CAPÍTULO 4
Maria Luíza Duarte Meu coração batia descompassado, como se fosse saltar do peito. O avião balançava cada vez mais, os gritos ecoavam por todos os lados, e a minha visão começou a embaçar. As luzes piscavam descontroladas, e a única coisa que conseguia sentir era o medo crescendo dentro de mim. “Eu não posso morrer aqui... Não agora.” — DROGA, ALEXEI! EU MENTI, NÃO QUERO MORRER, EU ME CASO COM VOCÊ! — Gritei com o choque, segurando firme na poltrona. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões pareciam não obedecer. O pânico subiu à minha garganta, as mãos tremiam, e eu me vi sem controle sobre o que acontecia ao meu redor. As paredes da cabine pareciam se fechar, e minha visão começou a escurecer. A crise de ansiedade estava voltando a dar sinais... senti a dor no peito, a falta de ar, o pânico, aquela sensação de que estou infartando, uma angústia muito forte... caramba! Um homem alto, de jaleco branco, se aproximou rapidamente de mim. Ele se ajoelhou ao meu lado e segurou meu pulso com força. — Senhora Maria Luíza, preciso que respire devagar — ele falou com uma voz baixa e calculada, como se a situação ao redor não fosse nada além de um pequeno inconveniente. Meu olhar se fixou nele por um instante, mas eu não conseguia falar, não conseguia articular sequer uma palavra. Sentia-me sufocada, perdida entre o terror e a angústia. Ele abriu uma pequena maleta preta que carregava e tirou de dentro uma seringa. — Não se preocupe, sou médico, o Don Alexei me enviou no avião — ele disse, enquanto preparava a injeção com mãos rápidas e experientes. — Isso vai te acalmar. O nome de Alexei soou como um eco na minha mente. De alguma forma, mesmo à beira do pânico, eu sabia que aquele homem estava ali porque ele havia mandado. — Ele quer me matar? Não se aproxime! — Eu tentei me afastar, mas ele era mais rápido. Antes que eu pudesse reagir, senti a agulha perfurar a pele do meu braço. — Vai ficar tudo bem. Confie em mim. Eu queria gritar, queria lutar, mas meus músculos começaram a ceder, e o mundo ao meu redor começou a desacelerar. Minha respiração, que antes era acelerada, ficou mais lenta, e meus pensamentos embaralhados começaram a se acalmar, mas não da maneira que eu queria. Era como se uma névoa densa tomasse conta de mim, me fazendo ceder à inconsciência. O homem me colocou de volta na poltrona, ajustando meu cinto de segurança com cuidado. A turbulência ainda era intensa, mas ele parecia não se importar. Enquanto tentava me manter acordada, vi o piloto anunciando algo no sistema de som. A voz parecia distante, mas pude entender as palavras: — Vamos tentar um pouso de emergência. Todos devem permanecer sentados e com os cintos afivelados. O homem ao meu lado não teve tempo de reagir. O avião deu uma sacudida violenta, e, sem estar preso, ele foi arremessado com força contra o teto da cabine, o som seco de seu corpo batendo ecoou pelo avião. Um grito de horror escapou dos poucos passageiros próximos, que deveriam trabalhar para Alexei. Eu não consegui fazer nada além de observar, meus sentidos estavam sumindo lentamente. Minha cabeça pendeu para o lado, e a última coisa que vi foi o homem caído no chão, inconsciente, enquanto a cabine mergulhava na escuridão. A dor em minha cabeça foi rápida e implacável, e então, finalmente, tudo apagou. (...) Acordei sentindo náuseas, percebi que estava de cabeça para baixo. Alguém me carregava nas costas. Fui praticamente jogada em algo que parecia um gramado e um homem grande, me olhava com curiosidade. — Quem é você? — ele perguntou. Olhei a minha volta, vi que haviam mais alguns no chão, porém estavam inconscientes. — De onde você vem, esse jato é seu? Por que caiu? Balancei a cabeça com receio, eram muitas perguntas. Tive medo dele ser inimigo do Don Antony ou até mesmo de Alexei, eu me tornaria um alvo facilmente, coisa que era desnecessária. — Eu não me lembro... não me lembro de nada... — Fui astuta. Se visse que poderia confiar, eu voltaria a ter memória depois, mas por enquanto, exploraria o terreno. — Esse jato não é um jato comum, tem armamento. Não se faça de desentendida, e me diga pra quem você trabalha... — ele era um homem de boa aparência, não dava pra saber se era do mesmo meio que o nosso, mas meus instintos diziam que sim. — Eu adoraria saber... por acaso encontraram as minhas coisas? Meus documentos? — eu precisava saber se sabiam minha identidade. E se tivessem encontrado, precisaria de um plano B. — Ainda não... se quiser pode ficar na minha casa até encontrarem. De qualquer forma, o avião destruiu toda a rede elétrica da ilha, estamos até sem Internet — balancei a cabeça, negando. “Ótimo! Não sabe quem sou.“ Porém, uma senhora e uma moça apareceram na minha frente com um semblante bem diferente do homem. — Venha querida, o nosso médico vai examiná-la. Descanse até que encontremos a sua identidade... — a senhora esticou a mão e eu aceitei. Vi que o médico de Alexei estava sendo atendido, talvez eu não tivesse muito tempo, antes que ele contasse que sou noiva do seu Don. Era melhor aceitar a ajuda, certamente eu encontraria um celular com rede móvel e bateria, ou algo do tipo para avisar meus pais. A casa me deu receio, era muito segura para um lugar comum, mas eu daria um jeito. Um pouco depois me trouxeram comida, peguei apenas as frutas que ainda eram mais seguras. Um médico apareceu, não tomei nada do que ele me deu, joguei tudo no vaso sanitário. Até que ouvi um alvoroço, vozes masculinas gritando pelo corredor da sala: — ALEXEI PEDIU PARA MATAR DON ANTONY, ELE É A NOSSA MAIOR INFLUÊNCIA, É SÓ FAZER, PORRA! — uma voz masculina gritou, coloquei a mão na boca. — ACONTECE QUE TENHO MEUS MOTIVOS PARA CONFIAR NO DON ANTONY, E A SUA EQUIPE É A MELHOR. SEU CONSIGLIERE E SEUS HOMENS JÁ NOS DEFENDERAM UMA VEZ. — Era a voz daquele que me resgatou. — É, MAIS DON ALEXEI ESTÁ POSSESSO. PELO QUE DISSE, DON ANTONY O TRAPACEOU, E SUA NOIVA NÃO FOI ENTREGUE... — E agora, chefe? Qual deles a gente mata? — meu coração disparou, eles estavam em guerra. Certamente o Don Antony e o Alexei devem pensar que foram traídos. O que eu faço? Não quero que Alexei morra, mas se me encontrarem terei que casar... “Quem é esse homem que tem o poder de matar ambos, caso escolha?“CAPÍTULO 5 Don Alexei Kim — Don Alexei... desculpe interromper, mas perdemos o sinal do avião que traria sua noiva — paro de contar as armas no mesmo instante, olhando para meu soldado parado na porta. — Porra! Por que diabos perdemos o sinal do avião? Você não disse que estava tudo certo? Acabei de falar com Maria Luíza, merda! — joguei a última pistola na caixa, fechando com raiva. Em seguida, peguei meu celular para ligar pra ela. — Nenhum dos nossos homens estão atendendo, Don. Eu estou tentando ligar, mas não estou conseguindo, nem mesmo o médico atende — olhei com raiva para o soldado com vontade de explodir sua cabeça, e comecei a xingar no telefone: — Atende, porra! Pra perturbar me ligou agora mesmo, caralho! — a ligação nem chamava, estava desligado. “Você não vai escapar de mim, Maria Luíza, não vai!“ — Devemos mandar uma equipe pra Roma, Don? — respiro fundo. — Já localizaram o avião? — Deu algum problema no localizador, não fazemos ideia de onde
CAPÍTULO 6 Maria Luíza Duarte Ouvir aquelas vozes discutindo a morte de Alexei e Don Antony, havia despertado um instinto de sobrevivência que eu não sabia que possuía. Eu precisava pensar rápido, agir antes que me descobrissem. Não podia deixar que as coisas saíssem do controle, mas também não podia permitir que Alexei ou Antony fossem mortos por nada. Cheguei à porta da sala de estar, onde os homens discutiam de forma acalorada. Minhas mãos estavam frias e trêmulas, e por um breve momento, considerei fugir. Mas me lembrei de que não havia para onde ir. Estava em uma ilha isolada, cercada de homens prontos para matar ou serem mortos. Se eu fosse descoberta como um peão entre os dois Dons, acabaria sendo o próximo alvo. Respirei fundo, reunindo toda a coragem que ainda me restava. “Vamos, Maria Luíza. Se tem uma coisa que aprendeu ao crescer nessa vida, foi a não demonstrar fraqueza”. Abri a porta de uma vez, entrando na sala com passos firmes. Todos os olhos se vol
CAPÍTULO 7 Alexei Kim O jato aterrissou com uma força brutal na pista rochosa da ilha de Elba, e eu não esperei sequer as turbinas desacelerarem para sair da cabine. Assim que meus pés tocaram o chão, minha equipe já estava a postos, formando um semicírculo em torno de mim, prontos para agir. Não precisaram de ordens. Eu sabia que Maria Luíza estava dentro da casa grande, e enquanto andava em direção à porta, a raiva queimava lentamente dentro de mim. “Essa mulher pensa que tenho tempo para essas merdas?“ Assim que entrei, vi Don Antony já acomodado, com aquele sorriso maldito no rosto, como se estivesse esperando por mim. — Alexei, sempre pontual. — Ele se levantou lentamente, estendendo a mão como se fosse um encontro amigável. Mas eu não estava interessado em cordialidades. — Onde ela está? — perguntei, ignorando o gesto e avançando diretamente para o centro da sala. — Depois que cumprimentar o Don vai saber... — era aquele maldito consigliere. O enc
CAPÍTULO 8 Maria Luíza Duarte Foram as horas mais detestadas da minha vida. Cada vez que Alexei me encarava, eu fazia pior, deixando claro que não me intimidaria. Ele me ignorava o tempo todo, mas não sou tonta, via quando olhava para minhas pernas. Acabei dormindo na poltrona, e acordei toda torta, assustada com aquela voz grossa, me chamando: — Vamos descer. — A voz de Alexei cortou o silêncio da cabine do jato como uma lâmina, me arrancando de um sono perturbado. Me esforcei para abrir os olhos e me orientar. Estava tão cansada que não sabia quanto tempo tinha passado desde que o jato pousou. Meu corpo doía de estar torta na poltrona e, ao levantar, me estiquei um pouco, soltando um suspiro frustrado. Alexei estava impassível na porta, me esperando, e, sem dizer mais nada, desci logo atrás dele. Assim que saímos do jato, ele caminhou na minha frente, sem olhar para trás. Ao longe, vi um carro preto esperando. Aquele silêncio todo me dava nos nervos. Ele achava que po
CAPÍTULO 9 Maria Luíza Duarte Olhei para o closet e fui até lá devagar. Me subiu uma raiva quando vi tantas roupas penduradas... roupas que eram da defunta, a mulher que meu futuro marido, amava. — Não vou usar nada disso, demônio encantador... — olhei a minha volta procurando pelas minhas coisas, e quase morri de raiva quando percebi que havia perdido tudo no avião. Entrei no banheiro para tomar um banho, a porta não tinha chave. “Ah, você me paga, Alexei!“ — Entrei no chuveiro mesmo assim, molhei todo o meu corpo e passei um shampoo no cabelo. Senti meu coração acelerar no mesmo instante em que ouvi um barulho no quarto. O som de passos pesados fez meu corpo congelar. Eu sabia que só podia ser ele, o homem que agora controlava minha vida. "Alexei..." pensei, com a espuma escorrendo pelos meus ombros. O pânico tomou conta. Meus olhos se abriram, mas a espuma ainda cobria meu rosto, me cegando. Com pressa, comecei a enxaguar o cabelo, tentando me livrar da
CAPÍTULO 10 Alexei Kim Eu estava irritado, Maria Luíza deveria se preocupar com a minha filha, mas nem tentou acalmá-la. Dobrei o corredor e já no meu escritório, ouvi a voz da babá ecoar pelo corredor. Ela parecia alarmada, o que raramente acontecia. Levantei a cabeça, irritado pela interrupção, mas quando ouvi as palavras claramente, senti um gelo correr pela espinha. — Don Alexei, a senhora desmaiou! — a babá gritou, desesperada. Larguei tudo e saí em disparada pelo corredor. O barulho dos meus passos ecoava pelas paredes da casa enquanto eu me aproximava. Não era normal Maria Luíza desmaiar. Algo estava muito errado. Ao virar o corredor, a vi caída no chão, inconsciente, a babá ajoelhada ao lado dela, com o rosto pálido. Me ajoelhei rapidamente ao lado de Maria Luíza, o pânico que eu raramente sentia começou a invadir minha mente. — Saia daqui, rápido! — rosnei para a babá. Ela se levantou num pulo e desapareceu pelo corredor, provavelmente indo atrás de a
Capítulo 11 Maria Luíza Acordei ofegante, com o coração disparado, os olhos arregalados tentando entender onde eu estava. A luz suave do quarto parecia distante, como se eu estivesse presa entre a realidade e um pesadelo do qual não conseguia escapar. Levei alguns segundos até reconhecer o quarto. A primeira coisa que senti foi o toque firme e quente de uma mão segurando a minha. — Calma, Maria Luíza. — A voz dele era baixa, quase suave, o que era estranho vindo de alguém como Alexei que sempre falava com autoridade. — Você está segura. Respire devagar. — O que... O que aconteceu? — Eu virei o rosto devagar e o encontrei sentado ao meu lado, seus olhos fixos em mim, cheios de algo que eu não conseguia decifrar. Não era o Alexei usual, tão impenetrável e duro. Minha mente ainda estava confusa. Tudo parecia lento, como se eu estivesse embaixo d’água, mas consegui focar no rosto dele. Eu não sabia o que pensar. Meu coração começou a acelerar, e me forcei a desviar o olhar, ten
Capítulo 12 Don Alexei Kim Saí do quarto e fui procurar Nazar, meu consigliere. — Don... — Quero que contrate um psiquiatra para a minha esposa — solicitei, olhando diretamente para ele, enquanto percebia Anton no escritório, de pé em um canto, com seu típico olhar irônico. — Eu não disse que essas italianas são problemáticas? — Anton comentou, balançando a cabeça com desdém. Ignorei seu comentário no início, mas sabia que ele continuaria. Anton sempre provocava, querendo testar minha paciência. — E vai dormir com ela hoje? — ele perguntou, com um sorriso debochado. — Talvez assim ela se acalme, não acha? Garanta seu lugar. Meu sangue ferveu imediatamente. Virei-me rápido, encurtando a distância entre nós dois, encarando-o com frieza. — Cuidado com as suas palavras, Anton — murmurei, minha voz carregada de ameaça. — A maneira como você fala da “minha” esposa é o tipo de coisa que pode lhe custar caro — puxei a pistola, o fiz sentir na sua ba