijou porque “sou dele”? Por que diabos aceitei esse acordo? Percebi que estava sozinha, Marco voltou, tentou se aproximar, mas corri feito doida. Fui para os fundos da propriedade do meu pai e tirei apenas os sapatos, antes de pular no lago, que de acordo com meu tratamento, era uma das coisas que poderia aplacar um pouco da minha agonia, agora. Me sinto confortável, me sinto calma. De repente, mãos fortes me puxaram com tudo da água assim que atravessei o lago, e senti meu corpo arranhar na terra. — Que porra, mulher! Eu nem havia ido embora e você se j**a na água como uma qualquer? Saia daqui imediatamente! Se um dos meus homens te ver com essa roupa grudada no corpo, arcará com as consequências! — era Alexei, estava furioso. “Ele não foi embora?“ Minha respiração começou a falhar, rápida e curta. O coração descompassado batia tão forte que parecia querer rasgar meu peito por dentro. Tentei me concentrar, mas era como se cada célula do meu corpo estivesse prestes a explodir fora da água. As palavras dele ecoavam na minha mente, me apertando mais ainda. "Consequências... avião... vergonha." Senti o terno de luxo dele, pesar sobre mim, me sufocando mais. O pânico se instalou de vez. Eu sabia o que estava acontecendo: uma crise de ansiedade. Eu odiava essa sensação, a falta de controle, o nó que parecia subir pela garganta. Mas dessa vez, algo dentro de mim não queria ceder. Eu não podia continuar deixando que todos — especialmente ele — me tratassem assim. — CONSEQUÊNCIAS? — gritei, sentindo meu peito arder com a explosão. Joguei o terno dele no chão, empurrando-o com força. — Você acha que tem o direito de falar comigo, assim? DE ME TRATAR COMO SE EU FOSSE UM OBJETO, UMA BONECA QUE VOCÊ PODE CONTROLAR? Me levantei rapidamente, tremendo não só de medo, mas de fúria. O olhar de surpresa nos olhos azuis de Alexei me deu mais coragem. Ele não esperava que eu reagisse. — Eu não sou sua m*****a propriedade! — continuei, os olhos queimando de lágrimas que eu me recusava a deixar cair. — Eu não vou para a sua casa como um animal de estimação, muito menos vou aceitar suas ordens como se você fosse meu dono! Se você acha que vai me controlar dessa maneira, está muito enganado! Alexei me olhava em silêncio, a expressão endurecida. Ele tentou se aproximar, mas eu levantei a mão, o impedindo de chegar mais perto. — Não se atreva! — minha voz saiu firme, surpreendendo até a mim. — Não se atreva a me tratar desse jeito novamente. Se você acha que esse casamento vai funcionar com base no medo, saiba que eu nunca vou me curvar para você. Ele parou, me encarando com uma intensidade que me fez estremecer por dentro, mas eu me mantive firme. O silêncio que se seguiu era pesado, tenso, mas eu não o deixaria ter a última palavra. Não dessa vez. — Entre. — Falou firme. — Acha que é um demônio? Eu já enfrentei piores. — Respirei fundo, sentindo a adrenalina correr pelo meu corpo, acalmando a ansiedade. — E vou sobreviver a você também. O rosto dele ficou sombrio, mas não disse nada. Apenas me olhou por mais alguns segundos, abaixou juntando o terno e colocou sobre mim, antes de dar um passo para trás, sem perder o olhar de desafio que me lançou. — Veremos — murmurou com frieza, virando-se para ir embora. Assim que ele desapareceu de vista, senti minhas pernas cederem, mas não parei. Até que senti meu corpo colidir com alguém. — Marco? — Malu, você não pode ir com ele. Foi tudo um mal-entendido, aquela mulher me seduziu, entrou no quarto, tirou a roupa... — ele começou a apertar meus braços, me segurando e eu tentando me desprender. — Me solta! — Eu não quero que vá embora. Não aceite o acordo, o Don não vai te obrigar... — comecei a me desesperar, ele não me soltava, meu braço estava doendo. — Me solta, eu não quero você... — reclamei baixo para não chamar a atenção. Até que congelei ao perceber que o demônio encantador ainda estava ali, pois ouvi a sua voz e o vi engatilhar uma Udav 9 mm, arma de fabricação russa, para substituir a Macarov. — Blyat! Quer morrer, soldado? — Alexei falou e me puxou apenas uma vez. Senti meu corpo ceder e escorregar nos braços dele, deixando meu rosto perto do seu queixo. “Ele parece tão alto, agora!“ Nosso olhar se encontrou novamente, senti como dessa vez ele pareceu me dar atenção, e abri a boca ao sentir sua mão com uma pegada firme na minha cintura. “Por que estou me perguntando se ele vai me beijar de novo?“ — Então ouvi o pior absurdo da minha vida: — Perdão senhor! Sou apenas um soldado, imploro por perdão. — Marco mudou até o tom de voz — A senhorita me detesta, eu só estava tentando conseguir um pouco de compaixão da parte dela. A minha noiva trabalha na casa e a senhorita demitiu sem motivos! “Ele mentiu na minha cara?“ — tentei me virar, tamanha a raiva que estava sentindo, mas Alexei me segurava firme e quando fui falar, colocou a arma perto da minha boca. Seu movimento não foi violento, foi delicado. Seus olhos não me enganaram. Alexei me virou devagar e foi soltando meu corpo. Parecia tentar me dizer que estava no controle. — Se a minha noiva a demitiu... então corra! Porque você tem três minutos para tirá-la dessa casa e colocar suas coisas pra fora, ou te farei visitar o diabo. E eu espero não voltar a ver a cena que vi, porque meus dedos estão coçando de vontade de atirar, e só não vou fazer isso por respeito à bela dama com quem vou me casar e não precisa ver isso. De boca aberta me virei devagar, sentindo a mão dele acariciando meu braço. Imóvel, nem vi quando Marco saiu, e sem querer deixei um sorriso escapar. Aquela puttana era conhecida minha, uma traidora que deveria rir de mim pelas costas... agora ela estaria fora, porque eu não desmentiria Alexei. — Obrigada... — sussurrei. Alexei guardou a Udav e ainda me encarando apenas assentiu de leve. — Não se atrase...CAPÍTULO 3 Maria Luíza Duarte Ao chegar no quarto, fui amparada pela minha mãe e levada até o chuveiro do banheiro. Esse é o lugar que normalmente passo horas. A água escorria pelo meu corpo. O calor do abraço da minha mãe misturado com a textura da água, era o único conforto naquele momento, amenizando a minha angústia e o meu desespero. Muitas coisas aconteceram de uma vez só, estava difícil de assimilar. Ela sabia que palavras não trariam solução, e isso que nem imagina que também fui enganada por Marco, mas sua presença sempre conseguiu amenizar as tempestades dentro de mim. Ficamos ali, abraçadas e vestidas, até que as lágrimas secaram e meu coração encontrou um ritmo mais calmo. — Você é forte, filha — minha mãe disse suavemente, passando a mão pelos meus cabelos. — Só quero que saiba disso. Eu sabia que precisava ser forte. A vida inteira fui preparada para os acordos que moldavam nossa família, e embora soubesse que não teria como escapar do des
CAPÍTULO 4 Maria Luíza Duarte Meu coração batia descompassado, como se fosse saltar do peito. O avião balançava cada vez mais, os gritos ecoavam por todos os lados, e a minha visão começou a embaçar. As luzes piscavam descontroladas, e a única coisa que conseguia sentir era o medo crescendo dentro de mim. “Eu não posso morrer aqui... Não agora.” — DROGA, ALEXEI! EU MENTI, NÃO QUERO MORRER, EU ME CASO COM VOCÊ! — Gritei com o choque, segurando firme na poltrona. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões pareciam não obedecer. O pânico subiu à minha garganta, as mãos tremiam, e eu me vi sem controle sobre o que acontecia ao meu redor. As paredes da cabine pareciam se fechar, e minha visão começou a escurecer. A crise de ansiedade estava voltando a dar sinais... senti a dor no peito, a falta de ar, o pânico, aquela sensação de que estou infartando, uma angústia muito forte... caramba! Um homem alto, de jaleco branco, se aproximou rapidamente de mim. Ele se ajoelhou ao
CAPÍTULO 5 Don Alexei Kim — Don Alexei... desculpe interromper, mas perdemos o sinal do avião que traria sua noiva — paro de contar as armas no mesmo instante, olhando para meu soldado parado na porta. — Porra! Por que diabos perdemos o sinal do avião? Você não disse que estava tudo certo? Acabei de falar com Maria Luíza, merda! — joguei a última pistola na caixa, fechando com raiva. Em seguida, peguei meu celular para ligar pra ela. — Nenhum dos nossos homens estão atendendo, Don. Eu estou tentando ligar, mas não estou conseguindo, nem mesmo o médico atende — olhei com raiva para o soldado com vontade de explodir sua cabeça, e comecei a xingar no telefone: — Atende, porra! Pra perturbar me ligou agora mesmo, caralho! — a ligação nem chamava, estava desligado. “Você não vai escapar de mim, Maria Luíza, não vai!“ — Devemos mandar uma equipe pra Roma, Don? — respiro fundo. — Já localizaram o avião? — Deu algum problema no localizador, não fazemos ideia de onde
CAPÍTULO 6 Maria Luíza Duarte Ouvir aquelas vozes discutindo a morte de Alexei e Don Antony, havia despertado um instinto de sobrevivência que eu não sabia que possuía. Eu precisava pensar rápido, agir antes que me descobrissem. Não podia deixar que as coisas saíssem do controle, mas também não podia permitir que Alexei ou Antony fossem mortos por nada. Cheguei à porta da sala de estar, onde os homens discutiam de forma acalorada. Minhas mãos estavam frias e trêmulas, e por um breve momento, considerei fugir. Mas me lembrei de que não havia para onde ir. Estava em uma ilha isolada, cercada de homens prontos para matar ou serem mortos. Se eu fosse descoberta como um peão entre os dois Dons, acabaria sendo o próximo alvo. Respirei fundo, reunindo toda a coragem que ainda me restava. “Vamos, Maria Luíza. Se tem uma coisa que aprendeu ao crescer nessa vida, foi a não demonstrar fraqueza”. Abri a porta de uma vez, entrando na sala com passos firmes. Todos os olhos se vol
CAPÍTULO 7 Alexei Kim O jato aterrissou com uma força brutal na pista rochosa da ilha de Elba, e eu não esperei sequer as turbinas desacelerarem para sair da cabine. Assim que meus pés tocaram o chão, minha equipe já estava a postos, formando um semicírculo em torno de mim, prontos para agir. Não precisaram de ordens. Eu sabia que Maria Luíza estava dentro da casa grande, e enquanto andava em direção à porta, a raiva queimava lentamente dentro de mim. “Essa mulher pensa que tenho tempo para essas merdas?“ Assim que entrei, vi Don Antony já acomodado, com aquele sorriso maldito no rosto, como se estivesse esperando por mim. — Alexei, sempre pontual. — Ele se levantou lentamente, estendendo a mão como se fosse um encontro amigável. Mas eu não estava interessado em cordialidades. — Onde ela está? — perguntei, ignorando o gesto e avançando diretamente para o centro da sala. — Depois que cumprimentar o Don vai saber... — era aquele maldito consigliere. O enc
CAPÍTULO 8 Maria Luíza Duarte Foram as horas mais detestadas da minha vida. Cada vez que Alexei me encarava, eu fazia pior, deixando claro que não me intimidaria. Ele me ignorava o tempo todo, mas não sou tonta, via quando olhava para minhas pernas. Acabei dormindo na poltrona, e acordei toda torta, assustada com aquela voz grossa, me chamando: — Vamos descer. — A voz de Alexei cortou o silêncio da cabine do jato como uma lâmina, me arrancando de um sono perturbado. Me esforcei para abrir os olhos e me orientar. Estava tão cansada que não sabia quanto tempo tinha passado desde que o jato pousou. Meu corpo doía de estar torta na poltrona e, ao levantar, me estiquei um pouco, soltando um suspiro frustrado. Alexei estava impassível na porta, me esperando, e, sem dizer mais nada, desci logo atrás dele. Assim que saímos do jato, ele caminhou na minha frente, sem olhar para trás. Ao longe, vi um carro preto esperando. Aquele silêncio todo me dava nos nervos. Ele achava que po
CAPÍTULO 9 Maria Luíza Duarte Olhei para o closet e fui até lá devagar. Me subiu uma raiva quando vi tantas roupas penduradas... roupas que eram da defunta, a mulher que meu futuro marido, amava. — Não vou usar nada disso, demônio encantador... — olhei a minha volta procurando pelas minhas coisas, e quase morri de raiva quando percebi que havia perdido tudo no avião. Entrei no banheiro para tomar um banho, a porta não tinha chave. “Ah, você me paga, Alexei!“ — Entrei no chuveiro mesmo assim, molhei todo o meu corpo e passei um shampoo no cabelo. Senti meu coração acelerar no mesmo instante em que ouvi um barulho no quarto. O som de passos pesados fez meu corpo congelar. Eu sabia que só podia ser ele, o homem que agora controlava minha vida. "Alexei..." pensei, com a espuma escorrendo pelos meus ombros. O pânico tomou conta. Meus olhos se abriram, mas a espuma ainda cobria meu rosto, me cegando. Com pressa, comecei a enxaguar o cabelo, tentando me livrar da
CAPÍTULO 10 Alexei Kim Eu estava irritado, Maria Luíza deveria se preocupar com a minha filha, mas nem tentou acalmá-la. Dobrei o corredor e já no meu escritório, ouvi a voz da babá ecoar pelo corredor. Ela parecia alarmada, o que raramente acontecia. Levantei a cabeça, irritado pela interrupção, mas quando ouvi as palavras claramente, senti um gelo correr pela espinha. — Don Alexei, a senhora desmaiou! — a babá gritou, desesperada. Larguei tudo e saí em disparada pelo corredor. O barulho dos meus passos ecoava pelas paredes da casa enquanto eu me aproximava. Não era normal Maria Luíza desmaiar. Algo estava muito errado. Ao virar o corredor, a vi caída no chão, inconsciente, a babá ajoelhada ao lado dela, com o rosto pálido. Me ajoelhei rapidamente ao lado de Maria Luíza, o pânico que eu raramente sentia começou a invadir minha mente. — Saia daqui, rápido! — rosnei para a babá. Ela se levantou num pulo e desapareceu pelo corredor, provavelmente indo atrás de a