Durante aquele almoço, ficamos um pouco quietos. Ele me contou um pouco sobre seus pais, que segundo ele, são horríveis, e sobre o irmão mais novo, Sebastian.
Eu não tinha muito do que falar, o principal motivo de estar ali, eu já havia falado. Então apenas o escutei.
Já tínhamos terminado o almoço e a sobremesa, estávamos apenas saboreando mais um pouco de vinho. Eu não queria me embebedar logo assim de cara, mas ele parecia se dar bem com bebida. Se eu não me engano, já era a quarta taça que ele enchia, e ele estava totalmente sóbrio. David me perguntou onde ficava o hospital em que minha mãe estava e eu passei o endereço.
Quase uma hora depois da conversa, eu estava esperando ele do lado de fora do restaurante, enquanto o mesmo pagava a conta e conversava com o gerente do local. Acho que se conheciam, pois o homem insistiu em conversar com o David. Será que ele sempre trás todas as garotas aqui? Com certeza sim.
— Demorei? - perguntou se aproximando de mim.
— Não - ele sorriu e eu retribuí.
— O gerente deste restaurante é o meu tio. Acho que faz uns três meses que eu não venho aqui. Por isso ele me obrigou a sentar naquela mesa e bater um papo - ele riu.
— Tudo bem. Sem problemas.
— E então? Vamos passear?
— Vamos.
Lado a lado, estávamos andando devagar pelos corredores daquele Shopping enorme.
E em uma dessas voltas, eu parei em frente a uma loja e comecei a observar alguns colares e outras jóias que estavam expostos na vitrine.
— São lindos, né? - digo apontando para os colares.
— Sim. Quer levá-los?
Eu parei de observar os colares e olhei para ele.
— Tá afim de me dar o seu rim para pagar esses colares?
Ele apenas riu e eu também. Além do sorriso, o riso dele também era fofo. David era um homem muito bonito.
— Vamos. Eu pego os três para você.
David deu um passo para dentro da loja, mas eu o puxei de volta.
— O que foi?
— Eu só falei que achei bonito. Não precisa comprar.
Ele ficou um tempo olhando para mim sem falar nada. Isso com certeza me deixou com vergonha.
— Vamos. Que tal a gente tomar um milk shake?
— Ok - ele balançou a cabeça e continuamos andando até voltar para a praça de alimentação.
Tinha umas três pessoas na nossa frente ainda, então ficamos conversando um pouco.
— Tem certeza que não quer voltar na loja e pegar os colares?
— Sim. Certeza absoluta.
— Por que? Você disse que achou eles bonitos.
— Sim, eu disse isso.
— Então por que não pega eles?
— Caros demais.
— Mas eu pago pra você.
— Não. Obrigada.
Ele olhou pra trás e viu que tinha algumas pessoas na fila, atrás de nós, então se abaixou um pouco e sussurrou para mim.
— Sabe que eu posso pagar tudo o que você quiser, né?
"O que? O que ele pensa que eu sou? Uma interesseira? Ele acha que eu estou aqui pra extorquir ele? Talvez ele só esteja acostumado a pagar tudo para as outras garotas. Deve achar que todas são assim."
— Olha - fiquei na ponta do pé e sussurrei de volta pra ele - Eu não estou aqui pra isso. Não preciso de roupas caras, bolsas caras, saltos caros, muito menos aqueles colares. Eu só compartilhei o meu pensamento com você e disse que eles eram bonitos. Então não precisa ficar exibindo o seu dinheiro. Eu não quero nada disso. Sinto muito se as outras são assim com você, mas por favor, não me compare a elas e muito menos me compre coisas caras.
— Próximo, por favor.
A atendente estava nos chamando, então eu voltei para o meu lugar e dei um sorriso pra ele.
— E o milk shake é por minha conta.
Ele ficou em silêncio por um tempo.
— Eu vou querer chocolate com menta.
— Um só?
— Na verdade são dois - eu virei para o homem atrás de mim e percebi que ele ainda me encarava - E aí? Devo escolher por você?
Ele abriu um sorriso e se aproximou.
— Apenas chocolate.
— Ok. Então são dois milk shakes, um de chocomenta e outro apenas chocolate, certo?
— Certo.
Eu paguei pelo pedido e esperamos ele ficar pronto. Depois sentamos em uma mesa e ficamos observando o lugar movimentado.
— Precisa de carona? Eu posso te deixar na sua casa, se quiser.
Antes que eu pudesse responder ele colocou o copo do milk shake na mesa e levantou as mãos.
— Podemos ir de ônibus. Não precisa entrar no meu carro caro.
Eu olhei pra ele e acabei rindo, o mesmo me acompanhou.
— Agradeço a carona, mas eu moro perto. Posso ir andando.
— Sério? Ficou com tanto medo assim de mim?
— Não é isso, é que eu prefiro voltar andando mesmo - ele deu risada e confirmou com a cabeça — Posso te fazer outra pergunta?
— Claro.
— Você esperava que acontecesse algo hoje?
— Tipo o que?
— Você sabe...
— Sexo?
— Sim.
Ele cruzou os braços e olhou ao redor por um tempo, mas logo voltou a me encarar.
— Não vou mentir, eu esperava sim. Falei até para o meu irmão não me esperar à noite.
Eu tomei mais um pouco do meu milk shake e abaixei a cabeça. Será que ele havia ficado bravo?
— E...está bravo?
— Não. Na verdade não. A gente almoçou, conversamos bastante, e você me fez rir. Acho que foi um primeiro encontro muito bom.
Não sabia se ficava feliz por ele ter gostado do nosso encontro, ou com vergonha por ele ter esperado outra coisa.
— Me dá o seu celular.
— Pra que?
Ele apenas esticou a mão e eu entreguei o meu celular para ele.
— Olha aqui — ele virou o celular para mim e o aparelho desbloqueou na hora, já que tinha reconhecimento fácil — Eu vou anotar o meu número. Caso você sinta saudades e queira me ligar.
Eu apenas ri e balancei a cabeça.
— Pronto - Ele me devolveu o aparelho — Agora me dá a tua carteira.
— A minha carteira?
— É.
— Pra que você quer a minha carteira?
Ele não disse nada, apenas abriu aquele sorriso convincente e eu abri a minha bolsa, peguei a minha carteira e o entreguei.
— Deixa eu ver - ele pegou o celular dele e começou a anotar alguma coisa lá, enquanto olhava para alguma coisa na minha carteira - Pronto. Feito!
— O que foi feito exatamente? - pergunto curiosa.
David guardou o celular, devolveu a minha carteira e apontou para o meu celular.
— Abra a sua conta.
— Minha conta? Por que?
— Meu Deus - ele riu - Não sei se você é mais teimosa ou desconfiada. Apenas abra a sua conta e veja.
Eu desbloqueei o meu celular e abri o aplicativo da minha conta. Ele demorou a carregar um pouco, mas logo me notificou de que eu havia recebido uma transferência de trinta mil reais. Então ele pegou a minha carteira apenas para ver os meus dados bancários?
Eu coloquei a mão na boca e arregalei os olhos. Acho que a minha reação foi o suficiente para fazer ele rir de novo.
Eu não sabia se chorava ou se gritava ali de felicidade, pois isso indicava que minha mãe, finalmente, iria fazer a cirurgia dela.
Mas eu também senti vergonha e isso fez eu bloquear o celular e encarar o chão.
— O que foi? - ele perguntou.
— Não sei se te agradeço ou se jogo essa bolsa em você e saio correndo daqui de tanta vergonha que estou sentindo nesse momento.
— Ei! - ele se inclinou em cima da mesa e levou uma mão até o meu queixo, levantando o mesmo — Não precisa ficar com vergonha e muito menos me agradecer.
— Mas você não está fazendo isso de graça. Vai querer algo em troca - abaixei o meu rosto, fugindo do olhar dele.
— Mas eu já ganhei algo em troca - eu levantei o meu rosto, o encarando novamente - Você me fez companhia no meu almoço, me fez rir e ainda me pagou um milk shake.
— Como se fosse muito - eu sorri.
— Mas pra mim foi, e eu gostei - eu fiquei quieta e respirei fundo - O que acha de sairmos amanhã, de novo?
— Pelo o dinheiro que você transferiu agora, eu estou disponível para você o mês todo - ele riu.
— Eu posso escolher o lugar, dessa vez?
— Pode.
Ele abriu um sorriso gentil e passou a mão no meu rosto.
— Tem certeza de que prefere voltar sozinha do que entrar no meu carro caro?
— Sim - eu ri.
— Então...eu vou embora, tá?
— Tudo bem - Eu me arrumei e esperei ele se levantar.
— Obrigado por hoje, Bella.
— Eu que agradeço, David.
Dei mais um abraço nele e por último um beijo na bochecha.
— Desculpa. Ficou a marca do batom - digo rindo e passando o dedo na bochecha dele até a marca sumir.
— Tchau.
— Tchau.
David se afastou e eu segui ele com o olhar, até não poder vê-lo mais.
Assim que saí do shopping e entrei no carro, eu não pude evitar pensar nela. — O que há de errado com ela? - questionei. Afinal ela não havia pedido nada,e quando me ofereci para lhe presentear com aqueles colares, ela recusou na hora. Eu liguei o carro e fui direto para casa. Precisaria de um banho e uma ótima noite de sono. Assim que cheguei em casa, eu subi as escadas e fui direto para o meu quarto. Me joguei na cama e fechei os olhos. Fiquei alguns segundos em silêncio, mas logo fui interrompido por gemidos do Sebastian e a voz de uma garota. — Ãããm...isso está tão bom...não para, amor. - era a voz da garota. — Se vocês não pararem, quem vai acabar com a festa aí, sou eu - coloquei o travesseiro em cima do meu rosto, na intenção de abafar aqueles sons. Vendo que não iria funcionar, resolvi mandar mensagem para o Felipe Compell, um grande amigo que conheci na empresa. — Cara? Não demorou muito para que ele me respondesse. "— Oi, mano" — Sebastian está com uma garot
Sabe aquele momento onde você para e se pergunta se aquilo que você fez foi certo ou errado? Eu estava bem assim. Me fazia essa pergunta enquanto encarava aquele dinheiro todo na minha conta. Já havia passado três dias desde o meu primeiro encontro com o David, e hoje era dia de pagar a mensalidade do hospital. Eu acordei bem cedinho. Queria ir logo pagar a mensalidade do hospital e começar, o mais rápido possível o tratamento da minha mãe, assim ela voltaria logo para casa. Quando estava no banho, ouvi o meu celular tocando na sala. Então desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha e fui atrás do celular. — Alô? - logo atendo a ligação. — Senhorita Foorbes? — Isso. — Aqui é do hospital. Ligamos para avisar que já realizamos a transferência da sua mãe para o outro hospital e o seu amigo já assinou o cancelamento da autorização que a senhorita tinha assinado. — Amigo? Espera aí, eu não solicitei transferência e nem pedi para cancelarem a minha autorização - falei nervosa —
Assim que saímos do quarto ele fechou a porta e eu me virei para ele. — O que foi isso, hein? Que merda você está fazendo? Eu já lhe disse que… — Aqui não. David pegou na minha mão e saiu me guiando até um outro quarto que estava vazio, fechando a porta em seguida. — Pronto. Eu sou um homem que preza pela privacidade. — Isso significa que eu já posso te matar, então? - Ele riu, mas eu estava falando sério — Por que fez isso? — Como assim? Eu te disse que iria te ajudar a cuidar da sua mãe. — E eu me lembro de ter lhe dito que não concordava e que não queria que você pagasse nada. Quer dizer - cocei a minha cabeça - Eu entrei naquele aplicativo e aceitei o seu dinheiro, é claro, mas eu não… — Não vê o quanto ela está feliz? - ele me interrompeu - Ela está confortável aqui e você tinha que ver o sorriso que ela deu quando o médico disse que ela tem uma chance de ter a vida de volta sem sofrer sequelas nenhuma. — É, eu vi essa felicidade no olhar dela - digo com certo tom
Assim que voltei para o quarto hospitalar, minha mãe cruzou os braços e deixou um bico se formar em seus lábios. — Vai ter que me levar nas costas - ela ditou. — Nossa! Até parece uma criança - ri. — É sério, filha, me deixa ficar aqui. Ele falou que a gente não precisa pagar nada e… — Mãe! - chamei a atenção da mais velha. — Desculpa! - ela abaixou a cabeça - Só estou lhe dando trabalho, não é? — Mãe, não diz isso. Eu me aproximei dela e deitei ao seu lado, naquela cama grande e espaçosa. Ali era realmente confortável, muito mais do que a do antigo hospital. — Você tem vinte e quatro anos. Deveria estar saindo com as suas amigas para se divertir aos sábados à noite. Deveria namorar, também. — Mas eu preciso cuidar da senhora. — Por isso digo que só estou lhe dando trabalho. Eu a abracei e dei um beijei na testa dela. — Eu estou bem, tá? Eu só preciso que a senhora fique bem, também. — Promete que mesmo que eu esteja em tratamento, deitada em uma cama, você ainda vai s
— E aí, coroa! - Sebastian entrou no escritório, cumprimentando o nosso pai e se jogando na cadeira do mesmo. — Você vai ver o coroa, quando eu te jogar da janela, garoto. Sebastian e eu rimos. Meu pai quando quer, é legal e divertido, mas em oitenta por cento do tempo ele é durão e chato, ainda mais quando se trata de assuntos da empresa ou do casamento dele com a mamãe. Eles não estavam se dando tão bem assim há alguns meses. — Sentem-se, vamos começar. — Seremos apenas nós três? - Sebastian questionou. — Não. A equipe de marketing está subindo. — Certo! - Meu irmão começou a mexer nos papéis que estavam na frente dele. A reunião até que não durou muito, pois já estávamos falando desse mesmo assunto pela sexta vez somente nesta semana. E quando aquela reunião chegou ao fim, eu acompanhei o Sebastian até a sala dele. — Senta aí. Você me disse que queria conversar comigo. O que era? — Já achou uma secretária? — Ainda não. Vou começar a procurar semana que vem. Me dá dor d
Eu estava na casa do Heitor há umas três horas, e queria sair dali, porque eles apenas esqueceram da minha existência e começaram a se agarrar do nada. Como estava acontecendo naquele exato momento. Rose estava em cima do Heitor e os dois estavam se beijando. Será que eu estava invisível ali? Será que o suco que eles haviam me oferecido tinha me deixado invisível? Tá, tinha um gosto horrível, mas acho que ele não tinha esse poder, era só falta de açúcar mesmo. Assim que ela se levantou um pouco, notei que o Heitor estava ficando excitado com aquilo. Rapidamente desviei o olhar, mas foi algo que eu não pude deixar de notar. — Quer saber? Eu estou indo embora - coloquei o copo em cima da mesinha de centro e peguei a minha bolsa. — Já? Fica mais um pouco. — E presenciar vocês transando? Querem que eu grave? - os dois riram. Assim que Rose se levantou, Heitor logo puxou a almofada para cima dele. — Vai para onde com essa pressa toda de se livrar de mim? - minha amiga me questionou
O resto do dia para mim foi tranquilo. Felizmente não tive nenhuma reunião hoje. Quando saí do meu escritório já era quase uma hora da manhã, provavelmente eu seria o último a sair hoje, mas me surpreendi quando saí e vi a minha secretária com a cabeça deitada sobre o teclado. — Maya? - chamo pela mesma e ela resmunga um pouco antes de acordar assustada. — Sim, senhor! — São meia noite e cinquenta e sete. Já não deveria estar em casa há duas horas atrás? — Desculpa. É que faz alguns minutos que eu acabei aquele relatório e... — Maya, eu te disse que isso não era urgente. Você ainda tinha seis dias para terminá-lo. — Mas preferi acabar ele hoje - ela sorriu. Maya poderia ser um pouco atrapalhada em relação a minha agenda, mas eu não deixava de reparar no quão esforçada ela era — Então amanhã de manhã eu envio ele para o seu e-mail. — Tudo bem, mas agora vamos sair, já é tarde. Lembre-se que você também precisa comer e dormir direito. — Pode ir na frente. Eu ainda preciso
David não demorou nada. Assim que se aproximou de mim, ele me puxou para um beijo. A sensação de ter ele ali, me beijando era boa, mesmo com a ponta do seu nariz gelada, me causando arrepios. Eu levantei as minhas mãos e comecei a passar pelos braços dele. Estavam gelados. — Você é louco - digo desfazendo o beijo - Poderia ter colocado um casaco mais grosso. — Estava com pressa. Nem pensei nisso na hora. Eu dei risada e apenas o puxei para dentro de casa, fechando a porta em seguida. — Eu ia fazer um chocolate quente pra mim, você quer? — Espera aí, eu não lembro de ter vindo atrás de chocolate quente - ele formou um biquinho nos lábios e eu dei risada. — Veio atrás do que, então? - pergunto mesmo já sabendo a resposta. — De você. David colocou a mão na minha cintura, e me puxou para outro beijo. Dessa vez mais intenso e demorado. — O que deu em você, para vir assim do nada? São duas e vinte e cinco da manhã. Nosso encontro não era só no jantar? — Quer saber mesmo o