Almoço

                                                                           

Eu me virei para trás e dei de cara com um homem jovem e muito lindo.

— Você é a garota do aplicativo, certo? - apenas confirmei e tentei parecer o mais normal possível. 

— Sim. 

— Que bom - ele colocou a mão no queixo e desceu o olhar pelo meu corpo - Isso é realmente bom. 

— É, eu acho - sussurrei. 

— Que tal a gente almoçar primeiro e depois passeamos um pouco pelo Shopping? - 

— Por mim tudo bem. 

— Ótimo. Então vamos lá! 

Ele pegou na minha mão e nos guiou até um restaurante, que por sinal, parecia ser bem caro. Pegamos uma pequena fila, mas nada que atrapalhasse algo. 

— Mesa para duas pessoas, por favor. De preferência, com mais privacidade. 

— Claro, senhor Wilston! - o homem sorriu para ele e depois para mim. — Queiram me seguir, por gentileza. 

Ainda de mãos dadas, seguimos aquele homem até uma mesa mais afastada das outras. 

— Obrigado. 

— Preferem fazer o pedido agora? 

— Hã - Ele me olhou e eu fugi do olhar dele, puxando o menu - Iremos decidir o que iremos pedir e daqui a pouco faremos o pedido. 

— Como preferir, senhor Wilston! - ele respondeu, antes de se afastar. 

Eu estava de olhos abaixados, mas vi quando David tomou posse do guardanapo branco e o abriu, logo o estendendo sobre as suas pernas. Em seguida, ele juntou, delicadamente, as duas mãos e  começou a me encarar e para tentar fugir dos olhares dele, e esconder a minha cara de nervosa, eu coloquei o menu na frente do meu rosto e fingi ler o mesmo. 

— Hum...esse aqui parece ser um prato muito bom - na verdade nem sei de qual estava falando. 

Apenas senti a mão do David puxar, levemente, o menu da frente do meu rosto e colocar junto com o dele.

— Podemos escolher isso depois. 

—  Claro! - Eu arrumei a minha postura.

—  Por enquanto - ele se arrumou na cadeira e tirou a jaqueta preta que usava, deixando-a na cadeira ao lado — Que tal conversar um pouco?

—  Sim - balancei a cabeça - Vamos fazer isso. 

Ele sorriu e balançou a cabeça, também.

—  Vamos fazer assim. Você disse que tem algumas perguntas para mim, certo? 

—  Sim. 

— Eu também tenho algumas perguntas para você. Então eu te faço uma pergunta, você responde e depois faz a sua pergunta. A gente continua assim, até saciarmos todas as nossas perguntas. O que acha? 

—  Pode ser. Quem começa? 

—  Eu - ele respondeu sorrindo. 

—  Ok. 

—  Quantos anos você tem? 

—  Isso estava no meu perfil. 

—  Eu sei, mas é que você parece mais nova - eu sorri.

—  Tenho vinte e quatro anos. 

— Ok. 

— Minha vez - ele concordou — Você não é casado e nem está em nenhum outro tipo de relacionamento, né? 

— Não. Estou solteiro. 

—  Certo. 

— Tem tatuagens? - ele perguntou.

— Não. 

—  Ainda bem. 

— Por que? Não gosta de tatuagens? 

—  Até gosto, mas não acho sexy. 

—  Entendi - puxo o guardanapo branco para mim, repetindo o mesmo processo que ele fez antes. 

—  Você é virgem? - diante de tal pergunta eu arregalei os meus olhos e demorei alguns segundos para respondê-lo. 

—  Não. 

—  Isso é bom. 

—  Mas se eu fosse teria algum problema? - perguntei baixo. 

—  Nenhum. 

— Ok. Você...tem aquele negócio de fazer contrato e assinar? Já vi isso em alguns filmes e histórias. Tipo, como se fosse uma fidelidade. 

—  Olha. Eu até acho interessante, mas não. Não faço isso. Porém tenho regras. 

—  Regras? Quais? 

—  São apenas três, e são simples - concordei com a cabeça — Primeira, me fazer companhia sempre que eu precisar. Vou entender se não der, mas terá que reservar outro dia para ficar comigo. Segundo, nada de sair com outras pessoas. Mesmo que o nosso relacionamento seja assim, eu gosto de ter a pessoa apenas pra mim. 

—  Isso se aplica somente para mim, ou você irá sair com outras garotas?

—  Ah, uma vez já cheguei a sair com duas ao mesmo tempo. Porém eu cansei.Então...se você for boazinha e me der tudo o que eu preciso, será a única. 

Eu engoli em seco. O que ele quis dizer com "tudo o que eu preciso"? Tá, eu já sei a resposta masainda assim estou surpresa. 

— E qual seria a última regra? - perguntei.

—  Ah sim, a terceira e última regra é que, na verdade nem é uma regra, seria mais uma observação mesmo - concordei com a cabeça — É que às vezes eu prefiro não usar nenhum tipo de preservativo, então você precisa começar a tomar remédios e fazer um exame de sangue antes. Fique tranquila que eu irei fazer o exame também, para lhe passar essa segurança. 

—  Certo. 

—  São apenas essas. Viu como são simples? 

—  Sim. 

—  Acho que agora é a sua vez. 

Eu penso um pouco até fazer a próxima pergunta. 

—  Você...usa algum tipo de brinquedo erótico ou algo assim? - eu estava vermelha, tenho certeza. 

— Não - ele dá um sorriso de lado - Mas se você quiser, a gente pode comprar. 

— Ah, não. Foi só uma curiosidade mesmo. 

—  Sei. 

Antes que ele pudesse fazer a próxima pergunta, David levantou, delicadamente, uma das mãos e chamou a atenção de um garçom que se aproximou rapidamente. 

— Pois não? Como posso ajudar? 

David pegou o cardápio sem tirar os olhos de mim e fez o pedido por nós dois. Depois pediu um vinho e de sobremesa ele deixou que eu escolhesse, então foram dois Petit gateau com sorvete de creme. 

Assim que o garçom serviu o vinho e nos deixou a sós, novamente, David voltou com as perguntas. 

—  Se eu te pedir pra dormir em casa, teria algum problema? 

—  Hoje? 

—  Qualquer dia e qualquer hora. Eu apenas posso te ligar no meio da madrugada ou do dia e te chamar lá pra casa. Teria algum problema pra você? 

—  Não. Acho que não. Quer dizer - mordi o canto da boca. 

— Pode falar. Você tem alguma restrição? 

— É que a minha mãe está internada, a cirurgia está perto de ser realizada e talvez eu precise ficar algumas noites com ela. 

—  Tudo bem, caso eu te mande mensagem e seja um dia desses no qual você tem que ficar com a sua mãe, não tem problema.  - ele pegou a taça e tomou um pouco do vinho. 

—  Você mora sozinho? 

—  Não. Moro com meu irmão mais novo, de vinte e cinco anos. E também tem os meus pais, que aparecem às vezes por lá. 

—  Seus pais? 

—  Sim. Está me julgando por isso? - o sorriso dele era lindo. 

—  Não. Claro que não, até porque eu também moro com a minha mãe. Mas a questão é, seus pais deixam você levar mulheres pra lá? 

—  Na verdade eu só levo alguém para lá quando eles estão fora de casa. 

—  E quando estão em casa? O que você faz?

—  A gente pode ir para um hotel. Isso não é problema. 

—  Ah. Entendi. 

—  Tem mais alguma pergunta para mim? 

Eu penso um pouco e depois balanço a cabeça, negando. 

—  Mas eu tenho uma última pergunta. 

—  Qual? - questiono curiosa. 

—  Você não me parece alguém que entraria em um aplicativo assim e aceitaria sair com qualquer cara por diversão. Ainda mais um velho.

—  Você não é velho. Pelo o que vi no aplicativo, você só tem quatro anos a mais que eu, então seria vinte e oito anos? 

—  Não sou, mas você poderia estar com outra pessoa agora. 

Eu paro de beber vinho e mudo o meu olhar de direção. 

—  Bom, mudando de assunto, você sabe que em um relacionamento assim ambos se ajudam, né? 

—  Sei. 

—  Segundo o aplicativo, a baby faz companhia e o Daddy a banca ou a ajuda de alguma outra forma. 

—  Uhum. 

—  Mas não vamos nos tratar assim, esse termo de Daddy e baby não me agrada muito - concordei com a cabeça, também não me agradava a ideia de chamar alguém de Daddy — Mas me diga, como eu poderia te ajudar? 

Eu estava preparada para que ele fizesse essa pergunta, mas na hora me faltaram palavras. 

—  Quer dinheiro pra sair da casa da sua mãe? 

Eu nego. 

—  Faculdade? 

Neguei, novamente. 

—  Fazer compras, passar mais tempo no Shopping...

— Não. 

— Então me diga. Fiquei curioso agora. 

Eu puxei a taça, bebi mais um pouco do vinho e o encarei. 

—  Como eu mencionei, minha mãe está internada. 

— Ah sim, verdade, você disse. 

— Ela foi diagnosticada com câncer há um mês e meio. Eu terminei a minha faculdade há quatro xmeses, mas não consegui nenhum trabalho até agora. Ontem quando eu cheguei em casa, encontrei ela desmaiada, algo que virou rotina. Mas dessa vez o médico disse que ela precisava fazer a cirurgia o mais rápido possível, e depois entrar com os tratamentos necessários. Sem contar os remédios e os equipamentos especiais que ela vai ter que usar, também. 

Eu estava sentindo uma mistura de nervosismo, medo e vergonha, por isso acabei derramando umas duas lágrimas, mas logo as limpei. 

—  Realmente não achei outra saída. Normalmente faço de duas a três entrevistas no dia, já cheguei até a fazer cinco, mas não tenho retorno de nenhuma. 

—  Quando a sua mãe vai fazer a cirurgia? 

—  Se eu conseguir pagar, ela vai fazer na próxima semana. 

—  E o tratamento? 

—  Ela pode começar o tratamento cinco dias depois da cirurgia. 

—  Então você decidiu entrar nesse aplicativo, correndo o risco de entregar o seu corpo para um velho sem graça, apenas para ajudar a sua mãe? 

Mesmo com vergonha, eu confirmei com a cabeça. 

—  Minha mãe é a única pessoa que eu tenho do meu lado. Meu pai faleceu quando eu tinha dezoito anos. Ele era policial e morreu em trabalho - decidi não falar sobre o Colin. Ele não precisava saber disso - Foi ruim demais perder ele, e tudo o que eu menos quero agora é perder a minha mãe também.

Senti uma vontade enorme de chorar, mas consegui engolir tudo e forçar um sorriso. 

—  Já falou com o médico? Quanto é a mensalidade? 

—  Muito caro - eu não dei preços, apenas disse o óbvio.

— O hospital é de confiança? Os médicos são bons? 

—  O hospital fica no meu bairro. Não é nada cinco estrelas, mas era o mais próximo que a gente tinha. E se nesse eu já estou morrendo de preocupação para saber se conseguirei bancar ou não, imagina em um que cobrará até pelos dias internados - eu sorri e bebi mais um pouco daquele vinho caro.

—  O médico garantiu que ela ficaria bem depois do tratamento? 

—  Não garantiu, mas disse que isso pode ajudar ela. 

—  Ok. A gente pode transferi-la de hospital e pegar uma segunda opinião. 

—  Transferir? 

—  Sim. 

—  Para onde? 

—  Tem muitos hospitais bons aqui em Nova York.

—  E caros - eu neguei com a cabeça - Hospitais que eu nunca conseguiria pagar. 

—  Isso é o de menos. O importante é pegar uma segunda opinião de um médico bom e fazer com que ela comece logo esse tratamento. 

—  Tá, mas em qualquer outro hospital eles irão cobrar um valor maior do que o médico me passou. Eu estou a dois dias sem dormir pensando nesse valor. Imagina se for algo maior? 

David levantou a mão dele e colocou em cima da minha, dando um leve aperto. 

—  Não se preocupe. Eu quero ter você pra mim, e se você está me pedindo para cuidar do tratamento da sua mãe, é o que eu vou fazer. Eu só quero garantir que ela tenha mais conforto e maior possibilidade de sair dessa. Então não se preocupe mais com isso. Amanhã eu cuidarei da transferência dela e depois de alguns exames a gente dá entrada nas datas da cirurgia e dos tratamentos. 

—  Escuta - eu afastei a minha mão dele - Eu agradeço muito. Mas não quero que gaste muito dinheiro comigo. E… - mordi o meu lábio inferior -, será só uma vez. 

—  Uma vez? Como assim? 

—  Pela autorização que assinei, preciso pagar o hospital amanhã, caso queira continuar com o processo. Então, depois disso, eu não preciso que você me dê mais nada. Eu também vou sair desse aplicativo e voltar a minha vida normal. Vou procurar um emprego e conseguir o valor dos próximos meses como qualquer outra pessoa faria, trabalhando. Mas como sei que pode parecer uma quantia alta apenas para uma noite, eu deixo você escolher quantas noites poderão ser, talvez cinco ou seis encontros sejam o suficiente, certo? 

—  Escuta, Bella...

—  Com licença - Fomos interrompidos pelo garçom que chegou com os nossos pratos —  Podemos servir? 

— Claro, pode sim - respondi rapidamente, não dando chance ao David de continuar aquela conversa. 

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