Primeiro encontro

Eu coloquei o vidro de perfume no lugar e arrumei o relógio no meu pulso.

— Para onde vai todo arrumado assim?

— Preciso mesmo responder? - encarei sua imagem através do espelho.

— Precisa. Se o papai perguntar de você, eu preciso dar uma resposta a ele

— Diga que nada que eu faço é da conta dele.

— David…

— O que foi, Sebastian? Eu preciso sair. Não quero chegar atrasado.

— Papai ficou bravo ao saber que você decidiu virar um - ele estalou os dedos, como se estivesse tentando lembrar de algo - Como é mesmo o nome? Ah, lembrei. Sugar Daddy.

— E o que ele tem haver com isso?

— Ele acha que você não deveria gastar dinheiro com mulheres - eu dei risada e vesti a minha jaqueta jeans por cima da camisa branca.

— Como estou? - abri os meus braços e o encarei.

— Irmão, por favor - ele se aproximou de mim e colocou a mão em meu ombro - Precisa parar com isso.

— Nenhum centavo que eu gasto, é dele. Diga ao velho que não precisa se preocupar. Não irei o falir.

— Você tem vinte e oito anos, David. Não deveria se comportar e arrumar alguém para se casar? Você assumiu a empresa há pouco tempo. Se os acionistas descobrirem sobre essa sua façanha de gastar rios com mulheres aleatórias, irão mandar você abdicar do seu cargo.

— E quem disse que eu me importo com a opinião de alguém?

— Irmão...

— E em relação ao casamento - baguncei o cabelo dele - não sou homem para isso.

— Claro que não - ele afastou a minha mão de sua cabeça - Acabar em um hotel caro rodeado por mulheres faz mais o seu tipo, não?

— Exatamente - toquei a ponta de seu nariz e me afastei dele - Não que seja da sua conta, mas eu estou indo ao shopping - respirei fundo e li algumas notificações que chegaram no meu celular - Não tenho hora para chegar e muito menos quero receber ligações suas, ok?

— Tem certeza de que vai continuar com isso?

— Isso o quê, exatamente? Seja mais específico. 

— Estou falando dessa parada de ficar saindo com várias mulheres.

— Sebastian, eu já sou grande o suficiente para não precisar de babá. Sabe que odeio quando ficam no meu pé.

— Tudo bem, senhor "tenho tudo sob controle" - eu ri e guardei a minha carteira no bolso da minha calça, assim como fiz com o celular - Apenas me diga que horas chegará em casa.

— Já disse que não tenho horário para chegar.

— Tudo bem, mas será que pode fazer o favor de me enviar uma mensagem quando estiver vindo embora?

— Por que? Vai aproveitar a minha ausência para dar uma festa escondida do papai?

— Quem teima em desobedecer o papai é você - ri da sua acusação - Eu sou o filho que eles não planejaram, mas que no final das contas, deu certo.

— Não deu certo não. Olhe para esse rosto cheio de espinhas.

— Cara, eu não tenho espinhas desde os dezoito anos.

— então o que é isso amarelo no seu nariz?

— O que? - ele se desesperou e correu para frente do espelho - Espera, não tem nada aqui - eu ri - David Wilston, você...

— Tchau, maninho.

— David, espera - ele me segurou pelo braço.

— Que droga, Sebastian. Diz logo o que você quer - olhei no relógio e faltavam vinte minutos para o meu encontro - Vou me atrasar.

— Sabe o que é? Eu estou sem camisinha.

— E quem disse que isso é problema meu?

— Creio que você não quer virar titio agora.

— Vai trazer alguém pra casa? - o mais novo balançou a cabeça - A mesma garota?

— Cara, eu sou fiel a uma só. 

— Tá - eu ri - Tem algumas na última gaveta do meu banheiro.

— Ah disso eu sei, só estava pedindo permissão para pegar mesmo.

— Você anda mexendo nas minhas coisas?

— Cara, eu preciso fazer algo quando estou estressado, e mexer nas suas coisas tem sido uma bela terapia - ele sorriu e deu de ombros - Você compra coisas inúteis, aproveitando o meu momento de fala. 

— Escuta aqui garoto - dei dois passos em sua direção - Não quero você mexendo nas minhas coisas.

— Por quê? Você anda escondendo algo de errado?

— Não, mas estou pensando em esconder o seu corpo aí - o menor engoliu em seco e deu um sorriso amarelo.

— Ah, que dia lindo, não acha? - ele se afastou de mim.

— Estava lindo até você vir me perturbar - ele sorriu e eu dei meia volta, indo para as escadas. Porém, fui barrado novamente.

— Ah, tem mais uma coisa.

— Meu Deus, que garoto chato! - Eu o olhei e ele riu — Fala logo o que você quer, Sebastian. 

— Se for trazer a garota pra cá também, me manda uma mensagem.

— Por que? Você não está pretendendo transar no meu quarto, né?

— Claro que não - ele riu — É que eu posso tentar evitar gritos, ou algo assim. Ou também, vai que eu decido ir até a cozinha para pegar água e me deparo com a sua garota lá? Não vai ser legal se ela me ver sem roupa andando com o meu corpinho nú por aí. Tenho certeza de que ela te troca por mim, mas aí também não posso deixar isso acontecer, Lia me mataria. 

— Mesmo que ela não venha, trate de colocar uma roupa. Não quero te encontrar pelado na cozinha às três horas da manhã. Posso te confundir com o demônio.

— Nossa, David, que horror! - Eu ri e o deixei para trás. 

Assim que saí de casa, entrei no meu carro e o celular vibrou. Tratei de puxar o celular para fora do meu bolso e meus olhos bateram em uma notificação nova.

"Vestido preto, com uma jaqueta jeans, por cima. Acha que consegue me achar assim?" - Eu soltei um pequeno sorriso.

"Acho que sim. Estou saindo de casa agora. Chego em dez minutos."

Sebastian é o meu irmão mais novo, que mesmo com os seus vinte e cinco anos, não deixou de ser um pirralho mimado que continua me dando trabalho.

Ele, assim como eu, estudou gestão empresarial, gestão financeira e gestão de recursos humanos. Meu pai nos moldou, do jeito dele, para sermos os próximos presidente e vice, da grande Império Alpha, uma das maiores empresas de investimento dos Estados Unidos. A sede principal da empresa fica localizada na cidade de Nova York, onde moramos atualmente.

Ah, Nova York. Eu adoro morar aqui! O clima é tão gostoso - paro o carro no sinal vermelho e olho para uma mulher que corria com um fone no ouvido e a coleira do cachorro em uma das mãos. Pisquei o olho para ela, quando recebi um sorriso.

— Um verdadeiro paraíso - penso alto.

O caminho até o Shopping escolhido pela garota que eu iria conhecer hoje, foi tranquilo. Sem trânsito ou algo que pudesse me atrasar. Cheguei no tempo exato, faltavam apenas dez minutos para o horário do nosso encontro. Iria mentir se eu falasse que não estava ansioso para esse encontro. Se ela fosse do jeitinho que estava nas fotos do seu perfil, ela era linda 

— Vestido preto e jaqueta jeans, certo? - Li novamente a mensagem dela e comecei a percorrer o meu olhar entre as dezenas de pessoas que tinha naquele shopping. A praça de alimentação estava muito cheia - Caralho, isso daqui está lotado - resmunguei, mas continuei procurando pela garota, até que a vi.

Eu guardei o meu celular no bolso da calça jeans e conferi a minha roupa, antes de começar a caminhar na direção dela. Ela estava de costas para um balcão, próximo a um restaurante, onde seria o nosso ponto de encontro, por isso não notou a minha aproximação.

Assim que consegui me aproximar dela, aproveitei de sua pequena distração e apoiei os meus braços no balcão, onde ela estava de costas.

Primeiro eu aproximei o meu rosto dela com cuidado, apenas para sentir o seu cheiro. E era bom. Seja lá qual perfume ela use, era bom. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados em um rabo de cavalo alto. Ela estava usando um vestido preto curto, muito lindo, e eu estava louco para vê-la melhor. Queria ver ela por inteiro.

Vi quando ela pegou o celular da bolsa e entrou no aplicativo. Primeiro ela entrou no meu chat e digitou "Já está chegando?". Mas não o enviou. Ela apagou a mensagem e entrou na aba de "Notificações". Ela tinha uma posição alta no aplicativo. Muitos caras estavam lhe enviando mensagem, mas pela aba de "Conversas", ela só havia respondido a mim e a outro cara, onde a teve a conversa finalizada em um simples "Queria te conhecer melhor", mas ela não o respondeu.

— Será que ele já chegou e não conseguiu me achar? - eu sorri. Ela parecia ansiosa - Eu deveria ligar ou mandar mensagem?

— Me procurando?

A garota se virou rapidamente, e sussurrou um "caramba!", levando uma das mãos para o peito. Acho que eu assustei ela.

— Desculpa, não queria te assustar - eu sorri.

— T-Tudo bem.

— Isabella Foorbes?

— David Wilston? - ela devolveu a pergunta e eu estiquei a minha mão para cumprimentá-la.

— Em carne e osso!

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