Isabella Foorbes era uma mulher de vinte e quatro anos, que assim como outras, adorava moda. Ela tinha uma listinha de desejos a serem realizados durante a sua vida. O primeiro de seus quatro desejos, era conseguir pagar o tratamento de sua mãe, que agora era a sua maior prioridade. O segundo, era conseguir realizar o desejo de ser modelo. O terceiro, ter a oportunidade de um dia, ser mãe, e para isso, teria que conseguir realizar o seu quarto e último sonho: viver um grande amor. Ela pensou que seus últimos dois desejos seriam realizados assim que encontrou alguém especial há alguns anos atrás, mas infelizmente, o destino foi cruel demais e tirou a vida do homem que jurou amá-la para sempre.
Desde então, Isabella achou que nunca seria feliz novamente.
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Eu estava em uma sorveteria, parei para descansar um pouco depois das três entrevistas fracassadas que tive este dia. Hoje foram apenas três, mas se contar o tanto de entrevistas que fiz durante esse último mês, eu já poderia colocar no meu currículo que minha especialidade é fazer entrevista.
— Aqui está, senhorita! - a garçonete de sorriso grande me entregou um milk shake de chocolate que eu havia pedido há alguns minutos atrás.
— Obrigada! - ela apenas fez um gesto simples com a cabeça e antes que pudesse se afastar, eu segurei seu pulso. Logo recebendo um olhar dela - Desculpe.
— Tudo bem - lhe soltei e ganhei novamente sua atenção - Precisa de mais alguma coisa?
— Você, por acaso sabe se tem vaga aqui? - ela franziu o cenho - Para trabalho.
— Ah, trabalho - eu balancei a cabeça - Desculpe, mas eu acho que no momento não. Semana passada contratamos duas balconistas. Então acho que no momento não temos vagas.
— Entendi - dei-lhe um sorriso, mesmo que a resposta não fosse a que eu esperava - Tudo bem. Obrigada!
— Por nada! - ela virou e se afastou de mim, indo limpar uma mesa, que havia ficado vazia desde a recém saída do casal de adolescentes.
Eu segurei o copo gelado entre os meus dedos e guiei o canudo fino até a minha boca, prendendo-o entre os meus lábios e o sugando em seguida, logo sentindo o líquido gelado descer pela minha garganta.
Virei a cabeça, olhando para a grande janela que estava ao meu lado. Através dela eu conseguia ver o parquinho cheio de crianças do outro lado da rua. Algumas corriam e brincavam de se esconderem entre os diversos brinquedos de metais que tinha ali, outras apenas se divertiam com os pais nos brinquedos.
Mas o meu olhar se fixou em uma garotinha de cabelos pretos e vestido branco até os joelhos. Ela estava agarrada na perna de uma mulher, que eu chuto ser sua mãe, enquanto encarava as crianças se divertindo. Talvez fosse a sua primeira vez ali. E as primeiras vezes são assim, assustadoras.
Primeiro dia de aula.
Primeiro amor.
Primeiro encontro.
Primeiro emprego.
Primeira vez.
Eram sempre momentos assustadores e cheios de ansiedades.
Continuei observando a garotinha, até que vi ela dar passos em direção a um balanço amarelo. Ela deixou para trás a expressão de medo e sorriu, quando começou a ser balançada pela mãe.
Percebe-se que ela queria se divertir, mas estava com medo do novo, e depois de algumas trocas de olhares com a mãe, ela se sentiu confortável em explorar. E em momento nenhum, ela soltou a mão da mulher que vestia um lindo vestido azul. O novo havia acabado de virar algo comum para ela.
Somos assim. Nos sentimos ansiosos e necessitados de carinho e atenção, quando estamos prestes a fazer algo novo na nossa vida. Mesmo depois de adultos, ainda queremos que alguém segure a nossa mão e diga que tudo irá ficar bem no final. Só que a pessoa que deveria estar segurando a minha mão, nesse momento, está em casa. Espero que esteja deitada em sua cama sem fazer esforços, assim como o médico a recomendou.
Minha mãe é a pessoa mais especial que eu tenho na minha vida. Depois da morte do meu pai e do meu namorado, há cinco anos atrás, eu só tenho ela. Essa mulher foi a única que sobrou na minha vida. A única pessoa especial, que eu amo, que eu sei que me ama e que está disposta a fazer qualquer coisa por mim, foi diagnosticada com câncer de mama há um mês e meio.
Acho que não fui uma boa garota nessa vida. Penso que Deus deve ter me abandonado em algum momento, porque não bastou ter tirado de mim duas pessoas que eu amava muito, ele agora queria tirar a única que me restava.
"Por que?" - Se eu encontrasse Deus agora na minha frente, seria essa a pergunta que eu faria a ele - "Por que quer tirar todo mundo de mim? Desde quando parou de se importar comigo? Por que quer me deixar sozinha?"
— Voltei! - A chegada de Rose me tirou dos meus pensamentos e me trouxe de volta.
— Você demorou - olhei para o seu rosto, que estava vermelho - Você chorou?
— Está tão visível assim? - perguntou-me, enquanto passava os dedos ao redor dos olhos.
— Deixe-me adivinhar. Brigou com o Heitor?
— Não!
— Então qual é o motivo dessa carinha triste?
— Ah, amiga - ela escondeu o rosto entre as mãos e voltou a chorar.
— Rose, o que foi? - Comecei a me preocupar.
— Eu não consegui - ela disse entre soluços baixos.
— Não conseguiu o quê?
— O emprego que eu lhe havia prometido - Eu abri e fechei a minha boca no mesmo instante. Rose é a única amiga que eu tenho. Nós nos conhecemos na faculdade de administração e desde então, foram quatro anos de amizade.
— Ei - me levantei e a abracei - Não chora!
— Amiga, desculpa. Eu sei que você está atrás de emprego e eu queria muito te ajudar, mas…
— Está tudo bem, amiga. Eu irei conseguir, não chore.
— A ligação que recebi foi do gerente do RH. Foi para ele que eu entreguei o seu currículo, mas ele me ligou e disse que a empresa não estava contratando ninguém agora. Desculpa.
— Eu já falei que está tudo bem - passei a mão em seu cabelo - Não se preocupe. Eu sou grata demais por você ter tentado, mas se eu fosse chorar por cada não que estou recebendo, você teria que comprar mais sorvetes de chocolate - ela sorriu, enquanto limpava as lágrimas com a palma da mão - Está tudo bem, de verdade. Não se preocupe.
— Claro que eu me preocupo. Você precisa pagar logo o tratamento da sua mãe.
— Você confia em mim?
— Confio.
— Então não se preocupe. U-Uma das empresas me retornou hoje e parece que eu irei ser aceita - vi ela sorrir, assim como vi seus olhos brilharem, mas não por conta das lágrimas e sim por alegria. Talvez o meu também brilhasse assim, se isso não fosse mentira.
— Ah, meu Deus. Sério? - eu confirmei com a cabeça - Mas isso é maravilhoso, Isa.
— Sim - Não. Isso era mentira. Nenhuma empresa me ligou.
Depois de se acalmar, Rose tomou mais um gole do seu café gelado e começou a digitar no celular. Com certeza, ela deveria estar falando com o Heitor, o ficante ou namorado dela. Segundo a mesma, ele ainda não tinha um título certo.
— Mas amiga, me conta - ela colocou o celular de lado e voltou a me olhar - Como está a sua mãe? - eu respirei fundo antes de respondê-la.
— Ela fala que está bem, mas eu sinto que ela está mentindo. Não sei por quanto tempo ela vai ficar tentando esconder as coisas de mim - Vídeo irritada — Eu só não queria que ela se escondesse de mim.
Rose sorriu sem mostrar os dentes e segurou a minha mão, que estava em cima da mesa.
— Sabe que pode contar comigo, não sabe?
— Sei - retribui o sorriso - e eu agradeço muito por isso - ela apertou a minha mão - Ainda vai dormir lá em casa?
— Oh, já que tocou nesse assunto.
— O que foi?
— É que - ela levou as mãos ao cabelo - Heitor me convidou pra dormir na casa dele hoje e eu aceitei.
— Não acredito que você vai me trocar pelo seu ficante.
— Meu ficante tem coisas a mais para me oferecer do que salgadinhos e cervejas - ela me olhou maliciosamente.
— Ah tá! Entendi onde você quer chegar.
— Então - Rose se levantou e pegou a bolsa, logo deixando uma nota de vinte dólares em cima da mesa -, te vejo amanhã?
— Se não estiver muito ocupada transando - a respondi enquanto deixava outra nota de dinheiro em cima da que ela havia deixado ali.
— Idiota! - nós rimos e saímos do estabelecimento. Eu precisava voltar para casa.
Desde que a minha mãe foi diagnosticada com câncer, eu tenho evitado sair de casa e comecei a passar mais tempo com ela. Me permitia sair apenas para fazer entrevistas ou ir ao mercado. Falando em entrevista, eu teria que resolver o que iria fazer. Menti para a Rose quando disse que uma empresa havia se interessado no meu currículo. Não tinha empresa nenhuma, muito menos alguém que estivesse interessado em mim. Entretanto, ontem a noite, enquanto eu pesquisava sobre vagas de trabalho, acabei clicando em um site que me chamou bastante atenção, admito. E mesmo que ele fosse errado, eu não poderia sair escolhendo um bom emprego, se ninguém queria me dar uma chance. Minha mãe estava dependendo de mim agora. O tratamento dela custava muito mais do que nós poderíamos pagar. — Mãe, cheguei - digo em um tom um pouco alto, para que ela escute. Deixei a minha bolsa no sofá e subi para o quarto dela - Está no quarto? - continuei sem receber nenhuma resposta dela - Mãe? Assim que cheguei no
Minha noite foi péssima. Eu não dormi e fiquei com dor de cabeça durante toda a manhã. O que eu andei fazendo durante a madrugada toda? Tentando arrumar alguma coisa pra pagar o hospital daqui. E achei. Não sei se era o certo, mas achei. No meio disso tudo, era a única opção que eu tinha, pelo menos até arrumar um trabalho de verdade. Coloquei um pouco de café na xícara e me sentei no sofá da sala, logo desbloqueei o celular e abri o aplicativo que eu havia instalado em meu aparelho nesta madrugada. Já tinha algumas mensagens, porém não pensei que seriam tantas assim. "Oi baby! Eu adoraria sentir o sabor que você tem" "Oi? Achei as suas fotos lindas e sexys. Mas o que acha de mandar algo em especial para mim?" — O que eu estou fazendo da minha vida? Sim. Eu queria tentar arrumar algo nesse aplicativo de homens ricos, basicamente eles pagavam por ter o seu corpo, ou apenas a sua companhia. Não sabia muito bem como isso acontecia, mas foi o único jeito que eu achei de arrumar esse d
Eu coloquei o vidro de perfume no lugar e arrumei o relógio no meu pulso. — Para onde vai todo arrumado assim? — Preciso mesmo responder? - encarei sua imagem através do espelho. — Precisa. Se o papai perguntar de você, eu preciso dar uma resposta a ele — Diga que nada que eu faço é da conta dele. — David… — O que foi, Sebastian? Eu preciso sair. Não quero chegar atrasado. — Papai ficou bravo ao saber que você decidiu virar um - ele estalou os dedos, como se estivesse tentando lembrar de algo - Como é mesmo o nome? Ah, lembrei. Sugar Daddy. — E o que ele tem haver com isso? — Ele acha que você não deveria gastar dinheiro com mulheres - eu dei risada e vesti a minha jaqueta jeans por cima da camisa branca. — Como estou? - abri os meus braços e o encarei. — Irmão, por favor - ele se aproximou de mim e colocou a mão em meu ombro - Precisa parar com isso. — Nenhum centavo que eu gasto, é dele. Diga ao velho que não precisa se preocupar. Não irei o falir. — Você tem vinte e oit
Eu me virei para trás e dei de cara com um homem jovem e muito lindo. — Você é a garota do aplicativo, certo? - apenas confirmei e tentei parecer o mais normal possível. — Sim. — Que bom - ele colocou a mão no queixo e desceu o olhar pelo meu corpo - Isso é realmente bom. — É, eu acho - sussurrei. — Que tal a gente almoçar primeiro e depois passeamos um pouco pelo Shopping? - — Por mim tudo bem. — Ótimo. Então vamos lá! Ele pegou na minha mão e nos guiou até um restaurante, que por sinal, parecia ser bem caro. Pegamos uma pequena fila, mas nada que atrapalhasse algo. — Mesa para duas pessoas, por favor. De preferência, com mais privacidade. — Claro, senhor Wilston! - o homem sorriu para ele e depois para mim. — Queiram me seguir, por gentileza. Ainda de mãos dadas, seguimos aquele homem até uma mesa mais afastada das outras. — Obrigado. — Preferem fazer o pedido agora? — Hã - Ele me olhou e eu fugi do olhar dele, puxando o menu - Iremos decidir o que iremos p
Durante aquele almoço, ficamos um pouco quietos. Ele me contou um pouco sobre seus pais, que segundo ele, são horríveis, e sobre o irmão mais novo, Sebastian. Eu não tinha muito do que falar, o principal motivo de estar ali, eu já havia falado. Então apenas o escutei. Já tínhamos terminado o almoço e a sobremesa, estávamos apenas saboreando mais um pouco de vinho. Eu não queria me embebedar logo assim de cara, mas ele parecia se dar bem com bebida. Se eu não me engano, já era a quarta taça que ele enchia, e ele estava totalmente sóbrio. David me perguntou onde ficava o hospital em que minha mãe estava e eu passei o endereço. Quase uma hora depois da conversa, eu estava esperando ele do lado de fora do restaurante, enquanto o mesmo pagava a conta e conversava com o gerente do local. Acho que se conheciam, pois o homem insistiu em conversar com o David. Será que ele sempre trás todas as garotas aqui? Com certeza sim. — Demorei? - perguntou se aproximando de mim. — Não - ele sorriu
Assim que saí do shopping e entrei no carro, eu não pude evitar pensar nela. — O que há de errado com ela? - questionei. Afinal ela não havia pedido nada,e quando me ofereci para lhe presentear com aqueles colares, ela recusou na hora. Eu liguei o carro e fui direto para casa. Precisaria de um banho e uma ótima noite de sono. Assim que cheguei em casa, eu subi as escadas e fui direto para o meu quarto. Me joguei na cama e fechei os olhos. Fiquei alguns segundos em silêncio, mas logo fui interrompido por gemidos do Sebastian e a voz de uma garota. — Ãããm...isso está tão bom...não para, amor. - era a voz da garota. — Se vocês não pararem, quem vai acabar com a festa aí, sou eu - coloquei o travesseiro em cima do meu rosto, na intenção de abafar aqueles sons. Vendo que não iria funcionar, resolvi mandar mensagem para o Felipe Compell, um grande amigo que conheci na empresa. — Cara? Não demorou muito para que ele me respondesse. "— Oi, mano" — Sebastian está com uma garot
Sabe aquele momento onde você para e se pergunta se aquilo que você fez foi certo ou errado? Eu estava bem assim. Me fazia essa pergunta enquanto encarava aquele dinheiro todo na minha conta. Já havia passado três dias desde o meu primeiro encontro com o David, e hoje era dia de pagar a mensalidade do hospital. Eu acordei bem cedinho. Queria ir logo pagar a mensalidade do hospital e começar, o mais rápido possível o tratamento da minha mãe, assim ela voltaria logo para casa. Quando estava no banho, ouvi o meu celular tocando na sala. Então desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha e fui atrás do celular. — Alô? - logo atendo a ligação. — Senhorita Foorbes? — Isso. — Aqui é do hospital. Ligamos para avisar que já realizamos a transferência da sua mãe para o outro hospital e o seu amigo já assinou o cancelamento da autorização que a senhorita tinha assinado. — Amigo? Espera aí, eu não solicitei transferência e nem pedi para cancelarem a minha autorização - falei nervosa —
Assim que saímos do quarto ele fechou a porta e eu me virei para ele. — O que foi isso, hein? Que merda você está fazendo? Eu já lhe disse que… — Aqui não. David pegou na minha mão e saiu me guiando até um outro quarto que estava vazio, fechando a porta em seguida. — Pronto. Eu sou um homem que preza pela privacidade. — Isso significa que eu já posso te matar, então? - Ele riu, mas eu estava falando sério — Por que fez isso? — Como assim? Eu te disse que iria te ajudar a cuidar da sua mãe. — E eu me lembro de ter lhe dito que não concordava e que não queria que você pagasse nada. Quer dizer - cocei a minha cabeça - Eu entrei naquele aplicativo e aceitei o seu dinheiro, é claro, mas eu não… — Não vê o quanto ela está feliz? - ele me interrompeu - Ela está confortável aqui e você tinha que ver o sorriso que ela deu quando o médico disse que ela tem uma chance de ter a vida de volta sem sofrer sequelas nenhuma. — É, eu vi essa felicidade no olhar dela - digo com certo tom