Estratégia

CAPÍTULO 6

Maria Luíza Duarte

Ouvir aquelas vozes discutindo a morte de Alexei e Don Antony, havia despertado um instinto de sobrevivência que eu não sabia que possuía. Eu precisava pensar rápido, agir antes que me descobrissem. Não podia deixar que as coisas saíssem do controle, mas também não podia permitir que Alexei ou Antony fossem mortos por nada.

Cheguei à porta da sala de estar, onde os homens discutiam de forma acalorada. Minhas mãos estavam frias e trêmulas, e por um breve momento, considerei fugir. Mas me lembrei de que não havia para onde ir. Estava em uma ilha isolada, cercada de homens prontos para matar ou serem mortos. Se eu fosse descoberta como um peão entre os dois Dons, acabaria sendo o próximo alvo.

Respirei fundo, reunindo toda a coragem que ainda me restava.

“Vamos, Maria Luíza. Se tem uma coisa que aprendeu ao crescer nessa vida, foi a não demonstrar fraqueza”.

Abri a porta de uma vez, entrando na sala com passos firmes. Todos os olhos se voltaram para mim, as vozes cessaram instantaneamente. Havia três homens ali: o que me resgatou do avião, dois outros que eu ainda não havia visto de perto, e o médico que me atendeu.

— Que porra é essa? Quem te autorizou a entrar aqui? — o que me resgatou reclamou.

— Eu... eu me lembrei! — anunciei, a voz saindo mais forte do que esperava. — Eu me lembrei de tudo. — As palavras pareciam surreais, mas sabia que precisava controlá-las para soar convincente.

O homem que me havia resgatado cruzou os braços, me observando com atenção. Seu olhar era inquisidor, mas ele não disse nada, esperando que eu continuasse.

— Meu nome é Maria Luíza Duarte. Sou prima do Don Antony... e noiva de Alexei Kim, o russo. — As palavras pesadas pairaram no ar, e eu podia sentir a tensão aumentando.

A expressão do homem se alterou por um segundo, talvez surpreso com a revelação, mas ele logo voltou à sua postura controlada.

— Noiva de Alexei, é? — Ele repetiu com uma sobrancelha levantada, como se estivesse processando as informações. — E o que você está fazendo em um jato com armamento que fez um pouso forçado na nossa ilha?

Respirei fundo, sabendo que a história que contaria precisava ser impecável.

— Don Antony... ele estava me enviando para a Rússia para um encontro com Don Alexei. Seria para o nosso casamento. O jato foi sabotado ou estragou, sei lá, o piloto tentou fazer um pouso de emergência. — Balancei a cabeça, tentando parecer confusa o suficiente para justificar minha hesitação. — Não me lembro de todos os detalhes, mas sei que a situação é muito mais simples do que parece. Se há uma guerra acontecendo entre Alexei e Don Antony... — pausei, engolindo seco. — Eu sou a única coisa que pode impedir esse conflito de escalar ainda mais.

O homem descruzou os braços, seu olhar se estreitou. Ele parecia medir minhas palavras, tentando descobrir onde estavam as mentiras. Seus companheiros trocaram olhares, parecendo incertos sobre como proceder.

— E você acha que, só porque é noiva de Alexei e prima de Antony, nós deveríamos acreditar em você? — perguntou o homem, dando um passo à frente. — Você poderia muito bem ser uma espiã, alguém tentando nos enganar.

Mordi o lábio, sentindo o pânico subir de novo. Mas não podia fraquejar. Precisava ganhar a confiança deles de alguma maneira.

— Eu entendo que vocês estejam desconfiados, mas pensem nisso... — levantei o queixo, tentando parecer mais confiante do que me sentia. — Se algo acontecer comigo, Alexei vai mover o mundo para encontrar quem foi o responsável. Ele não deixaria isso barato, ou deixaria? Se o conhecem apenas um pouquinho, assim como eu, devem saber como ele reagirá — joguei. Dei uma pausa, olhando para cada um deles. — E Don Antony também não. Vocês estariam no meio de uma guerra sem precedentes.

As palavras pesaram no ar. Eu não sabia ao certo se tinha conseguido causar o impacto que esperava, mas sabia que precisava continuar jogando com as poucas cartas que tinha.

— Vocês me encontraram no avião. Não sou uma espiã, sou alguém presa em uma situação que não escolhi. E estou tentando sobreviver, assim como vocês. Podemos negociar entre Alexei e Antony, isso pode beneficiar a todos. — Meu tom era firme, mas dentro de mim, tudo que sentia era medo.

Os homens ficaram em silêncio por alguns segundos, trocando olhares indecifráveis. O que parecia ser o líder do grupo deu um passo à frente, seu olhar ainda desconfiado, mas parecia considerar o que eu havia dito.

— Muito bem, Maria Luíza — ele disse lentamente. — Vamos ver até onde essa sua história vai. Vamos te deixar ficar aqui, mas saiba que, se descobrirmos que está mentindo, as consequências não serão leves.

Assenti rapidamente, sabendo que essa era a única chance que tinha. Agradeci com um leve aceno de cabeça.

— E mais uma coisa — ele disse, o tom mais duro. — Se for mesmo quem diz ser, prepare-se. A guerra entre Alexei e Antony já começou. E você vai ter que escolher de que lado está.

Engoli em seco, mas mantive o olhar firme.

— Estou falando a verdade. Não precisa de guerra nenhuma, morte nenhuma! Por favor, liguem para o Don Antony primeiro. Ele pode confirmar tudo, que sou a sua prima, que não fugi de ninguém, não fui sequestrada, nada!

Ele hesitou por um momento, então pegou o celular. Alguns toques depois, ouvi a voz de Don Antony ecoando no viva-voz.

— Fale.

— Don, tem uma moça aqui e diz ser a sua prima. Pode nos confirmar se procede?

— Malu está, aí? — ele estava com o viva voz ligado.

— Don Antony! Sou eu, Maria Luíza! — falei rápido, tentando não deixar o pânico tomar conta. — Houve um acidente, estou segura, mas preciso que venha aqui. Não houve traição, Alexei também está me procurando, tudo foi um mal-entendido. Por favor, venha rápido.

Houve uma pausa, o silêncio dele me deixando ainda mais nervosa. Quando ele falou novamente, sua voz estava mais calma.

— Maria Luíza, está bem? Quem está com você?

— Estou bem... por enquanto. Só preciso que você venha logo. A situação aqui está complicada. E por mais que não goste da ideia de me casar com o russo, não quero que nada de ruim aconteça com ele.

— Não faça nada até eu chegar. Estarei aí o mais rápido possível.

Ele desligou e eu soltei o ar que nem percebi estar segurando. Mas a pior parte ainda estava por vir: Alexei.

— Agora liguem para Alexei Kim — pedi, tentando manter a calma, mas já sentindo o desespero crescer.

— Não vamos deixar você falar com o Don — um dos homens disse, frio. — Ele está furioso. Se souber onde você está, as coisas podem sair do controle.

— Ligamos para ele, mas nós lidamos com isso — o líder afirmou, já discando o número de Alexei.

Minha mente acelerou. Eu não podia deixar que outra pessoa controlasse essa conversa. Não depois de tudo.

— Alexei, sou eu novamente... estou ligando porque...

Sem pensar duas vezes, arranquei o celular da mão dele antes que pudesse impedir.

— O que diabos você está fazendo?! — ele gritou, mas era tarde demais. Já tinha o telefone no ouvido, e a voz de Alexei ecoava do outro lado, fria e controlada.

— Fala, porra! — haviam três armas apontadas pra mim. Mas eles sabiam que ao ouvir minha voz, eles seriam responsáveis por qualquer coisa que acontecesse, porque Alexei mataria a todos.

— Alexei! Sou eu, Maria Luíza! — falei rápido, quase desesperada. — Por favor, ouça! Houve um acidente, precisamos fazer um pouso de emergência, mas estou bem. Don Antony está a caminho, e você também precisa vir. Nós precisamos resolver isso pessoalmente.

Silêncio. O coração martelava no peito, e cada segundo parecia uma eternidade. Então, finalmente, ele falou.

— Maria Luíza... por que você tomou o telefone? Onde você está? — lembrei das ameaças dele para com a minha família.

— Não é o que você está pensando! Ninguém me sequestrou, eu não fugi, foi apenas um pouso de emergência aqui na ilha de Elba. — insisti, tentando ignorar o homem ao meu lado, que agora me fuzilava com o olhar. — Don Antony não fez nada, vou me casar com você, se é o que quer. Mas você precisa vir até aqui agora. Não deixe que eles tomem decisões por você.

Houve outra pausa, e eu mal respirava.

— Vou enviar a minha equipe, não tenho tempo pra isso e você está atrasada. A única coisa que pedi era para não atrasar.

Engoli seco, apertando o celular com raiva. Que vontade de dar uma bem dada na cara desse homem. Mas eu sabia que precisava dele ali, a tática teria que ser diferente.

— Meu querido, eu preciso de você. Estou rodeada de homens, meu primo ainda não chegou e tem algumas armas apontadas pra mim. Acho que não acreditam que sou sua noiva, você deveria ter me dado um anel, mas tudo bem, de qualquer forma a gente casa amanhã ou depois, né?

— Quem ousou apontar uma arma pra você? — ele respondeu, a voz alterada, cheia de controle. Virei melhor o celular para todos, e em imediato as armas foram abaixadas e guardadas.

— Ah, acho que não tem mais nada, se puder vir rápido, eu ficaria feliz...

— Não me diga que sentiu saudades? — foi irônico do nada.

— No momento posso dizer que, sim... — deixaria para me vingar mais tarde.

— Não faça mais nada sem me consultar. Entregue o celular para quem pegou e depois pegue novamente.

— Por quê?

— Agora o celular é seu. Não gosto da ideia de não ter o contato da minha noiva aqui.

— Certo.

Devolvi o celular ao homem, que me olhava furioso. Deu pra ouvir de onde eu estava o grito de Alexei, e depois o homem me devolveu o aparelho assustado.

— Pode descansar no quarto. A gente chama quando eles chegarem.

Agora, tudo dependia da chegada de Antony e Alexei. Se eu havia feito a coisa certa, só o tempo diria.

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